Astrofísica

Investigadores de CIÊNCIAS revelam nova tese que explica água e habitabilidade na Terra

Colisão de Theia com a Terra

O "mundo oceano" Theia terá colidido com a Terra há 4,5 mil milhões de anos

IAstro

Já há bastante tempo que Pedro Machado achava que “a história da água que existe no planeta Terra estava mal contada”, mas foi só durante a semana passada que a questão ganhou forma com um artigo científico que tem como primeiro autor Duarte Branco, aluno de mestrado da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS). Segundo o artigo, a quantidade de água existente na Terra pode ter resultado da colisão, há 4,5 mil milhões de anos, com o “mundo oceano” de Theia, que poderá ter vindo das "cercanias de Júpiter". Além de justificar a existência de uma grande quantidade de água no manto da Terra, a cerca de 600 quilómetros de profundidade, as simulações computacionais que serviram de base ao artigo científico podem ter deslindado novas pistas que dão contributos para a explicação da génese da vida e a evolução da habitabilidade na Terra.

“Claro que os dinossauros não iriam concordar connosco, mas afinal parece que até pode haver algumas ocasiões em que é bom que o céu nos caia em cima”, responde, com humor à mistura, Pedro Machado, professor de CIÊNCIAS que tem vindo a fazer carreira de investigação no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IAstro).

As dúvidas de Pedro Machado começaram a ganhar forma por volta de 2018, mas em 2023, um artigo que começou a circular na comunidade científica revelou a existência de uma grande quantidade de água nos interstícios do planeta - mais precisamente na faixa que é conhecida por manto da Terra. Mais ou menos pela mesma altura, Duarte Branco começou a estudar o tema, durante o mestrado, com a orientação de Pedro Machado e Sean N. Raymond, investigador norte-americano que trabalha no Laboratório de Astrofísica de Bordéus, em França. E a semana passada o jornal científico Icarus publicou os resultados desta investigação.

“O Sean N. Raymond é uma das grandes referências mundiais sobre a formação e evolução de sistemas planetários. Esta colaboração com o Sean foi fundamental”, refere Pedro Machado, sem deixar de puxar pelo aluno que ajudou a orientar durante o mestrado: “O primeiro autor do artigo é o Duarte Branco!”.

O trabalho em equipa haveria de redundar numa tese que, a confirmar-se nos próximos tempos, pode abrir um novo paradigma que pode mudar muito do que a comunidade científica tem tentado saber sobre a habitabilidade e em parte o aparecimento da vida na Terra. Pedro Machado recorda que os materiais mais densos e pesados tendem a “afundar” gradualmente em direção ao núcleo da Terra à medida que o tempo passa, enquanto os materiais com densidade mediana tendem a ficar numa faixa intermédia no interior do planeta, e os materiais menos densos ascendem para a crosta ou para os oceanos. Duarte Branco, Pedro Machado e Sean N. Raymond não tinham qualquer razão para duvidar desta dinâmica, mas acabaram por centrar as atenções em dois dados que persistiam sem explicação.

Planetas do sistema solar
Theia pode ter vindo das "cercanias de Júpiter" - Fonte: IAstro

“Há um grande reservatório de água no manto da Terra. Trata-se de algo que não bate certo, porque a água é menos densa que os materiais que costumam encontrar-se no manto da Terra, e era suposto ter vindo para junto da crosta ou dos oceanos. Logo, somos levados a crer que pode ter havido um corpo muito grande a colidir com a Terra e ainda não houve tempo para essa água chegar à superfície”, adianta Pedro Machado.

Os mistérios de Theia

Theia é o “corpo” de grandes dimensões que pode ter colidido com a Terra e que a comunidade científica acredita ter levado à proliferação de destroços que, depois, se agregaram no corpo celeste que hoje conhecemos como Lua. As análises de isótopos (ou razão isotópica) que têm sido feitas a partir de amostras de materiais da Lua apontam nesse sentido, mas foi a comparação com outros corpos celestes que ajudou a reforçar a nova tese de habitabilidade na Terra.

“Apesar de terem o mesmo material primordial, Vénus e Marte evoluíram de forma bem diferente da Terra. Com este trabalho, estamos a ajudar a perceber a habitabilidade na Terra. Este grande corpo carbonáceo (Theia) pode ter trazido matéria essencial para a formação de vida”, refere Pedro Machado. Além da grande quantidade de água a colisão com Theia pode ter trazido consigo carbono, nitrogénio, oxigénio e outros elementos essenciais para a vida.

Ilustração que explica a formação da Lua a partir da colisão com Theya
Ilustração que explica a formação da Lua com o "mundo oceano" Theia - Fonte: IAstro

“Este trabalho vai ter um grande impacto na astrobiologia. Até agora, não havia justificação para a grande quantidade de água que existe na Terra. Se tivesse vindo apenas das colisões de asteroides e cometas, então a quantidade de água existente na Terra seria similar à de Marte e Vénus”, acrescenta o investigador.

“Este trabalho vai ter um grande impacto na astrobiologia. Até agora, não havia justificação para a grande quantidade de água que existe na Terra", recorda Pedro Machado.

Além de contributos para o estudo da génese da vida, as comparações com outros corpos celestes também ajudaram a revelar uma tese possível para a proveniência de Theia. Pedro Machado recorda que Encelado, uma lua que orbita Saturno, e Europa, uma lua que orbita Júpiter, também se caracterizam por grandes quantidades de água. Mas na tese que acaba de ser divulgada, os investigadores de CIÊNCIAS estão mais inclinados a considerar Theia  “um mundo oceano”, que pode ter vindo das “cercanias de Júpiter”. 

Até à data, a investigação tem sido levada a cabo com base em simulações de “milhares de cenários” que tiveram em conta diferentes dimensões e proveniências de Theia. As simulações recorreram ao supercomputador Nonius, de CIÊNCIAS, e a supercomputadores de universidades francesas. Pedro Machado confirma que a comunidade científica já começou a despertar interesse para o artigo científico publicado no jornal Icarus, mas admite que este novo paradigma científico pode expandir-se com a apresentação de resultados em conferências internacionais que vão decorrer em setembro e outubro.

Depois da divulgação da nova tese, Pedro Machado e a equipa de investigadores de CIÊNCIAS e IAstro já começou a pensar na recolha de outras “evidências científicas” que permitam confirmar as simulações dos supercomputadores. O próximo capítulo desse trabalho deverá arrancar com o apoio de investigadores das áreas de geologia, geofísica e astrofísica, entre outras áreas científicas. “Há uma altíssima probabilidade de a grande quantidade de água e a habitabilidade que temos na Terra se deverem a Theia”, conclui o professor de CIÊNCIAS.

Referências nos média:

RTP Online: 22 de julhoEstudo sugere que a origem da Lua poderá ser a origem da vida na Terra

Jornal de Notícias, 22 de julho: Corpo rochoso que formou a Lua pode ter gerado a vida na Terra

Observador, 22 de julho: Estudo sugere que a origem da Lua poderá ser a origem da vida na Terra

Correio da Manhã, 22 de julho: Estudo sugere que a origem da Lua poderá ser a origem da vida na Terra

Impala News, 22 de julho: Estudo sugere que a origem da Lua poderá ser a origem da vida na Terra

Jornal Online, 22 de julho: A Lua poderá estar relacionada com a origem da vida na Terra - estudo

Notícias de Coimbra, 22 de julho: Estudo sugere que a origem da Lua poderá ser a origem da vida na Terra

 

 

 

Hugo Séneca - DCI CIÊNCIAS
hugoseneca@ciencias.ulisboa.pt
Chegada à Lua
Exposição “Empty space of the Unknown/ Nothing Is Right Now”

Catarina Pombo Nabais coordena o SAP Lab - Laboratório Ciência-Arte-Filosofia do Centro de Filosofia das Ciências da ULisboa e em entrevista dá conta da importância da relação interdisciplinar entre ciência e arte e dos projetos futuros.

Pepino do mar

Os pepinos do mar - espécies de equinodermes ainda muito desconhecidas - cumprem uma importante função ecológica: reciclam a matéria orgânica dos sedimentos e redistribuem nutrientes. O grupo de Pedro Félix, investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE) e da Ciências ULisboa, é o único atualmente a trabalhar na ecologia e aquacultura de pepinos do mar em Portugal.

Anfiteatro com várias cadeiras e uma pessoa sentada a ler

O Grupo de Fala e Linguagem Natural dedica-se à Inteligência Artificial com enfoque especial no Processamento de Linguagem Natural e é o coordenador da PORTULAN CLARIN Infraestrutura de Investigação para a Ciência e Tecnologia da Linguagem.

cientista ao microscópio

Maria Helena Garcia, professora do DQB Ciências ULisboa e Andreia Valente, investigadora do DQB Ciências ULisboa, lideram A Something in Hands – Investigação Científica, Lda, uma spin-off desta Faculdade, que recebeu 100 mil euros da Portugal Ventures e que visa desenvolver novos medicamentos para o tratamento dos cancros metastáticos.

Centro de Testes Ciências ULisboa

O Centro de Testes Ciências ULisboa recebeu o primeiro lote de 110 zaragatoas a 1 de maio de 2020, provenientes de um conjunto de cinco lares de terceira idade do concelho de Mafra, no que viriam a ser os primeiros de várias dezenas de milhar de testes de diagnóstico molecular da COVID-19.

Logotipo Radar

Décima quinta rubrica Radar Tec Labs, dedicada às atividades do Centro de Inovação da Faculdade. A empresa em destaque volta a ser a Nevaro.

Há um conjunto de normas e princípios legais que regulam as relações dos indivíduos em sociedade. O direito de autor é um deles. Todo o conteúdo produzido e publicado em órgãos de comunicação social é considerado conteúdo editorial. Estas obras coletivas estão protegidas pelos direitos de autor.

Iris Silva

Iris Silva, investigadora do Instituto de Biossistemas e Ciências Integrativas (BioISI) na Ciências ULisboa, venceu pela segunda vez o Best Young Investigator Award da Sociedade Europeia de Fibrose Quística (ECFS), segundo comunicado de imprensa emitido esta sexta-feira pela Faculdade. O galardão será atribuído durante o 44th European Cystic Fibrosis Conference, que se realiza online entre 9 e 12 de junho de 2021.

Margarida Ribeiro e Hugo Anjos, alunos de Ciências ULisboa do mestrado em Bioestatística

Em reunião do Infarmed, os alunos Margarida Ribeiro e Hugo Anjos, do mestrado em Bioestatística, receberam palavras de agradecimento da DGS pelo trabalho desenvolvido em contexto COVID-19.

Pessoas a trabalhar numa mesa

O projeto SKIES (SKilled, Innovative and Entrepreneurial Scientists), iniciado em março passado e com a duração de 18 meses, pretende fornecer a estudantes de doutoramento e jovens investigadores doutorados na área da Astronomia um conjunto de competências ao nível da ciência aberta, inovação e empreendedorismo.

Tachydromia stenoptera

Ana Rita Gonçalves concluiu o mestrado em Biologia da Conservação na Ciências ULisboa e no âmbito da sua tese estudou a morfologia de todas as moscas-formiga conhecidas da Península Ibérica e de Itália - dez espécies no total. Quatro delas são novas para a Ciência e uma apenas existe em Portugal.

Imagem gráfica das comemorações do aniversário da Faculdade

Esta segunda-feira, dia 19 de abril, a Faculdade celebra 110 anos. Para acompanhar a cerimónia comemorativa que será realizada uma vez mais online no próximo dia 21 de abril, a partir das 14h00, deverá ligar-se ao canal YouTube.

Exposição Variações Naturais – uma viagem pelas paisagens de Portugal

Após 18 meses de desenvolvimento de projeto e montagem, Variações Naturais – uma viagem pelas paisagens de Portugal abriu portas ao público em novembro passado e vai estar em exibição até 25 de novembro de 2022.

ferramenta de saída de campo

Ícaro Dias da Silva recebeu uma menção honrosa na última edição (2019) dos Prémios Científicos ULisboa / Caixa Geral de Depósitos. O investigador do IDL Ciências ULisboa estuda a geodinâmica das margens continentais relacionadas com a abertura e fecho de oceanos no Paleozoico.

Barcos de pesca em Almograve, Portugal

No âmbito do projeto MarCODE já foram recolhidas mais de 1000 amostras de pescado e marisco - robalo, dourada, raia-lenga, pescada, carapau, polvo, cavala, ouriço e percebes. A amostragem decorreu nas lotas nacionais da DOCAPESCA. As amostras encontram-se a ser processadas analiticamente nos laboratórios do MARE e do BioISI, nos polos da Faculdade.

Imagem de mãos dadas

Até ao próximo mês de julho, cerca de 70 famílias de cuidadores informais no território continental português participam no programa “Famílias Seguras – Cuidar de quem Cuida” lançado pela Ciências ULisboa, através do seu Centro de Testes, em parceria com a Associação Nacional de Cuidados Informais.

Logotipo Radar

Décima quarta rubrica Radar Tec Labs, dedicada às atividades do Centro de Inovação da Faculdade.

Sala com microfone

O jornalismo científico tem a responsabilidade de tornar a mensagem científica compreensível para o público leigo. Jornalistas e cientistas têm o dever cívico de contribuir para a qualidade da informação.

Trajeto de transferência eletrónica num óxido metálico misto de molibdénio e tungsténio

Os fenómenos de transferência de eletrões são omnipresentes em toda a natureza e em Biologia Molecular representam ainda a “transdução de energia”, isto é o transporte de eletrões através de uma enzima ou proteína. Os resultados desta investigação podem ajudar a melhorar a compreensão de como os eletrões se movem nas junções moleculares em dispositivos eletrónicos, ou na transferência de eletrões em biomoléculas com mediação de espécies metálicas.

Pormenor da conceção artística do interior do futuro telescópio espacial de raios X Athena, da ESA

A componente ótica portuguesa, liderada pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, e que irá integrar o futuro telescópio espacial europeu nos raios X, passou na revisão de requisitos e entra agora na fase de projeto. O IA lidera o conceito e desenho de um sistema de metrologia, ou OBM (do inglês “Onboard Metrology System”), que permitirá orientar com exatidão o espelho do Athena, um telescópio espacial nos raios X, para o sensor de cada um dos dois instrumentos científicos desta missão.

Alunos e professor no campus da Faculdade

A equipa CGD/MATHFCUL ficou classificada em 5.º lugar na final nacional do Global Management Challenge 2020. Exigência foi a palavra escolhida pela equipa para classificar esta experiência. "Fico muito satisfeito e grato pela dedicação e crescimento destes meus alunos", diz João Telhada, professor do DEIO Ciências ULisboa e mentor da equipa.

Mulher esconde rosto com relógio

"O efeito da mudança de hora no consumo de energia é cada vez menos relevante nas nossas sociedades desenvolvidas e, por isso, a avaliação da sua premência deve valorizar sobretudo outros efeitos, como o impacto na saúde, na economia ou no bem-estar dos cidadãos", escreve Miguel Centeno Brito, professor do DEGGE Ciências ULisboa e investigador do IDL.

A distribuição potencial dos continentes no Arcaico e a profundidade do oceano em metros

Mattias Green, professor da Bangor University (BU), no Reino Unido, coorientador de Hannah Davies, estudante do programa doutoral Earthsystems, ganhou uma Bolsa Leverhulme no valor de 245.884,00 £, equivalente a 287.331,58 €, para estudar o clima da Terra no Arcaico, juntamente com João C Duarte, professor do Departamento de Geologia da Ciências ULisboa, investigador do Instituto Dom Luiz e membro da comissão coordenadora do referido programa. 

Pernas de crianças

Inês Lima, Leonor Pires, Mariana Oliveira e Raquel Sales Rebordão, estudantes de Engenharia Biomédica e Biofísica da Ciências ULisboa, classificaram-se em 2. º lugar na 3ª edição do BioMind – Make it in 24 hours! com o produto IMAGI, um projeto que conjuga técnicas de hipnoterapia e realidade virtual com o objetivo de reduzir e controlar a dor crónica em crianças.

Representação de uma bicamada fosfolipídica usada como modelo de uma membrana celular (à esquerda); representação de uma ligação de halogéneo (a amarelo) efetuada entre um átomo de bromo e um átomo de oxigénio de um fosfolípido (à direita)

Investigadores do BioISI Ciências ULisboa conseguiram demonstrar que moléculas halogenadas interagem com membranas biológicas por via de ligações de halogéneo, um fenómeno que pode ser determinante para a eficácia terapêutica de fármacos.

Páginas