Rafael Hipólito, vencedor do concurso Integration Bee: “A vida de um matemático consiste em perseguir o que não sabe”

Rafael Hipólito está a tirar o mestrado de matemática

Rafael Hipólito ganhou a competição Integration Bee, que se realizou no Instituto Superior Técnico

Tânia Marques - FCUL-CIÊNCIAS

Rafael Hipólito, aluno de mestrado de Matemática da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS), resolve problemas de cálculo integral com o mesmo espírito lúdico de quem dá a volta a exercícios de Sudoku. E esse gosto por uma área da matemática que assusta muitos estudantes haveria de revelar-se compensador: A 31 de maio, o jovem de 22 anos foi ao Instituto Superior Técnico participar na primeira edição da competição Integration Bee – e saiu de lá com o primeiro lugar desta competição inspirada num modelo do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), que pressupõe a resolução de exercícios, em simultâneo, numa lógica de eliminatórias. Em folhas de teste ou em competições como a Integration Bee, há uma propensão para exercícios artificiais, mas Rafael Hipólito recorda que esta área da matemática continua a ter utilidade no dia-a-dia:  “Se para construir uma ponte preciso de cálculo integral, então é bom que haja quem saiba de cálculo integral para o caso de o programa de computador falhar ou tiver de ser desenvolvido um novo programa”.

Há quem diga que Cálculo Integral é um pequeno terror… concordas com a descrição?

É comum as pessoas dizerem que o Cáculo Integral é um terror, porque ao contrário de muitas outras coisas que na matemática, não há uma fórmula única que resolve todas as variáveis. Um aluno tem de lidar com um conjunto de ferramentas que resolvem “integrais”. A dificuldade está em saber como usar essas ferramentas e descobrir quais as ferramentas que podem ser usadas a cada momento. É algo que acaba por se tornar interessante, mas sei que existe esse preconceito de ser um terror…

Esses problemas matemáticos têm sempre aplicações práticas evidentes?

Em momentos de avaliação podem surgir problemas criados artificialmente para levar ao uso de técnicas específicas (e não tanto de ordem prática). É comum as escolas e universidades apresentarem problemas matemáticos que não estão associados só a um problema real… por exemplo com álgebra, podemos ter 2x+3=5… e esse problema pode ser pensado de forma artificial apenas para testar a capacidade de resolução de problemas. Mas depois essa capacidade tem aplicações práticas.

No caso do cálculo integral, qualquer pesquisa na Internet diz que é uma ferramenta para medir áreas sob formas curvas. Não há mais nenhuma aplicação?

Essa definição de que o “integral” mede a área abaixo de uma curva é a mais clássica, mas também podemos dar como exemplo um carro enquanto anda numa autoestrada. Se soubermos os valores do velocímetro a cada instante, então sabemos a distância percorrida por esse carro ao longo do tempo. Nesse caso, temos uma curva que resulta da variação da velocidade em função do tempo. No fundo temos uma curva de velocidade-tempo e a “integral” remete para a distância percorrida.

Rafael Hipólito, aluno de mestrado de matemática
Rafael Hipólito recorda que "a matemática está todo o lado" 

 

E foi esse tipo de exercícios que treinaste antes do concurso Integration Bee, do Técnico? Como é que te preparaste para a competição?

Nos dias antes da competição estive mais focado noutras disciplinas. Inscrevi-me sem qualquer ideia de que ia ganhar ou sequer qualificar-me para as meias finais. Inscrevi-me pelo gosto na resolução de “integrais”… Não há uma fórmula mágica que funcione para tudo. É como um jogo. No fundo, é algo comparável ao Sudoku. Todos os problemas que surgem nestas competições têm forma de ser resolvidos. São problemas criados de forma artificial, que alguém já resolveu antes, e por isso sabemos que têm resolução. Os que fogem ao padrão de soluções costumam ser os mais interessantes. Não pratiquei muito, mas tenho gosto na resolução de “integrais”… e de certa maneira, estive a minha licenciatura a praticar e, de vez em quando, fui praticando, nos últimos anos, quando encontrava problemas de cálculo integral interessantes. Não tinha uma intensidade muito alta, mas sim, fazia por diversão.

E os exercícios da competição eram difíceis?

Na primeira ronda de qualificação, todos os concorrentes tinham de fazer algo comparável a um exame, com dez perguntas. Eu competi na secção individual. Tínhamos de responder a 10 perguntas para 20 minutos. As cinco pessoas com melhores qualificações passaram para as meias-finais, que tinham de resolver, em simultâneo, cinco exercícios em cerca de 20 minutos no quadro. Empatei com mais dois concorrentes e tivemos de fazer o desempate com rondas extra, em que o fator decisivo era o tempo gasto a dar a resposta correta. Respondi corretamente em menos tempo… e passei à final. Na final, o caráter era semelhante ao das rondas anteriores, mas os problemas eram mais difíceis. Ganhei com uma vantagem de dois exercícios e, por isso, já não foi preciso responder à última questão (nota: os concorrentes tinham de resolver os problemas no momento ). O nível dos concorrentes era bastante semelhante, mas a sorte também foi um fator decisivo!

Sorte? Isso existe na matemática?

Também há a sorte de a ideia chegar à cabeça no momento certo! (risos)

Achas que estas técnicas vão ser úteis para o dia-a-dia profissional?

Os problemas de cálculo integral costumam ser bastante difíceis ou bastante fáceis; não há muito meio termo. Vejo-me a fazer isto na vida profissional, mas não por achar que é especialmente importante a resolução exata de “integrais”… também existe a resolução que apresenta resultados aproximados por métodos numéricos, e há computadores que resolvem esses problemas muito rapidamente, com muitas casas decimais. E existem também programas de computador que resolvem estes desafios de forma exata; por vezes são melhores que os humanos, e por vezes os humanos são melhores que os computadores. Há problemas de matemática pura que os humanos sabem resolver melhor que os computadores, mas o cálculo integral vai ser sempre útil. Se para construir uma ponte preciso de cálculo integral, então é bom que haja quem saiba de cálculo integral, para o caso de o programa de computador falhar ou ter de ser desenvolvido um novo programa.

Que profissão queres seguir?

Gostaria de fazer investigação matemática e, se calhar, também trabalhar na área do ensino. O  número de problemas em aberto na matemática não tem vindo a diminuir, mas sim a aumentar. Há cada vez mais matemáticos a trabalhar e, por cada problema que se resolve, há outros que surgem entretanto. No fundo, um matemático não está tão interessado naquilo que já sabe fazer – precisamente porque já sabe fazê-lo. A vida de um matemático consiste em perseguir o que não sabe.

Será a matemática a resolver os grandes problemas e desafios que afetam o mundo, como as alterações climáticas, a escassez de alimentos ou a eficiência energética?

Para dizer que há alterações climáticas, é necessária a matemática. São necessários modelos, e quem faz os modelos são matemáticos, ou quem trabalha com estatísticas. Portanto, a matemática está em todo o lado. Sempre que precisamos de dizer que algo está a acontecer precisamos de matemática.

Hugo Séneca - DCI CIÊNCIAS
hugoseneca@ciencias.ulisboa.pt
dois alunos no laboratório

Doze alunos do Clube Ciência Viva da Escola Secundária Padre António Vieira visitaram um dos laboratórios da Faculdade. A visita foi organizada pelo professor Octávio Paulo, orientada por dois alunos da Faculdade.

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“A iniciativa alcançou o sucesso científico desejado, prontamente reconhecido pela maioria dos seus participantes, (...) o que confirma o interesse crescente que os temas dos riscos urbanos têm vindo a suscitar, no seio da comunidade técnica e científica internacional”, escreve Paula Teves-Costa, presidente da Comissão Organizadora da ICUR2022.

evento da ECFS com pormenor para sigla da sociedade

Carlos M. Farinha, professor do Departamento de Química e Bioquímica da Ciências ULisboa e investigador do Grupo de Investigação em Fibrose Quística, incluído no Grupo de Genómica Funcional e Proteostase do BioISI, foi eleito membro do Conselho de Direção da Sociedade Europeia de Fibrose Quística (ECFS sigla em inglês).

Dua jovens observam espécies no campus da Faculdade

"O BioBlitz é uma metodologia para realizar uma avaliação rápida da biodiversidade de um local num determinado período de tempo", escrevem Patrícia Tiago e Sergio Chozas, coordenadores do +Biodiversidade @CIÊNCIAS. Há cerca de um mês dinamizaram um BioBlitz no campus da Faculdade. Leia a crónica dos cientistas sobre o assunto.

Imagem de satélite da erupção do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha'apai

Estudo publicado na Nature e liderado por investigadores do Instituto Dom Luiz da Ciências ULisboa e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) explica o mecanismo por detrás da geração e propagação do tsunami incomum, ocorrido após a explosão colossal do vulcão Hunga Tonga-Hunga Ha'apai, em Tonga.

Imagens do campus, laboratórios e salas de aula

Entrevista com os professores Cláudio M. Gomes, Margarida Gama Carvalho e Carlos Cordeiro - membros da Comissão de Coordenação do Mestrado em Bioquímica e Biomedicina -, sobre o mestrado em Bioquímica e Biomedicina. Até maio de 2022, cerca de 165 alunos concluíram com sucesso este mestrado, criado em 2009.

Imagens relacionadas com o mestrado em Bioquímica e Biomedicina

"Há importantes mudanças no plano de estudos. Simplificámos o percurso formativo, abolindo áreas de especialidade, mas dando grande liberdade aos alunos para a escolha das optativas que mais lhes interessam e ampla escolha", escrevem Cláudio M. Gomes, Margarida Gama Carvalho e Carlos Cordeiro, membros da Comissão de Coordenação do Mestrado em Bioquímica e Biomedicina.

bioplásticos

O BioLab Lisboa é palco do evento Young Creators – BioLab Edition, que se realiza entre 4 e 8 de julho e cujas inscrições terminam a 2 de julho. O programa destina-se a pessoas com mais de 12 anos. O objetivo desta iniciativa é incentivar a criatividade e o desenvolvimento de novas ideias, através do acesso a equipamentos e ao conhecimento na área da Biotecnologia.

Jovem em frente ao computador

A 1.ª fase de candidaturas aos mestrados da Faculdade decorre até 11 de julho. Esteja atento às redes sociais da Faculdade e conheça os testemunhos de quem frequenta estes cursos. Para Fernanda Oliveira, subdiretora da Direção, “a Faculdade tem uma oferta formativa muito diversificada”.

Complexo não covalente de composição [KrSF5]+ (Fig. 1), que provem duma molécula estável, [KrSF6]+ (Fig. 2), em resultado da reação direta de hexafluoreto de enxofre com crípton ionizado

Este ano comemora-se os 60 anos da descoberta da reatividade dos gases nobres nomeadamente do xénon. Nuno A. G. Bandeira, investigador do Departamento de Química e Bioquímica e do BioISI Ciências ULisboa, escreve sobre os gases nobres, suas aplicações e um estudo recente da sua autoria e de cientistas do Centro de Química Estrutural e que apresenta um novo composto de crípton.

Logotipo GMC

A primeira fase de decisões da primeira volta do Global Management Challenge 2022 terminou no passado dia 14 de junho. Em competição estiveram 206 equipas a nível nacional - compostas por estudantes, quadros de empresas ou mistas -, duas delas incluem estudantes da Ciências ULisboa.

Grande auditório da Faculdade com pessoas

Vale a pena recordar os 111 anos comemorados no grande auditório da Faculdade no canal YouTube, numa viagem imaginária a Marte, com a tradicional entrega de prémios e distinções e outros momentos singulares, assim como conhecer a opinião daqueles que participaram no evento.

sao jorge ao fundo e logotipo da iniciativa

“Andamentos da Ciência” é o novo ciclo de conferências da Ciências ULisboa que arranca no próximo dia 22 de junho. Nesta iniciativa, especialistas de diferentes áreas do conhecimento vão partilhar o saber sobre os temas mais atuais da sociedade, na forma de comunicações inspiradas nas palestras TED.

quatro estudantes

O Departamento de Geologia atribuiu 14 cartas de reconhecimento de mérito aos melhores alunos da licenciatura em Geologia de 2019/2020 e de 2020/2021. O Gabinete de Jornalismo entrevistou alguns dos estudantes distinguidos na ocasião. Saiba o que pensam sobre o curso que frequentaram na Faculdade e o que estão a fazer neste momento.

conjunto de pessoas no palco

Numa cerimónia realizada durante a Feira Nacional da Agricultura 2022, em Santarém, foi apresentado e contratualizado o projeto AdaptForGrazing, inscrito no Plano de Recuperação e Resiliência. O projeto é coordenado por Cristina Branquinho, professora do Departamento de Biologia Vegetal da Faculdade e investigadora do cE3c.

Praia

No próximo dia 17 de junho, na praia de Albarquel, em Setúbal, decorrem as atividades “Ida à Maré e Festa na Praia”, promovidas pelo projeto bLueTIDE. Estas atividades contam com a participação de investigadores do MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, polo da Ciências ULisboa, com o apoio da Incubadora do Mar & Indústria da Figueira da Foz.

Ato solene da atribuição do título no Centro Cultural Alcazaba de Mérida

Ricardo Trigo, professor do Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia e investigador do Instituto Dom Luiz, recebe título doutor honoris causa da Universidade da Extremadura, numa cerimónia que teve lugar no Centro Cultural Alcazaba de Mérida, em Badajoz, Espanha, no passado dia 1 de junho.

Galardoados com os Prémios Verdes

O COVIDETECT é o vencedor dos Prémios Verdes na categoria investigação. “É uma distinção que muito nos honra e que reforça o caráter inovador e visionário do projeto”, diz Mónica Vieira Cunha, professora do Departamento de Biologia Vegetal da Ciências ULisboa, investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) e coordenadora científica do consórcio.

lancha hidrográfica leva os alunos para o rio

Durante o mês de maio, uma turma de alunos do 3.º ano, finalistas do curso de Engenharia Geoespacial deslocou-se em trabalho de campo até à Praia de Santo Amaro, em Oeiras, para realizar um levantamento topo-hidrográfico da praia. O trabalho constitui o projeto final da disciplina de Hidrografia, ministrada pelo professor Carlos Antunes.

Anfiteatro com os participantes da homenagem

Este ano a celebração do Dia Mundial da Terra no Departamento de Geologia foi ainda mais especial:organizaram a conferência “A evolução da Geologia costeira em Portugal e principais desafios futuros” com o objetivo de surpreender e homenagear César Andrade, professor na Faculdade há 43 anos. A reportagem inclui vários testemunhos de colegas e antigos alunos.

Joana Ribeiro, Bárbara Henriques e Filipa Carvalho no simpósio

A Sociedade Portuguesa de Doenças Metabólicas (SPDM) atribuiu uma bolsa de apoio à investigação Dr. Aguinaldo Cabral, no valor de 10.000€, a Bárbara Henriques, investigadora do Departamento de Química e Bioquímica e investigadora principal do Instituto de Biossistemas e Ciências Integrativas (BioISI), polo da Ciências ULisboa. É a primeira vez que um investigador da Ciências ULisboa recebe este prémio.

Cinco alumni e logotipo da rubrica

Esta foi a pergunta feita a cinco alumni da Ciências ULisboa durante o mês de maio. A primeira série de lives transmitidas em direto no Instagram também está disponível no canal YouTube da Faculdade. Estas primeiras cinco conversas descontraídas e enriquecedoras contaram com a presença de Eduardo Matos, Dário Hipólito, Ana Prata, Margarida Ribeiro e João Graça Gomes.

Planta de tomate

“O efeito da competição e simbiose na virulência de um parasita de plantas" - um projeto coordenado pelas cientistas Alison Duncan e Sara Magalhães - é um dos quatro projetos vencedores da 1.ª edição do Prémio Tremplin Mariano Gago.

Paisagem antártica na zona de estudo

As alterações climáticas amplificam as ondas de calor no continente antártico. Esta é a conclusão apresentada pelos cientistas Sergi González-Herrero, David Barriopedro, Ricardo M. Trigo, Joan Albert López-Bustins e Marc Oliva num artigo publicado na Communications Earth & Environment.

Alexandre M. Ramos, Francisco S. N. Lobo, Margarida D. Amaral e Sara C. Madeira

Alexandre M. Ramos, Francisco S. N. Lobo, Margarida D. Amaral e Sara C. Madeira são as personalidades da Faculdade distinguidas com os Prémios Científicos ULisboa/Caixa Geral de Depósitos (CGD) 2021. Os seus colegas Cláudio M. Gomes e Francisco Malta Romeiras também são agraciados nesta edição com menções honrosas. A cerimónia de atribuição destes prémios e menções honrosas acontece no próximo dia 28 de junho, no salão nobre da Reitoria da ULisboa.

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