Entrevista a James McAllister

O filósofo é investigador visitante na Faculdade durante este ano letivo

frente da reitoria da ULisboa

“Um lugar no campus tem um significado simbólico especial para mim”, explica o professor, referindo-se à frase do humanista André de Resende, inscrita na praça da reitoria da ULisboa

GJ Ciências ULisboa
James McAllister
James McAllister
Fotografia cedida pelo professor

Entrevista a James McAllister, professor no Institute for Philosophy, na Universidade de Leiden, na Holanda, é investigador visitante no Departamento de História e Filosofia das Ciências (DHFC) e no Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa (CFCUL), durante o ano letivo 2022/2023.

No dia 28 de fevereiro, às 16h00, James McAllister fará uma apresentação sobre o tema “From Patterns in Empirical Data to Structures in the World” no âmbito do Seminário Permanente de Filosofia das Ciências organizado pelo CFCUL. A 30 de março, às 16h00, falará no Hi-Phi Seminar, seminário do DHFC.

 

CFCUL - O professor é conhecido na comunidade da Filosofia das Ciências pelo seu trabalho sobre a dimensão estética da/e na ciência. Em que está a trabalhar neste momento?

James McAllister (JMA) - O meu projeto de investigação atual chama-se “Dialectic of Effort and Ease”, que se poderia traduzir para “Dialética do Esforço e da Facilidade”. Analisa duas formas de os cientistas reivindicarem credibilidade pelas suas descobertas. A primeira é o esforço: os investigadores podem enfatizar a fiabilidade dos seus resultados, demonstrando que fizeram um grande esforço para verificar e controlar as suas conclusões. Por exemplo, nas ciências experimentais, antes que os colegas estejam dispostos a confiar nas conclusões apresentadas, os investigadores devem mostrar que calibraram meticulosamente os instrumentos, encontraram soluções para as possíveis fontes de erro e cumpriram os protocolos.

A outra forma é, quase paradoxalmente, o oposto: ausência de esforço, facilidade. Poder demonstrar que um resultado veio naturalmente, de forma imediata e sem custo, providencia aos investigadores uma base muito poderosa para a credibilidade. Isto deve-se em parte ao facto de, neste caso, o caminho para o resultado deixar pouco espaço para erros e artefactos. As descobertas feitas por serendipidade são um caso especial. Um claro exemplo é o princípio da impulsão descoberto por Arquimedes na banheira: o “momento eureka” faz com que a conclusão pareça inevitável e, portanto, objetivamente válida.

Este projeto de investigação surge do meu trabalho anterior sobre a estética da ciência, porque a ausência de esforço manifesta-se frequentemente nas virtudes estéticas clássicas de elegância e parcimónia. No entanto, este novo projeto de investigação acrescenta um elemento de paradoxo: duas vias opostas parecem conduzir à objetividade das descobertas científicas. Gosto muito deste elemento dialético no meu trabalho.

CFCUL - O que o levou a escolher o CFCUL como destino para o seu ano de licença sabática?

JMA - Estou na lista de distribuição do CFCUL, “CFCUL Comunica”, há vários anos, por isso sabia que na Universidade de Lisboa havia uma comunidade muito ativa em Filosofia das Ciências. Quando comecei a planear a minha licença sabática, pensei logo nas grandes instituições de investigação dos EUA que tinha visitado anteriormente. Porém, logo percebi que provavelmente iria gostar muito mais de passar algum tempo em Lisboa.

Um ponto de particular interesse foi a estreita colaboração que existe entre especialistas em História e Filosofia das Ciências neste centro de investigação. Fez-me lembrar o Departamento de História e Filosofia das Ciências da Universidade de Cambridge, onde fiz o meu doutoramento. Quando entrei em contacto pela primeira vez com o CFCUL para me informar sobre a possibilidade de uma estadia, a resposta muito calorosa e amigável eliminou imediatamente qualquer dúvida.

CFCUL - Como tem sido a sua experiência aqui, até agora?

JMA - Tem sido uma experiência extremamente interessante e estimulante. O CFCUL é tudo o que eu esperava e mais: é uma comunidade científica muito envolvente e colaborativa, que possibilita conduzir uma excelente investigação. O ambiente de trabalho é agradável e o grupo vai almoçar junto quase todos os dias. A intensidade dos seminários e reuniões científicas corresponde às expectativas criadas pela “CFCUL Comunica”. Sei que terei saudades dos meus colegas de Lisboa quando regressar aos Países Baixos.

Um lugar no campus tem um significado simbólico especial para mim. Inscrita no chão da praça da reitoria da ULisboa encontra-se uma frase de André de Resende, estudioso humanista do século XVI: “É vosso dever conseguir, com empenho e trabalho fiéis, que a Universidade de Lisboa se torne não menos celebrada em todo o mundo do que a própria cidade”. Adoro a injunção de Resende a aplicar “empenho e trabalho fiéis” no trabalho científico: simboliza uma das duas vertentes do meu projeto de investigação sobre “Dialética do Esforço e da Facilidade”.

Paralelamente à minha investigação, tenho aulas de língua portuguesa no Instituto de Cultura e Língua Portuguesa da Faculdade de Letras. Continuo a achar muito difícil a pronúncia do português, mas consigo compreender cada vez melhor os textos escritos.

CFCUL - Porque é que os estudantes de ciências deveriam estudar (pelo menos um pouco de) Filosofia das Ciências?

JMA - Os professores de ciência ensinam aos alunos como resolver problemas que já são conhecidos. No entanto, no decurso das suas vidas e carreiras, os estudantes de hoje serão inevitavelmente confrontados com desafios científicos e societais qualitativamente novos. Como poderão os cientistas de amanhã responder a esses novos problemas? Apenas reconsiderando como a ciência funciona, quais os pressupostos que regem as teorias e as abordagens científicas, e que tipos de conhecimentos podem ser produzidos pelas diferentes disciplinas.

Portanto, ao estudar Filosofia das Ciências juntamente com os seus cursos específicos especializados, os alunos das disciplinas científicas podem preparar-se para realizar no futuro este novo tipo de investigação, mais criativa e transformadora. Aprenderão não só a conduzir o carro, mas também a olhar para debaixo do capô e a fazer melhorias no motor.

Silvia Di Marco (CFCUL)
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt
Flávio Gomes Oliveira a verificar se as armadilhas capturaram algum musaranho

Flávio Gomes Oliveira, doutorando do programa doutoral em Biologia e Ecologia das Alterações Globais, é um dos autores de um estudo publicado em outubro na Behavioral Ecology, cujos resultados integram a sua tese de doutoramento. Nesta entrevista o jovem investigador faz um balanço dos primeiros anos do doutoramento e deixa conselhos para quem quer seguir esta área.

Musaranho-de-dentes-brancos a ser devolvido à natureza

Um estudo realizado em Lisboa por um grupo de investigadores do CESAM, polo da Ciências ULisboa e da Universidade Adam Mickiewicz de Poznań, na Polónia, detetou diferenças substanciais no comportamento e metabolismo dos musaranhos-de-dentes-brancos que ocorrem na capital portuguesa, quando comparados com indivíduos provenientes de áreas naturais.

Emmanuelle Charpentier e a Jennifer Doudna

Este ano, o Prémio Nobel da Química foi atribuído às cientistas Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna pelo "desenvolvimento de um método de edição do genoma", denominado CRISPR/Cas9. Leia o artigo da autoria de Lúcia Santos e Madalena Pinto, estudantes de doutoramento no polo da Faculdade do BioISI e Federico Herrera, professor do Departamento de Química e Bioquímica e investigador do BioISI.

Chuva intensa

Um estudo publicado na Nature Communications revela um aumento significativo da quantidade de humidade proveniente das regiões fornecedoras de água precipitável, água transportada até aos continentes pelos chamados rios atmosféricos (ARs).

Logotipo dos Prémios Científicos ULisboa/Caixa Geral de Depósitos 2019

A cerimónia de entrega dos Prémios Científicos ULisboa/CGD 2019 estava prevista para 20 de outubro, na Reitoria da ULisboa, mas face à evolução da pandemia da COVID-19 e na sequência da resolução do Conselho de Ministros emitida recentemente, a cerimónia será adiada para data a anunciar quando as condições de segurança estejam novamente reunidas. Das 30 distinções desta última edição, cinco são para professores e investigadores da Ciências ULisboa.

Roger Penrose, Reinhard Genzel e Andrea Ghez

O Prémio Nobel da Física 2020 distingue um dos teóricos mais distintos dos últimos 60 anos, o matemático e físico sir Roger Penrose e os astrónomos Reinhardt Genzel e Andrea Ghez, que revelaram a presença de um buraco negro extremamente massivo na região central da Via Láctea. Leia o artigo dos cientistas José Pedro Mimoso e Nelson Nunes, em colaboração com José Afonso e António Amorim.

Imagem abstrata

Ciências ULisboa integra a Rede de Inovação da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), cujo objetivo é promover a ponte entre a investigação produzida em ambiente académico e o contexto industrial e empresarial.

Logotipo Radar Tec Labs

Oitava rubrica Radar Tec Labs, dedicada às atividades do Centro de Inovação da Faculdade. A empresa em destaque é a QPLab.

Campus da Ciências ULisboa

Ciências ULisboa volta a preencher a totalidade das vagas, no âmbito da 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso (CNA) ao ensino superior: 1001 candidatos conseguiram colocação nas 13 licenciaturas e nos três mestrados integrados desta faculdade, 449 como 1.ª opção. O número de vagas aumentou na maioria dos cursos, assim como as notas dos últimos alunos colocados nesta 1ª fase.

Cidade

Melhorar o funcionamento e a otimização energética de edifícios e equipamentos, resolvendo algumas das suas limitações, é um dos objetivos do projeto “Self Assessment Towards Optimization of Building Energy (SATO)”, liderado pela Ciências ULisboa e que tem início marcado para o próximo mês de outubro. O projeto integra 16 parceiros europeus da academia e dos sectores público e empresarial e representa a primeira grande colaboração científica entre o LASIGE e o IDL.

Papéis, canetas e braços

Vários alunos da Ciências ULisboa, da Universidade do Algarve (Ualg) e da Faculdade de Medicina Dentária (FMD) da ULisboa apresentaram este verão projetos de iniciação à investigação, desenvolvidos no âmbito da iniciativa “Sê Investigador por Três Semanas!”, promovida pelo Centro de Estatística e Aplicações da Universidade de Lisboa (CEAUL), com o objetivo de cativar os jovens para esta atividade.

cabra-montês

Dezenas de cientistas, técnicos e vigilantes da natureza do ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, bem como cidadãos uniram-se em prol do novo Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal continental. O objetivo é melhorar até 2021 o conhecimento destas espécies e dessa forma contribuir para o estabelecimento de medidas e ações de conservação.

Imagens de perfil de 19 cientistas

Entre março e julho deste ano, as redes sociais da Faculdade deram a conhecer 19 pessoas e histórias de investigação, no âmbito da iniciativa “O que faço aqui?”, disponível no site da Faculdade.

Pessoa com livros

"Neste momento tão dinâmico em que vivemos será importante pensar sobre aquilo que se pode ou não controlar e ir aprendendo a navegar perante a realidade que se apresenta a cada momento", escreve a psicólogia Andreia Santos.

Alunos e professoras no campus da Faculdade

O novo ano letivo começou esta semana e a Faculdade deu as boas-vindas aos alunos do Advanced Quantitative Methods on Health Care Innovation, cujas aulas online começaram esta terça-feira e se prolongam em Portugal até ao próximo dia 15 de outubro.

Estação de Extração de RNA

“Foi incrível perceber que numa adversidade, o ser humano tem a capacidade de se reinventar e criar novos projetos", diz Daniel Salvador, voluntário no CT Ciências ULisboa, entre maio e julho, licenciado e mestre pela Ciências ULisboa, atualmente estudante do 4.º ano do doutoramento em Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da ULisboa.

Criança em casa acompanhada pela presença de um adulto

Uma equipa de nove estudantes da ULisboa - LxUs -, supervisionados por Hugo Ferreira, professor do Departamento de Física e investigador do Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica da  Ciências ULisboa, ganhou o Translation Potential Runner-Up Award na 5.ª edição do SensUs Student Competition, 2.º lugar na categoria de potencial de translação, um prémio que valoriza a capacidade de criação de um modelo de negócio, viável e com qualidade.

Pormenor da visão artística da observação da "estrela bebé"

Pela primeira vez foi possível observar como é que uma “estrela bebé” adquire massa até chegar à sua massa final. Arcos de campo magnético ligam a “estrela bebé” ao disco circundante e a massa flui. Os resultados desta observação encontram-se publicados na revista Nature. O artigo resulta de uma colaboração no âmbito do GRAVITY, um instrumento desenvolvido por um consórcio internacional e do qual fazem parte cientistas do CENTRA, polo da Ciências ULisboa.

Marta Palma no CT Ciências ULisboa

“A maior aprendizagem é perceber que de facto existem pessoas maravilhosas, com uma enorme generosidade e grande sentido de voluntarismo e muito dinâmicas. E que trabalhando juntos, podemos de facto fazer a diferença”, diz Marta Palma, funcionária do Departamento de Biologia Animal e voluntária no Centro de Testes Ciências ULisboa.

Homem em banco de jardim, observando o rio

Andreia Santos, psicóloga do GApsi Ciências ULisboa, deixa um alerta: "o nível de cansaço sentido pelas pessoas a assistir a conferências, palestras através de um ecrã é superior ao de assistir ao mesmo de forma presencial".

Vanessa Mendonça

“Este prémio simboliza não só o reconhecimento do meu trabalho, mas também de toda a equipa que nele participou”, conta Vanessa Mendonça, segunda classificada pelo Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias 2020. Vanessa Mendonça concluiu o mestrado e o doutoramento na Faculdade e atualmente é investigadora do MARE.

A SPECO anunciou recentemente os vencedores do Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias 2020. José Ricardo Paula é o grande vencedor desta edição e irá apresentar o seu trabalho no 19.º Encontro Nacional de Ecologia, este ano associado às cerimónias dos 25 anos da SPECO, e que se realiza em dezembro, em Ponte de Lima.

Centro de Testes

Rita Loewenstein Simões, de 23 anos, é voluntária no Centro de Testes Ciências ULisboa, na estação Mix e Real-Time PCR, desde maio passado. Para esta jovem bióloga, formada na Faculdade, este trabalho tem um significado muito simples: ajudar. E foi exatamente isso que a motivou - saber que todas as horas que disponibilizasse fariam a diferença.

Informação eletrónica de rua: Keep your distance

Ganna Rozhnova trabalha em modelação epidemiológica na UMC Utrecht, na Holanda. A antiga aluna de doutoramento em Física Estatística da Faculdade, continua a colaborar com o BioISI e é a investigadora principal de um projeto da FCiências.ID, financiado no âmbito do Apoio especial a projetos Research 4 COVID-19.

Spinophorosaurus nigerensis

Uma inovação anatómica pode ser a chave na compreensão da evolução dos dinossáurios saurópodes. Os autores deste trabalho - Daniel Vidal, Pedro Mocho, Ainara Aberasturi, José Luis Sanz e Francisco Ortega - acreditam que parte do êxito evolutivo deste grupo de animais está relacionado com alterações na cintura pélvica e que esse fator contribuiu para os converter nos animais de maior porte da Terra.

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