No Campus com Helder Coelho

Ser um cientista

A cooperação (e colaboração) científica apoia-se sempre em ensinar e aprender (dar e receber), num registo de amizade e humildade, de motivação e de empolgamento

Ciências

Helder Coelho

“O falhanço é educativo. A pessoa que realmente pensa, aprende completamente, tanto com os seus erros do que com os seus êxitos.”
John Dewey

Na revista Science de 24 de novembro de 2017, um cientista da Allena Pharmaceuticals (EUA), Aditi Deshpande, escreveu sobre como alguém se pode tornar um mentor (aconselhador) de estudantes de graduação, enquanto era estudante de doutoramento (no 2º ano). É um estudo de caso, que se inicia através de dificuldades, erros e faltas de habilidade no relacionamento. Algo normal, para os que passaram por períodos a aprender a ser cientistas, começando em laboratórios do Estado, grupos de projetos, que tiveram mentores, tutores e orientadores (supervisores), e que graças a um trabalho em várias frentes não esqueceram o treino a que foram submetidos, nem a oferta de tempo que lhes foi dada, e que mais tarde a devolveram aos seus próprios alunos. Este fluxo (caudal), que passa de um para o outro, constitui o elo que ergue qualquer edifício de conhecimento.

O autor deste artigo declara logo que estava interessado em desenvolver capacidades, para aconselhar outros estudantes, ou seja começar a passagem de uma herança, desdobrando a sua própria aprendizagem. É aquilo que se designa por motivação primária, e sem essa força de vontade o que se segue pode ser um desastre. Neste caso, foi o seu orientador de doutoramento que o encorajou, pois havia a justificação de ser algo que se podia transmitir, como a aptidão de técnicas laboratoriais.

A experiência não deu certo, embora fosse tentada com vários estudantes e de seguida. Na primeira tentativa, que deu errado, o estudante exigia disciplina e monitorização apertada, algo habitual e que implica paciência, calma e insistência, em suma tempo e disposição (e retorno). O mentor percebeu logo que a colaboração não funcionava, por falta de motivos do aprendiz, e repetiu com outros alunos em situações análogas, ganhando com isso alguns anticorpos. Felizmente, depois de várias falsas partidas, surgiu uma estudante que se ajustou e fez o que o mentor já imaginava impossível de alguma vez ocorrer. Esta nova experiência fez esquecer o que se passara antes, contribuindo para justificar as suas expectativas de uma relação com recompensas para os dois lados. As características que lhes faltavam (aos dois), no início, eram simples de praticar: empenho em aprender, colocar perguntas certas e encaixar-se numa cooperação lenta. E, ousar sempre saber.

Em geral, as experiências passadas (e os erros) trazem grandes ensinamentos e obrigam os participantes a esperar coisas mais suaves, pois as falhas ajudam a constituir o quadro futuro, as esperanças são mais realistas e a abertura torna-se mais fácil. É como alguém que envelhecesse um pouco, e tornasse menos apressado. O mentor aprendeu um conjunto de coisas, que passou à aluna, tais como: 1) conhecer a grande situação (o contexto alargado) e focar no essencial, 2) pegar nas referências bibliográficas acertadas, 3) oferecer autoria e responsabilidade (e, em troca, obter empenho), e 4) permitir que os colaboradores saltem para o estrado de uma sala de aula e falem do seu trabalho (desenvolver narrativas claras e curtas).

A cooperação (e colaboração) científica apoia-se sempre em ensinar e aprender (dar e receber), num registo de amizade e humildade, de motivação e de empolgamento. A paridade é fundamental, tal como o “foco e simplicidade”, a relevância e a utilidade (Steve Jobs). Existir um objetivo que tem de ser alcançado envolve os dois lados, tem de ser realista e possível de atingir num tempo restrito. O acesso à literatura, à história dos conceitos e ideias, permite compreender que só se avança com suor e lágrimas, e que há sempre algo que foi ensaiado antes. Devagar, mas com confiança. E, isso permite perceber que a independência é uma joia rara de um par, que sabe que o desenlace é natural no fim. Há sempre um começo, um meio, e um fim, que pode recomeçar, com diferenças e partilhas, e quase sempre de outro modo. Ao longo, existe o treino da escrita, da fala (apresentação), da pesquisa, da defesa (argumentação), das perguntas e das respostas, do tempo que se usou, e das constrições que foram impostas.

Olhar para um trabalho de investigação (veja-se o artigo de Zhang et al. sobre a medida do impacto científico dos investigadores, a qual tem hoje em dia uma importância significativa, pois esta medida serve como indicação de valor para a progressão na carreira, justificação para aplicações, prémios e ainda para a iluminação das futuras direções de pesquisa), escolher as vistas, os ângulos, o que necessita de maior atenção, e do que virá a seguir (áreas, temas, problemas, mecanismos). Sobretudo perceber que o importante é realizar e concluir, mantendo o espírito de dar passos pequenos e seguros, ou seja manter uma continuidade. Em síntese, aproveitando uma citação de Richard Branson: “Não se aprende a andar, seguindo regras. Aprende-se fazendo, caindo muito e levantando-se em seguida.”

Referências:
Deshpande, A. Learning to be a mentor, Science, Vol. 358, Issue 6366, pp. 1098, November 24, 2017.
Zhang, J., Ning, Z., Kong, X., Zhou, J. e Xia, F. Exploring time factors in measuring the scientific impact of scholars, Scientometrics, Vol. 112, Issue 3, pp. 1301-1321, September 2017.

Helder Coelho, professor do Departamento de Informática de Ciências
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt
pessoas observam a exposição

“De Lisboa para os Trópicos” é o nome da mais recente exposição da Ciências ULisboa, patente no átrio do edifício C6 desde 21 de abril e que vai estar em exibição até ao próximo dia 21 de junho. A mostra itinerante de fotografias assinala o 2.º aniversário do Colégio Tropical, uma unidade transversal da ULisboa.

Logotipo CHI 2022

A principal conferência internacional dedicada aos fatores humanos em sistemas computacionais distinguiu com a classificação de melhor apresentação 25 papers, destaque para o paper "Investigating the Tradeoffs of Everyday Text-Entry Collection Methods" sobre as vantagens e desvantagens de vários métodos de introdução de texto.

Margarida Amaral

Margarida Duarte Amaral dirigiu o Instituto de Biossistemas e Ciências Integrativas (BioISI) durante oito anos. Esta entrevista é sobre o passado, o presente e o futuro e como “o todo é maior do que a simples soma das suas partes”.

pin sobre palavra credit

Conceição Freitas, presidente do Conselho Científico da Ciências ULisboa, escreve sobre a prestigiante subida da ULisboa no Center for World University Rankings e no SCImago Institutions Rankings.

4 fotografias da envolução do terreno

Life Ribermine é o nome de um projeto ibérico responsável pelo restauro geomorfológico de minas em Portugal e Espanha. A  Associação Centro Ciência Viva do Lousal, da qual Ciências ULisboa é associada fundadora, é o único parceiro português do projeto.

Saco com logotipo da jobshop em destaque

A XII edição da Jobshop Ciências 2022 - a feira anual de emprego da Ciências ULisboa realiza-se nos próximos dias 11 e 12 de maio, no campus da Faculdade, no Campo Grande. Cerca de 80 entidades participam nesta edição e poderão contactar diretamente os estudantes, graduados e pós-graduados da Faculdade em stands, workshops e sessões de recrutamento. Além de empresas, também participam no acontecimento unidades de I&D da Faculdade.

Vários edificos - imagem com duas cores

Com foco na posição de Portugal em comparação com os restantes países europeus, a rubrica "Dados Contados" abordou temas como educação, desigualdade salarial, direitos LGBTQ+, impostos e imigração, entre outros, através de diversos indicadores estatísticos. Durante toda a produção, a autenticidade das fontes e a correta representação dos dados foram as duas principais preocupações.

duas pessoas a fazerem uma experiencia, e um monitor do Dia Aberto ao fundo a observar

Depois de duas edições com atividades online, o Dia Aberto em Ciências regressa este ano às atividades presenciais. A investigação científica e o ensino vão estar no centro da programação, abrangendo todas as áreas científicas. São mais de 70 as atividades disponíveis, entre visitas a laboratórios, atividades científicas, palestras, speed dating com cientistas, visitas ao campus e conversas rápidas sobre os cursos.

Henrique Leitão e Gracinda Gomes

Os cientistas da Faculdade foram eleitos sócios honorários da Sociedade Portuguesa de Matemática (SPM), juntamente com outras quatro personalidades, duas delas da ULisboa. Atualmente a SPM tem nove sócios honorários.

Jaime A. S. Coelho, professor convidado do Departamento de Química e Bioquímica e investigador do polo desta faculdade do Centro de Química Estrutural, foi distinguido pela Sociedade Portuguesa de Química (SPQ) com o Prémio para Melhor Químico Orgânico Jovem 2021.

Alunos na biblioteca do C8

Os artigos da revista Astronomy & Astrophysics (A&A), uma das principais revistas científicas de Astronomia do mundo, já são publicados em acesso aberto, através do subscribe-to-open (S2O), um modelo de ciência aberta por assinatura.

5 quitones

Artigo científico publicado no Journal of Paleontology dá conta da descoberta em Portugal de duas novas espécies de moluscos marinhos do Pliocénico (há cerca de 3,6 Ma) . O cientista Carlos Marques da Silva é um dos autores deste trabalho.

pessoa a ver uma fotografia da exposição

Crónica sobre a exposição “De Lisboa para os Trópicos”, da autoria de Rúben Oliveira e Teresa Vaz, curadores da mostra e que a partir de 21 de abril e até 21 de junho vai estar em exibição no átrio do edifício C6, no campus da Faculdade.

Cinco oradores e vários alunos a assistir

A Matemática une. O tema das comemorações do Dia Internacional da Matemática 2022 reflete o espírito de quem organiza atividades de divulgação científica, na Faculdade e fora dela, e também de quem participa. Fique a par das atividades do IDM, e conheça a opinião de estudantes e professores.

Logotipo das comemorações do Dia da Faculdade

Após dois anos a comemorar um aniversário de forma remota, em 2022, a comunidade da Faculdade volta a reunir-se no grande auditório da Ciências ULisboa para celebrar os 111 anos da instituição, criada por decreto a 19 de abril de 1911. A cerimónia comemorativa acontece no próximo dia 27 de abril, a partir das 14h00.

Logotipo da olimpíadas

A semifinal das Olimpíadas de Química Mais (OQ+) e a semifinal das Olimpíadas de Química (OQ) Júnior acontecem, respetivamente, nos próximos dias 30 de abril e 7 de maio, no campus da Faculdade. Professores e estudantes do Departamento de Química e Bioquímica colaboram em ambos os eventos.

Mercado de Santa Clara

"A sustentabilidade económica e escalabilidade dos sistemas agroecológicos é um objetivo difícil de atingir, mas sem dúvida necessário", escreve Inês Costa Pereira, da equipa da Caravana AgroEcológica, a propósito do 4.ª Dia Aberto de Produtores.

Unidade de colimação

O grupo de Instrumentação do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço  produziu nos laboratórios da Ciências ULisboa uma peça essencial para o sucesso da missão espacial PLATO, designada unidade de colimação. Segundo notícia publicada no site do IA, duas delas já estavam previstas no âmbito do consórcio, a terceira acontece por encomenda direta da Agência Espacial Europeia.

Barco

Eduardo Sampaio, aluno de doutoramento da Faculdade, participou num documentário em Cabo Verde a bordo de um barco chamado Captain Darwin, como conta nesta crónica. Este mês a Science também publica uma carta da sua autoria, a propósito de uma das aventuras vividas durante parte desta viagem.

José Ribeiro, Pedro Machado e João Dias

Um estudo do IA Ciências ULisboa analisa observações da luz infravermelha dos planetas Vénus, Marte e Júpiter comparando-as com simulações do Planetary Spectrum Generator. Artigo inclui entrevista com o autor principal do artigo, alumnus da Faculdade.

Musaranho

O musaranho-de-dentes-brancos (Crocidura russula) está em expansão na Europa e foi identificado como tendo um carácter invasor em algumas ilhas, nomeadamente na Irlanda.Segundo comunicado de imprensa pulicado esta segunda-feira no EurekAlert!, a descoberta é feita por um grupo de investigadores do CESAM Ciências ULisboa e do Institute of Environmental Biology da Adam Mickiewicz University, na Polónia.

Mesa de trabalho com computador e utilizador

O redesenho do portal é um projeto da responsabilidade da Direção, Direção de Serviços Informáticos, Gabinete de Gestão de Informação e Departamento de Informática (DI). No âmbito desta iniciativa, Carlos Duarte, professor do DI Ciências ULisboa e membro da equipa, convida os utilizadores do portal a participar num breve estudo.
 

ETAR

A eficiência de remoção da carga do vírus responsável pela COVID-19 nos processos de tratamento das águas residuais em Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) é uma das conclusões mais relevantes do projeto de investigação SARS Control.

microscópio

Ciências ULisboa participou na Semana Internacional do Cérebro com palestras e demonstrações em laboratório. A cientista Diana Cunha-Reis destaca a importância da atividade no que diz respeito à partilha da interdisciplinaridade existente na Faculdade junto de alunos do ensino secundário.

Sara Carvalhal no laboratório

Sara Carvalhal, investigadora no Algarve Biomedical Center Research Institute, na Universidade do Algarve, e alumna da Ciências ULisboa, é uma das quatro jovens cientistas portuguesas distinguidas na 18.ª edição das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para as Mulheres na Ciência.

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