Crónicas em Ciências

O consumo de energia e a mudança na hora

Mulher esconde rosto com relógio

O efeito da mudança de hora no consumo de energia é cada vez menos relevante nas nossas sociedades desenvolvidas

Unsplash - Rodolfo Barreto
Miguel Centeno Brito
Miguel Centeno Brito
Imagem cedida pelo autor

A introdução da mudança da hora, um horário de verão desfasado do horário de inverno, em Portugal (como em muitos outros países no mundo) remonta[1] a 1916, durante a primeira grande guerra. O objetivo era “atrasar” o pôr-do-sol e reduzir o consumo de energia nos serões estivais. Naturalmente que desde essa época foram muitas as alterações na forma como consumimos eletricidade. O peso da iluminação no consumo é hoje menos relevante, pois temos iluminação mais eficiente (LED) e muitos outros eletrodomésticos nas nossas casas[2], consumindo cada vez mais eletricidade para arrefecimento no verão, um consumo que é acentuado com o horário de verão.

Muitos foram os estudos a analisar o consumo de eletricidade e a mudança da hora, com métodos e abordagens muito diversos, e resultados que parecem sugerir que o impacto não é inequívoco, mas depende de fatores como a latitude, o clima, a diferença entre a hora solar e a hora do relógio na mudança da hora, mas também dos hábitos sociais e culturais. Por exemplo, comparando diferentes províncias no Canada, Shaffer[3] determinou que o impacto no consumo de eletricidade poderia ser negativo (até -1.3 %) como por exemplo em British Columbia, onde o sol levanta-se tarde e as pessoas são mais madrugadoras, ou positivo (+1.5%), como em Alberta, onde o sol levanta-se cedo e as pessoas têm tendência a levantar-se mais tarde.

Em Portugal, o efeito do horário de verão na redução do consumo de eletricidade foi estimado[4] em cerca de 0.5%, semelhante ao impacto na vizinha Espanha[5]. Recentemente o LNEG avaliou o impacto da mudança de hora na penetração de energias renováveis[6], avaliando se a mudança de hora seria favorável a um maior aproveitamento da energia solar produzida no final do dia, no verão, quando o consumo é mais elevado. Embora tenha sido considerado um consumo de eletricidade rígido (apenas translação do consumo em função da hora do relógio, sem alterações de padrões de consumo) os resultados apontam para um efeito negligenciável da mudança da hora, inferior a 0.02%. Parece, pois, que a mudança da hora não reduz significativamente o consumo de eletricidade nem ajuda o aproveitamento das energias renováveis.

Claro, convém lembrar que energia não é só eletricidade e por isso o impacto da mudança da hora também deveria considerar alterações de padrões de consumo em outros sectores, como por exemplo a mobilidade. Mais uma vez, esta é uma área em que ainda existem muitas lacunas de conhecimento, com resultados contraditórios. Por exemplo, Hecq et al[7] observaram um aumento da intensidade de trânsito e no consumo de combustíveis de 0.5% na Bélgica, enquanto Belzer et al[8] não identificaram impactos significativos, nos EUA. Como o consumo de energia para os transportes é duas vezes maior do que na eletricidade, este pequeno efeito, se existir, poderá ser mais significativo do que a eventual redução de consumo de eletricidade.

Podemos, pois, concluir que o efeito da mudança de hora no consumo de energia é cada vez menos relevante nas nossas sociedades desenvolvidas e, por isso, a avaliação da sua premência deve valorizar sobretudo outros efeitos, como o impacto na saúde, na economia ou no bem-estar dos cidadãos. Seja, como for, vamos lá acertar os nossos relógios no final do mês…

 


[1]  Marques M (2002), A Hora Legal em Portugal, O Observatório 8:2, Observatório Astronómico de Lisboa

[2] Estima-se que no sector residencial a iluminação corresponda a cerca de 10% do consumo de eletricidade.

[3] Shaffer B. Location Matters: Daylight Saving Time and Electricity Use. MPRA Paper 84053 University Library of Munich, Germany (2017)

[4] Bergland, Olvar & Mirza, Faisal, 2017. "Latitudinal Effect on Energy Savings from Daylight Savings Time," Working Paper Series 08-2017, Norwegian University of Life Sciences, School of Economics and Business.

[5] López M, Daylight effect on the electricity demand in Spain and assessment of Daylight Saving Time policies,

Energy Policy 140:111419 (2020)

[7] Hecq, W., Borisov, Y., & Totte, M. (1993). Daylight saving time effect on fuel consumption and atmospheric pollution. Science of The Total Environment, 133(3), 249–274. doi:10.1016/0048-9697(93)90248-5

[8] Belzer, David B., Stanton W. Hadley, and Shih-Miao Chin, 2008, Impact of Extended Daylight Saving Time on National Energy Consumption: Technical Documentation, prepared for U.S. Department of Energy, Office of Energy Efficiency and Renewable Energy, October.

http://www.eere.energy.gov/ba/pba/pdfs/epact_sec_110_edst_technical_documentation_2008.pdf

Miguel Centeno Brito, DEGGE e IDL Ciências ULisboa
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt
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Uma das formas mais eficazes de lidar com o síndrome do impostor é mesmo falar sobre ele, partilhando entre colegas ou amigos com quem sinta um espaço seguro, os desafios que vai sentindo profissionalmente e perceber que não está sozinho naquilo que sente. Estima-se que 70% das pessoas sofrem deste fenómeno psicológico.

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Investigadores de Ciências ULisboa propõem um novo mecanismo que permite explicar a existência de uma anomalia tectónica a SW do Cabo de São Vicente.

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"A presença de um 'devias' é muitas vezes uma barreira à congruência entre o eu real e o eu ideal", escreve a psicóloga do Gapsi, Andreia Santos, na rubrica habitual.

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Mar

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"Se quisermos conhecer agora o que se passa na Ciência da Computação, do ponto de vista científico e tecnológico, devemos consultar, mensalmente, a revista CACM - Communications of the Association of Computing Machinery, dos EUA", in no Campus com Helder Coelho.

auditório ISCTE-IUL

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Fadhil Musa, Rita Maçorano, Ana Faísca, Filipa Tomé e Francisca Canais

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