Entrevista com Flávio Gomes Oliveira, doutorando em Biologia e Ecologia das Alterações Globais

Persistência, paciência e força de vontade

Flávio Gomes Oliveira a verificar se as armadilhas capturaram algum musaranho

Flávio Gomes Oliveira a verificar se as armadilhas capturaram algum musaranho

Imagem cedida por FGO

O artigo “Metabolic and behavioral adaptations of greater white-toothed shrews to urban conditions” tem como coautores Flávio Gomes Oliveira, Maria da Luz Mathias, Leszek Rychlik, Joaquim Tapisso e Sophie von Merten.

"A ideia para o trabalho surgiu em julho de 2018 durante uma conferência internacional organizada pela Society for Experimental Biology."
Flávio Gomes Oliveira

Flávio Gomes Oliveira, doutorando do programa doutoral em Biologia e Ecologia das Alterações Globais, é um dos autores de um estudo publicado em outubro na Behavioral Ecology e que detetou diferenças substanciais no comportamento e metabolismo dos musaranhos-de-dentes-brancos (Crocidura russula) que ocorrem na cidade de Lisboa, quando comparados com indivíduos provenientes de áreas naturais, como o Parque Natural de Sintra Cascais. Os resultados deste trabalho integram a sua tese de doutoramento. Nesta entrevista o jovem investigador faz um balanço dos primeiros anos do doutoramento e deixa conselhos para quem quer seguir esta área.

Como correu este trabalho?

Flávio Gomes Oliveira (FGO) - Extraordinariamente bem! A ideia para o trabalho surgiu em julho de 2018 durante uma conferência internacional organizada pela Society for Experimental Biology. Um mês depois já estávamos a fazer experiências, e em outubro desse ano concluímos a parte experimental. O mais complicado foi capturar os musaranhos em ambiente urbano. É difícil encontrar espaços verdes em Lisboa seguros para trabalhar à noite (os musaranhos são predominantemente noturnos), e pedir autorização aos responsáveis por esses espaços nem sempre é rápido. Mas felizmente acabou tudo bem. Nem tudo num doutoramento precisa de correr mal!

Porque escolheu este doutoramento?

FGO - Já tinha trabalhado no mestrado com o grupo da professora Maria da Luz Mathias, onde fui bem acolhido e onde aprendi muito com a experiência. Este programa doutoral tinha a vantagem de ser uma parceria entre a ULisboa e a Universidade de Aveiro, logo iria permitir-me continuar a trabalhar no mesmo grupo de investigação. As bolsas mistas atribuídas pelo programa conferiam-me a vantagem de ir trabalhar para o estrangeiro, um desejo que eu tinha. Por fim, a temática das alterações globais é muito atual e interessante. Foi um conjunto de fatores que combinaram para hoje me fazerem olhar para trás e ver que tomei a decisão acertada (sorrisos).

Em 2012, Flávio Gomes Oliveira participou num curso de campo sobre Ecologia Tropical, na Tanzânia. Este curso de campo foi organizado pela Tropical Biology Association, que tinha uma parceria com o atual Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c).

Indique as principais dificuldades do doutoramento e como as ultrapassou?

FGO - Acho que qualquer aluno de doutoramento em vias de entregar a tese pode escrever uma monografia acerca das dificuldades que teve no doutoramento (sorrisos). Para não me alongar muito, para mim, a principal dificuldade foi a primeira tarefa do doutoramento. Eu e os meus orientadores desenhámos uma tarefa que pretendia responder à questão de como os musaranhos usam o torpor (baixam a temperatura corporal para poupar energia) em resposta ao risco de predação. Eu ainda era relativamente inexperiente, por isso houve muita coisa que correu mal. É muito difícil manter estes animais em cativeiro. Quatro meses mais tarde, descobrimos que a experiência tinha sido mal executada, e os dados recolhidos não podiam ser aproveitados. Por isso tivemos de redesenhar a experiência, com a consequência de eu ter desperdiçado quatro meses do meu doutoramento. Como se não bastasse esse entrave inicial, os resultados obtidos nesta nova tarefa foram bastante controversos, o que levou a prolongadas discussões entre mim e os meus orientadores acerca do que havíamos de fazer com esses dados. De tal forma que só quatro anos depois da experiência ter acabado é que conseguimos chegar a um consenso e submeter o artigo a uma revista. Reparem bem na ironia: a última experiência do meu doutoramento foi publicada numa revista científica antes da minha primeira tarefa!

Musaranho a ser devolvido ao local onde foi inicialmente capturado após as experiências estarem concluídas
Musaranho a ser devolvido ao local onde foi inicialmente capturado após as experiências estarem concluídas
Fonte FGO

Como é que as ultrapassei? Sobretudo com muita persistência, paciência e força de vontade. Tirei um curso de experimentação animal onde aprendi novos métodos para cuidar dos animais. As falhas da primeira tarefa também me ensinaram a valorizar muito mais a pesquisa bibliográfica que se deve fazer antes de preparar uma tarefa. Graças a isso, as restantes tarefas do doutoramento correram bastante melhor.

No final, senti-me como uma fénix: a primeira tarefa do meu doutoramento reduziu-me a cinzas, mas dessas cinzas nasceu uma ave mais brilhante e flamejante que a anterior.

Indique as principais alegrias do doutoramento e que conselhos deixa a quem quer seguir esta área?

FGO - Tive duas grandes alegrias no meu doutoramento. A primeira foi ter conhecido a minha namorada durante o trabalho de campo. É muito arriscado e complicado um biólogo fazer trabalho de campo sozinho, são necessários assistentes para nos ajudar. A minha namorada foi uma dessas assistentes numa noite em que também capturei a minha primeira doninha! A partir daí desenvolveu-se uma amizade especial que evoluiu para algo mais. E já lá vão três anos (sorrisos). A segunda maior alegria foi mesmo a publicação deste artigo, o primeiro do meu doutoramento. Por tudo o que tende a correr mal num doutoramento, a minha última tarefa decorreu com bastante normalidade. Também teve resultados inesperados e fascinantes, e graças a isso consegui publicá-la numa boa revista científica!

O meu conselho para quem quer seguir esta área? Se não forem apaixonados por ela, ou sentirem que não estão preparados, aguardem, não se candidatem. Reflitam se é mesmo isto que querem fazer nos próximos quatro anos. Um doutoramento na área da Biologia é uma fase extremamente bipolar na nossa vida: há momentos de grande felicidade e momentos de grande tristeza. São raros os momentos in-between. Para além disso, os doutorandos têm condições de trabalho precárias comparativamente a outros empregos mais “normais”. Se não forem psicológica e emocionalmente preparados para fazer um doutoramento, este pode muito bem tornar-se uma tortura prolongada. Conheço colegas que passaram por isso. Por isso informem-se bem, mesmo muito bem. Contactem colegas, grupos de investigação, professores, fóruns online, para saberem com o que podem vir a contar. Se estiverem mal informados, irá suceder-vos o que sucedeu na minha primeira tarefa. Mas se forem bem preparados, as coisas irão correr bastante melhor, e terão mais sucesso. Como aconteceu nas minhas tarefas seguintes!

"Tirei um curso de experimentação animal onde aprendi novos métodos para cuidar dos animais. As falhas da primeira tarefa também me ensinaram a valorizar muito mais a pesquisa bibliográfica que se deve fazer antes de preparar uma tarefa. Graças a isso, as restantes tarefas do doutoramento correram bastante melhor."
Flávio Gomes Oliveira

Ana Subtil Simões, Área de Comunicação e Imagem Ciências ULisboa
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt

Quando falamos de um mecanismo o que queremos dizer de facto?

O Nutriageing é um projeto a pensar nos cidadãos que se interessam por temas como nutrição, partindo de argumentos científicos simples. O seu site é composto por vídeos, receitas, explicações e dicas nutricionais.

Um novo estudo genético demonstra que as populações de duas espécies de golfinhos (Tursiops aduncus e Sousa spp.) que habitam as águas da Baía de Bengala, no Bangladesh, são diferentes do ponto de vista genético quando comparados com populações de golfinhos das mesmas espécies que vivem em áreas vizinhas.

Teresa Graça Costa Antunes Pereira da Costa, professora aposentada do Departamento de Biologia Vegetal (DBV) e ex-membro do antigo Centro de Biologia Ambiental de Ciências, faleceu aos 69 anos, no dia 23 de janeiro de 2017. A Faculdade lamenta o triste acontecimento, apresentando as condolências aos seus familiares, amigos e colegas.

Novo estudo demonstra pela primeira vez que é possível integrar à escala global os resultados obtidos através dos dois métodos mais utilizados no mundo para avaliar a “saúde” dos ecossistemas a partir dos líquenes que neles se encontram.

A 7.ª cadeira funcionou pela primeira vez no ano letivo de 1840/1841, caracterizando-se pela abordagem histórico-natural das matérias lecionadas que pouco se modificaram ao longo dos anos.

O ESNF2017 é o primeiro simpósio europeu dedicado apenas ao tema nanofluidos. Os organizadores pretendem que este momento fomente a colaboração entre cientistas, engenheiros e empresas.

Está a nascer um laboratório vivo de permacultura (PermaLab) na FCUL, uma zona que convida a implementação de projetos propostos pela permacultura e sua monitorização com metodologias científicas.

Maria Isabel Cordeiro Sevinate Pinto Rebelo Lopes, professora aposentada do Departamento de Biologia Vegetal e ex-membro do antigo Centro de Biologia Ambiental de Ciências, faleceu aos 67 anos, no dia 12 de janeiro de 2017. A Faculdade lamenta o triste acontecimento, apresentando as condolências aos seus familiares, amigos e colegas.

O que fazem e o que pensam alguns membros da comunidade de Ciências? O primeiro Dictum et factum de 2017 é com Ânia Finuras, bolseira de gestão da Área de Comunicação e Imagem de Ciências.

Adaptar para a mudança. Este foi o lema do AdaptForChange, um projeto que teve início em abril de 2015 e que ao longo de quase dois anos contribuiu para um conhecimento profundo do estado das florestas do Alentejo e que culminou com o desenvolvimento do Plano de Adaptação de Mértola às Alterações Climáticas, a implementar nos próximos anos.

Cerca de 2783 árvores, arbustos e herbáceas vão ser plantados no Estádio Universitário, até ao próximo mês de março.

O recente falecimento abre mais uma lacuna na geração dos cientistas e professores que muito contribuíram para o desenvolvimento da Química em Portugal.

Maria Inês Correia Gonçalves Macias Marques, professora aposentada da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, faleceu aos 79 anos, no dia 1 de janeiro de 2017. A Faculdade lamenta o triste acontecimento, apresentando as condolências aos seus familiares, amigos e colegas.

Inseridos no Programa de Atividades Conjuntas, do Programa Operacional Competitividade e Internacionalização , o IBEB e o BioISI de Ciências – em conjunto com outros grupos nacionais -, vão explorar o conhecimento acerca do cérebro.

O grupo de investigadores da Masaryk University, na República Checa; da Mykolas Romeris University, na Lituânia; das universidades Politécnica de Madrid e de Oviedo, em Espanha; do Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território e do Instituto Dom Luiz analisaram a evolução da temperatura nas dez estações da Península Antártica desde o início da década de 1950 até 2015.

Através de trabalho de campo detalhado na ilha de Santa Maria, nos Açores, investigadores descobriram elementos importantes para a compreensão da origem e evolução de ilhas vulcânicas.

O projeto RESISTIR iniciou-se em abril deste ano e visa criar até abril de 2019 um sistema de informação - inovador, modular, inteligente e adaptável - para apoiar a tomada de decisão clínica no domínio da vigilância epidemiológica, resistência aos antimicrobianos, controlo de infeção e gestão hospitalar.

O ClimAdaPT.Local coordenado pelo grupo CCIAM do cE3c chegou ao fim.

Ciências é oficialmente membro associado do Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas. Para além disso, em 2017 a sede vai ficar mais próxima dos cientistas desta instituição.

No ensino universitário normal o aproveitamento/rendimento escolar é também motivo de preocupação em muitos países europeus, embora existam países onde esse rendimento se aproxima dos 100%. Em termos económicos, facilmente se percebe que quanto maior for a taxa de aprovação dos alunos, menor a desistência e a reprovação, mais justificadas estão as verbas públicas  (provenientes dos impostos) que o Estado investiu no sector da educação.

“Os valores associados ao desporto são complementares aos que são necessários para o sucesso académico”, diz Matilde Fidalgo, aluna de Ciências e jogadora de futebol da seleção feminina portuguesa.

Antes de se aposentar em 2014 a Ana Monteiro trabalhou na Biblioteca da FCUL durante alguns anos. Ontem, dia 15 de dezembro, faleceu.

Teve lugar a 27 de outubro no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa (ULisboa) o lançamento oficial do Colégio de Química, o primeiro colégio da ULisboa aprovado na área das Ciências Exatas.

O aumento da temperatura da água leva anfíbios omnívoros a adotar uma dieta mais herbívora. De acordo com o comunicado de imprensa emitido pelo cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas, “esta é a primeira vez que é estudada em vertebrados a assimilação de dietas mais ou menos ricas em proteínas em função da temperatura”.

Páginas