No Campus com Helder Coelho

As coisas de que sabemos pouco

Helder Coelho

O "New Scientist" revelou, no início do ano, quais as 11 coisas que procuramos ainda saber mais (e que nos desafiam cientificamente), onde figuram as “ondas gravitacionais”, os “buracos negros”, o “infinito”, e o lugar da “consciência”. Em fevereiro falou-se muito sobre as duas primeiras, deixemos o infinito de lado, e foquemos agora a nossa atenção sobre a consciência que foi objeto da conferência de dezembro (2015) que o professor António Damásio fez na Aula Magna da Reitoria, quando o Colégio Doutoral Mente-Cérebro da ULisboa foi apresentado em público. Sobre a consciência existe um consenso:  sabemos pouca coisa e ainda há muito a descobrir, e as coisas modificaram-se após 2010.

Em 2000, Damásio avançou com a ideia de que as emoções fazem parte de um grande sistema de regulação biológica e que este sistema está intimamente ligado à emergência da consciência.

Olhando a evolução dos organismos simples para os complicados, identificamos três operações para uma mente pouco desenvolvida:  1) manter uma certa estrutura, 2) corrigir algum desequilíbrio, e 3) sobreviver. A terceira operação necessita de mecanismos biológicos de incentivo para uma orientação bem sucedida do comportamento, uma deliberação consciente para manter território e recursos! No caso da mente consciente é necessário assegurar a regulação da vida e um sistema de deteção!

A consciência não está separada da mente, e é um processo biológico criado pelo cérebro. A consciência precisa da atenção e da memória (de curto prazo), e é muito mais do que a simples vigília (awareness).

Damásio procurou então acertar as contas com as coisas que se alteraram entretanto, referentes ao que escreveu no Livro da Consciência (Self Comes to Mind, na versão original em Inglês de 2010), e deixou um apontador para o seu novo livro que estará para breve. Segundo George Mashour, “a consciência não é algo que possamos ver, é algo através do qual nós vemos”, o que torna o seu estudo um desafio, mesmo se quisermos optar por seguirmos a direção do artificial (Tese de Doutoramento de Raul Arrabales, Universidade Carlos III, Madrid, 2011).

Existem dois problemas para resolver: o que é a consciência e como se constrói a consciência. A consciência parece ser uma coleção mais ou menos integrada das imagens visuais e auditivas, que vêm da memória.

A consciência é um dos mais intrincados problemas da Filosofia e da Ciência Cognitiva. Em 1994, ainda existia um mistério maior da consciência, pois nas duas décadas passadas as descobertas não pararam. Francis Crick foi incapaz de avançar então com uma teoria convincente, e ensaiou assim um esquisso da sua natureza, e fez sugestões para estudá-la experimentalmente. O que ele pretendia conhecer era o que se passava no seu cérebro quando via algo. Eis a ideia dele no fim do século passado. Hipótese: Para compreender cada um de nós é preciso compreender como as células nervosas se comportam e como interatuam.

Na Science de 7 de outubro, no vol. 354, issue 6308, Pamela J. Hines explica como o cérebro se constrói, a mobilidade dos neurónios, das zonas onde proliferam para as localizações finais, e revela que qualquer problema que ocorra durante a migração pode afetar o desenvolvimento de uma criança, nos aspetos físicos e comportamentais.

Segundo outros investigadores, a consciência parece ser um fenómeno que está sempre a ser ligado e desligado (via um interruptor), isto é ou estamos a sentir o mundo ou não estamos. A teoria da informação integrada sugere que a consciência é o resultado da combinação de informação para que esta se torne mais do que a soma das partes, e põe em causa que a perda de consciência seja mediada por regiões do cérebro, que são apagadas ou suprimidas. A explicação poderia ser a perda de comunicação entre elas.

E, qual é lugar da consciência? Em 2010, Damásio tinha uma resposta. Ao procurarmos que regiões do cérebro podem causar a perda de consciência, se forem lesadas ou estimuladas, descobrimos que é no claustro. No entanto, todas as teorias da consciência defendem que existe mais do que um lugar anatómico onde ela se encontra.

A construção de novos mecanismos, estruturas, processos, dispositivos, padrões e imagens, fazem-se por detrás do eu, e para a construção dos sentimentos e da consciência. A interação profunda entre o cérebro e o corpo, faz-se através de sinais (químicos, neurais), de “drives”, motivações, estímulos e emoções. O cérebro cria o comportamento e a mente, e constrói a simulação corporal. A consciência é assim o resultado da junção de uma função do eu à mente (em inglês, self comes to mind, o título do livro de 2010). A nossa vivência (experiência mental) inclui dois aspetos, o subjetivo (eu) e o sensorial (sentimentos).

A consciência orienta o conteúdo mental para as necessidades do nosso organismo (cérebro e corpo) e assim produz a subjetividade. A função do eu é o aparecimento no processo de projeção visual (mente) de mais um elemento virtual: um protagonismo imaginado para os nossos acontecimentos mentais. A nossa mente está sempre a ser informada sobre o estado do corpo (tema pouco abordado em Filosofia e em Ciência Cognitiva). Daí, Damásio vir agora defender que a consciência serve para regular os sentimentos, por causa dos estados a que podem ser conduzidos.

Existem três sítios do cérebro onde se pode dizer que se deve localizar a consciência. A parte superior do tronco cerebral (as estruturas que ligam a espinal medula ao cérebro) é um dos lugares da consciência. O cérebro não começa a edificar a mente consciente ao nível do córtex cerebral, mas sim ao nível do tronco cerebral. No tálamo, situado entre o tronco e o córtex cerebral, e uma área do córtex chamada PMC (córtex postero-medial) é onde se operam as etapas finais da construção da consciência. E, finalmente, na ínsula (córtex cerebral) está a plataforma dos sentimentos.

A tríade diretora da consciência é formada pelo estado de vigília, a mente e o eu, e está situada naquelas três principais grandes divisões anatómicas do cérebro: o Tronco cerebral (que liga a espinal medula ao cérebro), o Tálamo (entre o tronco e o córtex cerebrais) e o PMC (córtex postero-medial).

Em resumo, a consciência permite sabermos que existimos. A mente faz percebermos como é o mundo, mas é a consciência que nos dá a vantagem subjetiva de dizer: “Eu estou aqui, existo, tenho uma vida e há coisas à minha volta que se referem a mim”.

Helder Coelho, professor do Departamento de Informática de Ciências
Maria Manuel Torres

Maria Manuel Torres, professora do DM Ciências ULisboa, é a protagonista do quinto vídeo do projeto “Porquês com Ciência” sobre Matemática e Sustentabilidade.

pessoas numa exposição

A iniciativa “Café Ciências” está de regresso, após uma pausa forçada devido à pandemia. As sessões terão lugar às quartas-feiras, pelas 17h30, na Galeria Ciências, promovendo olhares cruzados sobre a exposição “A Porta do Pacífico: Uma viagem cartográfica pelo Estreito de Magalhães”.

Marta Panão no estudio FCCN

Marta Panão, professora do Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia da Ciências ULisboa, é a protagonista do quarto vídeo do projeto “Porquês com Ciência”, disponível no YouTube da Faculdade. A pergunta “Como pensar a energia nos edifícios do futuro?” está diretamente relacionada com a licenciatura em Engenharia da Energia e Ambiente.

fotografia dos dois premiados

Dois estudantes da Ciências ULisboa receberam, em 2022, Bolsas de Investigação para Doutoramento Maria de Sousa, atribuídas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, em colaboração com a Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica.

Conceção artística de um buraco negro

Uma equipa internacional, da qual faz parte José Afonso, investigador no Departamento de Física da Faculdade e no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, lançou a hipótese de que os buracos negros poderão ter a resposta para a expansão acelerada do Universo.

vários jovens numa foto de grupo

Leonor Gonçalves, estudante do 1º. ano do mestrado em Estatística e Investigação Operacional, fala sobre a sua missão e partilha a experiência enquanto embaixadora das Carreiras na União Europeia (UE), deixando um apelo aos estudantes da Ciências ULisboa com interesse e dúvidas sobre as carreiras da UE, para que entrem em contacto com ela.

mesa com computador, caneca de café e bloco de notas

A Sociedade Portuguesa de Autores atribuiu o Prémio de Jornalismo Cultural deste ano à jornalista Teresa Firmino, editora da secção de Ciência do jornal Público, e membro do Conselho de Escola da Ciências ULisboa.

frente da reitoria da ULisboa

Entrevista a James McAllister, filósofo e professor no Institute for Philosophy, na Universidade de Leiden, na Holanda, que estará a trabalhar na Faculdade durante este ano letivo como investigador visitante.

imagem do Perserverance em Marte

Carlos Mão de Ferro, estudante do doutoramento em Informática, relata a sua experiência de estágio na NASA, na Califórnia, EUA. O estudante está a participar num projeto cujo objetivo é lançar pequenos robots na superfície de Marte, a partir de um rover principal, formando uma rede de sensores inteligente, com o intuito de estudar a existência de água no planeta.

Carlos Castro a receber a nomeação

Carlos Nieto de Castro, professor catedrático jubilado do Departamento de Química e Bioquímica e investigador no Centro de Química Estrutural (CQE), foi eleito Fellow da International Association for Advanced Materials (IAAM), como reconhecimento pela sua contribuição na área da Termofísica de fluidos e materiais com aplicações energéticas. É o segundo investigador português a obter esta distinção.

tubarão-martelo

Novo estudo recentemente publicado na revista Frontiers in Marine Science, desenvolvido por investigadores portugueses e cabo-verdianos, revela zona de berçário de tubarões na baía de Sal Rei, na ilha da Boa Vista, em Cabo Verde. Albergando juvenis de várias espécies ameaçadas, incluindo o icónico tubarão-martelo, trata-se de uma região única no Atlântico Este.

vistas da tibia, dinossauro e silueta humana

Trabalhos de investigação na jazida de Lo Hueco, Cuenca, em Espanha permitiram identificar restos fósseis de um dinossáurio carnívoro, com aproximadamente 75-70 milhões de anos, estreitamente relacionado ao grupo dos velocirraptorinos.

Galopim de Carvalho e Marcelo Rebelo de Sousa

O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou, em cerimónia no Palácio de Belém no passado dia 31 de janeiro, o professor catedrático jubilado António Galopim de Carvalho com as insígnias de Grande-Oficial da Ordem da Instrução Pública, ordem honorífica que reconhece a dedicação à causa da educação e do ensino.

mapa, com desenho de um dinossauro e vertebras caudais

Foi publicado recentemente na revista internacional Historical Biology um novo estudo sobre a diversidade dos dinossáurios saurópodes do Maastrichtiano da antiga ilha de Hațeg, que corresponde atualmente ao atual território da Roménia. O estudo foi liderado pelo paleontólogo Pedro Mocho, investigador no DG Ciências ULisboa, no Instituto Dom Luiz (IDL), e no Dinosaur Institute do Natural History Museum of Los Angeles County, na Califórnia.

Michele Vendruscolo, Ehud Gazit e Kresten Lindorff-Larsen

A propósito do arranque do projeto europeu TWIN2PIPSA, irá decorrer na Ciências ULisboa, entre os dias 1 e 3 de fevereiro de 2023, uma série de conferências plenárias, abertas a toda a comunidade académica, proferidas por especialistas das universidades parceiras do projeto: Michele Vendruscolo, da Universidade de Cambridge; Ehud Gazit, da Universidade de Tel Aviv; e Kresten Lindorff-Larsen, da Universidade de Copenhaga.

Artigo em homenagem ao professor do Departamento de Educação da Ciências ULisboa, Eduardo Veloso, falecido em dezembro de 2022, da autoria de Suzana Nápoles, professora aposentada do DM Ciências ULisboa.

Ana Marta de Matos

Novo artigo da autoria de Ana Marta de Matos, investigadora do Centro de Química Estrutural, do Institute of Molecular Sciences, sobre o potencial terapêutico dos antibióticos à base de açúcares, foi publicado a 24 de janeiro, na 4.ª edição da revista European Journal of Organic Chemistry, uma publicação dedicada à Química Orgânica. O artigo foi destacado na capa da revista.

Tarantula Nebula

Dois investigadores da Ciências ULisboa integram a nova direção da Sociedade Portuguesa de Astronomia, que tomou posse a 1 de janeiro.

espaço da exposição

Entrevista a José María Moreno Madrid, curador da exposição “A Porta do Pacífico: Uma viagem cartográfica pelo Estreito de Magalhães”, inaugurada no dia 3 de novembro de 2022. A exposição constitui uma mostra cartográfica sobre a construção da imagem do Estreito de Magalhães nos inícios da Idade Moderna. Pode ser visitada até junho de 2023, na Galeria de Ciências (Edifício C4).

Margarida Amaral

Margarida Amaral, professora do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade e investigadora principal do grupo de investigação em Fibrose Quística, no BioISI, integra o Conselho de Acompanhamento Científico da Emiliy’s Entourage.

David Moreno, Vicente Miguel e Pedro Gil

A Fundação Calouste Gulbenkian atribuiu Bolsas Gulbenkian Novos Talentos a três estudantes de mérito da Ciências ULisboa das áreas de Matemática, Física e Biologia. David Moreno, Pedro Gil e Vicente Miguel vão participar no desenvolvimento de um projeto de investigação ao longo de um ano.

ilustração SARS-CoV-2

Um novo estudo liderado por Luís Graça, investigador principal Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) e professor catedrático da Faculdade de Medicina da ULisboa, e por Manuel Carmo Gomes, professor associado com agregação da Ciências ULisboa, ambos membros da Comissão Técnica de Vacinação contra a COVID-19 (CTVC) da Direção Geral de Saúde (DGS), publicado em janeiro na revista científica Lancet Infectious Diseases, mostra que a proteção conferida pela imunidade híbrida contra a subvariante de SARS-CoV-2 Omicron BA.5, obtida pela infeção de pessoas vacinadas, mantém-se até pelo menos oito meses após a primeira infeção.

grupo das raparigas e uma pessoa da organização

Estudantes da Ciências ULisboa representaram a Faculdade no Digital Health Summit 2022, um encontro internacional dedicado ao futuro dos cuidados de saúde, promovido pela empresa Premivalor. Os alunos, organizados em dois grupos, apresentaram os projetos “The Golgi Printer” e “Cloudia”, tendo este último ficado classificado em 3.º lugar no concurso de projetos H-INNOVA - Health Innovation HUB, uma empresa de inovação no sector da saúde.

Salão da Academia das Ciências de Lisboa

Em 2022 a Academia das Ciências de Lisboa elegeu para a sua Classe de Ciências novos membros efetivos e correspondentes nacionais. Entre eles estão os professores da Ciências ULisboa Fernando Ferreira, nomeado membro efetivo; João Duarte e Jorge Buescu, nomeados correspondentes nacionais.

salão nobre da Reitoria da ULisboa

Oito professores e investigadores da Ciências ULisboa foram agraciados com prémios e menções honrosas, na edição de 2022 dos Prémios Científicos ULisboa/Caixa Geral de Depósitos (CGD). Errata da notícia publicada em novembro.

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