No Campus com Helder Coelho

A Filosofia perante a Neurobiologia

Ler Filosofia (através de Espinosa) permite olhar o mundo, de forma crítica e pensar em profundidade. Em Ciência, observar e refletir são indispensáveis, para caminharmos, abrindo novas linhas de pesquisa

Pixabay

Helder Coelho

“Os medievais diziam que o ar da cidade torna os homens livres (…) A Universidade era o lugar da liberdade.”
Entrevista a Maria F. Molder, in Público, 10 novembro 2013

Começo por definir Filosofia como o estudo do geral, do global (da sabedoria), enquanto, por exemplo, a História visa o particular. Depois, podemos ser mais precisos e considerar a Filosofia como “a arte de formar, inventar, de fabricar conceitos” (substância de Aristóteles, cogito de Descartes, potência de Schelling, condição de Kant, monada de Leibniz, duração de Bergson, ...), os quais exigem personagens conceptuais que contribuem para a sua descrição. Os conceitos são objetos de reflexão que estão ligados aos vestígios da nossa experiência concreta. A constituição de um conceito toma forma enquanto o pensamento age com a palavra. No De Anima, Aristóteles afirma a sua convicção de que não podemos pensar sem imagens (era o que Einstein também afirmava). E, Kant diria que não podemos pensar sem imaginação (veja-se a evolução da conceção espinosista da imaginação). Damásio apoia estas duas perspetivas.

A Ciência não tem por objeto os conceitos, mas as funções, as quais permitem refletir e comunicar. E, parece não ter qualquer necessidade da Filosofia para as suas tarefas (não ter é bastante discutível, depois de aparecer a neurofilosofia). Pelo contrário, quando um objeto é cientificamente construído por funções, por exemplo um espaço geométrico, há que procurar o conceito filosófico que não é dado na função. Poder-se-á dizer que a Filosofia e a Ciência seguem dois caminhos opostos, porque os conceitos filosóficos abordam os acontecimentos, enquanto as funções científicas têm por referência os estados das coisas e as misturas.

O filósofo inventa, cria e pensa o conceito, reintroduz uma relação com outros, escolhe categorias, faz exercícios sobre o sentido das palavras. Platão achava que era preciso contemplar as ideias, mas hoje em dia a Filosofia já não é contemplação (vistas), nem reflexão e nem comunicação, embora tenha de criar conceitos para as suas próprias ações e agitações (ou movimentos, como desejo, amor, ódio). Toda a criação é singular, e o conceito como criação filosófica é sempre uma singularidade. O primeiro princípio da Filosofia é que os Universais não explicam nada, eles é que devem ser explicados.

Conheça-se a si-mesmo – aprenda a pensar – faça como se nada fosse – espante-se... estas determinações, e muitas outras, constituem atitudes interessantes, embora não sejam uma atividade precisa.

Os filósofos não se ocuparam suficientemente da natureza do conceito como realidade filosófica. Preferiram o considerar como um conhecimento ou uma representação de dados que se explicavam através de faculdades capazes de o formar (abstração ou generalização) ou de fazer uso dele (julgamento).

Ler Filosofia (através de Espinosa) permite olhar o mundo, de forma crítica e pensar em profundidade. Em Ciência, observar e refletir são indispensáveis, para caminharmos, abrindo novas linhas de pesquisa. No caso de Espinosa, voltei a ler o inacabado Tratado da Reforma do Entendimento, em particular a parte relacionada com as paixões (sofrimentos, como admiração, amor, ódio, desejo) por causa do (Damásio, 29017), isto é com a observação dos sentimentos e a compreensão do que somos (condição ou natureza humana). Neste último livro, Damásio, um neurobiólogo, aproveita os novos saberes do homem para um vai e vem constante entre a Filosofia e as Neurociências. Ao lermos somos empurrados para pensar, enquanto o escritor nos ajuda a fazer outras leituras.

A Teoria do Agente Humano, de Espinosa, leva-nos a crer que somos governados por forças inconscientes. Falta-lhe o eu (self) ou seja a primeira pessoa que se encarrega de ir para a frente, de acompanhar a causalidade das ações. Por outro lado, a cognição é agora uma cognição do corpo, o que Damásio explica graças ao sistema nervoso, transformando o binómio mente-cérebro num triângulo mente-cérebro-corpo. No que diz respeito as emoções, em Espinosa, elas estão dirigidas para fora (exterior) e focam (intendem) um objeto, o que não contraria Damásio, capaz de compreender que os sentimentos estão virados para o interior e, apesar da subjetividade, dão bom recado da regulação do bem estar do organismo.

Gilles Deleuze, falando sobre a obra de Michel Foucault, afirmou que “a Filosofia apresenta-se com a arte de dizer o que se transformou em complicado”. Damásio, inspirado por Espinosa, corta e cola, inova e assume que a subjetividade é um processo complicado, o qual depende de dois ingredientes básicos, 1) a criação de uma perspetiva para as imagens na mente e 2) o acompanhamento das imagens por sentimentos. Mais, defende que “as experiências mentais que constituem a consciência dependem da presença de imagens mentais e do processo de subjetividade que faz com que tais imagens sejam nossas”. Mas isto ainda não é tudo.

Falar em mente impõe também referir os estados mentais, sobretudo quando sabemos que os mais fundamentais são os sentimentos com as suas valências (bons, maus, positivos, negativos). Muitos falam de mentes sem perceber que há um caminho longo entre sensação e consciência. E, é bom lembrar que Espinosa deu a mesma importância aos problemas da natureza, da conduta e do destino humano!

Referência:
Damásio, A. A Estranha Ordem das Coisas, A Vida, os Sentimentos e as Culturas Humanas, Temas e Debates, Círculo dos Leitores, 2017.

Helder Coelho, professor do Departamento de Informática de Ciências
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt
Batimetria do fundo do mar e topografia terrestre

Um novo estudo, recorrendo a modelos computacionais, prevê que uma zona de subdução atualmente na região do Estreito de Gibraltar se irá propagar para o interior do Atlântico e irá contribuir para a formação de um sistema de subdução atlântico – um anel de fogo atlântico. Este trabalho publicado pela Sociedade Geológica da América resulta de uma colaboração entre os professores da Ciências ULisboa – João Duarte e Filipe Rosas – e investigadores da Johannes Gutenberg University Mainz (Alemanha).

Minifloresta da Faculdade

A FCULresta - um dos projetos do Laboratório Vivo para a Sustentabilidade da Ciências ULisboa e que tem origem no projeto europeu "1Planet4All - Empowering youth, living EU values, tackling climate change" -, foi selecionada e destacada como um dos projetos com maior impacto do programa ‘DEAR: Development Education and Awareness Raising", financiado pela União Europeia.

Cartaz com fotografias de várias mulheres

Ciências ULisboa reconhece o papel fundamental exercido pelas mulheres e pelas raparigas na ciência e na tecnologia. No Dia Internacional de Mulheres e Raparigas na Ciência recordamos Glaphyra Silva Vieira, a primeira mulher assistente no Laboratório de Física da Ciências ULisboa, uma biografia da autoria de Maria da Conceição Abreu e Paula Contenças.

Conceção artística do telescópio espacial nos raios gama, Fermi, da NASA

As regiões polares do Sol foram as mais ativas na emissão de radiação de alta energia durante o anterior máximo solar, um desequilíbrio ainda por explicar, e relatado pela primeira vez num estudo liderado por Bruno Arsioli, investigador do Instituto de Astrofísica e de Ciências do Espaço, da Ciências ULisboa.

anfíbio

Após a República Checa, chegou a hora da cidade de Lisboa ser palco da próxima Conferência Europeia de Ecologia Tropical 2024. Jorge Palmeirim, professor da Ciências ULisboa, coordenador do grupo de Biodiversidade Tropical e Mediterrânica no cE3c, é o chairman desta conferência, que se realiza na Ciências ULisboa entre 12 e 16 de fevereiro.

Helena Gaspar e Alexandra M. Antunes, pormenor de estrutura molecular N-desetil-isotonitazeno em fundo

O Laboratório de Polícia Científica (LPC) da Polícia Judiciária (PJ) detetou uma nova droga sintética - o N-desetil-isotonitazeno. A identificação da droga sintética contou com a colaboração da Ciências ULisboa, no âmbito de um protocolo de cooperação entre o LPC-PJ e a Ciências ULisboa que visa a análise de novas substâncias psicoativas (NSP).

lareira tradiciobal a lenha

Um novo estudo mostra que o uso de lareiras tradicionais a lenha para o aquecimento da casa pode diminuir a esperança média de vida em até 1,6 anos, devido às partículas finas que são emitidas na combustão da lenha. Estes são resultados de um trabalho experimental de modelação computacional liderado pela Ciências ULisboa.

Raquel Conceição

Uma equipa de cientistas do Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica (IBEB) da Ciências ULisboa liderada por Raquel Conceição vai receber 1.5M€ para reforçar as suas áreas de capacitação em Imagiologia Médica por Micro-ondas (MMWI), no âmbito de um projeto Twinning, com o título “Bone, Brain, Breast and Axillary Medical Microwave Imaging Twinning (3BAtwin)”, realizado em parceria com a Universidade de Galway (Irlanda) e com o Politécnico de Turim (Itália).

Carlos Pires

Carlos Pires, professor da Ciências ULisboa e investigador do Instituto Dom Luiz, é o primeiro autor do artigo “Uma teoria geral para estimar a transferência de informação em sistemas não lineares”, publicado na Physica D: Nonlinear Phenomena, volume 458, em fevereiro, e no qual desenvolve um formalismo matemático de estimação da causalidade entre variáveis interatuantes.

Atividades na HortaFCUL, num Dia Aberto em 2015

Em outubro de 2024 a HortaFCUL assinala 15 anos de existência. Os resultados apresentados no relatório "Living the sustainable development: a university permaculture project as an ecosystem service provider - The HortaFCUL case study (2009-2023)" apresentam o impacto regenerativo e transformador da HortaFCUL.

Pessoa a observar o céu

De 15 a 18 de fevereiro, a Física está em destaque na cidade de Lisboa, no Encontro Nacional de Estudantes de Física (ENEF). Este é um evento que pretende reunir estudantes e profissionais na Ciências ULisboa, procurando dar uma perspetiva diferente do ensino da Física a nível universitário.

Revegetação com especies autoctones

“O projeto em curso no Lousal mostra que é possível conciliar a atividade de mineração com a devolução do território à natureza com o mínimo impacto possível”, escreve Jorge Buescu na crónica publicada na revista Ingenium n.º 183, referente ao primeiro trimestre de 2024.

Pontos de interrogação

 Vladimir Konotop, professor da Ciências ULisboa, participou num estudo publicado este mês na Nature Photonics - “Observação da Localização da Luz em Quasicristais Fotónicos” -, em colaboração com investigadores da Universidade Jiao Tong de Xangai (China) e da Academia de Ciências Russa  (Rússia).

Aluna a fazer uma apresentação numa sala de aula

Inês Sofia Cruz Dias e Ana Carolina Preto Oliveira, estudantes da Ciências ULisboa, apresentaram os seus relatórios da disciplina Voluntariado Curricular, 1.º semestre, no passado dia 22 de janeiro. Sensibilizar os estudantes para as temáticas da solidariedade, tolerância, compromisso, justiça e responsabilidade social e proporcionar-lhes oportunidades para o desenvolvimento de competências transversais são alguns dos objetivos do Voluntariado Curricular.

Cristina Simões, Fernando Antunes, José Pereira-Leal, Jorge Maia Alves, Andreia Valente, Hugo Ferreira, Rui Ferreira e Pedro Almeida

Os projetos Lusoturf e TAMUK são os vencedores da 1.ª edição do Concurso de Projetos de Inovação Científica, uma iniciativa promovida pela Ciências ULisboa e FCiências.ID, com o apoio do Tec Labs.

Membro da FLAD, Marcelo Rebelo de Sousa e José Ricardo Paula

José Ricardo Paula, investigador da Ciências ULisboa, vencedor do FLAD Science Award Atlantic 2023, teve a honra de receber o prémio pelas mãos do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Para o diretor da Ciências ULisboa, Luís Carriço, este prémio é um reconhecimento do mérito e da excelência da investigação que se faz na faculdade: “Estou muito orgulhoso, mas não estou surpreendido. O trabalho que o José Ricardo Paula desenvolveu é brilhante e o próprio Presidente da República fez questão de referir isso. O nosso investigador está de parabéns, bem como a faculdade”.

Ana Sofia Reboleira

O projeto “Barrocal-Cave: Conservation, monitoring and restoration assessment of the world-class cave biodiversity hotspot in Portugal foi distinguido com o 2.º lugar do Prémio Fundação Belmiro de Azevedo 2023. Ana Sofia Reboleira é a investigadora responsável por este projeto, que tem como instituição proponente a FCiências.ID.

Fotografia de Henrique Leitão

O Papa nomeou a 10 de janeiro o cientista Henrique Leitão como membro do Comité Pontifício de Ciências Históricas, informou o Vaticano. A Agência Ecclesia refere que o novo membro deste comité colaborou com o Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja, enquanto coautor do ‘Clavis Bibliothecarum‘ (2016), um levantamento de catálogos e inventários de bibliotecas da Igreja Católica em Portugal.

Fotografia de Beatriz Amorim

Beatriz Amorim foi premiada com uma bolsa Marie Sklodowska-Curie, uma iniciativa da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA, sigla em inglês). A estudante do último ano de mestrado em Engenharia Física, na Ciências ULisboa, participa a partir de 15 de janeiro e durante seis meses, num projeto inovador na Alemanha, no âmbito do Programa GET_INvolved do FAIR.

Henrique de Gouveia e Melo e Henrique Leitão

“As três últimas décadas foram excecionais para os estudos de História Marítima, da Ciência Náutica, da Cosmografia e da Cartografia portuguesas”, diz Henrique Leitão, investigador da Ciências ULisboa, a propósito da atribuição do Prémio Academia de Marinha 2023, ocorrido no passado dia 9 de janeiro, durante a Sessão Solene de Abertura do Ano Académico de 2024.

Membros da expedição em frente do RV Pelagia

A Ciências ULisboa destacou no passado mês de dezembro - na EurekAlert - uma história sobre um estudo, que relata evidências sem precedentes de respostas ecológicas do fitoplâncton calcificante à deposição de nutrientes fornecidos pela poeira do Sara. O trabalho publicado na Frontiers in Marine Science tem como primeira autora Catarina Guerreiro, micropaleontóloga e investigadora em bio geociências marinhas na Ciências ULisboa.

Cientista em gruta

Um estudo publicado na Scientific Reports e coordenado por Ana Sofia Reboleira, professora no Departamento de Biologia Animal da Ciências ULisboa e investigadora no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c), analisou mais de 100000 medições de temperaturas em grutas localizadas em diversas zonas climáticas, desde as tropicais às subárticas, passando por Portugal continental e ilhas.

Identidade gráfica da crónica com imagem de Andreia Sofia Teixeira

A crónica da autoria da Comissão de Imagem do Departamento de Informática da Ciências ULisboa visa realçar a investigação feita pelos docentes e investigadores deste departamento. A segunda crónica dá a conhecer Andreia Sofia Teixeira.

Pessoas junto ao edifício do MARE, na Ciências ULisboa

Com o intuito de colaborar no desenvolvimento de um parque eólico offshore flutuante ao largo da Figueira da Foz, o MARE e a IberBlue Wind (IBW) assinaram a 5 de dezembro passado um protocolo que estabelece os moldes da parceria futura. A colaboração da IBW com o MARE irá permitir estudar os eventuais impactos da instalação da infraestrutura nos ecossistemas marinhos da área de implementação, e propor soluções que mitiguem os eventuais impactos negativos na componente ecológica e na atividade da pesca.

A Ciências ULisboa foi palco do mais recente workshop da International Atomic Energy Agency (IAEA). O “Regional Workshop on Nuclear and Radiation Education - Strategies and Approaches to Enhance Capacity Building in Nuclear Education and Training” realizou-se entre os dias 4 e 7 de dezembro e contou com a presença de 37 representantes de 25 países europeus e asiáticos, assim como de especialistas internacionais e delegados da IAEA.

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