Seminários dos alunos de Mestrado em Bioestatística (disciplina Seminário de Bioestatística).

09h30 Propensity Scores: uma Aplicação à Medicina
Luís Ferreira
Orientadoras: Helena Mouriño (DEIO-FCUL) e Ana Luísa Papoila (FCM-UNL)

Resumo: A estimação de efeitos causais em estudos observacionais não pode ser realizada por comparação direta, pois ambas as amostras em estudo (expostos/não expostos) são, geralmente, desequilibradas relativamente às variáveis de confundimento. As metodologias tradicionais, como a regressão logística, tentam controlar o confundimento, mas são limitadas, tanto ao nível do enviesamento que provocam, como ao nível do número de variáveis que têm capacidade para controlar. Em alternativa, os métodos baseados nos propensity scores (PS) (probabilidade de um indivíduo estar exposto, condicional às covariáveis) tentam mimetizar o processo de aleatorização de um estudo experimental, a partir do qual é possível realizar uma comparação não enviesada entre o grupo de tratamento e o de controlo. Este tipo de abordagens estão em crescendo na literatura médica, pois oferecem resultados menos enviesados que os métodos tradicionais.
Este estudo observacional tem como principal objetivo a estimação da associação entre o tratamento (com insulina/sem insulina) e a ocorrência de vários tipos de Retinopatia Diabética (doença que provoca danos graves na retina em indivíduos com diabetes, levando à perda de visão) em diabéticos tipo 2. Para estimar esta associação vão ser aplicadas várias metodologias usando PS, nomeadamente: o emparelhamento; a estratificação; e o IPTW (inverse probability treatment weighting). Proceder-se-á, ainda, à comparação dos resultados da aplicação destas metodologias com os obtidos a partir da regressão logística usual.

10h00 Assessing Agreement in Clinical Studies
João Luís Milheiro
Orientadoras: Lisete Sousa (DEIO-FCUL) e Ana Luísa Papoila (FCM-UNL)

Resumo: Nos dias de hoje, o avanço rápido da Tecnologia tem permitido o desenvolvimento de novos métodos de medição de parâmetros clínicos,  por vezes menos invasivos e/ou menos dispendiosos. Mas uma grande questão se coloca: será que estes novos métodos medem o mesmo que os métodos convencionais, já provados e “testados”? Será que podemos usar estes novos métodos alternativamente (ou em substituição) aos tradicionais?
Para responder a esta questão é necessário recorrer a metodologias estatísticas mais ou menos complexas, consoante os dados em que se baseará o estudo de concordância entre os métodos. Desde o uso incorreto do coeficiente de correlação, passando pela construção de limites de concordância através de gráficos de Bland-Altman, até aos modelos de regressão de efeitos mistos, serão revisitadas abordagens gráficas e analíticas que permitem avaliar a concordância entre dois métodos de medição clínica, ilustrando com alguns exemplos reais.

10h30 Estimação da Prevalência de Doenças Raras: uma Abordagem Bayesiana
Nuno Cláudio
Orientadoras: Patrícia Zea Bermudez (DEIO-FCUL) e Regina Bispo (ISPA | StartFactor)

Resumo: As doenças raras são patologias que apresentam uma prevalência particularmente baixa. O limiar para que uma doença seja considerada rara varia entre países, sendo que a União Europeia (UE) designa uma doença como rara quando esta não afeta mais que 5 em 10000 habitantes. A baixa prevalência destas doenças condiciona a realização de investigação fundamental e clínica, processos fulcrais para o desenvolvimento de terapêuticas. De forma a incentivar o desenvolvimento e comercialização de produtos farmacêuticos para as doenças raras foi criada legislação de apoio à produção e desenvolvimento de terapêuticas. O principal objetivo destas políticas é compensar o risco de fraco retorno económico face ao reduzido número de doentes. Efetivamente, os apoios criados parecem ter despertado o interesse pelos medicamentos órfãos, agentes farmacêuticos desenvolvidos para tratar doenças raras, tornando-se um nicho de mercado atrativo para a indústria. Para que um medicamento obtenha a designação de órfão é necessário reunir evidencia que a doença à qual se destina é rara, o que implica estimar a prevalência da doença, tarefa muitas vezes gorada pela escassez de dados.
Em termos estatísticos as doenças raras podem ser encaradas como eventos raros modelados por uma distribuição binomial (ou por uma Poisson) cujo p, sendo p a prevalência da doença, é muito pequeno. Atendendo a que o número de ocorrências é muito reduzido, podendo mesmo ser zero, a estimativa de máxima verosimilhança é aproximadamente zero (ou nula), concluindo-se que esta estimativa pontual é de pouca utilidade. Nos casos em que o evento nunca se observou, nada garante que não possa ser observado no futuro. Nestes estudos, mais do que uma estimativa pontual, pretende-se estimar o limite superior do IC para p. Neste contexto, usualmente o limite inferior não é importante e toma o valor zero.
O trabalho de mestrado tem como principal objetivo implementar metodologias que permitam estimar a prevalência de doenças raras recorrendo a metodologias Bayesianas. O grande benefício da abordagem Bayesiana deste tipo de problemas é permitir colmatar a reduzida informação fornecida pelos dados através da introdução, no modelo, de informação a priori sobre p. Esta informação a priori pode ser obtida, por exemplo, em estudos similares já realizados ou através do conhecimento de peritos da área em estudo. A abordagem Bayesiana permite atingir o objetivo referido anteriormente, usando intervalos de credibilidade para p. Neste trabalho pretende-se então usar a metodologia Bayesiana de forma a estimar a prevalência de alguma doença rara ao longo do país. A evolução temporal do número de casos é também uma questão interessante a abordar. O facto de estarmos em presença de um reduzido número de casos por ano sugere a sua modelação usando séries temporais de valores discretos, de um ponto de vista Bayesiano.

11h00 Identificação de Padrões Alimentares e de Nutrientes na Dieta de Doentes com Degenerescência Macular Relacionada com a Idade
Ana Raquel Fernandes
Orientadoras: Marília Antunes (DEIO-FCUL) e Sandrina Nunes (AIBILI)

Resumo: A degenerescência macular relacionada com a idade (DMRI) é uma doença genética complexa que representa a maior causa de cegueira irreversível na população idosa em países desenvolvidos. Não existindo ainda nenhum tratamento eficaz para a perda de visão proveniente da DMRI, a prevenção é considerada, por conseguinte, de crítica importância. Neste âmbito, vários estudos sugeriram alguns aspetos da dieta e o recurso a suplementos como potenciais fatores que influenciam o risco da doença, no entanto, a hipótese de modular o desenvolvimento dessa pela dieta como um todo sem recurso a suplementos, ou seja, pela composição relativa dos grupos alimentares e suas interações, ainda se encontra pouca descrita na literatura.
O objetivo do estudo consiste assim em fazer uma avaliação epidemiológica transversal e multifatorial de 1000 participantes (proporção 1:1 de sujeitos com e sem DMRI) recrutados do estudo (Coimbra Eye Study), que inclui 3021 sujeitos com mais de 55 anos de idade provenientes de uma localidade portuguesa do centro de Portugal, no que concerne a fatores de risco associados (demografia, educação, estilos de vida e comorbilidade), avaliação de padrões de dieta protetores por grupos alimentares e avaliação do impacto do consumo de micronutrientes.
Através do método de PCA (Principal Component Analysis) aplicado a inquéritos sobre estilos de vida e hábitos alimentares realizados pelos participantes, seguido pela construção de modelos de regressão logística, pretende-se portanto identificar padrões alimentares e de nutrientes e descrever a sua relação com a DMRI.
Finalmente será realizada uma análise da fiabilidade, validade e consistência dos inquéritos, com a identificação e quantificação de fontes de viés nos inquéritos em geral e no Inquérito da Frequência Alimentar em particular.

11h30 Estimação da Abundância de Baleias de Bico de Blainville
Patrícia Jorge
Orientadores: Tiago Marques (DEIO-FCUL) e Helena Mouriño (DEIO-FCUL)

Resumo: A estimação da abundância das populações naturais é fundamental para a sua conservação e gestão de habitats. Recorrendo a dados recolhidos da Baleia de Bico de Blainville (Mesoplodon densirostris) provenientes do AUTEC (The Atlantic Undersea Test and Evaluation Center), pretende-se modelar a informação de grupos desta espécie utilizando um método alternativo com recurso a hidrofones, em detrimento da convencional amostragem por distâncias.
Esta abordagem de acústica passiva captura as vocalizações de mamíferos marinhos aquando dos seus mergulhos profundos para alimentação, durante os quais são produzidas ecolocalizações, o que permite isolar as vocalizações específicas de determinada espécie.
A modelação terá por base uma atualização do modelo utilizado em Morietti et al. (2010), fazendo referência a nova informação adquirida com o propósito de estimar a densidade dos grupos ao longo do tempo. Para tal, ao invés de utilizar um valor médio baseado em literatura, recorre-se a um diferente valor referente ao tamanho dos grupos detetados, que será calculado em função de variáveis construídas com base nos dados acústicos através de um modelo linear generalizado, tendo em conta a amostra prestada.
Será, então, modelada a densidade estimada de animais presentes na área de estudo ao longo de um período de alguns meses.

12h00 Padrões de Presbiacusia na População Portuguesa - Identificação e Associação com Fatores Epidemiológicos
Mariana Aparício
Orientadoras: Marília Antunes (DEIO-FCUL) e Helena Caria (IPS-ESS | BIOISI-FCUL)

Resumo: A presbiacusia ou perda de audição associada à idade é a limitação sensorial mais comum, afetando mais de 30% das pessoas acima dos 65 anos. Devido, sobretudo, ao aumento da esperança média de vida, de acordo com a WHO, em 2025, estima-se que existam no mundo aproximadamente 1.2 bilhões de pessoas com mais de 60 anos, das quais 500 milhões sofrerão de presbiacusia. É uma doença multifatorial associada a alterações degenerativas fisiológicas no sistema auditivo, mas também a fatores ambientais e genéticos. Caracteriza-se por uma perda auditiva progressiva, bilateral que se inicia nas altas frequências e, geralmente é acompanhada por uma redução da capacidade de comunicação. A presbiacusia tem um impacto negativo na vida dos idosos, podendo levar à redução da qualidade de vida, ao isolamento social ou ao desenvolvimento de doenças neurodegenerativas, como por exemplo, a demência.
Neste estudo, com base numa amostra de aproximadamente 400 idosos da população portuguesa, pretende investigar-se possíveis fatores de risco (demográficos, ambientais, clínicos e genéticos) associados à perda de audição, assim como identificar padrões de perda auditiva de modo a que se consiga obter um modelo preditivo para cada padrão determinado.