Toda a morte, mesmo a anunciada, é uma surpresa. Um misto de espanto e de descrença como se não fosse possível acontecer. Quando pela manhã o meu telefone tocou e do outro lado da linha alguém me disse ser o Pedro e que era o filho mais velho do Professor em segundos preparei-me para ouvir o pior.
Conhecia bem o Nuno, o mais novo, que foi aluno da nossa Faculdade. O Pedro, não. Foi-me dada a notícia e por momentos pensei que não podia ser verdade o que ouvia. Ele que pouco antes do começo das férias grandes tinha vindo visitar-me.
Desde que se aposentou o Professor aparecia quase todos os meses para conversarmos um bocadinho ou porque havia um evento na Reitoria ou na Faculdade a que iria assistir ou porque a Associação de Trabalhadores, de que foi sempre sócio mesmo depois de se ter aposentado, organizava um almoço ou jantar a que nunca faltava. A Faculdade estava presente na sua vida com a simplicidade que sempre o caracterizou. Muito organizado, dava as aulas e dirigia a Biblioteca, como se quisesse passar desapercebido. Recebia os alunos, procurava ajudá-los se sabia algum com mais dificuldade nas matérias e até com problemas financeiros. Lembro-me de o irem procurar alunos que ele atendia durante horas com a generosidade que o caracterizava. Sempre presente na Faculdade aqui passava o seu dia. Uma segunda casa. Comigo dividia a gestão da Biblioteca ficando eu com a parte técnica e ele com a administrativa de ligação ao Conselho Diretivo. O seu espírito e predisposição conciliadora por vezes chocavam com aquilo que eu considerei muitas vezes de “extrema” conciliação. Com a franqueza que os que me conhecem me caracteriza dizia-lhe francamente o que pensava. Face à sua postura tranquila conseguia, sem que eu me apercebesse, “convencer-me”, e tudo acabava sempre em bem. Tal como acontece quando a amizade e o respeito coexistem.
Tendo participado ativamente em coros, onde conciliava o seu grande amor e aprendizado pela música, era com alegria que essa atividade de convívio artístico entre amigos preenchia os momentos mais calmos da sua vida. Depois do seu desaparecimento pude ler comovida os testemunhos de apreço dos coristas seus companheiros. Em nada me surpreenderam as suas palavras quando a ele se referiram. Os seus dotes humanos, e arrisco artísticos, estavam nelas presentes mas, sobretudo, o homem bom, solidário em que a ausência de vaidade fazia parte das características dominantes acompanharam-no sempre e assim será por todos lembrado com muito carinho.