Verão em CIÊNCIAS

Cientista por uma semana, cientista para sempre!

O Ser Cientista recebeu 75 jovens do Secundário

A 10ª edição do programa Ser Cientista juntou jovens do ensino secundário em torno de projetos científicos

DCI-CIÊNCIAS

Há carros solares que param à sombra e chocolates que derretem ao sol, mas para quem está a uma hora de fazer uma apresentação no Congresso do programa Ser Cientista as atenções mantêm-se centradas na revisão da matéria dada. “Já houve vezes em que comi chocolate que tinha derretido e voltado a solidificar, só que agora sei que o chocolate que passa por esse processo pode registar uma alteração de características relacionadas com o sabor e a cor, porque mudou de polimorfo”, informa Mariana Dâmaso, aluna do secundário que participou no Ser Cientista. A explicação remete para alterações das estruturas de cristais do chocolate, mas esse é apenas um dos ensinamentos contemplados pelos 17 projetos que 75 jovens desenvolveram durante o programa de ocupação de tempos livres, que terminou na sexta-feira na Faculdade de Ciências de Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS). E entre um conjunto de ideias arrojadas que já contava com caças de borboletas, a construção de baterias artesanaislocalizações de centros de saúde, bactérias resistentes a antibióticos ou a análise das cores das galáxias, foi o já famoso carro solar que acabou por revelar um curioso dissabor.


O carro solar SolaRide na fase de testes, no Campus de CIÊNCIAS 

“Ficámos sem bateria. Como não tínhamos carregado antes, o carro acabou por parar quando passámos pela sombra”, lembra Gonçalo Monteiro, aluno do secundário e um dos participantes do Ser Cientista. Tendo em conta que ocorreu no último teste antes da apresentação pública do projeto, o esquecimento dos jovens garantiu entrada direta para a galeria dos momentos mais picarescos da 10ª edição do Ser Cientista, mas até nem foi o imprevisto mais trabalhoso. Na apresentação do carro solar perante o Congresso, a equipa SolaRide também lembrou os percalços gerados por uma roda instalada ao contrário, cabos elétricos que derreteram, e uma bateria que acabou por sofrer sevícias indescritíveis.

E se assim foi, então é porque o mote “No mistakes; no discoveries” (“sem erros não há descobertas”, em português), que muitos jovens traziam nas t-shirts do Ser Cientista, foi cumprido na plenitude – até para desbravar novas ideias, como atesta Gonçalo Monteiro: “este carro solar não faz marcha atrás, mas acho que é algo que se conseguiria resolver com a instalação de mais uma roda, que apenas seria ativada quando o condutor quer que o carro ande para trás”.


Lançamento dos trabalhos da 10ª edição do Ser Cientista

Em paralelo com os típicos lapsos de principiante, os candidatos a “engenheiros” do SolaRide também aprenderam a soldar, programar processadores arduíno, instalar circuitos elétricos e modelação de projetos a três dimensões em programas de computador especializados. Em todos os projetos, a lógica é sempre a mesma: mão na massa até que o erro abra caminho à solução.

“O Ser Cientista é uma iniciativa para continuar e incrementar. É uma atividade que nos aproxima do Ensino Secundário, com aquilo que distingue as universidades, enquanto locais que permitem adquirir, transmitir e também produzir conhecimento”, comenta Jorge Relvas, professor e subdiretor de CIÊNCIAS.


O Ser Cientista serviu ainda para revelar alguns dos mistérios do chocolate

Por uma semana, todos se renderam ao espírito científico – mesmo quando as respostas para problemas concretos nem sempre eram as mais óbvias, como aconteceu com o projeto tinha em vista a prospeção do local mais indicado para a instalação de um centro de saúde no concelho de Tondela. A jovem equipa de cientistas teve de puxar pela matemática para apurar diferentes cenários “admissíveis” tendo em conta critérios de custo e distâncias a percorrer a partir de várias freguesias – mas também lembrou que nem tudo cabe à ciência.

“A decisão final não depende dos matemáticos. Os matemáticos descobrem os melhores valores, mas é a Câmara de Tondela que tem de decidir se vai privilegiar o custo ou as distâncias (para a escolha do local de um novo centro de saúde)”, referiu Francisca Geraldes, aluna do secundário, para a plateia que assistia ao Congresso do Ser Cientista.


O estudo do crescimento das rãs também passou pelo programa Ser Cientista 

Como já se sabia de antemão, não havia a garantia de que todos os 75 aspirantes a cientistas calhavam nos grupos escolhidos como primeiras opções, mas essa contingência também ajudou a potenciar o espírito de descoberta. “Acabei por aprender coisas novas, que não estava à espera. Aprendi a usar uma plataforma de programação, produzi gráficos e trabalhei com dados”, refere Sophia Paqui, aluna do secundário e participante do Ser Cientista, que participou num projeto que estabelece a relação entre o consumo de vitamina C e o crescimento dos dentes em ratinhos.

Em paralelo com a azarada vida de ratinho de laboratório, houve quem tivesse de aplicar o engenho a caçar borboletas para lhes medir as asas e compreender diferenças entre fenótipos e também quem fosse às margens do Sado recolher amostras de solo e plantas para estimar a quantidade de dióxido de carbono extraído da atmosfera. Se alguns jovens cientistas redescobriram radiografias e ressonâncias magnéticas para imprimirem ossos humanos, outros tiveram de se ajeitar com diferentes tipos de microscópios tanto para analisar células de ratinhos que sofrem de distrofia muscular como para observar o que acontece aos neurónios depois de um ataque de epilepsia.


Os jovens do Ser Cientista também aprenderam a desenvolver uma bateria a partir de um limão

“Tentamos ajustar os projetos que ajudamos a desenvolver no Ser Cientista com os projetos científicos que estamos a levar a cabo de momento. É importante que os participantes vejam que não se trata de uma receita pré-fabricada que se repete todos os anos, mas sim de algo que permite meter a mão na massa”, descreve Bruno Carreira, investigador do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas (CE3C), que apoiou um dos projetos do Ser Cientista.

Nuno Matela, professor de CIÊNCIAS e investigador do Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica (IBEB), também guiou alguns estudantes num dos projetos do Ser Cientista e não tem dúvidas do entusiasmo reinante. “Se vêm para este programa é porque realmente querem fazer isto, caso contrário estariam a gozar as férias noutro sítio. Reparamos que se tornam autónomos muito rapidamente, talvez, porque já tragam consigo uma inclinação para a ciência”, sublinha Nuno Matela.

Para quem estuda em CIÊNCIAS, apoiar os alunos do Secundário também produz benefícios: "Estamos a aplicar na prática as coisas que aprendemos nos nossos cursos", responde Mário Daniel Vilas, aluno de CIÊNCIAS, e dirigente da Oficina das Energias, que participou na monitorização dos jovens do Ser Cientista.

Caça de Borboletas no Ser Cientista
Durante a semana do Ser Cientista ainda houve tempo para a caça de borboletas

O espírito prático do programa permitiu que parte dos jovens do Ser Cientista tivessem o primeiro contacto com a análise genética de seres vivos bem antes sequer de entrarem para um curso universitário. E houve mesmo quem, perante as revelações que surgiram ao longo da semana, sentisse a necessidade de deixar um aviso sobre alguns organismos que vivem na pele humana. “A resistência das bactérias aos antibióticos é muito alarmante, porque algumas delas costumam ser encontradas nas nossas mãos”, alertou Maria Homem, aluna do secundário e participante no Ser Cientista.

Em CIÊNCIAS, passar das imagens de microscópio para as dos maiores radiotelescópios pode significar apenas passar de um laboratório para outro que está no edifício ao lado. O que significa que o tema de conversa rapidamente pode saltar das bactérias para as galáxias mais distantes. “A partir das cores que surgem nas imagens conseguimos saber o tamanho das galáxias, e também obter informação sobre a luminosidade, se está ou não a afastar-se, ou se há estrelas novas a formarem-se”, refere Carolina Almeida, aluna do secundário que participou no Ser Cientista, no projeto de análise de imagens de galáxias. “Sempre gostei muito de astronomia; e escolhi este projeto, porque queria muito saber o que faz um astrónomo”, acrescenta a jovem. Também em CIÊNCIAS, nem sempre o céu é o limite.

 


Queres recordar os melhores momentos da 10.ª edição do Ser Cientista? aqui as fotos da semana.

Vê o vídeo: 

Sabias que o Ser Cientista figurou no programa Portugal em Direto, da RTP? Assiste ao episódio aqui (a partir dos 12 minutos).

 

Hugo Séneca - DCI CIÊNCIAS
hugoseneca@ciencias.ulisboa.pt
Campus da Faculdade

A cerimónia de entrega dos Prémios Científicos ULisboa/Caixa Geral de Depósitos (CGD) 2022, acontece no próximo dia 28 de novembro, pelas 17h30, no Salão Nobre da Reitoria da ULisboa.

grupo de pessoas

Ciências ULisboa coordena projeto europeu Twinning em colaboração com a Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, e a Universidade de Tel Aviv, em Israel, e em parceria com a Universidade de Cambridge, no Reino Unido. O objetivo é promover a investigação de excelência e a formação avançada em Bioquímica e Biofísica de Proteínas, com impactos e aplicações em Biomedicina e Biotecnologia.

Ibéria Medeiros

Ibéria Medeiros, professora do Departamento de Informática da Ciências ULisboa, é a protagonista do terceiro vídeo do projeto “Porquês com Ciência”, divulgado no YouTube da Faculdade a 3 de novembro.

estantes com livros e revistas na biblioteca do C4

"September 2022 data-update for 'Updated science-wide author databases of standardized citation indicators'” divulga as bases de dados com os nomes dos cientistas mais citados a nível mundial em 2021 e ao longo da carreira. Estas bases de dados publicadas recentemente pela Elsevier têm o contributo de John Ioannidis, professor da Universidade de Stanford, na Califórnia.

A Faculdade presta homenagem a Carlos Sousa Reis, antigo professor da Ciências ULisboa nos domínios da Ecologia Marinha, Recursos Vivos Marinhos, Pescas e Ordenamento do Litoral.

grande auditório no evento de 2021

“Este é um momento de celebração da qualidade da investigação e da inovação desenvolvidas na Ciências ULisboa, a ocasião ideal para a partilha de conhecimento e para o estabelecimento de colaborações", diz Margarida Santos-Reis, subdiretora da Ciências ULisboa para a área da investigação, a propósito do Dia da Investigação.

José Rebordão, Luís Carriço e Manuel Silva assinam o protocolo

A Faculdade e a FCiências.ID assinaram um protocolo de cooperação com a Cercal Power, uma sociedade da Aquila Clean Energy, a plataforma de energia renovável da Aquila Capital na Europa, dedicada ao desenvolvimento, construção e exploração da central fotovoltaica do Cercal, em Santiago do Cacém.

Imagem de um cérebro em fundo digital

"A linha de investigação em Filosofia da Inteligência Artificial e da Computação surgiu pela primeira vez em Portugal na Ciências ULisboa, nomeadamente, no Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa (CFCUL), com o intuito de contribuir para um debate que interessa à sociedade no seu todo", escrevem João L. Cordovil e Paulo Castro, investigadores do CFCUL Ciências ULisboa.

logotipo do projeto

O Gabinete de Apoio Psicológico (GAPsi) da Ciências ULisboa partilhou o primeiro episódio do podcast “Chá do Dia”, no passado dia 19 de setembro. O quinto episódio deste projeto inovador já está disponível na plataforma Spotify.

Estúdio da FCCN

João Telhada é um dos protagonistas do projeto "Porquês com Ciência", nomeadamente no vídeo “É seguro pagar online com cartão VISA?”, disponível no canal YouTube da Faculdade. Para o professor do DEIO Ciências ULisboa, “a cultura científica é um aspeto essencial no progresso e desenvolvimento de um país”.

grupo de pessoas

Tom Henfrey, Giuseppe Feola, Gil Penha-Lopes, Filka Sekulova e Ana Margarida Esteves publicam na Sustainable Development, no âmbito de relatório da rede ECOLISE, da qual Ciências ULisboa faz parte.

A Faculdade presta homenagem a Henrique Manuel da Costa Guimarães, antigo aluno e professor da ULisboa, especialista em investigação sobre o ensino da Matemática.

Estátua de Alfred Nobel com flores por detrás

Os seis Prémios Nobel 2022 são anunciados entre 3 e 10 de outubro. A poucos dias de conhecer as personalidades que serão distinguidas este ano, recordamos os laureados em 2021, com a ajuda de professores e cientistas da Faculdade. Entre na breve e conheça os laureados da Fisiologia/Medicina e Física.

 

rapariga com vento no cabelo a ouvir música

"Que poder é este da música? Ela tem mesmo uma ligação com as emoções? Apesar de existirem posições contraditórias, a literatura aponta que a música é capaz de induzir emoções", escreve Marta Esteves, psicóloga no GAPsi Ciências ULisboa.

Sara Magalhães no estúdio da FCCN

Sara Magalhães é professora do Departamento de Biologia Animal da Ciências ULisboa desde 2016 e investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c). “Os ácaros são assim tão feios, porcos e maus?” é o tema apresentado pela professora, que inaugura o projeto “Porquês com Ciência”.

mar

Nos dias 26 e 27 de setembro decorre na Ciências ULisboa o “Fórum Oceano: Atlântico, um bem comum, visões partilhadas franco-portuguesas”, uma iniciativa organizada pela Faculdade e pelo MARE, no âmbito da Temporada Portugal-França 2022.

“Saúde, Dança e Ciência na qualidade de vida sustentável”

No próximo dia 23 de setembro irá decorrer na Ciências ULisboa um workshop que pretende sensibilizar jovens e adultos para a importância do movimento na saúde e na qualidade de vida sustentável.

livros

Ana Simões, presidente do Departamento de História e Filosofia das Ciências e investigadora no CIUHCT, terminou o seu mandato como vice-presidente da European Society for the History of Science no dia 10 de setembro, concluindo seis anos de envolvimento na direção.

imagem abstrata representativa de termodinamica

"Quando ensinamos temos que ter a preocupação de que os alunos compreendem as matérias da melhor forma possível, e essa é a minha forma de ensinar, que procurei refletir neste livro”, diz Patrícia Faísca, professora do DF Ciências ULisboa e autora do novo livro sobre Termodinâmica, publicado na editora CRC Press.

logotipo da iniciativa

“Porquês com Ciência” é o novo projeto de divulgação científica da Direção de Comunicação e Imagem da Faculdade e arranca no início deste ano letivo. Cinco vídeos serão lançados no YouTube até ao final de 2022 e têm como personagens principais João Telhada, Ibéria Medeiros, Marta Panão, Maria Manuel Torres e Sara Magalhães. As temáticas em foco estão relacionadas com as Bolsas de Palestras.

grupo de investigadores

O projeto LIFE PREDATOR, aprovado no âmbito do Programa LIFE, vai arrancar no próximo mês de outubro. Da equipa de trabalho europeia fazem parte sete professores e investigadores de três unidades de investigação da Faculdade, que vão colaborar no estudo e combate da espécie invasora peixe-gato europeu.

Alunos e professores

Portugal conquistou quatro medalhas de ouro, duas de prata e uma de bronze na 15.ª edição das Olimpíadas Internacionais de Ciências da Terra (IESO 2022). Esta foi a melhor participação de sempre de Portugal nestas provas internacionais.

Jovens na praia

Crónica sobre o Roteiro Entremarés da autoria do professor Carlos Duarte. Esta é a segunda aplicação que resulta da colaboração entre o Departamento de Informática da Ciências ULisboa e o Instituto de Educação da ULisboa, depois da publicação em 2017 da aplicação Roteiro dos Descobrimentos.

ilustração SARS-CoV-2

As pessoas vacinadas que foram infetadas pelas primeiras subvariantes Omicron têm uma proteção quatro vezes superior do que à das pessoas vacinadas que não foram infetadas. Estes resultados constam de um estudo liderado por Luís Graça e Manuel Carmo Gomes, publicado na prestigiada revista científica New England Journal of Medicine.

núvens cósmicas

O XXXII Encontro Nacional de Astronomia e Astrofísica terá lugar nos próximos dias 5 e 6 de setembro, na Ciências ULisboa. O evento é organizado pelo Centro de Astrofísica e Gravitação, em parceria com a Sociedade Portuguesa de Astronomia e a Ciências ULisboa.

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