Carreira

Margarida Santos-Reis: uma vida dedicada a CIÊNCIAS, com a ecologia no coração

Margarida Santos-Reis no dia da Investigação e Inovação

Margarida Santos-Reis, professora e investigadora de CIÊNCIAS, durante a homenagem que lhe foi prestada durante o Dia da Investigação e da Inovação

DCI-CIÊNCIAS

Luís Carriço, diretor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS), subiu ao palco para mais um discurso oficial do Dia da Investigação e Inovação, mas não quis terminar sem uma sonante revelação sobre a forma como trabalhou nos últimos sete anos: “Foi vice-diretora para a Investigação; foi o meu braço direito, e às vezes o esquerdo, e muitas vezes também a minha cabeça”. Para que não restassem dúvidas, também fez questão de aproveitar para lembrar a razão por que todos estavam ali: “Porque foi a principal responsável pela existência do Dia da Investigação e Inovação, que ainda continua a realizar-se passados sete anos, e porque é uma extraordinária pessoa, por favor, peço um aplauso para Margarida Santos-Reis!”.

Licenciada em biologia e doutorada em Ecologia e Biossistemática, Margarida Santos-Reis cedo se tornou um dos rostos de CIÊNCIAS e uma das referências nacionais na investigação científica nacional. Num percurso que totaliza 50 anos, a professora assumiu-se como pioneira nacional nos temas relacionados com a ecologia de carnívoros, e como mentora da Rede de Ecologia de Longo Termo. Foi também uma das principais forças motrizes da instalação da estação de campo da Herdade da Ribeira Abaixo e tem no currículo trabalho de referência na conservação de ecossistemas mediterrânicos, em particular o montado.

Além das aulas lecionadas em CIÊNCIAS, foi responsável pelo estabelecimento do doutoramento em sustentabilidade da Universidade de Lisboa e os pares reconhecem-lhe trabalho prolífero na orientação de vários doutorandos. Foi também sob a sua coordenação que o Centro de Biologia Ambiental passou para a atual denominação de Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (CE3C). Na Faculdade, há ainda a destacar o importante contributo dado para a criação do Gabinete de Segurança, Saúde e Sustentabilidade. A jubilação ocorreu, recentemente, quando se encontrava a desempenhar a função de subdiretora de CIÊNCIAS com a pasta da Investigação.

“Durante este caminho, Margarida Santos-Reis expandiu a curiosidade e a investigação para temas interdisciplinares, como os conflitos entre os humanos e a vida selvagem, a sustentabilidade de ecossistemas dominados pelos sobreiros, e a conservação de paisagens mediterrânicas e o panorama genético”, enalteceu o diretor de CIÊNCIAS, pouco antes da homenagem que todos os presentes no Grande Auditório endereçaram à Professora Margarida Santos-Reis.

Além da homenagem, Luís Carriço recordou ser aquela a última ocasião em que haveria de fazer o discurso do Dia da Investigação e Inovação, pois em breve também deixará o cargo de diretor de CIÊNCIAS.

O conceito de inovação haveria de assumir a maior fatia do discurso que poderia ser encarado como um elogio à liberdade científica, que se guia pela curiosidade sem se deixar prender pelas lógicas do lucro ou dos negócios. A título de exemplo, Luís Carriço recorreu ao célebre tema do compositor John Cage que é dominado por total silêncio durante 4,33 minutos. “John Cage foi inovador quando concebeu o tema “4’33””? Sim! Será que produziu valor de negócio? Talvez mais tarde, mas não era essa a intenção. Houve investigação científica? Nem por isso”, lembrou ao reconhecer implicitamente o potencial inovador da obra de Cage, para depois citar Maria Leptin, líder do Conselho Europeu de Investigação (ERC), ao defender que “as economias modernas não podem dar-se ao luxo de investirem exclusivamente em investigação aplicada”.

Depois do emotivo reconhecimento pela carreira académica e científica, Margarida Santos-Reis haveria de regressar, mais tarde, ao palco para a atribuição dos Diplomas e dos Prémios de Mérito Científico e que distinguiram os investigadores com maiores níveis de produtividade científica. Bem antes disso, já eram conhecidos alguns números que hoje distinguem o trabalho feito em CIÊNCIAS: em 2024 foram contabilizados 495 projetos científicos, com um valor total de €15,8 milhões – sendo que mais de um terço provém de fundos da UE. 

Tiago Guerreiro, investigador do LASIGE, foi distinguido com o Prémio de Mérito Científico, por ter sido o membro da comunidade de CIÊNCIAS que alcançou maior nível de produtividade científica. No seu discurso de agradecimento, destacou o papel de liderança do Diretor, elogiando em particular a escolha de Margarida Santos-Reis e o legado que deixa. Sublinhou que, em comparação com há 15 anos, a Faculdade vive hoje um notável salto, tanto quantitativo como qualitativo, no domínio da investigação científica.

A voz da esperança recaiu, no encerramento, sobre Pedro Almeida, que fez parte da equipa de direção de Luís Carriço, e recordou o esforço dos cientistas na luta contra uma metafórica floresta escura que envolve o desconhecido. “Sempre que uma criança coloca uma questão, alguém testa uma ideia ou há um resultado partilhado para o bem comum, há um sinal de esperança, e há um feixe de luz que surge. Temos, uma vez mais, de celebrar esta coragem – a coragem de interagir e explorar com a assustadora e desconhecida floresta escura, e pensar fora das lógicas dominantes, e confiar no nosso conhecimento e no nosso entendimento científico”

Seguramente, há mais no próximo ano!


Reviva connosco a celebração da ciência que transforma o mundo e a sociedade. Veja o vídeo de destaques exibido no Dia da Investigação e Inovação 2025:

 

Hugo Séneca
hugoseneca@ciencias.ulisboa.pt
Flávio Gomes Oliveira a verificar se as armadilhas capturaram algum musaranho

Flávio Gomes Oliveira, doutorando do programa doutoral em Biologia e Ecologia das Alterações Globais, é um dos autores de um estudo publicado em outubro na Behavioral Ecology, cujos resultados integram a sua tese de doutoramento. Nesta entrevista o jovem investigador faz um balanço dos primeiros anos do doutoramento e deixa conselhos para quem quer seguir esta área.

Musaranho-de-dentes-brancos a ser devolvido à natureza

Um estudo realizado em Lisboa por um grupo de investigadores do CESAM, polo da Ciências ULisboa e da Universidade Adam Mickiewicz de Poznań, na Polónia, detetou diferenças substanciais no comportamento e metabolismo dos musaranhos-de-dentes-brancos que ocorrem na capital portuguesa, quando comparados com indivíduos provenientes de áreas naturais.

Emmanuelle Charpentier e a Jennifer Doudna

Este ano, o Prémio Nobel da Química foi atribuído às cientistas Emmanuelle Charpentier e Jennifer Doudna pelo "desenvolvimento de um método de edição do genoma", denominado CRISPR/Cas9. Leia o artigo da autoria de Lúcia Santos e Madalena Pinto, estudantes de doutoramento no polo da Faculdade do BioISI e Federico Herrera, professor do Departamento de Química e Bioquímica e investigador do BioISI.

Chuva intensa

Um estudo publicado na Nature Communications revela um aumento significativo da quantidade de humidade proveniente das regiões fornecedoras de água precipitável, água transportada até aos continentes pelos chamados rios atmosféricos (ARs).

Logotipo dos Prémios Científicos ULisboa/Caixa Geral de Depósitos 2019

A cerimónia de entrega dos Prémios Científicos ULisboa/CGD 2019 estava prevista para 20 de outubro, na Reitoria da ULisboa, mas face à evolução da pandemia da COVID-19 e na sequência da resolução do Conselho de Ministros emitida recentemente, a cerimónia será adiada para data a anunciar quando as condições de segurança estejam novamente reunidas. Das 30 distinções desta última edição, cinco são para professores e investigadores da Ciências ULisboa.

Roger Penrose, Reinhard Genzel e Andrea Ghez

O Prémio Nobel da Física 2020 distingue um dos teóricos mais distintos dos últimos 60 anos, o matemático e físico sir Roger Penrose e os astrónomos Reinhardt Genzel e Andrea Ghez, que revelaram a presença de um buraco negro extremamente massivo na região central da Via Láctea. Leia o artigo dos cientistas José Pedro Mimoso e Nelson Nunes, em colaboração com José Afonso e António Amorim.

Imagem abstrata

Ciências ULisboa integra a Rede de Inovação da Imprensa Nacional-Casa da Moeda (INCM), cujo objetivo é promover a ponte entre a investigação produzida em ambiente académico e o contexto industrial e empresarial.

Logotipo Radar Tec Labs

Oitava rubrica Radar Tec Labs, dedicada às atividades do Centro de Inovação da Faculdade. A empresa em destaque é a QPLab.

Campus da Ciências ULisboa

Ciências ULisboa volta a preencher a totalidade das vagas, no âmbito da 1.ª fase do Concurso Nacional de Acesso (CNA) ao ensino superior: 1001 candidatos conseguiram colocação nas 13 licenciaturas e nos três mestrados integrados desta faculdade, 449 como 1.ª opção. O número de vagas aumentou na maioria dos cursos, assim como as notas dos últimos alunos colocados nesta 1ª fase.

Cidade

Melhorar o funcionamento e a otimização energética de edifícios e equipamentos, resolvendo algumas das suas limitações, é um dos objetivos do projeto “Self Assessment Towards Optimization of Building Energy (SATO)”, liderado pela Ciências ULisboa e que tem início marcado para o próximo mês de outubro. O projeto integra 16 parceiros europeus da academia e dos sectores público e empresarial e representa a primeira grande colaboração científica entre o LASIGE e o IDL.

Papéis, canetas e braços

Vários alunos da Ciências ULisboa, da Universidade do Algarve (Ualg) e da Faculdade de Medicina Dentária (FMD) da ULisboa apresentaram este verão projetos de iniciação à investigação, desenvolvidos no âmbito da iniciativa “Sê Investigador por Três Semanas!”, promovida pelo Centro de Estatística e Aplicações da Universidade de Lisboa (CEAUL), com o objetivo de cativar os jovens para esta atividade.

cabra-montês

Dezenas de cientistas, técnicos e vigilantes da natureza do ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, bem como cidadãos uniram-se em prol do novo Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal continental. O objetivo é melhorar até 2021 o conhecimento destas espécies e dessa forma contribuir para o estabelecimento de medidas e ações de conservação.

Imagens de perfil de 19 cientistas

Entre março e julho deste ano, as redes sociais da Faculdade deram a conhecer 19 pessoas e histórias de investigação, no âmbito da iniciativa “O que faço aqui?”, disponível no site da Faculdade.

Pessoa com livros

"Neste momento tão dinâmico em que vivemos será importante pensar sobre aquilo que se pode ou não controlar e ir aprendendo a navegar perante a realidade que se apresenta a cada momento", escreve a psicólogia Andreia Santos.

Alunos e professoras no campus da Faculdade

O novo ano letivo começou esta semana e a Faculdade deu as boas-vindas aos alunos do Advanced Quantitative Methods on Health Care Innovation, cujas aulas online começaram esta terça-feira e se prolongam em Portugal até ao próximo dia 15 de outubro.

Estação de Extração de RNA

“Foi incrível perceber que numa adversidade, o ser humano tem a capacidade de se reinventar e criar novos projetos", diz Daniel Salvador, voluntário no CT Ciências ULisboa, entre maio e julho, licenciado e mestre pela Ciências ULisboa, atualmente estudante do 4.º ano do doutoramento em Saúde Ambiental da Faculdade de Medicina da ULisboa.

Criança em casa acompanhada pela presença de um adulto

Uma equipa de nove estudantes da ULisboa - LxUs -, supervisionados por Hugo Ferreira, professor do Departamento de Física e investigador do Instituto de Biofísica e Engenharia Biomédica da  Ciências ULisboa, ganhou o Translation Potential Runner-Up Award na 5.ª edição do SensUs Student Competition, 2.º lugar na categoria de potencial de translação, um prémio que valoriza a capacidade de criação de um modelo de negócio, viável e com qualidade.

Pormenor da visão artística da observação da "estrela bebé"

Pela primeira vez foi possível observar como é que uma “estrela bebé” adquire massa até chegar à sua massa final. Arcos de campo magnético ligam a “estrela bebé” ao disco circundante e a massa flui. Os resultados desta observação encontram-se publicados na revista Nature. O artigo resulta de uma colaboração no âmbito do GRAVITY, um instrumento desenvolvido por um consórcio internacional e do qual fazem parte cientistas do CENTRA, polo da Ciências ULisboa.

Marta Palma no CT Ciências ULisboa

“A maior aprendizagem é perceber que de facto existem pessoas maravilhosas, com uma enorme generosidade e grande sentido de voluntarismo e muito dinâmicas. E que trabalhando juntos, podemos de facto fazer a diferença”, diz Marta Palma, funcionária do Departamento de Biologia Animal e voluntária no Centro de Testes Ciências ULisboa.

Homem em banco de jardim, observando o rio

Andreia Santos, psicóloga do GApsi Ciências ULisboa, deixa um alerta: "o nível de cansaço sentido pelas pessoas a assistir a conferências, palestras através de um ecrã é superior ao de assistir ao mesmo de forma presencial".

Vanessa Mendonça

“Este prémio simboliza não só o reconhecimento do meu trabalho, mas também de toda a equipa que nele participou”, conta Vanessa Mendonça, segunda classificada pelo Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias 2020. Vanessa Mendonça concluiu o mestrado e o doutoramento na Faculdade e atualmente é investigadora do MARE.

A SPECO anunciou recentemente os vencedores do Prémio de Doutoramento em Ecologia - Fundação Amadeu Dias 2020. José Ricardo Paula é o grande vencedor desta edição e irá apresentar o seu trabalho no 19.º Encontro Nacional de Ecologia, este ano associado às cerimónias dos 25 anos da SPECO, e que se realiza em dezembro, em Ponte de Lima.

Centro de Testes

Rita Loewenstein Simões, de 23 anos, é voluntária no Centro de Testes Ciências ULisboa, na estação Mix e Real-Time PCR, desde maio passado. Para esta jovem bióloga, formada na Faculdade, este trabalho tem um significado muito simples: ajudar. E foi exatamente isso que a motivou - saber que todas as horas que disponibilizasse fariam a diferença.

Informação eletrónica de rua: Keep your distance

Ganna Rozhnova trabalha em modelação epidemiológica na UMC Utrecht, na Holanda. A antiga aluna de doutoramento em Física Estatística da Faculdade, continua a colaborar com o BioISI e é a investigadora principal de um projeto da FCiências.ID, financiado no âmbito do Apoio especial a projetos Research 4 COVID-19.

Spinophorosaurus nigerensis

Uma inovação anatómica pode ser a chave na compreensão da evolução dos dinossáurios saurópodes. Os autores deste trabalho - Daniel Vidal, Pedro Mocho, Ainara Aberasturi, José Luis Sanz e Francisco Ortega - acreditam que parte do êxito evolutivo deste grupo de animais está relacionado com alterações na cintura pélvica e que esse fator contribuiu para os converter nos animais de maior porte da Terra.

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