No Campus com Helder Coelho

Arquitetura da (na) Cidade

Hotel Aviz, Lisboa, 1960

Estúdio de Horácio de Novaes - Biblioteca d' Arte da FCG

Helder Coelho

Jorge Figueira, no Ípsilon (revista, suplemento do Jornal Público de 14 de julho de 2017), homenageou Nuno Portas, acrescentando que “talvez por ter esgotado todas as formas de pensar e escrever arquitetura (...) encontrou um refúgio no urbanismo”. O artigo correspondeu à comunicação que fez, a 3 de julho, numa sessão da Ordem dos Arquitetos, no Palácio da Ajuda, em Lisboa.

A propósito da exposição “O Ser Urbano”, referiu ainda “a inteligência em cascata”, que obriga a um percurso feito em camadas, que se sobrepõem e entrelaçam, o que associa uma certa respiração e tempo, para ser analisado e compreendido.

Estas palavras fizeram-me voltar atrás no tempo (anos 60-70 do século 20) e para recordar algumas conversas com o professor Nuno Portas, no seu gabinete da Divisão de Arquitetura do LNEC, sobre o que é arquitetar e fazer cidades (e sobre o seu livro de 1969, “A Cidade como Arquitetura”). Ambos nos envolvemos com o Centro de Estudos de Cibernética (CEC), no IST/UTL, coordenado por Luís Moniz Pereira, nessa década, e nas incursões (encontros) sobre Diálogos Interdisciplinares (veja-se o livro das Atas “Novas Perspectivas das Ciências do Homem”), e o que daí resultou para se refletir sobre as formas e o prazer de habitar num burgo equilibrado. Nessa altura, Portas apresentou a comunicação “Arquitetura: Forma de Conhecimento – Forma de Comunicação”).

Escolhi um sítio composto numa colina (de Lisboa), a confluência da Rua da Alegria com a Travessa Conceição da Glória (em direção descendente para a praça da Alegria), uma praça pequena donde sai a Calçada da Patriarcal (em direção ascendente) para a praça grande (jardim) do Príncipe Real. Daquela praça mais compacta avista-se o Atalho Real, uma das entradas/saídas do Jardim Botânico (ligado à antiga Escola Politécnica), e a vegetação à solta por detrás dos seus muros. A luz bate nas fachadas dos prédios, alguns recuperados e outros deixados em espaço aberto, após a sua demolição.

Esta descrição só é verdadeira a certas horas do dia. Nas outras, o fluxo de automóveis é muito pesado, incomoda os peões, residentes ou turistas, distrai o olhar e impede a imaginação. Lá se vai o idealismo, regressando o horror que estraga as cidades e afasta as gentes. Colocando a atenção a circular em redor descobrimos que a ordem foi destruída por substituições de formas, e falta alguma unidade, aqui e ali cortada pela ausência dos prédios deitados abaixo.

A cidade é assim, camada a camada, ergue-se e destrói-se, embora este pedaço mantenha vestígios de cidade histórica, que recordo ainda de criança, e acessos (mesmo uma enorme escadaria) que nos ajudam a ir de um lado para o outro, e para obter pontos de vista. Esta encosta da Alegria recomenda-se aos nossos turistas (estudantes Erasmus) por mostrar que Lisboa vive, conservando o património e mantendo a urbe viva e habitável. O aluguer de muitas destas casas (via apartamentos) aos turistas é uma política que me alegra, pois mantém os sítios em plena utilização.

A cidade é um bom exemplo de um sistema adaptativo, inteligente e complexo. Fala-se hoje muito em cidades espertas, onde os peões e os habitantes só encontram motivos para viverem contentes, porque tudo é pensado para os ajudar, graças à capacidade analítica sobre os dados das pessoas e das cidades. A sua manutenção é imprescindível, e a sua renovação deve obedecer à inteligência e jamais à usura. Nem sempre isso ocorre. Por exemplo, a transformação recente da Avenida Fontes Pereira de Melo merece elogios (mais árvores), embora o mesmo não se possa dizer sobre a construção de um novo arranha-céus, mesmo em frente de dois completamente reprováveis (os do Sheraton e Imaviz) e da PT. Seria ajuizado recuperarem-se as fotografias antigas do Palácio Jardim (onde estava o Hotel Aviz e onde viveu Calouste Gulbenkian) para ficarmos ainda mais revoltados com a antevisão do próximo edifício (já em construção).

Peguemos noutro exemplo, o caso do túnel, entre as Amoreiras e o Marquês de Pombal, e o engarrafamento de automóveis nas horas de ponta, nessa zona da cidade. Não há regulação do tráfego capaz de fornecer uma solução para o problema. O desejo de Santana Lopes (ex-presidente da Câmara Municipal de Lisboa) não se tornou em realidade, e o custo das obras realizadas não foi justificado plenamente. A resolução daquele problema passava (e passa) por mais e melhor transporte público, e por um abaixamento da poluição provocada por tantos automóveis. Claro que mais prédios de escritórios na zona das avenidas novas só piorarão a situação atual. Parece racional, mas os interesses do imobiliário entram em choque com os dos peões e os dos residentes da zona.

O círculo vicioso poder-se-á ainda agravar mais se os turistas da Avenida da Liberdade se incomodarem com a poluição, e deixarem de frequentar as lojas de moda. No limite, podemos ter toda uma parte da cidade inviável e deserta (como ocorreu, por exemplo, em Detroit). O atual tráfego que atravessa essa avenida, e a recente solução de alterar os sentidos dos fluxos não foram devidamente ponderadas, atrapalhando a vida e o ambiente dos turistas. Olhando em conjunto para a avenida e o parque Eduardo VII imaginamos algo atrativo, o que contradiz a realidade saturada de poluição. Como manter os terraços dos hotéis (esplanadas, bares e restaurantes), daquela área, em paz, sossego e saúde?

Paulo Mendes da Rocha (Revista do Expresso, 7 de outubro de 2017) acha que “a educação é a grande revolução do futuro, e que a arquitetura é a disciplina que, estando em construção permanente, permite uma deambulação filosófica por vários territórios”. Ora, as cidades são os lugares por excelência para os homens viverem, ora movidos pelas necessidades ou por desejos, ora empurrados a exercitar o olhar, muitas vezes crítico sobre o edificado. Esquecer este aspeto perturba o bem estar, incomoda o passear, e inunda o ar de CO2. A vida fica em perigo. E adeus aos vizinhos (veja-se a Exposição no CCB sobre Aldo Rossi e Álvaro Siza, sobre a habitação social)!

Referências:
Castro, A. et al. Novas Perspectivas das Ciências do Homem, Editorial Presença, 1.ª Edição, 1970.
Exposição “Vizinhança: Onde Álvaro Encontra Aldo”, na Garagem Sul do CCB, de novembro 2017 a fevereiro 2018.

Helder Coelho, professor do Departamento de Informática de Ciências
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt
grupo de pessoas

Ciências ULisboa coordena projeto europeu Twinning em colaboração com a Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, e a Universidade de Tel Aviv, em Israel, e em parceria com a Universidade de Cambridge, no Reino Unido. O objetivo é promover a investigação de excelência e a formação avançada em Bioquímica e Biofísica de Proteínas, com impactos e aplicações em Biomedicina e Biotecnologia.

Ibéria Medeiros

Ibéria Medeiros, professora do Departamento de Informática da Ciências ULisboa, é a protagonista do terceiro vídeo do projeto “Porquês com Ciência”, divulgado no YouTube da Faculdade a 3 de novembro.

estantes com livros e revistas na biblioteca do C4

"September 2022 data-update for 'Updated science-wide author databases of standardized citation indicators'” divulga as bases de dados com os nomes dos cientistas mais citados a nível mundial em 2021 e ao longo da carreira. Estas bases de dados publicadas recentemente pela Elsevier têm o contributo de John Ioannidis, professor da Universidade de Stanford, na Califórnia.

A Faculdade presta homenagem a Carlos Sousa Reis, antigo professor da Ciências ULisboa nos domínios da Ecologia Marinha, Recursos Vivos Marinhos, Pescas e Ordenamento do Litoral.

grande auditório no evento de 2021

“Este é um momento de celebração da qualidade da investigação e da inovação desenvolvidas na Ciências ULisboa, a ocasião ideal para a partilha de conhecimento e para o estabelecimento de colaborações", diz Margarida Santos-Reis, subdiretora da Ciências ULisboa para a área da investigação, a propósito do Dia da Investigação.

José Rebordão, Luís Carriço e Manuel Silva assinam o protocolo

A Faculdade e a FCiências.ID assinaram um protocolo de cooperação com a Cercal Power, uma sociedade da Aquila Clean Energy, a plataforma de energia renovável da Aquila Capital na Europa, dedicada ao desenvolvimento, construção e exploração da central fotovoltaica do Cercal, em Santiago do Cacém.

Imagem de um cérebro em fundo digital

"A linha de investigação em Filosofia da Inteligência Artificial e da Computação surgiu pela primeira vez em Portugal na Ciências ULisboa, nomeadamente, no Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa (CFCUL), com o intuito de contribuir para um debate que interessa à sociedade no seu todo", escrevem João L. Cordovil e Paulo Castro, investigadores do CFCUL Ciências ULisboa.

logotipo do projeto

O Gabinete de Apoio Psicológico (GAPsi) da Ciências ULisboa partilhou o primeiro episódio do podcast “Chá do Dia”, no passado dia 19 de setembro. O quinto episódio deste projeto inovador já está disponível na plataforma Spotify.

Estúdio da FCCN

João Telhada é um dos protagonistas do projeto "Porquês com Ciência", nomeadamente no vídeo “É seguro pagar online com cartão VISA?”, disponível no canal YouTube da Faculdade. Para o professor do DEIO Ciências ULisboa, “a cultura científica é um aspeto essencial no progresso e desenvolvimento de um país”.

grupo de pessoas

Tom Henfrey, Giuseppe Feola, Gil Penha-Lopes, Filka Sekulova e Ana Margarida Esteves publicam na Sustainable Development, no âmbito de relatório da rede ECOLISE, da qual Ciências ULisboa faz parte.

A Faculdade presta homenagem a Henrique Manuel da Costa Guimarães, antigo aluno e professor da ULisboa, especialista em investigação sobre o ensino da Matemática.

Estátua de Alfred Nobel com flores por detrás

Os seis Prémios Nobel 2022 são anunciados entre 3 e 10 de outubro. A poucos dias de conhecer as personalidades que serão distinguidas este ano, recordamos os laureados em 2021, com a ajuda de professores e cientistas da Faculdade. Entre na breve e conheça os laureados da Fisiologia/Medicina e Física.

 

rapariga com vento no cabelo a ouvir música

"Que poder é este da música? Ela tem mesmo uma ligação com as emoções? Apesar de existirem posições contraditórias, a literatura aponta que a música é capaz de induzir emoções", escreve Marta Esteves, psicóloga no GAPsi Ciências ULisboa.

Sara Magalhães no estúdio da FCCN

Sara Magalhães é professora do Departamento de Biologia Animal da Ciências ULisboa desde 2016 e investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c). “Os ácaros são assim tão feios, porcos e maus?” é o tema apresentado pela professora, que inaugura o projeto “Porquês com Ciência”.

mar

Nos dias 26 e 27 de setembro decorre na Ciências ULisboa o “Fórum Oceano: Atlântico, um bem comum, visões partilhadas franco-portuguesas”, uma iniciativa organizada pela Faculdade e pelo MARE, no âmbito da Temporada Portugal-França 2022.

“Saúde, Dança e Ciência na qualidade de vida sustentável”

No próximo dia 23 de setembro irá decorrer na Ciências ULisboa um workshop que pretende sensibilizar jovens e adultos para a importância do movimento na saúde e na qualidade de vida sustentável.

livros

Ana Simões, presidente do Departamento de História e Filosofia das Ciências e investigadora no CIUHCT, terminou o seu mandato como vice-presidente da European Society for the History of Science no dia 10 de setembro, concluindo seis anos de envolvimento na direção.

imagem abstrata representativa de termodinamica

"Quando ensinamos temos que ter a preocupação de que os alunos compreendem as matérias da melhor forma possível, e essa é a minha forma de ensinar, que procurei refletir neste livro”, diz Patrícia Faísca, professora do DF Ciências ULisboa e autora do novo livro sobre Termodinâmica, publicado na editora CRC Press.

logotipo da iniciativa

“Porquês com Ciência” é o novo projeto de divulgação científica da Direção de Comunicação e Imagem da Faculdade e arranca no início deste ano letivo. Cinco vídeos serão lançados no YouTube até ao final de 2022 e têm como personagens principais João Telhada, Ibéria Medeiros, Marta Panão, Maria Manuel Torres e Sara Magalhães. As temáticas em foco estão relacionadas com as Bolsas de Palestras.

grupo de investigadores

O projeto LIFE PREDATOR, aprovado no âmbito do Programa LIFE, vai arrancar no próximo mês de outubro. Da equipa de trabalho europeia fazem parte sete professores e investigadores de três unidades de investigação da Faculdade, que vão colaborar no estudo e combate da espécie invasora peixe-gato europeu.

Alunos e professores

Portugal conquistou quatro medalhas de ouro, duas de prata e uma de bronze na 15.ª edição das Olimpíadas Internacionais de Ciências da Terra (IESO 2022). Esta foi a melhor participação de sempre de Portugal nestas provas internacionais.

Jovens na praia

Crónica sobre o Roteiro Entremarés da autoria do professor Carlos Duarte. Esta é a segunda aplicação que resulta da colaboração entre o Departamento de Informática da Ciências ULisboa e o Instituto de Educação da ULisboa, depois da publicação em 2017 da aplicação Roteiro dos Descobrimentos.

ilustração SARS-CoV-2

As pessoas vacinadas que foram infetadas pelas primeiras subvariantes Omicron têm uma proteção quatro vezes superior do que à das pessoas vacinadas que não foram infetadas. Estes resultados constam de um estudo liderado por Luís Graça e Manuel Carmo Gomes, publicado na prestigiada revista científica New England Journal of Medicine.

núvens cósmicas

O XXXII Encontro Nacional de Astronomia e Astrofísica terá lugar nos próximos dias 5 e 6 de setembro, na Ciências ULisboa. O evento é organizado pelo Centro de Astrofísica e Gravitação, em parceria com a Sociedade Portuguesa de Astronomia e a Ciências ULisboa.

Campo com árvores de fruto e hortícolas

O projeto GrowLIFE - coordenado pela Ciências ULisboa, FCiências.ID - Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências e Turismo de Portugal é financiado pelo Programa para o Ambiente e a Ação Climática (LIFE) no valor de €1.452.673,00 - e arranca em junho de 2023, tem uma duração de cinco anos. O resultado da candidatura coordenada pela Caravana AgroEcológica foi conhecido em abril deste ano e o contrato foi assinado em agosto.

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