
Evaristo.ai tem por inspiração uma personagem do filme “Pátio das Cantigas”, mas é também o nome do novo agente digital que acaba de ser lançado pelos laboratórios de Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS) com o objetivo de voltar a fazer história na língua portuguesa.
Segundo os investigadores do NLX - Grupo de Fala e Linguagem Natural, este novo legítimo detentor do título de chatbot é o primeiro a permitir o uso e a escolha de vários modelos de Inteligência Artificial (IA) para interpretar e dar respostas em português com diferentes heterónimos. O acesso ao Evaristo.ai é grátis e, para já, recorre a seis modelos de IA, mas as questões formuladas pelos internautas deverão ter em conta as datas em que cada um dos modelos foi treinado e os diferentes níveis de aptidão.
“Estamos a promover a democratização destas tecnologias. Não se trata apenas de chegar a mais utilizadores, mas sim de ter mais fornecedores de ferramentas de Inteligência Artificial generativa. Além disso, Evaristo.ai mostra que é possível criar sistemas de IA aberta (que todos podem usar)”, responde António Branco, professor de CIÊNCIAS e responsável do NLX - Grupo de Fala e Linguagem Natural.
O Evaristo.ai é um chatbot que interpreta e responde a perguntas redigidas em linguagem humana, mas conta com outras funcionalidades que vão além desta aptidão conversadora, recorda António Branco. Resumos, traduções, paráfrases que permitem mudar estilo e tom dado aos textos, receitas de culinária, redação de textos com os mais variados propósitos, letras de música ou poesia figuram na lista de capacidades deste novo serviço que opera sob a lógica da IA aberta, que elimina barreiras ao uso e à partilha de tecnologias .
“É um chatbot, mas está organizado para ser uma ferramenta de literacia tecnológica, porque refere as datas dos dados usados no treino dos modelos de IA e os diferentes níveis de aptidão para processar e recolher informação. Esses dados nem sempre são revelados pelos operadores comerciais (que já fornecem modelos de IA)”, refere António Branco. Nem todos os modelos usados pelo Evaristo.ai permitem obter as respostas mais atuais, porque foram treinados com dados anteriores a 2023. E por isso o Evaristo.ai avisa logo no próprio endereço que pode produzir erros factuais. Ainda assim, os utilizadores que fazem questão podem usar “dois dos modelos disponibilizados pelo Evaristo.ai que permitem recorrer a extensões que fazem pesquisas diretamente na Internet antes de responder”.
Neste momento de arranque, a “inteligência” do Evaristo.ai vai sendo alimentada por seis modelos de IA (ou Grandes Modelos de Linguagem). São eles o Gervásio 8B PTPT, que foi criado enquanto pioneiro da lusofonia por CIÊNCIAS e foi treinado com dados anteriores a dezembro de 2023; o Llama 3.3 70B Instruct que foi produzido pelo grupo Meta (que tem Facebook e Instagram) com dados anteriores a dezembro de 2023; o Qwen 3 32B que é proveniente do grupo chinês Alibaba e que não refere a data dos dados de treino; o Mistral Small 24B Instruct, que foi treinado com dados anteriores a outubro de 2023 e provém da Mistral AI, que é hoje a referência comercial na matéria na UE; o Sabiá 7B, que foi produzido pela empresa brasileira Maritaca AI e foi treinado com dados anteriores a junho de 2022; e o DeepSeek Coder 1.3B Instruct, que recorre a dados anteriores a fevereiro de 2023.
Cada modelo tem um indicador de aptidões semânticas, culturais e de civilidade. O Evaristo.ai não faz o rastreio dos utilizadores e está preparado para manter a privacidade, sem fornecimento de dados pessoais a terceiros, recordam os investigadores de CIÊNCIAS.
“Estamos a disponibilizar modelos que são representativos de diferentes dimensões da IA. Disponibilizamos modelos que vêm de Portugal, China, Brasil, França e Estados Unidos; e temos modelos maiores e outros mais pequenos; uns que fazem raciocínio e outros que não fazem; uns que pesquisam na Internet e outros que não pesquisam na Internet”, descreve António Branco.
Com os modelos usados pelo Evaristo.ai, o utilizador pode combinar variantes do Português Europeu e Português do Brasil. Na IA, o poderio computacional mede-se em parâmetros, que são reveladores da capacidade de reter e processar informação. No leque disponibilizado pelo Evaristo.ai, é possível encontrar modelos cuja “inteligência” oscila entre os 1,3 mil milhões a 70 mil milhões de parâmetros.
“No segmento da IA aberta, não há muito mais modelos com mais parâmetros que estes que são usados no Evaristo.ai. Um modelo com um grande número de parâmetros pode exigir servidores muito poderosos… sendo que, com estes modelos, conseguimos um equilíbrio entre os custos que podemos comportar e a qualidade de serviço que estamos a prestar”, acrescenta António Branco.
Além de recorrer a modelos que permitem diferentes abordagens e tratamentos de informação, o Evaristo.ai pode assumir vários heterónimos que determinam o tom, o perfil e a forma de tratamento do serviço chatbot que é, possivelmente, a face mais visível deste estojo de ferramentas de IA. Cada utilizador pode moldar, através de um dos menus disponíveis, o heterónimo que mais se adequa às necessidades e preferências. “Mas esses heterónimos apenas funcionam quando usados pelos utilizadores que os definiram”, conclui António Branco.