César Andrade foi homenageado pelos colegas e antigos alunos durante o Dia Mundial na Terra
Este ano a celebração do Dia Mundial da Terra no Departamento de Geologia (DG) foi ainda mais especial. Além de atribuírem cartas de reconhecimento de mérito aos melhores alunos da licenciatura em Geologia de 2019/2020 e 2020/2021 organizaram a conferência “A evolução da Geologia costeira em Portugal e principais desafios futuros” com o objetivo de surpreender e homenagear César Andrade, professor na Faculdade há 43 anos.
“Tínhamos na agenda secreta homenagear o professor César Andrade, que vai aposentar-se em breve e é uma pessoa que criou escola científica e também uma personagem muito importante no Departamento”, diz Ana Azerêdo, presidente do DG Ciências ULisboa, para quem o acontecimento foi uma forma delicada, mas muito merecida de homenagear o colega.
O DG Ciências ULisboa sempre organizou encontros presenciais com alguma regularidade e este ano já houve condições para voltarem a fazê-lo. “Existe muito boa relação entre professores e alunos, com proximidade, padrões de exigência e momentos de informalidade, como este, com o reconhecimento quando se esforçam. Esta iniciativa não foi inédita, já aconteceu em anos anteriores e retomámos os anos que ficaram em suspenso”, acrescenta Ana Azerêdo.
“Tínhamos na agenda secreta homenagear o professor César Andrade, que vai aposentar-se em breve e é uma pessoa que criou escola científica e também uma personagem muito importante no Departamento.”
Ana Azerêdo
A tarde passada no edifício C6 foi isso mesmo, um acontecimento descontraído e muito emotivo.
Pedro Costa, doutorado em Geologia pela Faculdade e atualmente a dar aulas na Universidade de Coimbra, foi o orador da conferência, preparada também por outros antigos alunos - Celso Pinto, Paula Freire e Paulo Borges -, a forma encontrada para surpreender e homenagear César Andrade.
“Criámos esta apresentação como uma forma de agradecimento por tudo o que aprendemos não só do ponto de vista científico, mas também para homenagear o homem e o mentor que ainda é e vai continuar a ser e com quem aprendemos muito. Homenageamos aquele que consideramos pai científico”, diz Pedro Costa, que continua a colaborar com o Instituto Dom Luiz (IDL).
“Criámos esta apresentação como uma forma de agradecimento por tudo o que aprendemos não só do ponto de vista científico, mas também para homenagear o homem e o mentor que ainda é e vai continuar a ser e com quem aprendemos muito."
Pedro Costa
Mais de 40 anos ao serviço da Faculdade
César Andrade foi apanhado completamente de surpresa: “Não fazia ideia nenhuma que me tinham preparado esta surpresa. Imaginava que íamos assistir a uma palestra sobre a Geologia costeira que é a área em que eu trabalho, mas apenas isso e no contexto da reunião que costumamos fazer todos os anos, que é um momento importante na vida do Departamento, porque o Departamento na verdade são as pessoas e este tipo de reunião em que as pessoas se encontram e conversam de forma informal, é muito importante. Criar objetivos comuns passa pela cumplicidade e pelas relações humanas por aquelas relações imateriais que não tem que ver com o dinheiro do projeto, nem com o trabalho conjunto, são as pessoas é aquilo que une os seres humanos e nos faz melhores. Era isso que eu estava à espera, é uma tradição da Geologia que temos mantido e que só interrompemos por causa da COVID-19, ainda bem que foi reatada”.
“Tive a felicidade de trabalhar naquilo que gosto.”
César Andrade
As palavras do Pedro Costa deixaram-no muito emocionado. “Ao terceiro diapositivo comecei a desconfiar”, conta César Andrade, que por coincidência formalizou o pedido de aposentação precisamente nesse dia, ainda que tencione continuar por cá, durante algum tempo e enquanto for útil, caso seja do interesse do Departamento, da Faculdade e do IDL, onde também é investigador no grupo Earth Surface Processes. Sobre os 43 anos de trabalho diz terem sido o melhor tempo da sua vida. “Tive a felicidade de trabalhar naquilo que gosto. A Terra e os seus processos são qualquer coisa que me fascina e ter a oportunidade de trabalhar e ser remunerado para investigar e estudar um assunto que me fascina é uma oportunidade única”, declara.
"Espero que este conhecimento se perpetue para outras gerações e que haja uma impressão digital na nossa sociedade. Acredito que vá acontecer."
César Andrade
Quanto ao futuro dos jovens cientistas, César Andrade tem esperança e fé, pelo que acredita que será risonho e abordado de forma diferente pela geração vindoura. “As pessoas que aqui se formaram estão hoje em lugares chave: na Agência Portuguesa de Ambiente (APA), no Instituto Hidrográfico, em laboratórios de estado, noutras universidades. Espero que este conhecimento se perpetue para outras gerações e que haja uma impressão digital na nossa sociedade. Acredito que vá acontecer”, conclui.
A surpresa não se ficou só pela conferência. César Andrade foi presenteado com uma garrafa de Vinho do Porto de 1979 - ano em que entrou ao serviço na Faculdade; com um objeto que muito aprecia - um canivete suíço com lupa e uma gravação “Recordação dos antigos alunos” - e com um livro composto por 30 testemunhos, mensagens a expressar a admiração científica, pedagógica e pessoal.
Testemunhos emocionantes de colegas e ex-alunos
Para Anabela Cruces César Andrade foi determinante no seu percurso académico. “Este professor fez-me mudar de área. A maneira dele dar as aulas e de cativar os alunos é fora de série e por causa dessas aulas – adorei toda a temática da Geologia costeira - acabei por direcionar o meu percurso académico para a Geologia costeira. No mestrado e no doutoramento fui orientada pela professora Conceição Freitas, mas o professor César Andrade esteve sempre presente. Acompanhou-me sempre em todas as campanhas de campo. Há mais de 20 anos que trabalhamos em conjunto. Também continuo a trabalhar com a professora Conceição Freitas, com publicações conjuntas e campanhas de campo, na sequência também da ligação que mantenho com o IDL, uma colaboração muito saudável e que gosto muito”, refere.
"A maneira dele dar as aulas e de cativar os alunos é fora de série e por causa dessas aulas – adorei toda a temática da Geologia costeira - acabei por direcionar o meu percurso académico para a Geologia costeira."
Anabela Cruces
A professora da Faculdade de Engenharia da Universidade Lusófona foi aluna da licenciatura de Geologia, concluiu o mestrado em Geologia Aplicada do Ambiente e o doutoramento em Geologia, especialidade em Geologia Económica e do Ambiente e chegou mesmo a dar aulas uma série de anos na Ciências ULisboa. Na sua opinião é de saudar a promoção deste tipo de iniciativa. “Estiveram aqui alunos que foram agraciados pelo seu excelente desempenho e são eles que vão dar seguimento a todos estes estudos”, acrescenta.
Conceição Freitas assinala que a comemoração do Dia da Terra sempre foi muito importante para o DG Ciências ULisboa e a homenagem a César Andrade insere-se perfeitamente na celebração já que foi pioneiro na Faculdade e no Departamento. “O estudo da Geologia costeira começou com ele, fez uma grande escola e é uma homenagem muito merecida. Os seus estudantes estão um pouco por todo o país, em todas as universidade e organismos do Estado e isso do ponto de vista da formação é muito importante”, refere a professora do DG e investigadora do Instituto.
“A Geologia costeira e a gestão costeira em Portugal confundem-se com o nome do professor César."
Celso Pinto
Um desses exemplos é Celso Pinto, a trabalhar na APA há dez anos, há mais de 20 na Administração Pública e colaborador periódico do DG e IDL Ciências ULisboa. Para Celso Pinto César Andrade deixou uma marca em muitas gerações, um lastro de conhecimento e experiência. “A Geologia costeira e a gestão costeira em Portugal confundem-se com o nome do professor César e enquanto estiver na APA não consigo imaginar estar a trabalhar sem ter o professor César como consultor, fonte de conhecimento e experiência. É mesmo muito importante”, salienta.
“Foi com ele que aprendi muitas das coisas que sei. Todo o meu percurso na Faculdade foi feito ao lado dele, sempre me integrou em todos os projetos que tinha – nacionais e internacionais."
Conceição Freitas
“Ele é fantástico”, diz Conceição Freitas. “É um excelente investigador, uma pessoa muito curiosa, não se fixa apenas naquilo que é o mais fácil para ele. Quando não sabe vai à procura, de tudo aquilo que são os aspetos que podem melhorar o seu conhecimento”, comenta acrescentando que como colega foi fantástico. “Foi com ele que aprendi muitas das coisas que sei. Todo o meu percurso na Faculdade foi feito ao lado dele, sempre me integrou em todos os projetos que tinha – nacionais e internacionais -, sempre me considerou muito igual, embora tivesse uma formação muito superior à minha e isso acabou por ser muito estimulante, do meu ponto de vista. Tudo o que sou hoje devo integralmente ao César. Não tenho dúvida nenhuma”, conclui.
Para Rui Taborda “o professor César é um dos pioneiros da Geologia costeira em Portugal e uma referência”. O professor do DG e investigador do IDL refere que é espetacular trabalhar com ele: “É um livro aberto. Fazemos uma questão e ele tem a capacidade de exprimir as ideias de uma forma clara, sustentada e com muita facilidade. O conhecimento é transmitido de forma sólida e rigorosa, não é uma transferência de conhecimento pela rama”.
“O professor César é um dos pioneiros da Geologia costeira em Portugal e uma referência.”
Rui Taborda
Rui Taborda diz ainda que César Andrade olha para os fundamentos e a sua cultura geral permite-lhe também dialogar com outras áreas científicas, o que se torna uma mais valia e é essencial para comunicar com os outros e criar sinergias. “A escola de ciência é isso mesmo. Ele reflete esse espírito de ciências, eclético e abrangente”, conta. Na sua opinião, outro facto importante está relacionado também com o facto de a Geologia estar muitas vezes associada a períodos de tempo muito grandes e César Andrade, ao trabalhar com escalas temporais mais curtas, tornou mais simples a ligação desta ciência à sociedade e à própria transferência do conhecimento.
A comemoração do Dia da Terra foi um encontro de gerações e uma data para celebrar a vida na ciência, que terminou com um lanche.
“Do meu ponto de vista deve ser cultivado este espírito. O Pedro Costa deu uma perspetiva abrangente do que tem sido a carreira do professor César. O que marca uma pessoa não é ter sido muito bom, mas o legado que deixa. Todas as pessoas se emocionaram porque se sentiram como dele. Sentem o momento como deles. Sentem este momento como deles. Isto é, uma partilha de conhecimento e de emoções que deve ser transmitida”, conclui Rui Taborda.
"O que marca uma pessoa não é ter sido muito bom, mas o legado que deixa. Todas as pessoas se emocionaram porque se sentiram como dele. Sentem o momento como deles."
Rui Taborda