Crónicas em Ciências

Ocupação Neandertal sob investigação na Catalunha

Estudo publicado na Quaternary Science Reviews destaca papel da gruta de Gegant na rota costeira mediterrânica

zona costeira

A gruta de Gegant de Stiges é um local único para o estudo da transição do Médio para o Paleolítico Superior

Joan Daura e Montserraz Sanz
Ana Pires
Ana Pires
Fonte IDL Ciências ULisboa

Em setembro de 2021 foi publicado um conjunto de datações mais completo e exato, realizado na gruta de Gegant, Sitges, em Espanha, o sítio arqueológico com mais restos neandertais da Catalunha e um local único para estudar a transição entre o Paleolítico Médio e Superior (altura em que desaparecem os neandertais e aparecem as primeiras populações de humanos anatomicamente modernos). Estes trabalhos de investigação foram liderados pelo Grupo de Recerca del Quaternari – Seminari d’Estudis i Recerques Prehistòriques (GRQ-SERP) da Universidade de Barcelona, com contribuições dos investigadores do Instituto Dom Luiz (IDL) da Ciências ULisboa, Ana Maria CostaJoão MorenoMaria da Conceição Freitas e Vera Lopes.

Os resultados estabelecem que os neandertais ocuparam a gruta por um período de tempo muito mais longo do que se pensava: embora se considerasse a sua presença há 50.000 anos, este estudo recua a ocupação neandertal para o período entre os 94.000 e os 59.000 anos.

A investigação, publicada na Quaternary Science Reviews, destaca o papel da gruta na rota costeira mediterrânica, que durante os períodos mais frios do Paleolítico foi um corredor natural para animais e humanos, de modo a evitar a travessia das montanhas dos Pirenéus.

Este trabalho revela sinais de ocupação da gruta por parte de humanos modernos (Paleolítico Superior); investigações anteriores (de 2015) tinham encontrado apenas provas da presença de grupos neandertais. Embora não tenham sido encontrados restos esqueléticos das populações modernas, infere-se a sua presença a partir das atividades que realizaram, como por exemplo, o uso do fogo. O conjunto de datações publicado estabelece especificamente três momentos registados no local: ocupação por neandertais, aproximadamente entre 94.000 e 59.000 anos; entre 43.000 a 39.000 anos começam a surgir evidências de atividades de humanos modernos; uma última fase, compreendida entre 34.000 e 32.000 anos, com nova ocupação por grupos de humanos modernos. Para alcançar esta cronologia, os investigadores levaram a cabo um programa exaustivo de datações, utilizando também métodos de datação com urânio e por luminescência, já anteriormente aplicados no local, mas agora com novas técnicas que permitem uma maior precisão e fiabilidade.

Hoje a gruta está parcialmente inundada devido às oscilações do nível do mar. Nas fases mais frias do Paleolítico, o nível médio do Mediterrâneo encontrava-se entre 80 a 120 metros abaixo do atual, levando à emersão da plataforma continental hoje submersa nas proximidades da gruta. Atualmente, o local está ameaçado pelo aquecimento global e, em particular, pela subida do nível do mar.

ossadas humanas
Vestígios da ocupação Neandertal
Fonte JD / MS

A equipa do IDL Ciências ULisboa contribuiu com a caracterização sedimentológica e composicional (textura, composição em matéria orgânica e carbonato de cálcio, constituição da fração grosseira, tipologia das argilas, composição das associações de foraminíferos) das unidades estratigráficas definidas, incluindo depósitos naturais (inertes do ponto de vista arqueológico) e depósitos com indícios de ocupação humana.

Os resultados ajudaram a caracterizar os processos de formação (e.g. dissolução dos calcários ou transporte de sedimentos por via húmida ou eólica) e de alteração (e.g. formação in situ de solos, inclusão de materiais antrópicos) das unidades estratigráficas, e a construir a história da formação da gruta de Gegant, bem como os processos cársicos associados. A ocupação humana do Paleolítico Médio e Superior na gruta parece ter tido lugar durante os períodos favoráveis ao desenvolvimento de processos pedogénicos associados a taxas de sedimentação baixas.

Os investigadores do IDL Ciências ULisboa explicam: a existência de foraminíferos tipicamente de ambiente marinho em depósitos constituídos por areias finas (compostos essencialmente por grãos de quartzo rolado), sugere o transporte eólico de partículas para a gruta durante períodos frios do final do Plistocénico (eventos de Heinrich), de forma similar ao já descrito para o Mar de Alborán (Mediterrâneo); sugere também a presença de bancos de areias na plataforma continental proximal, expostos durante a descida do nível médio do mar associada ao Último Máximo Glaciar, à semelhança do que ocorre no Golfo de Leão, no sul de França.

A alteração na constituição da fração grosseira entre os depósitos do Plistocénico e Holocénico aponta para fontes de alimentação distintas, refletindo a proximidade do mar aos afloramentos calcários nos quais se desenvolve a gruta de Gegant, no período mais recente.

 

Ana Pires, comunicadora de ciência do IDL Ciências ULisboa
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt
A Terra num futuro distante

Na Science de 7 de outubro, no vol. 354, issue 6308, Pamela J. Hines explica como o cérebro se constrói, a mobilidade dos neurónios, das zonas onde proliferam para as localizações finais, e revela que qualquer problema que ocorra durante a migração pode afetar o desenvolvimento de uma criança, nos aspetos físicos e comportamentais.

A resistência aos antimicrobianos é um fenómeno inevitável, pelo que a vigilância, prevenção e controlo são fulcrais, mesmo que futuramente se desenvolvam novos antibióticos, pois será apenas uma questão de tempo até que a resistência a estes seja desenvolvida.

O que fazem e o que pensam alguns membros da comunidade de Ciências? O décimo Dictum et factum é com Fernando Lopes, coordenador do Gabinete de Apoio à Investigação da Direção de I&D de Ciências.

Com o objetivo de sensibilizar e preparar para o risco sísmico e melhorar a qualidade de ensino da Sismologia e das Ciências da Terra em Portugal, Susana Custódio, Graça Silveira, Luís Matias e Catarina Matos desenvolveram um estudo sobre a educação para os sismos, adaptado à realidade de Portugal e a diferentes grupos etários e que foi capa de uma das edições deste ano da revista “Seismological Research Letters”.

O projeto RESISTIR coordenado por Ciências e pela Maxdata Software e cofinanciado pelo Portugal 2020 visa criar até abril de 2019 um sistema de informação - inovador, modular, inteligente e adaptável - para apoiar a tomada de decisão clínica no domínio da vigilância epidemiológica, resistência aos antimicrobianos, controlo de infeção e gestão hospitalar.

O “coração da cidade” foi invadido por uma “onda de ciência e tecnologia” em mais uma edição da Noite Europeia dos Investigadores. O tema deste ano foi a “Ciência no dia-a-dia”.

“Geography and major host evolutionary transitions shape the resource use of plant parasites” da autoria de Joaquín Calatayud, José Luis Hórreo, Jaime Madrigal-González, Alain Migeon, Miguel Á. Rodríguez, Sara Magalhães e Joaquín Horta salienta a necessidade de estudos mais globais em Ecologia.

Aos alunos deixo uma sugestão: aproveitarem as unidades curriculares para experimentarem as suas ideias e terem projetos de novas apostas tecnológicas (em Salvador, Brasil, no campus de Ondina da UFBA existe um enorme espaço, com equipamentos informáticos e professores, para que os alunos possam ser ajudados a experimentar ideias). E, com um portefólio de exemplos vem um passo seguinte: usarem pós-graduações (por exemplo, mestrados) para construírem protótipos que se vejam em feiras e exposições. As empresas vêm em seguida.

A estudante de doutoramento em Paleontologia do Departamento de Geologia de Ciências e a equipa multidisciplinar que assina “A juvenile allosauroid theropod (Dinosauria, Saurischia) from the Upper Jurassic of Portugal” preparam-se para apresentar os resultados deste artigo no próximo congresso anual da Society of Vertebrate Paleontology e que ocorrerá em outubro na cidade de Salt Lake City, nos Estados Unidos da América.

“A juvenile allosauroid theropod (Dinosauria, Saurischia) from the Upper Jurassic of Portugal” da autoria de Elisabete Malafaia, Pedro Mocho, Fernando Escaso e Francisco Ortega descreve um exemplar ainda juvenil de um dos grandes dinossáurios carnívoros do Jurássico, com cerca de 150-145 milhões de anos, e foi publicado este mês na revista “Historical Biology”.

"É curioso, constatar que todas as teorias da ciência não são sobre a forma, mas sim sobre a função. Isto é, são sobre como as coisas se desenvolvem e mudam. São acerca de processos."

A primeira entrega dos dados (data release) da missão Gaia da Agência Espacial Europeia (ESA) ocorreu esta quarta-feira, 14 de setembro, quase três anos depois do seu lançamento e foi transmitida online pela ESA. De acordo com o comunicado de imprensa emitido por Ciências, o consórcio internacional inclui investigadores e engenheiros de quatro universidades portuguesas.

O Tec Labs – Centro de Inovação de Ciências foi distinguido com o 2.º Prémio Nacional na Categoria de Promoção do Espírito de Empreendedorismo dos Prémios Europeus de Promoção Empresarial, uma iniciativa da Comissão Europeia gerida em Portugal por IAPMEI — Agência para a Competitividade e Inovação, e cuja cerimónia de entrega dos prémios ocorreu no Museu do Oriente, em Lisboa, a 8 de setembro.

O que fazem e o que pensam alguns membros da comunidade de Ciências? O nono Dictum et factum é com Carla Romero, técnica superior do Gabinete de Estudos Pós-graduados da Unidade Académica de Ciências.

A descoberta da localização precisa de uma espécie de GPS (Global Positioning System) no nosso cérebro (Moser e Moser, 2014), capaz de nos ajudar a responder a duas perguntas básicas “Onde estamos?” e “Como vamos até acolá?”, indispensáveis para a nossa vida normal, estimulou a discussão do tema computação espacial (ler a revista norte americana Communications Of the ACM, janeiro de 2016, páginas 72-81).

Joaquim Alves Gaspar, de 67 anos, investigador pós-doutoral do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia, acaba de ser distinguido com uma Starting Grant do Conselho Europeu de Investigação, a primeira a ser atribuída a um membro da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Em entrevista a Ciências apresenta o projeto “The Medieval and Early Modern Nautical Chart: Birth, Evolution and Use” alvo desta distinção, no valor de 1,2 milhões de euros, bem como o homem que pretende causar um impacto significativo na História da Cartografia, demonstrando a eficácia das suas ferramentas e ajudando a criar uma nova geração de cientistas nesta área.

O Conselho Europeu de Investigação atribuiu uma Starting Grant, no valor de 1,2 milhões de euros, a Joaquim Alves Gaspar, membro integrado do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia (CIUHCT) e investigador principal do projeto “The Medieval and Early Modern Nautical Chart: Birth, Evolution and Use”.

"No momento atual o alerta de potencial erupção ainda não terminou uma vez que a atividade sísmica se mantém acima dos valores normais", escreve José Madeira em mais uma crónica de viagem.

"Comunicar significa tornar comum. E o que queremos tornar comum? Ciência. Esse é o objetivo", escreve em artigo de opinião Manuel Leite Valença.

César Garcia, curador convidado do Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa, investigador do cE3c e antigo aluno de Ciências, é o autor de uma das fotografias premiadas, escolha do editor, no âmbito da 4.ª edição do BMC Ecology Image Competition, uma iniciativa da BioMed Central.

A equipa da UNDAC (United Nations Disaster Assessment and Coordination)/ERCC (European Response Coordination Centre) da Comissão Europeia (CE) tem feito avaliação dos planos de emergência existentes e suas lacunas ou melhoramentos necessários, bem como reuniões com os principais agentes intervenientes a nível local em caso de catástrofe ou emergência.

Cerca de 60 alunos da EB1 S. João de Brito,  Agrupamento de Escolas de Alvalade, visitaram em julho passado o Departamento de Biologia Animal de Ciências.

Desde a chegada da equipa UNDAC/ERCC a sismicidade tem-se mantido em níveis estáveis após dois dias iniciais em que se tinha tornado progressivamente mais superficial (1 km abaixo do nível do mar).

O que fazem e o que pensam alguns membros da comunidade de Ciências? O oitavo Dictum et factum é com Vera Lopes, técnica superior do Departamento de Geologia de Ciências.

Os vencedores do galardão desenvolveram o melhor projeto de Net Zero Energy House.

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