No Campus com Helder Coelho

Teoria da Imitação

Janela triangular

A teoria mimética envolve três elementos: o outro, o modelo, e a relação, e pode ser descrita através de uma forma, o triângulo

unsplash Florian Pérennès
Helder Coelho
Helder Coelho
Imagem cedida por HC

“A questão, crucialmente metafísica, é esta: a verdade, o que é e como se reconhece?” 
Hirokazu Koreeda, 2018

Desde os primeiros momentos de vida que nós (e os animais) imitamos os outros e copiamos os desejos dos outros, transformando-os em nossos (ações, emoções, hábitos).

A teoria mimética, proposta pelo antropólogo e filósofo francês  René Girard (1923-2015), parece ser o grande motor dos seres humanos, para o melhor ou para o pior. A violência das multidões, e os conflitos sociais em geral, pode ser explicada por esta teoria: inspirar-se no desejo do outro permite comunicar e sentir empatia pelo outro, e ao mesmo tempo disparar ciúmes e rivalidades (para ter um brinquedo). A teoria mimética envolve três elementos: o outro, o modelo, e a relação, e pode ser descrita através de uma forma, o triângulo.

Girard inspirou-se nos romances de Shakespeare, Cervantes, Stendhal, Balzac, Flaubert, Dostoiévski e Proust, onde as triangulações constituem o modo de desenvolvimento e animação das narrativas (mecanismo). Por exemplo, a ideia de bode expiatório deve ser considerada uma solução para promover o retorno da ordem social. Aquele que impede a satisfação de um desejo, que ele próprio despertou, torna-se objeto de ódio (ciúme, inveja: mediação interna).

Em Cervantes (caso da personagem de D. Quixote de La Mancha), Sancho Pança imita D. Quixote, e usa-o como modelo, isto é os seus desejos são miméticos. A publicidade (dos relógios e perfumes) recorre a atrizes do cinema (bem conhecidas) e explora as armadilhas dos nossos desejos.

Aristóteles explicou que uma criança adquire todos os seus conhecimentos imitando os adultos. No caso da linguagem, um bebé começa por repetir os sons que ouve, melhorando aqui e ali, até que atinge a perfeição. Aprende com exemplos. O que lemos nos jornais, e o que ouvimos e vemos na televisão e cinema, permitem também reproduzir e figurar (mimésis), e, com certeza, influenciar os nossos desejos e sonhos.

É o mecanismo mimético que nos permite interatuar uns com os outros, compreender os sentimentos dos amigos, e viver a compaixão e a empatia. Como se gera a rivalidade entre dois clubes de futebol? Graças à exploração da inveja, passa-se pela frustração, às expetativas e aos desejos, e mais tarde surge a perda das intenções. Ficam reunidas as condições mínimas, e depois há uma escalada até se revelar alguma crise. Basta a ativação de um rastilho, a repetição de ignições até se fazer explodir a amargura.

O desejo mimético é um impulso, instintivo, constitui a lei geral que governa a espécie humana (e animal), e aplica-se a indivíduos e multidões (veja-se o ritmo do discurso político, as pausas e a escolha das palavras). Qual é a origem da tendência instintiva da imitação? A descoberta dos neurónios espelho, em 1990, pela equipa de Giacomo Rizzolatti da Universidade de Parma, confirmou a existência do mecanismo mimético.

A palavra espelho corresponde ao aparecimento de uma atividade elétrica que se inicia quando um indivíduo executa uma dada ação porque observou o outro a executar a mesma ação. E, curiosamente, estes neurónios são também solicitados quando alguém se imagina a realizar aquela ação. Estes neurónios têm uma outra faceta, a seletividade: cada um só responde a um tipo de ação, e não responde quando se trata de outro gesto.

Os neurónios espelho são os grandes responsáveis pelos nossos êxitos sociais (interações, empatias) e pela formação de grupos, equipes ou amizades. No entanto, a imitação levanta vários problemas, que só se podem controlar com a vontade e a razão.

A nossa sociedade de consumo (com várias empresas atentas e municiadas das técnicas de marketing) explora até à exaustão este conhecimento, através da criação de dias de compras especiais (dia do pai, da mãe, natal, black friday, boxing day), ou via as épocas de saldos (primavera, verão, outono e inverno). Como enfrentar este frenesim consumista? Com a razão, o raciocínio e o pensamento.

Referência

Antunes, L., Nunes, D. e Coelho, H. Geometry of Desire, Proceedings of AAMAS2014, Paris, May 5-9, ACM Press, 2014

 

Helder Coelho, professor do Departamento de Informática de Ciências ULisboa
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt

Os cientistas João C. Duarte, Filipe M. Rosas e Wouter P. Schellart apresentam o novo supercontinente chamado Aurica.

As florestas de Madagáscar estão em risco, mas um estudo publicado online na revista “Biological Conservation” demonstra que as áreas protegidas da ilha estão a ser eficazes no combate à desflorestação.

Pela primeira vez uma cientista portuguesa é a presidente eleita da European Society for the History of Science.

Na Science de 7 de outubro, no vol. 354, issue 6308, Pamela J. Hines explica como o cérebro se constrói, a mobilidade dos neurónios, das zonas onde proliferam para as localizações finais, e revela que qualquer problema que ocorra durante a migração pode afetar o desenvolvimento de uma criança, nos aspetos físicos e comportamentais.

A resistência aos antimicrobianos é um fenómeno inevitável, pelo que a vigilância, prevenção e controlo são fulcrais, mesmo que futuramente se desenvolvam novos antibióticos, pois será apenas uma questão de tempo até que a resistência a estes seja desenvolvida.

O que fazem e o que pensam alguns membros da comunidade de Ciências? O décimo Dictum et factum é com Fernando Lopes, coordenador do Gabinete de Apoio à Investigação da Direção de I&D de Ciências.

Com o objetivo de sensibilizar e preparar para o risco sísmico e melhorar a qualidade de ensino da Sismologia e das Ciências da Terra em Portugal, Susana Custódio, Graça Silveira, Luís Matias e Catarina Matos desenvolveram um estudo sobre a educação para os sismos, adaptado à realidade de Portugal e a diferentes grupos etários e que foi capa de uma das edições deste ano da revista “Seismological Research Letters”.

O projeto RESISTIR coordenado por Ciências e pela Maxdata Software e cofinanciado pelo Portugal 2020 visa criar até abril de 2019 um sistema de informação - inovador, modular, inteligente e adaptável - para apoiar a tomada de decisão clínica no domínio da vigilância epidemiológica, resistência aos antimicrobianos, controlo de infeção e gestão hospitalar.

O “coração da cidade” foi invadido por uma “onda de ciência e tecnologia” em mais uma edição da Noite Europeia dos Investigadores. O tema deste ano foi a “Ciência no dia-a-dia”.

“Geography and major host evolutionary transitions shape the resource use of plant parasites” da autoria de Joaquín Calatayud, José Luis Hórreo, Jaime Madrigal-González, Alain Migeon, Miguel Á. Rodríguez, Sara Magalhães e Joaquín Horta salienta a necessidade de estudos mais globais em Ecologia.

Aos alunos deixo uma sugestão: aproveitarem as unidades curriculares para experimentarem as suas ideias e terem projetos de novas apostas tecnológicas (em Salvador, Brasil, no campus de Ondina da UFBA existe um enorme espaço, com equipamentos informáticos e professores, para que os alunos possam ser ajudados a experimentar ideias). E, com um portefólio de exemplos vem um passo seguinte: usarem pós-graduações (por exemplo, mestrados) para construírem protótipos que se vejam em feiras e exposições. As empresas vêm em seguida.

A estudante de doutoramento em Paleontologia do Departamento de Geologia de Ciências e a equipa multidisciplinar que assina “A juvenile allosauroid theropod (Dinosauria, Saurischia) from the Upper Jurassic of Portugal” preparam-se para apresentar os resultados deste artigo no próximo congresso anual da Society of Vertebrate Paleontology e que ocorrerá em outubro na cidade de Salt Lake City, nos Estados Unidos da América.

“A juvenile allosauroid theropod (Dinosauria, Saurischia) from the Upper Jurassic of Portugal” da autoria de Elisabete Malafaia, Pedro Mocho, Fernando Escaso e Francisco Ortega descreve um exemplar ainda juvenil de um dos grandes dinossáurios carnívoros do Jurássico, com cerca de 150-145 milhões de anos, e foi publicado este mês na revista “Historical Biology”.

"É curioso, constatar que todas as teorias da ciência não são sobre a forma, mas sim sobre a função. Isto é, são sobre como as coisas se desenvolvem e mudam. São acerca de processos."

A primeira entrega dos dados (data release) da missão Gaia da Agência Espacial Europeia (ESA) ocorreu esta quarta-feira, 14 de setembro, quase três anos depois do seu lançamento e foi transmitida online pela ESA. De acordo com o comunicado de imprensa emitido por Ciências, o consórcio internacional inclui investigadores e engenheiros de quatro universidades portuguesas.

O Tec Labs – Centro de Inovação de Ciências foi distinguido com o 2.º Prémio Nacional na Categoria de Promoção do Espírito de Empreendedorismo dos Prémios Europeus de Promoção Empresarial, uma iniciativa da Comissão Europeia gerida em Portugal por IAPMEI — Agência para a Competitividade e Inovação, e cuja cerimónia de entrega dos prémios ocorreu no Museu do Oriente, em Lisboa, a 8 de setembro.

O que fazem e o que pensam alguns membros da comunidade de Ciências? O nono Dictum et factum é com Carla Romero, técnica superior do Gabinete de Estudos Pós-graduados da Unidade Académica de Ciências.

A descoberta da localização precisa de uma espécie de GPS (Global Positioning System) no nosso cérebro (Moser e Moser, 2014), capaz de nos ajudar a responder a duas perguntas básicas “Onde estamos?” e “Como vamos até acolá?”, indispensáveis para a nossa vida normal, estimulou a discussão do tema computação espacial (ler a revista norte americana Communications Of the ACM, janeiro de 2016, páginas 72-81).

Joaquim Alves Gaspar, de 67 anos, investigador pós-doutoral do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia, acaba de ser distinguido com uma Starting Grant do Conselho Europeu de Investigação, a primeira a ser atribuída a um membro da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Em entrevista a Ciências apresenta o projeto “The Medieval and Early Modern Nautical Chart: Birth, Evolution and Use” alvo desta distinção, no valor de 1,2 milhões de euros, bem como o homem que pretende causar um impacto significativo na História da Cartografia, demonstrando a eficácia das suas ferramentas e ajudando a criar uma nova geração de cientistas nesta área.

O Conselho Europeu de Investigação atribuiu uma Starting Grant, no valor de 1,2 milhões de euros, a Joaquim Alves Gaspar, membro integrado do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia (CIUHCT) e investigador principal do projeto “The Medieval and Early Modern Nautical Chart: Birth, Evolution and Use”.

"No momento atual o alerta de potencial erupção ainda não terminou uma vez que a atividade sísmica se mantém acima dos valores normais", escreve José Madeira em mais uma crónica de viagem.

"Comunicar significa tornar comum. E o que queremos tornar comum? Ciência. Esse é o objetivo", escreve em artigo de opinião Manuel Leite Valença.

César Garcia, curador convidado do Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, investigador do cE3c e antigo aluno de Ciências, é o autor de uma das fotografias premiadas, escolha do editor, no âmbito da 4.ª edição do BMC Ecology Image Competition, uma iniciativa da BioMed Central.

A equipa da UNDAC (United Nations Disaster Assessment and Coordination)/ERCC (European Response Coordination Centre) da Comissão Europeia (CE) tem feito avaliação dos planos de emergência existentes e suas lacunas ou melhoramentos necessários, bem como reuniões com os principais agentes intervenientes a nível local em caso de catástrofe ou emergência.

Cerca de 60 alunos da EB1 S. João de Brito,  Agrupamento de Escolas de Alvalade, visitaram em julho passado o Departamento de Biologia Animal de Ciências.

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