Nevaro: da adversidade nasce a ideia

Holi, o “personal trainer” da saúde mental, projeto mais recente da empresa

Francisca Canais e Rita Maçorano

Francisca Canais e Rita Maçorano são cofundadoras da Nevaro

ACI Ciências ULisboa

Holi é o nome da mais recente aplicação criada pela Nevaro, uma empresa com berço no Centro de Inovação da Ciências ULisboa, o Tec Labs. A aplicação funciona como um “pequeno cérebro”, que monitoriza a saúde mental do utilizador, ajudando na sua autogestão.

A startup da Ciências ULisboa foi fundada em 2020 por Francisca Canais e Rita Maçorano, ambas ex-alunas do mestrado integrado em Engenharia Biomédica e Biofísica da Ciências ULisboa, e por Hugo Ferreira, professor do Departamento de Física, coordenador do mesmo mestrado e investigador do Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica (IBEB). A empresa conta ainda com a colaboração de dois alunos do Instituto Superior Técnico (IST), André Manso e Miguel Lopes e tem como lead advisor David Siqueira Magboulé.

Para conhecer melhor a história da Nevaro é preciso recuar a 2018, ano em que Francisca Canais e Rita Maçorano iniciaram a frequência do mestrado. A semente desta ideia nasceu de um trabalho para a disciplina Neurociências, cujo objetivo era utilizar tecnologias emergentes para resolver um problema na área da saúde. Tiveram então a ideia de criar um jogo de realidade virtual para o tratamento de fobias, utilizando tecnologias de neurofeedback que permitem monitorizar a resposta fisiológica do utilizador (atividade cerebral e batimento cardíaco).

holi
A Holi deteta os sinais fisiológicos através dos sensores de um smartphone
Fonte Nevaro

 

A ideia ganhou sucesso junto dos professores, tendo sido tema para as teses de mestrado de ambas. Em conjunto com o professor Hugo Ferreira, Beatriz Carmo e Ana Paula Cláudio, professoras do Departamento de Informática, coorientadoras das suas teses de mestrado, as jovens receberam o apoio necessário para a implementação técnica desta ideia. À medida que o tempo foi passando, aperceberam-se da aplicabilidade e inovação que a ideia poderia trazer ao mercado, e o projeto ganhou asas. Em 2018 receberam o apoio do Tec Labs para iniciar o desenvolvimento do projeto. Nesse ano de incubação, trabalharam afincadamente no desenvolvimento do jogo, cujo objetivo foi associar a inovação tecnológica às áreas da Psicologia e Psiquiatria, constituindo uma ferramenta completar aos métodos terapêuticos convencionais. Em contexto terapêutico, o jogo permite controlar a experiência do paciente, recriando em consultório a sensação de estar num avião, ver uma aranha, ou estar no topo de um prédio alto.

As mentoras da Nevaro classificam esses dois anos do curso, e particularmente o ano de defesa das teses de mestrado, como uma “montanha russa caótica, mas desafiante”. De Beja a Braga, passando por Lisboa, ambas estavam simultaneamente a estudar, escrever as teses, desenvolver o projeto e a participar num programa de aceleração de startups.

Da ideia embrionária nasce então a Nevaro, justamente no ano em que o primeiro caso de doença por COVID-19 chega a Portugal. Tendo em conta o momento que se atravessava, meteram mãos à obra e juntaram-se a uma equipa de estudantes de Engenharia Biomédica e Biofísica para desenvolver uma plataforma de symptom checker, cujo objetivo era monitorizar os sintomas de COVID-19. A plataforma, intitulada Nevaro4COVID, foi distribuída essencialmente em lares de terceira idade, local onde os surtos se tornaram muito preocupantes dada a dificuldade de contenção. O projeto mostrou-se bastante relevante pois permitia guardar digitalmente todos os dados dos utentes e perceber a evolução temporal do seu estado de saúde. A plataforma continua atualmente disponível online, tanto para uso institucional como para uso particular.

Por força da pandemia, viram-se obrigadas a suspender os testes-piloto da plataforma de fobias, que, entretanto, decorriam no Hospital da Luz, facto que as obrigou a interromper o projeto por tempo indeterminado.

O início foi atribulado, mas não o suficiente para as abalar. Sem saber que futuro a Nevaro poderia vir a ter, Rita Maçorano e Francisca Canais contam que tiveram que repensar a estratégia e a missão da Nevaro e decidiram apostar na área da prevenção da saúde mental. Um dos objetivos definidos foi desmistificar o conceito, reduzir o estigma e aumentar o conhecimento sobre o tema, tornando a saúde mental mais tangível e objetiva, fornecendo informação de forma divertida, positiva e sem tabus.

Assim nasce o Holi, “o pequenino cérebro”, como Rita Maçorano carinhosamente o trata, que toma a forma de aplicação para smartphone.

A Holi e a Nevaro já dão que falar nos meios de comunicação social, como é o caso da Rádio Renascença, Público, PC Guia, PME Magazine, Observador, media no qual as responsáveis pelo projeto publicaram um artigo de opinião intitulado “Trabalho: catalisador ou aniquilador da nossa saúde mental?”

O Holi é um “personal trainer” da saúde mental. Através de técnicas de biofeedback (derivação do neurofeedback aplicado a todos os sinais fisiológicos para além das ondas cerebrais), como a respiração e o batimento cardíaco, detetadas pelos sensores de um smartphone - microfone, câmara, leitor de impressão digital – a aplicação está programada para entender as necessidades do utilizador. Desta forma, a Holi traça uma estratégia personalizada para autogestão da saúde mental do utilizador, através da “prescrição” de exercícios de respiração, aceleramento do metabolismo, empoderamento, autoconfiança, etc..

A mais valia e inovação deste projeto é a desmaterialização e democratização do acesso. Sem necessidade de adquirir hardware específico, a Holi permite que qualquer pessoa possa ter acesso aos seus dados fisiológicos e ainda ter uma ajuda complementar na gestão da sua saúde mental.

Neste momento, a aplicação está apenas disponível para trabalhadores de empresas e instituições de saúde. Num futuro próximo, as mentoras deste projeto querem expandir a aplicação para uso individual.

A prova de fogo da Holi começa agora, com a utilização da aplicação por parte de 35 000 trabalhadores da Sonae MC, uma empresa que demonstrou muito interesse no projeto, e cuja experiência será uma grande oportunidade para analisar a adesão, o interesse, a eficácia e a usabilidade da app.

Ainda que com poucos anos de vida, a Nevaro conta já com uma rede de parceiros consideravelmente ampla, incluindo empresas, hospitais, clínicas de psicologia e psiquiatria, entre outros. Para complementar o trabalho, promovem estágios e projetos curriculares com alunos de Engenharia Biomédica e Biofísica e Engenharia Informática, colaborando com alunos no desenvolvimento de diversos projetos na Ciências ULisboa, IST e Universidade de Aveiro.

“Tem sido uma jornada desafiante porque a credibilidade de duas raparigas de 23/24 anos não é a mesma da de um homem… mas vai-se notando uma certa evolução da mentalidade das pessoas quanto à liderança feminina.” Rita Maçorano, cofundadora e CEO da Nevaro

Rita Maçorano e Francisca Canais têm “bicho carpinteiro” e já levaram o nome do projeto a diversos concursos e programas nacionais e internacionais, tendo sido distinguidas com prémios e reconhecimentos, entre os quais se destacam dois dos mais recentes: a nomeação para o prémio de “Best Startup in Portugal started by a Woman”, pela Portuguese Women in Tech e o 1.º lugar na última edição do concurso Santa Casa Challenge, que lhes valeu um prémio no valor de 15.000€, deu direito a um ano de incubação na Casa do Impacto e a presença no WebSummit 2021. Entre 2019 e 2021 tiveram a oportunidade de apresentar posteres científicos no European Congress of Psychiatry.

Com um futuro promissor pela frente no mercado das tecnologias da saúde, o objetivo da Nevaro é agora conseguir captar mais investimento e expandir o âmbito da aplicação, de modo a ser utilizada como complemento à terapêutica convencional.

 

Marcos importantes na história da Nevaro 

linha do tempo nevaro

Marta Tavares, Gabinete de Jornalismo Ciências ULisboa
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt
Seringa

Num estudo recentemente publicado na revista Nature Communications uma equipa de investigadores liderada por Ganna Rozhnova, professora na University Medical Center Utrecht e colaboradora do Instituto de Biossistemas e Ciências Integrativas (BioISI) na Ciências ULisboa, analisou diferentes cenários de relaxamento das medidas de contenção da pandemia enquanto progredia o processo de vacinação para o SARS-CoV-2 em Portugal.

José Cordeiro

A 1.ª edição do concurso à Bolsa Fulbright para Investigação com o apoio da FLAD – Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento para o ano académico de 2021/2022 selecionou quatro candidatos. Entrevista com José Cordeiro, mestrando em Estatística e Investigação Operacional na Ciências ULisboa.

Atividade realizada no âmbito da Higrografia

"A Hidrografia sofreu drásticas mudanças de desenvolvimento e progresso desde o advento do posicionamento por satélite (GPS) e dos sistemas acústicos de varrimento (multifeixe)", escreve Carlos Antunes, professor do DEGGE Ciências ULisboa, por ocasião das comemorações do centenário do curso de Engenharia Geográfica/Geoespacial.

relógios

As professoras Ana Nunes e Ana Simões apresentam em entrevista os objetivos do repositório digital de cursos e apontamentos de antigos professores da Ciências ULisboa, nomeadamente João Andrade e Silva, Noémio Macias Marques, José Vassalo Pereira, António Almeida Costa e José Sebastião e Silva.

Simulação de larga escala do Universo

Andrew Liddle, investigador do Departamento de Física da Ciências ULisboa e do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, integra a colaboração internacional Dark Energy Survey (DES), que catalogou quase um oitavo de todo o céu, ao longo de seis anos, com o intuito de revelar a natureza da energia escura, responsável pela expansão acelerada do Universo.

Sumário gráfico do trabalho

Um grupo de investigadores utilizou gânglios linfáticos, amígdalas e sangue para mostrar como as células que controlam a produção de anticorpos são formadas e atuam. Estes dados permitirão desenhar estratégias que controlem a regulação do sistema, podendo contribuir para a resolução de doenças autoimunes ou alergias.

Logotipo Radar

Décima sexta rubrica Radar Tec Labs, dedicada às atividades do Centro de Inovação da Faculdade.

Pessoa lendo um jornal

A agenda temática avalia a importância que os meios de comunicação de massas têm quando distribuem determinados temas, dando atenção a certos assuntos e esquecendo outros.

lagoas de filtração

As águas residuais podem ser usadas para identificar precocemente novos surtos da COVID-19 e investigar a diversidade dos genomas do vírus SARS-CoV-2 que circulam numa comunidade, segundo comunicado de imprensa emitido pela Águas de Portugal. Os resultados do projeto de investigação COVIDETECT foram apresentados a 26 de maio.

Combinação de imagens de técnicas e aplicações da Geodesia

"Um dos marcos interessantes da contribuição da Geodesia para a sociedade foi a definição do metro formulada em 1791 , que teve como base a medição do arco de meridiano entre Dunkerque e Barcelona, efetuada ao longo de sete penosos anos (em plena revolução francesa)", escreve Virgilio de Brito Mendes, professor do DEGGE Ciências ULisboa, por ocasião do centenário do curso.

Fluviário de Mora

A exposição permanente do Fluviário de Mora inclui “Sons dos Peixes” produzida no âmbito do projeto de investigação “Deteção de Peixes Invasores em Ecossistemas Dulciaquícolas através de Acústica Passiva - Sonicinvaders”, liderado pelo polo da Faculdade do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente.

Modelo do espectrógrafo MOONS no VLT

Portugal colidera o projeto do Espectrógrafo Multiobjetos no Ótico e Infravermelho próximo, ou MOONS, assim como alguns dos seus grupos de trabalho. Um dos componentes principais do MOONS é o corretor de campo e foi desenhado por uma equipa do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.

Planta

A fenotipagem (medição sistemática de caracteres fenotípicos, i.e., do corpo das plantas) foi eleita, depois dos grandes avanços verificados na fenotipagem nas últimas décadas, como um grande desígnio atual da comunidade da ciência das plantas. Leia a crónica da autoria de Jorge Marques da Silva, professor do DBV Ciências ULisboa e presidente da SPBP.

Vista aérea de florestas de mangal no arquipélago dos Bijagós

O estudo da autoria de Mohamed Henriques, José Pedro Granadeiro, Theunis Piersma, Seco Leão, Samuel Pontes e Teresa Catry realizado no ecossistema influenciado por mangal será publicado em julho deste ano no Marine Environmental Research, volume 169.

Cartas com Ciência

O conhecimento e a empatia não têm fronteiras, prova disso é o projeto Cartas com Ciência, que parte das palavras dos cientistas para criar laços e encurtar distâncias no que à educação diz respeito.

Satélite

"Com a Engenharia Geográfica/Geoespacial sabemos de onde vimos, para onde vamos, qual o melhor caminho e ainda o que vamos encontrar", escreve Paula Redweik, professora do DEGGE por acasião do centenário do curso.

Exposição “Empty space of the Unknown/ Nothing Is Right Now”

Catarina Pombo Nabais coordena o SAP Lab - Laboratório Ciência-Arte-Filosofia do Centro de Filosofia das Ciências da ULisboa e em entrevista dá conta da importância da relação interdisciplinar entre ciência e arte e dos projetos futuros.

Pepino do mar

Os pepinos do mar - espécies de equinodermes ainda muito desconhecidas - cumprem uma importante função ecológica: reciclam a matéria orgânica dos sedimentos e redistribuem nutrientes. O grupo de Pedro Félix, investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) e da Ciências ULisboa, é o único atualmente a trabalhar na ecologia e aquacultura de pepinos do mar em Portugal.

Anfiteatro com várias cadeiras e uma pessoa sentada a ler

O Grupo de Fala e Linguagem Natural dedica-se à Inteligência Artificial com enfoque especial no Processamento de Linguagem Natural e é o coordenador da PORTULAN CLARIN Infraestrutura de Investigação para a Ciência e Tecnologia da Linguagem.

cientista ao microscópio

Maria Helena Garcia, professora do DQB Ciências ULisboa e Andreia Valente, investigadora do DQB Ciências ULisboa, lideram A Something in Hands – Investigação Científica, Lda, uma spin-off desta Faculdade, que recebeu 100 mil euros da Portugal Ventures e que visa desenvolver novos medicamentos para o tratamento dos cancros metastáticos.

Centro de Testes Ciências ULisboa

O Centro de Testes Ciências ULisboa recebeu o primeiro lote de 110 zaragatoas a 1 de maio de 2020, provenientes de um conjunto de cinco lares de terceira idade do concelho de Mafra, no que viriam a ser os primeiros de várias dezenas de milhar de testes de diagnóstico molecular da COVID-19.

Logotipo Radar

Décima quinta rubrica Radar Tec Labs, dedicada às atividades do Centro de Inovação da Faculdade. A empresa em destaque volta a ser a Nevaro.

Há um conjunto de normas e princípios legais que regulam as relações dos indivíduos em sociedade. O direito de autor é um deles. Todo o conteúdo produzido e publicado em órgãos de comunicação social é considerado conteúdo editorial. Estas obras coletivas estão protegidas pelos direitos de autor.

Iris Silva

Iris Silva, investigadora do Instituto de Biossistemas e Ciências Integrativas (BioISI) na Ciências ULisboa, venceu pela segunda vez o Best Young Investigator Award da Sociedade Europeia de Fibrose Quística (ECFS), segundo comunicado de imprensa emitido esta sexta-feira pela Faculdade. O galardão será atribuído durante o 44th European Cystic Fibrosis Conference, que se realiza online entre 9 e 12 de junho de 2021.

Margarida Ribeiro e Hugo Anjos, alunos de Ciências ULisboa do mestrado em Bioestatística

Em reunião do Infarmed, os alunos Margarida Ribeiro e Hugo Anjos, do mestrado em Bioestatística, receberam palavras de agradecimento da DGS pelo trabalho desenvolvido em contexto COVID-19.

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