Investigação clínica de translação

Entrevista com… Marília Antunes

Marília Antunes
Cedida por MA

Quando entrou para a FCUL aos 16 anos soube que era nesta Faculdade que queria crescer como pessoa, professora, cientista. Nesta entrevista, Marília Antunes, docente do Departamento de Estatística e Investigação Operacional da FCUL e membro do Centro de Estatística e Aplicações da UL, conta como foi participar num estudo que procura concretizar uma mudança de paradigma no tratamento dos doentes com Artrite Reumatoide, demonstrando o papel fundamental que a Estatística pode desempenhar junto das ciências médicas.

FCUL - Como surgiu a hipótese de colaborar neste projeto?

Marília Antunes (MA) - Surgiu de uma feliz coincidência, um conhecimento comum, da Sandra Garcês (a investigadora principal do projeto) e meu, que nos pôs em contacto. Na altura ela tinha o problema em mãos, a ideia de uma nova abordagem clínica no tratamento de doentes sob terapêuticas biológicas, uma série de dados que sabia que tinham de ser tratados e analisados devidamente e, sobretudo, uma pergunta: como demonstrar que a abordagem que propunha apresentava vantagens relativamente à abordagem convencional? Felizmente percebeu que era necessária a colaboração de alguém da área da Estatística.

FCUL - Em que data começou a trabalhar com a equipa?

MA - Há dois anos. Mais precisamente no dia 21 de dezembro de 2011. Foram dois anos com alguns períodos de trabalho muito intenso, que culminaram de forma muito positiva. Primeiro com o impacto na sociedade médica do artigo publicado e, por fim, com este prémio.

FCUL - Que tipo de funções desempenhou?

MA - Depois de termos conversado sobre o problema, os dados de que dispunha e o que pretendia averiguar, iniciámos o trabalho. Foi sempre feito em equipa, desde o tratamento inicial dos dados à construção dos modelos que permitiram demonstrar que a abordagem clínica proposta produz resultados significativamente melhores que a abordagem atualmente preconizada para o tratamento de doentes com Artrite Reumatoide.

FCUL - Quais são as próximas etapas deste projeto?

MA - No que respeita à Artrite Reumatoide, o desejo é ver concretizar-se uma mudança no paradigma de tratamento destes doentes. É algo que pode ser posto em prática. Não se trata de tratar estes doentes com medicamentos novos mas apenas de monitorizá-los e adaptar a terapêutica segundo a abordagem proposta. Esta adaptação pode passar pela mudança de fármaco ou pelo ajustamento da dose, que se percebeu ser excessiva em muitos casos. Com isto conseguir-se-ão melhores resultados não só ao nível da qualidade de vida do doente, mas também ganhos económicos diretos e indiretos consideráveis.

Relativamente à abordagem desenvolvida, não é exclusiva para a Artrite Reumatoide e pode ser adaptada para uma diversidade de doenças inflamatórias que sejam tratadas com recurso a terapêuticas biológicas. Neste tipo de terapêuticas há o risco dos doentes produzirem anticorpos antifármaco que promovem a rápida eliminação do fármaco em circulação levando à falência da terapêutica. O que o algoritmo proposto preconiza é precisamente a avaliação periódica da imunogenicidade. Creio que se seguirá o estudo para as doenças inflamatórias do intestino.

FCUL - Para si o que simboliza este prémio?

MA - Simboliza sem dúvida o reconhecimento de muito trabalho. Mas tem um significado muito especial, o da demonstração de que a Estatística desempenha um papel fundamental junto das outras áreas da ciência, em particular das ciências médicas. As metodologias estatísticas utilizadas neste trabalho foram fundamentais para a demonstração da evidência. Sem um bom trabalho estatístico não creio que o artigo tivesse sido aceite naquela que é a revista de maior impacto na área da Reumatologia ou mesmo que este prémio tivesse sido atribuído.

FCUL - Quem é a Marília Antunes?

MA - Sou membro desta família, a FCUL, desde os 16 anos, quando cá entrei pela primeira vez como aluna. Percebi logo na altura que era aqui que queria ficar. O que me apaixona nesta profissão (que costumo chamar “por missão”) é precisamente o sentido de serviço, a dedicação posta na investigação e levada ao benefício da sociedade. E, por fim mas não por último, o ensino. Aí, não posso senão dar o melhor de mim – é o futuro que está à minha frente.

Cerimónia de atribuição dos Prémios Pfizer 2013
Fonte: Cedida por MA
Legenda: Marília Antunes, Sandra Garcês e Jocelyne Demengeot

Comentário de Sandra Garcês*

O Prémio Pfizer de Investigação Clínica 2013 foi para mim, e julgo poder falar em nome de toda a equipa, extremamente gratificante não só porque constitui um reconhecimento ao valor do trabalho que temos vindo a desenvolver como, por outro lado, vem demonstrar que é possível realizar investigação clínica de translação, com aproveitamento imediato para a Medicina e para os doentes do conhecimento científico básico assente nos princípios da Biologia fundamental.

Para tal, foi absolutamente crítico a criação de uma equipa multidisciplinar que conseguiu reunir médicos, cientistas, epidemiologistas e bio estatistas que trabalharam juntos, em verdadeira colaboração.

Estas equipas resultam não apenas da junção dos diferentes elementos que a constituem, mas sobretudo de uma interligação estreita entre eles, o que requer por parte de todos uma formação específica de modo a usarem uma linguagem comum que permita o bom entendimento entre todos, a fim de se rentabilizar e potenciar a contribuição específica de cada um.

A professora Marília Antunes demonstrou para além de uma grande excelência e rigor científico na área da Estatística, a extraordinária capacidade de apreender de forma rápida e eficiente essa linguagem comum. [Tê-la na nossa equipa] é absolutamente enriquecedor e imprescindível para a boa continuação do nosso trabalho.

* Investigadora principal do projeto "An Evidence-Based Approach to Optimize Therapeutic Decisions Involving Biological Drugs”, distinguido com o Prémio Pfizer de Investigação Clínica 2013

Ana Subtil Simões, Gabinete de Comunicação, Imagem e Cultura da FCUL
info.ciencias@fc.ul.pt
abutre

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Melhorar o funcionamento e a otimização energética de edifícios e equipamentos, resolvendo algumas das suas limitações, é um dos objetivos do projeto “Self Assessment Towards Optimization of Building Energy (SATO)”, liderado pela Ciências ULisboa e que tem início marcado para o próximo mês de outubro. O projeto integra 16 parceiros europeus da academia e dos sectores público e empresarial e representa a primeira grande colaboração científica entre o LASIGE e o IDL.

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Vários alunos da Ciências ULisboa, da Universidade do Algarve (Ualg) e da Faculdade de Medicina Dentária (FMD) da ULisboa apresentaram este verão projetos de iniciação à investigação, desenvolvidos no âmbito da iniciativa “Sê Investigador por Três Semanas!”, promovida pelo Centro de Estatística e Aplicações da Universidade de Lisboa (CEAUL), com o objetivo de cativar os jovens para esta atividade.

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Dezenas de cientistas, técnicos e vigilantes da natureza do ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, bem como cidadãos uniram-se em prol do novo Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal continental. O objetivo é melhorar até 2021 o conhecimento destas espécies e dessa forma contribuir para o estabelecimento de medidas e ações de conservação.

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Entre março e julho deste ano, as redes sociais da Faculdade deram a conhecer 19 pessoas e histórias de investigação, no âmbito da iniciativa “O que faço aqui?”, disponível no site da Faculdade.

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"Neste momento tão dinâmico em que vivemos será importante pensar sobre aquilo que se pode ou não controlar e ir aprendendo a navegar perante a realidade que se apresenta a cada momento", escreve a psicólogia Andreia Santos.

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O novo ano letivo começou esta semana e a Faculdade deu as boas-vindas aos alunos do Advanced Quantitative Methods on Health Care Innovation, cujas aulas online começaram esta terça-feira e se prolongam em Portugal até ao próximo dia 15 de outubro.

Estação de Extração de RNA

“Foi incrível perceber que numa adversidade, o ser humano tem a capacidade de se reinventar e criar novos projetos", diz Daniel Salvador, voluntário no CT Ciências ULisboa, entre maio e julho, licenciado e mestre pela Ciências ULisboa, atualmente estudante do 4.º ano do doutoramento em Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da ULisboa.

Criança em casa acompanhada pela presença de um adulto

Uma equipa de nove estudantes da ULisboa - LxUs -, supervisionados por Hugo Ferreira, professor do Departamento de Física e investigador do Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica da  Ciências ULisboa, ganhou o Translation Potential Runner-Up Award na 5.ª edição do SensUs Student Competition, 2.º lugar na categoria de potencial de translação, um prémio que valoriza a capacidade de criação de um modelo de negócio, viável e com qualidade.

Pormenor da visão artística da observação da "estrela bebé"

Pela primeira vez foi possível observar como é que uma “estrela bebé” adquire massa até chegar à sua massa final. Arcos de campo magnético ligam a “estrela bebé” ao disco circundante e a massa flui. Os resultados desta observação encontram-se publicados na revista Nature. O artigo resulta de uma colaboração no âmbito do GRAVITY, um instrumento desenvolvido por um consórcio internacional e do qual fazem parte cientistas do CENTRA, polo da Ciências ULisboa.

Marta Palma no CT Ciências ULisboa

“A maior aprendizagem é perceber que de facto existem pessoas maravilhosas, com uma enorme generosidade e grande sentido de voluntarismo e muito dinâmicas. E que trabalhando juntos, podemos de facto fazer a diferença”, diz Marta Palma, funcionária do Departamento de Biologia Animal e voluntária no Centro de Testes Ciências ULisboa.

Homem em banco de jardim, observando o rio

Andreia Santos, psicóloga do GApsi Ciências ULisboa, deixa um alerta: "o nível de cansaço sentido pelas pessoas a assistir a conferências, palestras através de um ecrã é superior ao de assistir ao mesmo de forma presencial".

Vanessa Mendonça

“Este prémio simboliza não só o reconhecimento do meu trabalho, mas também de toda a equipa que nele participou”, conta Vanessa Mendonça, segunda classificada pelo Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias 2020. Vanessa Mendonça concluiu o mestrado e o doutoramento na Faculdade e atualmente é investigadora do MARE.

A SPECO anunciou recentemente os vencedores do Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias 2020. José Ricardo Paula é o grande vencedor desta edição e irá apresentar o seu trabalho no 19.º Encontro Nacional de Ecologia, este ano associado às cerimónias dos 25 anos da SPECO, e que se realiza em dezembro, em Ponte de Lima.

Centro de Testes

Rita Loewenstein Simões, de 23 anos, é voluntária no Centro de Testes Ciências ULisboa, na estação Mix e Real-Time PCR, desde maio passado. Para esta jovem bióloga, formada na Faculdade, este trabalho tem um significado muito simples: ajudar. E foi exatamente isso que a motivou - saber que todas as horas que disponibilizasse fariam a diferença.

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