Entrevista com… Ana Margarida Fortes

Bioatividade de vinhos monocasta

Ana Margarida Fortes, investigadora auxiliar do Departamento de Biologia Vegetal no âmbito do programa Ciência 2008 e do centro BioFIG, respondeu à “crescente procura mundial por alimentos com compostos de atividade medicinal com relevância na prevenção de diferentes patologias”, através da identificação da bioatividade de vinhos monocasta produzidos em Portugal.

O trabalho desenvolvido, traduzido no artigo “Vinhos tintos atenuam a produção do fator de necrose tumoral α em linha celular humana de linfoma histiocítico: um estudo baseado em espectroscopia de RMN e quimiometria”, é o 22.º artigo publicado pela investigadora, o 2.º na revista científica de Ciências da Saúde, "Food Chemistry".

Neste trabalho, as castas escolhidas, por serem utilizadas em vinhos portugueses de qualidade superior, foram a Touriga Nacional e a Aragonês. No desenvolvimento da investigação estiveram envolvidas duas empresas do sector vinícola, Plansel e Esporão. João Roquette, administrador delegado da empresa Esporão, deu conta da importância do trabalho desenvolvido pela cientista, "achamos que todo o tipo de investigação científica que possa contribuir para encontrar soluções para doenças é positivo, sobretudo explorando os benefícios do vinho, produto muito querido e que está na base da atividade do Esporão". 
Fique a saber mais sobre o trabalho desta cientista na entrevista a seguir apresentada e ainda no perfil da cientista.

Ana Margarida Fortes
"A metodologia apresentada pode ser utilizada para determinar outras bioatividades associadas ao vinho ou a outros alimentos sem uso de métodos laboriosos", reforça a investigadora sobre a investigação desenvolvida
Fonte Imagem cedida por Ana Margarida Fortes

Em que contexto surge a investigação “Vinhos tintos atenuam a produção do fator de necrose tumoral α em linha celular humana de linfoma histiocítico: um estudo baseado em espectroscopia de RMN e quimiometria”?

Ana Margarida Fortes (AMF) - Surge no contexto de uma procura mundial cada vez mais agressiva por alimentos que apresentam compostos com atividade medicinal com relevância na prevenção de determinadas patologias tais como o cancro e a arteriosclerose.

Como explica o efeito de necrose tumoral? E a linha celular humana de linfoma histiocítico?

AMF - O fator de necrose tumoral que mata as células cancerígenas pode ter um efeito localizado benéfico mas quando produzido em grande quantidade pode levar à toxicidade sistémica.

O linfoma do tipo histiocítico é um tipo de cancro muito agressivo que se caracteriza por uma proliferação anómala de células do tipo histiócitos, derivadas dos glóbulos brancos.

Em que consiste a técnica de espectroscopia de RMN?

AMF - Espectroscopia de ressonância magnética nuclear, mais conhecida como espectroscopia NMR ou ainda espectroscopia de RMN, é uma técnica que explora as propriedades magnéticas de certos núcleos atómicos para determinar propriedades físicas ou químicas de átomos ou moléculas nos quais eles estão contidos.

Qual o objetivo primordial do trabalho?

AMF - Identificar a bioatividade de vários vinhos monocasta produzidos em Portugal.

Qual o seu carácter inovador?

AMF - O uso de processos de extracção simples para avaliação de bioactividade de alimentos.

 Que processos de extração foram, então, utilizados?

AMF - Trata- se da extracção em fase sólida que é uma técnica simples que permite a extracção selectiva de analitos a partir de amostras complexas após passagem sobre uma coluna.

Que conclusões pincipais foram retiradas?

AMF - Os vinhos engarrafados mais recentemente apresentam maior capacidade de atenuar a actividade do factor de necrose tumoral α. Entre as castas estudadas a Touriga Nacional e a Aragonês podem ser consideradas as mais bioactivas. Compostos fenólicos como quercetina, ácido caftárico e catequina são os que mais influenciam esta bioactividade dos extractos de vinhos.

+ Sobre as Castas Touriga Nacional e Aragonez

Touriga Nacional

- Cultivada nas regiões Dão, Douro, Alentejo;

- Casta de pouca produção, já que tem cachos pequenos;

- Os seus bagos concentram bastante açúcar, cor e aromas;

- Vinhos produzidos ou misturados com esta casta são muito equilibrados, alcoólicos e com boa capacidade de envelhecimento.

Aragonez

- Originária de Espanha, sendo conhecida neste país por “Tempranillo”;

- Na região do Douro, assume o nome “Tinta Roriz”;

- Cultivada no Douro, Dão, Ribatejo e Estremadura;

- Casta que se adapta facilmente a diferentes solos e climas;

- Os vinhos produzidos ou misturados com esta casta têm um elevado teor alcoólico, são de baixa acidez e indicados para envelhecer. São também bastante resistentes à oxidação.

Fonte: Portal Infovini – Portal do Vinho Português

Para o trabalho desenvolvido, porque foram escolhidas as castas “Touriga Nacional” e “Aragonês”? Quais as suas características?

AMF - Foram escolhidas por serem muito utilizadas em vinhos portugueses de qualidade superior. Dadas as suas qualidades excepcionais, são usadas em vinhos monocasta. Ambas produzem vinhos muito aromáticos. A casta Aragonês apresenta um rendimento elevado enquanto que a casta Touriga Nacional tem rendimentos reduzidos.

Que importância assume este estudo para o meio científico em que se insere?

AMF - A metodologia seguida pode ser aplicada à detecção da bioactividade de outros alimentos.

Quais as principais dificuldades sentidas ao longo da sua conceção?

AMF - Não foram sentidas dificuldades, uma vez que o processo de obtenção das várias fracções do extractos já tinha sido optimizado no âmbito de um projecto internacional.

Que importância assume para o seu percurso académico e/ou profissional?

AMF - Permite-me enverendar pelas aplicações medicinais do consumo de uvas e vinho como complemento à actividade principal que visa investigar a complexidade dos fatores que determinam as características do bago de Vitis vinifera no sentido de obter melhor qualidade de produção e maior controlo sobre a mesma. Em última análise, pretendo fazer investigação aplicada, em particular na área da Biotecnologia Vegetal, que possa contribuir para a sociedade e para a economia do país.

Que outras aplicações futuras poderá ter?

AMF - A metodologia apresentada pode ser utilizada para determinar outras bioatividades associadas ao vinho ou a outros alimentos sem uso de métodos laboriosos.

Profissionalmente, tem já planos para outros projetos/estudos?

AMF - Sim, pretendo determinar, num futuro próximo, de que forma a qualidade das uvas e do vinho feito com a casta Trincadeira é afectada pela infecção dos bagos com o fungo Botrytis cinerea.

Raquel Salgueira Póvoas, Gabinete de Comunicação, Imagem e Cultura da FCUL
info.ciencias@fc.ul.pt
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Identidade gráfica da crónica com imagem de Andreia Sofia Teixeira

A crónica da autoria da Comissão de Imagem do Departamento de Informática da Ciências ULisboa visa realçar a investigação feita pelos docentes e investigadores deste departamento. A segunda crónica dá a conhecer Andreia Sofia Teixeira.

Pessoas junto ao edifício do MARE, na Ciências ULisboa

Com o intuito de colaborar no desenvolvimento de um parque eólico offshore flutuante ao largo da Figueira da Foz, o MARE e a IberBlue Wind (IBW) assinaram a 5 de dezembro passado um protocolo que estabelece os moldes da parceria futura. A colaboração da IBW com o MARE irá permitir estudar os eventuais impactos da instalação da infraestrutura nos ecossistemas marinhos da área de implementação, e propor soluções que mitiguem os eventuais impactos negativos na componente ecológica e na atividade da pesca.

A Ciências ULisboa foi palco do mais recente workshop da International Atomic Energy Agency (IAEA). O “Regional Workshop on Nuclear and Radiation Education - Strategies and Approaches to Enhance Capacity Building in Nuclear Education and Training” realizou-se entre os dias 4 e 7 de dezembro e contou com a presença de 37 representantes de 25 países europeus e asiáticos, assim como de especialistas internacionais e delegados da IAEA.

Ricardo Trigo e membros da ULisboa e CGD

Ricardo Trigo é professor no Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia e investigador no Instituto Dom Luiz, no RG1 – Climate change, atmosphere-land-ocean processes and extremes. Este ano foi distinguido, pela segunda vez, pela ULisboa e Caixa Geral da Depósitos (CGD) com um prémio científico, na área das Ciências da Terra e Geofísica. O primeiro prémio científico atribuído pela ULisboa e pela CGD ao cientista ocorreu em 2017. Leia a entrevista com o cientista e saiba o que pensa sobre esta distinção e em que consiste a sua investigação.

salão nobre da Reitoria da ULisboa

Na edição de 2023 dos Prémios Científicos ULisboa / Caixa Geral de Depósitos (CGD) foram atribuídos 20 prémios e 20 menções honrosas a professores e investigadores da Universidade. Os cientistas da Ciências ULisboa alvo desta distinção foram Alysson Bessani, Ricardo Trigo e Vladimir Konotop, com prémios no valor de 6.500€; e Carla Silva, Jaime Coelho, José P. Granadeiro e Rita Margarida Tavares, com menções honrosas.

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