Conservação da Biodiversidade no oceano Atlântico através da Inteligência Artificial

José Ricardo Paula vence 4.ª edição do FLAD Science Award Atlantic

Projeto inovador do MARE Ciências ULisboa realizado em parceria com o Hawaii Institute of Marine Biology

José Ricardo Paula

José Ricardo Paula, antigo aluno da Ciências ULisboa, é especialista em Evolução e Ecologia Comportamental

Imagem cedida por JRP

José Ricardo Paula, investigador auxiliar júnior no Departamento de Biologia Animal da Ciências ULisboa e no Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), é o vencedor da 4.ª edição do FLAD Science Award Atlantic, atribuído pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD).

De acordo com o comunicado de imprensa emitido pela FLAD, “José Ricardo Paula irá receber 300 mil euros de financiamento, em três anos, para desenvolver uma ideia inovadora, nomeadamente, o projeto ‘ATLANTICDIVERSA – Use emergent technologies to understand the role of cleaning mutualisms in Atlantic biodiversity conservation’, que pretende contribuir para compreender o papel dos mutualismos de limpeza na conservação da Biodiversidade do Atlântico, com recurso a tecnologias emergentes, como a Inteligência Artificial”.

José Ricardo Paula, antigo aluno da Ciências ULisboa, é especialista em Evolução e Ecologia Comportamental e trabalha a fisiologia e a neurogenómica do comportamento animal, o uso de grandes modelos ecológicos, bem como o desenvolvimento de ferramentas de Inteligência Artificial para o estudo de Ecologia Comportamental. José Ricardo Paula também é presidente da Sociedade Portuguesa de Etologia, fundada em 1987, com o intuito de divulgar e promover a ciência que estuda o comportamento animal em Portugal.

O que são mutualismo de limpeza? José Ricardo Paulo explica que os mutualismos de limpeza são interações entre diferentes espécies no oceano, que tendem a fixar-se em pequenos territórios subaquáticos chamados “estações de limpeza”. Uma espécie - o peixe limpador - remove parasitas, isto é, tecido morto ou restos de comida da pele, escamas ou dentes de outro animal - o “peixe cliente”.

E como os mutualismos de limpeza influenciam a resiliência, a biodiversidade e a saúde do ecossistema no oceano? Esta é a questão central deste projeto, que será desenvolvido por José Ricardo Paula e pelo seu grupo de investigação em Ecologia e Evolução Comportamental, sediado no Laboratório Marítimo da Guia, em Cascais, em parceria com Elizabeth Madin, investigadora do Hawaii Institute of Marine Biology da Universidade do Havai (EUA).

“Este projeto pode redefinir teorias ecológicas identificando potencialmente os peixes limpadores como espécies chave para a conservação. O uso de câmaras integradas com Inteligência Artificial para monitorização da Biodiversidade estabelecerá um novo padrão na investigação marinha. Estas ferramentas melhorarão a qualidade e quantidade de dados revolucionando as metodologias de investigação de campo e ajudando na conservação através da deteção precoce de perturbações ecológicas”, diz José Ricardo Paula.

De acordo com experiências localizadas na grande barreira de coral australiana, a remoção de mutualismos leva a uma quebra do ecossistema, a níveis similares de sobrepesca. Não existe informação para o oceano global, para o Atlântico e para Portugal.

O ATLANTICDIVERSA visa desvendar os papéis ecológicos dos mutualismos de limpeza nos ecossistemas atlânticos, compreender a sua resiliência às alterações climáticas e utilizar este conhecimento em estratégias de conservação, promovendo simultaneamente o envolvimento público e a educação através da tecnologia em tempo real.

O projeto pretende ainda avançar o conhecimento sobre como as espécies marinhas, particularmente os peixes limpadores, respondem ao aquecimento, acidificação e desoxigenação dos oceanos. Esses insights são considerados vitais para a modelação preditiva, estratégias de conservação, possibilitando ainda reinventar a comunicação dos resultados científicos.

Investigadora
O ATLANTICDIVERSA é realizado em parceria com Elizabeth Madin
Imagem cedida por JRP

“O vencedor da 4ª edição do prémio FLAD Science Award Atlantic, José Ricardo Paula, é um jovem biólogo cujas marcas de internacionalização e de cooperação são já reveladoras de um futuro percurso científico de excelência no estudo das ameaças ambientais na Biodiversidade dos oceanos. Em cooperação com o Hawaii Institute of Marine Biology, propõe-se utilizar as tecnologias digitais e a Inteligência Artificial para, em conjunto com a Biologia Marinha, perceber como é que as interações específicas de limpeza mútua entre os peixes influenciam a resiliência, a Biodiversidade e a saúde dos ecossistemas no oceano Atlântico”, diz Elsa Henriques, membro do Conselho Executivo da FLAD e um dos membros do júri do prémio.

Grupo de investigação de José Ricardo Paula
Grupo de investigação em Ecologia e Evolução Comportamental, coordenado por José Ricardo Paula
Imagem cedida por JRP

Segundo a FLAD, o projeto de José Ricardo Paula assume um forte compromisso com a transferência de conhecimento e o envolvimento público: “As transmissões de vídeo subaquático ao vivo das câmaras operadas por inteligência não servirão apenas às necessidades de investigação, mas também serão apresentadas em exposições públicas. Este foco visa aproximar a realidade do oceano do público, promovendo a educação e a conscientização sobre a saúde dos ecossistemas marinhos e os desafios que enfrentam”.

Com a criação deste prémio, a FLAD pretende promover a nova geração de cientistas portugueses, e apoiar projetos com um grande foco na obtenção de resultados práticos, como a criação de engenharia e tecnologias, que facilitem a nossa compreensão e exploração dos ecossistemas atlânticos.

O estudo do Atlântico é fundamental para compreender áreas muito diversas e multidisciplinares com impacto na sustentabilidade do planeta e na qualidade de vida, desde a interação entre os oceanos, a atmosfera e o espaço, às alterações climáticas, fenómenos naturais e sustentabilidade.

Cerca de três dezenas de candidatos concorreram a esta edição do FLAD Science Award Atlantic, o maior número de candidaturas na história deste concurso, e que representa também a maior qualidade em termos de candidatos, segundo o júri constituído pelos seguintes membros do comité científico: Miguel Miranda, professor catedrático jubilado na Ciências ULisboa; Pedro Camanho, professor catedrático na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e presidente do LAETA; Rui Ferreira dos Santos, professor no CENSE – Centro de Investigação em Ambiente e Sustentabilidade na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA de Lisboa e Elsa Henriques, professora associada no Instituto Superior Técnico da ULisboa.

espécie Labroides phthirophagus
Peixe limpador havaiano, espécie Labroides phthirophagus
Fonte JRP

Eixos principais do ATLANTICDIVERSA

  • Utilização de bases de dados globais de ciência cidadã para abordar o papel global dos mutualismos de limpeza na Biodiversidade

Os investigadores vão utilizar os dados recolhidos por mergulhadores recreativos treinados. Esta base de dados – ReefLifeSurvey - contêm mais de 17000 transectos recolhidos em 55 países diferentes, permitindo alcançar uma ideia global do papel destes mutualismos de limpeza no oceano global, nomeadamente a análise de correlações entre a presença destes mutualismos e a abundância e diversidade de outras espécies.

  • Manipulação ecológica das populações de peixes limpadores para confirmar os padrões locais

Os investigadores pretendem confirmar se os padrões observados globalmente são confirmados experimentalmente em cinco locais do Atlântico: Algarve, Açores, Cabo Verde, Florida e Curação. A confirmação é feita através de manipulações ecológicas, ou seja, removem espécies chave (peixes limpadores) e acompanham a evolução do ecossistema na ausência destes mutualismos.

  • Integração da tecnologia de Inteligência Artificial na investigação marinha

Os investigadores vão desenvolver câmaras de filmar subaquáticas acopladas a computadores preparados para Inteligência Artificial e ligadas à Internet. Estas câmaras irão trabalhar continuamente (graças a baterias e painéis solares em boias) e fazer streaming do fundo do mar para canais abertos, ao alcance de toda a população. Graças a um algoritmo de Inteligência Artificial (machine learning) será possível medir continuamente a diversidade de espécies presentes nestas estações, permitindo pela primeira vez a monitorização em real-time dos ecossistemas marinhos. O primeiro protótipo das câmaras será desenvolvido em 2024. Os protótipos que vierem a ser desenvolvidos no âmbito deste projeto serão colocados em alguns daqueles cinco locais do Atlântico.

  • Avaliar a resiliência de peixes limpadores do Atlântico às alterações climáticas

Os investigadores vão testar a resiliência comportamental e fisiológica destes mutualismos para prever a sua conservação, por exposição em sistemas de simulação de águas futuras no LMG. Os cientistas pretendem saber quão resilientes são os peixes limpadores às alterações climáticas (aumento de temperatura, acidificação dos oceanos e perda de oxigénio) e se há possibilidade de usar estas espécies em programas de conservação através de reintroduções.

Gabinete de Jornalismo da DCI Ciências ULisboa com FLAD
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt
Clara Grilo

Clara Grilo é bióloga e tem desenvolvido estudos sobre o impacto das estradas na fauna silvestre, nomeadamente na abundância relativa, comportamento, mortalidade por atropelamento e risco de extinção em aves e mamíferos. É investigadora no CESAM Ciências ULisboa, mas também é uma alumna da Faculdade. Fique a par de como foi estudar nesta faculdade e o que a levou a ir para o estrangeiro.

Um lince Ibérico sub-adulto

Mais de 120 espécies de mamíferos terrestres são particularmente vulneráveis à mortalidade por atropelamento e várias populações podem extinguir-se em 50 anos se persistirem os níveis de atropelamentos observados. A declaração é de Clara Grilo, investigadora do CESAM Ciências ULisboa, que lidera a investigação e que resultou na publicação de um artigo na prestigiada revista científica Global Ecology and Biogeography.

A missão Sentinel marca uma nova era na observação da Terra com o Copernicus

"A deteção remota veio revolucionar a forma de observação da Terra (...) desde as câmaras acopladas a aviões (...) aos mais variados sensores a bordo dos diversos satélites que orbitam a Terra, estes equipamentos têm permitido a aquisição sistemática de grandes volumes de imagens da superfície terrestre, possibilitando a sua monitorização a um nível global, regional e local de modo a uma gestão mais sustentável", escreve Ana Cristina Navarro Ferreira, professora do DEGGE Ciências ULisboa, por ocasião das comemorações do centenário do curso de Engenharia Geográfica/Geoespacial.

Estrutura molecular do óxido aniónico [Mo7O24]<sup>6-</sup>, cuja dissolução apresenta propriedades oncocidas

Investigação conjunta entre o BioISI Ciências ULisboa, a CIC NanoGUNE e a Universidade de Glasgow permite um avanço no conhecimento sobre quimioterapias com óxidos de molibdénio e realça as nuances pelas quais os sucessivos equilíbrios de pH controlam a ação oncocida aparente do {Mo7}.

Cratera inativa em Cabo Verde

António Morais Romão Serralheiro, professor catedrático jubilado da Ciências ULisboas, faleceu no passado dia 25 de agosto. A Faculdade apresenta as sinceras e sentidas condolências aos seus familiares, amigos e colegas. Leia a homenagem de um dos seus antigos alunos, atualmente professor e investigador da Faculdade, José Madeira.

Ricardo Simões no laboratório

Ricardo Simões, antigo aluno da Ciências ULisboa e investigador pós-doutorado do Centro de Química Estrutural da ULisboa, é um dos vencedores do Prémio Franzosini 2020, e o primeiro cientista português a receber este galardão internacional, que devido à situação pandémica foi entregue este verão.

Aula Magna

Os Prémios Científicos ULisboa/ CGD 2020 existem desde 2016. Até 2020 já foram concedidos 83 prémios e 87 menções honrosas a cientistas da Universidade. Desses, 14 prémios e 16 menções honrosas foram entregues a cientistas da Ciências ULisboa. Este ano na Faculdade estão de parabéns oito personalidades.

Dunas Monte Gordo

O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas e a Ciências ULisboa assinaram recentemente um contrato de cooperação para desenvolvimento de viveiros de espécies dunares.

Quatro cenários diferentes para a formação do próximo supercontinente

Como será o clima da Terra quando o próximo supercontinente se formar? Ana Pires, comunicadora de ciência do IDL Ciências ULisboa, escreve sobre a nova publicação que tem em conta o impacto da tectónica de placas, da rotação do planeta e da radiação solar no clima futuro da Terra. Este novo trabalho publicado na revista Geochemistry, Geophysics, Geosystems da American Geophysical Union é da autoria dos cientistas Michael Way, Hannah Davies, João C. Duarte e Mattias Green.

Uma aplicação mais recente da fotogrametria é a robótica com base em câmaras estéreo, usada em veículos autónomos terrestres e espaciais, como é o caso do Perseverance

"Não é de mais dizer, que hoje em dia, a fotogrametria é indispensável na cartografia da Terra e que leva a Engenharia Geoespacial até à superfície de Marte", escreve Paula Redweik, professora do DEGGE Ciências ULisboa, por ocasião das comemorações do centenário do curso de Engenharia Geográfica/Geoespacial.

Mulher a escrever num quadro e homem ao lado

"A comunicação tem múltiplas funções num organismo. Uma boa prática, por exemplo, passa por acautelar a reputação dessa estrutura, e para que tal aconteça quem trabalha numa organização deve conhecer esse organismo, nomeadamente a sua missão, visão e lema; e o conjunto de pessoas que constituem esse grupo de trabalho", escreve Ana Subtil Simões, editora da Newsletter de Ciências.

Cumprimento entre Bernardo Duarte e o Reitor da ULisboa

A 26 de julho comemorou-se o Dia da ULisboa. A sessão decorreu na Aula Magna, e contou com a Cerimónia de Entrega de Prémios Científicos ULisboa/CGD das edições de 2019 e 2020. Num conjunto de 18 prémios e 23 menções honrosas, nesta edição de 2020, foram atribuídos quatro prémios e quatro menções honrosas a docentes e investigadores da Ciências ULisboa.

Trabalho a decorrer no âmbito da campanha oceanográfica EMSO-PT Leg 1

O Instituto Dom Luiz (IDL) da Ciências ULisboa é responsável pelo desenvolvimento e construção de estações sísmicas de fundo oceânico (OBS).

A aluna está a centrifugar amostras de ácidos nucleicos no âmbito do fluxograma experimental da atividade de sequenciação.

Mónica Vieira Cunha, professora do Departamento de Biologia Vegetal da Ciências ULisboa, investigadora do cE3c e coordenadora científica do projeto COVIDETECT, foi uma das oradoras da sessão “COVIDETECT – Deteção e quantificação de SARS-CoV-2 em águas residuais, como alerta precoce para a disseminação do vírus na comunidade”, organizada pela Águas do Norte, em formato online, no passado dia 13 de julho.

Mão a segurar num telemóvel com o google maps em fundo

Mais uma crónica por ocasião das comemorações do centenário do curso de Engenharia Geográfica/Geoespacial, desta vez da autoria de Ana Cristina Navarro Ferreira, professora do DEGGE Ciências ULisboa.

Jorge Relvas

Jorge Relvas, professor do Departamento de Geologia da Ciências ULisboa e investigador do Instituto Dom Luiz, é o primeiro português a ser distinguido com a medalha da Society for Geology Applied to Mineral Deposits.

Faleceu no passado dia 28 de junho de 2021 Maria da Conceição Vieira de Carvalho, professora do DM Ciências ULisboa, investigadora do CMAFcIO e investigadora visitante permanente na Rutgers University, nos USA. Ciências ULisboa lamenta o triste acontecimento, apresentando as condolências aos seus familiares, amigos e colegas.

Encontro Ciência 2021 - Dezoito cientistas recebem as medalhas de mérito científico

O Ciência 2021 atribuiu 18 medalhas de mérito científico, destaque para os professores cientistas da Faculdade - Fernando Catarino, Isabel Âmbar e Maria José Costa (Zita). Por ocasião deste importante acontecimento surgiram três conversas com os membros da Faculdade: "a cereja em cima do bolo". 

Logotipo Radar

Décima sétima rubrica Radar Tec Labs, dedicada às atividades do Centro de Inovação da Faculdade.

engenheiro a operar com digitalização a laser 3D

Mais uma crónica por ocasião das comemorações do centenário do curso de Engenharia Geográfica/Geoespacial, desta vez da autoria de João Calvão Rodrigues, professor do DEGGE Ciências ULisboa.

Pessoa com a mão no ar

"Será que a sociedade portuguesa reconhece a excelência da investigação científica produzida em Portugal? Não basta produzir conhecimento científico de elevada qualidade, para que este seja reconhecido pelo público como tal", escreve Ana Subtil Simões, editora da Newsletter de Ciências.

Rui Gonçalvez Deus fardado

Rui Gonçalves Deus, oficial da Marinha e especialista em Investigação Operacional, dá-nos a conhecer o seu percurso académico e profissional, e conta-nos de que forma a passagem pela Faculdade o ajudou a alcançar o sucesso profissional.

 Estrutura molecular

Os compostos alílicos de Mo(II) têm sido estudados na Ciências ULisboa há vários anos, tendo sido demonstrada a sua atividade como precursores de catálise na oxidação de olefinas.

Seringa

Num estudo recentemente publicado na revista Nature Communications uma equipa de investigadores liderada por Ganna Rozhnova, professora na University Medical Center Utrecht e colaboradora do Instituto de Biossistemas e Ciências Integrativas (BioISI) na Ciências ULisboa, analisou diferentes cenários de relaxamento das medidas de contenção da pandemia enquanto progredia o processo de vacinação para o SARS-CoV-2 em Portugal.

José Cordeiro

A 1.ª edição do concurso à Bolsa Fulbright para Investigação com o apoio da FLAD – Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento para o ano académico de 2021/2022 selecionou quatro candidatos. Entrevista com José Cordeiro, mestrando em Estatística e Investigação Operacional na Ciências ULisboa.

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