José Artur Martinho Simões e o admirável mundo das moléculas

José Artur Martinho Simões

"O meu principal contributo para a Ciência foi investigar a energética de moléculas usando tecnologias sofisticadas (exemplo: calorimetria fotoacústica)", diz José Artur Martinho Simões

ACI Ciências ULisboa
José Martinho Simões
Fonte ACI Ciências ULisboa

José Artur Martinho Simões é professor catedrático aposentado do Departamento de Química e Bioquímica (DQB) da Ciências ULisboa. Os seus interesses científicos situam-se na área da energética molecular.

Em 1981 obteve o doutoramento no Instituto Superior Técnico. Nos dois anos seguintes realizou um pós-doutoramento no California Institute of Technology, nos EUA. Em 1988 e 1989 foi visiting research officer no National Research Council of Canada e, em 1996 e 1997, foi guest researcher no National Institute of Standards and Technology, nos EUA.

Foi secretário-geral e presidente da Sociedade Portuguesa de Química; diretor do ITQB e da Ciências ULisboa.

Em 2006 foi galardoado com o Prémio Ferreira da Silva da Sociedade Portuguesa de Química.

É autor ou coautor de mais de 100 publicações científicas e de vários livros.

Fonte: Manuel Minas da Piedade, DQB Ciências ULisboa

A ideia para esta entrevista surgiu na sequência da publicação do livro "A Anatomia das Moléculas", de José Artur Martinho Simões, pela Imprensa da ULisboa. É um livro curto que numa linguagem simples, precisa e atraente, acompanhada de muitas imagens, nos dá a conhecer o admirável mundo das moléculas, as suas propriedades, ligações e reações. Em suma, trata da linguagem das moléculas que, como o autor refere, é hoje central a inúmeros domínios do conhecimento, não se circunscrevendo ao domínio da química.

Ciências ULisboa - Quando vi este título, lembrei-me imediatamente do livro “Anatomy of Science”, publicado em 1926, pelo grande químico físico americano Gilbert Newton Lewis, a quem devemos, entre outras, a noção de ligação covalente e a designação de fotão para as partículas de luz. São ambos livros escritos por químicos cuja visão do mundo científico vai muito para além da Química. Concorda? O que nos pode dizer desta coincidência feliz?

José Artur Martinho Simões (JAMS) - Concordo! Não esquecer o livro “The World of Physical Chemistry”, de Keith J. Laidler. É uma excelente visão da Química Física. Por outro lado, o primeiro Nobel da Química foi atribuído ao químico físico van’t Hoff (1901), em reconhecimento dos serviços extraordinários que prestou pela descoberta das leis da dinâmica química e da pressão osmótica em soluções.

O título “Anatomia das Moléculas” foi sucintamente justificado na Introdução do livro. Se quisermos ir mais longe, podemos dizer que a palavra “anatomia” pode significar a estrutura das moléculas (ver Wikipédia para “anatomia”).

Infelizmente, eu desconhecia o título “Anatomy of Science” de Lewis, um dos gurus da Química. Mas, por outro lado, ainda bem que eu não conhecia o livro de Lewis. Posso agora afirmar que great minds think alike...

Ciências ULisboa - Gilbert Newton Lewis não foi único entre os químicos que olharam para além da química, quaisquer que fossem as perspetivas porque, e como, o fizeram. Recordo o químico italiano Primo Levi, sobrevivente do holocausto, e o seu livro “A Tabela Periódica” (1975), ou o bioquímico britânico C.P. Snow, autor de “As duas culturas” (1959). Como vê, atualmente a relevância de migrações disciplinares na construção da ciência?

JAMS - Creio que o casamento entre duas culturas raramente existe. Por exemplo, pode ocorrer entre uma ciência exata (a Química) e as humanidades e as artes (a Pintura). Neste caso, o casamento forte é possível e floresce. Mas se a Pintura tentar casar com a Estatística, temos divórcio pela certa.

Ciências ULisboa - A secção do seu CV designada por “Artigos vários”, inclui títulos tão eloquentes ou apelativos como sejam “Como se faz Química. Uma reflexão sobre a Química e a actividade do Químico” (1990), “Átomos, electrões e mudança” (1993), “Universidade de Lisboa, Faculdade de Ciências, Departamento de Química e Bioquímica” (1995), “Procura-se: Licenciatura nova” (1995), “De regresso aos gregos? A crise das ciências tradicionais” (2005), “A criação do espaço científico europeu: “top-down” ou “bottom up”? (2006), “A idade dos químicos” (2006), “Size matters” (2011), os dois últimos escritos em parceria. O que nos dizem sobre os seus interesses científicos no contexto de uma visão do mundo mais ampla?

JAMS - Reuni várias dezenas de artigos e entrevistas ao longo do tempo, nomeadamente sobre os meus interesses pedagógicos e de gestão universitária. Gostava de dar aulas a grandes números de alunos, estimulando perguntas.

capa do livro
Fonte ACi Ciências

A “Anatomia das Moléculas” é um pequeno grande livro, que aborda em cerca de uma centena e meia de páginas a essência da Química: os conceitos que ditam a construção de moléculas a partir de átomos; a forma como a constituição atómica e a morfologia das moléculas (a anatomia!) influencia as suas propriedades e estabilidade, bem como o modo como interatuam para originarem sólidos, líquidos ou gases e, em última análise, se transformam noutras moléculas, por meio de reações químicas. É escrito num estilo direto, fazendo-nos sentir ao longo dos 86 parágrafos (não tem capítulos!) que estamos a assistir a aulas interessantes, que nos prendem a atenção. E, apesar de a linguagem ser rigorosa (como o autor menciona tem equações!), é suficientemente clara para ser entendível por não especialistas. Essa clareza é, aliás, possível, porque se trata de alguém com imenso sentido pedagógico, que dedicou boa parte da sua carreira científica a estudar as relações entre a estrutura, a estabilidade e a reatividade molecular. A leitura da “Anatomia das Moléculas” agradará, certamente, tanto a um público com formação em Química como, simplesmente, a curiosos pelas coisas da Ciência.

Fonte: Manuel Minas da Piedade, DQB Ciências ULisboa

Ciências ULisboa - Voltando ao livro “A Anatomia das Moléculas”, quando vi a capa, uma reprodução lindíssima da difusão de tinta em água, da autoria de Eurico Correia de Melo, e quando vi a figura 8 do livro (p.20), que representa o sapato escorrega do designer israelita Kobi Levi, escolhida para ilustrar as diferenças entre Física Quântica e Física clássica, no que respeita à variação da energia de um objeto, reforcei a minha convicção do que é um químico para quem as relações entre ciência e arte são incontornáveis. O que nos pode dizer sobre elas?

JAMS - As fotografias do Eurico, meu grande amigo do Técnico e do Instituto de Tecnologia Química e Biológica (ITQB), foram excelentes para compreender vários conceitos relevantes, especialmente a entropia. Um dia longo para ambos!

Foi por acaso que deparei com o sapato de Kobi Levi. Na internet, claro. Antes de tudo, interessa-me imenso a pintura.  O meu pai científico tem nome: Jorge Calado.

Ciências ULisboa - É na ótica de alguém que vê a ciência de uma forma abrangente, que entretece relações com muitos outros domínios do saber, que insiro aspetos da sua atuação enquanto director da Faculdade, que vão da revitalização da sua imagem, incluindo o seu logotipo, de que gosto muito e que não deixou ninguém indiferente, à criação de um espaço expositivo nas suas instalações – a Galeria Ciências – ou ainda à criação do Departamento de História e Filosofia das Ciências. Concorda com esta avaliação? O que pode acrescentar?

JAMS - Claro que concordo vivamente com a nova imagem da Ciências ULisboa, com iniciativas várias. Por outro lado, criou-se um Departamento de História e Filosofia das Ciências. É uma área relevante para docentes e para estudantes.

Ciências ULisboa - Em 2006, ganhou o Prémio Ferreira da Silva. O que pode partilhar com o leitor sobre este reconhecimento?

JAMS - O Prémio Ferreira da Silva foi instituído pela Sociedade Portuguesa de Química em 1981, sendo atribuído bienalmente. Este prémio é concedido a um químico português que, pela obra científica produzida em Portugal, tenha contribuído significativamente para o avanço da Química, em qualquer das suas áreas (vd. https://www.spq.pt/premios/ferreira-silva). A lista dos 17 premiados pode ver-se no site do SPQ (https://www.spq.pt/premios/ferreira-silva/lista). Destes, sete são da ULisboa, três da Universidade Nova de Lisboa, três da Universidade do Porto, dois da Universidade de Aveiro, dois da Universidade de Coimbra.

Ciências ULisboa - De toda a sua atividade enquanto cientista, nas suas várias vertentes, o que considera ter ficado aquém do que pretendia?

JAMS - Tudo fica sempre aquém, em particular o que envolve a investigação.

Geralmente, tudo o que fazia – investigação, docência, gestão universitária – consumia muitas horas diárias. Chegava à Faculdade antes das 9 horas e trabalhava até às 20 horas. Gostava imenso de ter muitos alunos e curiosos.

Por outro lado, a organização da atividade universitária tem uma grande importância para garantir um ambiente tranquilo.

Ganhei muitos amigos e muitos saberes em lugares de várias organizações. Fui diretor do ITQB e diretor da Ciências ULisboa. No estrangeiro, num total de três anos, trabalhei no National Institute of Standards and Technology (USA), National Research Council of Canada, e no fantástico California Institute of Technology (Caltech, USA).

Ciências ULisboa - De toda a sua atividade enquanto cientista, nas suas várias vertentes, o que avalia como o seu contributo mais importante?

JAMS - O meu principal contributo para a Ciência foi investigar a energética de moléculas usando tecnologias sofisticadas (exemplo: calorimetria fotoacústica). Os resultados dessas experiências permitem avaliar a energia suficiente para quebrar uma ligação química. Por outro lado, é muito importante comparar os valores experimentais com os que podem ser obtidos usando a Química Quântica.

Ana Simões, Departamento de História e Filosofia das Ciências Ciências ULisboa
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt

Antes de se aposentar em 2014 a Ana Monteiro trabalhou na Biblioteca da FCUL durante alguns anos. Ontem, dia 15 de dezembro, faleceu.

Teve lugar a 27 de outubro no Salão Nobre da Reitoria da Universidade de Lisboa (ULisboa) o lançamento oficial do Colégio de Química, o primeiro colégio da ULisboa aprovado na área das Ciências Exatas.

O aumento da temperatura da água leva anfíbios omnívoros a adotar uma dieta mais herbívora. De acordo com o comunicado de imprensa emitido pelo cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Climáticas, “esta é a primeira vez que é estudada em vertebrados a assimilação de dietas mais ou menos ricas em proteínas em função da temperatura”.

O que fazem e o que pensam alguns membros da comunidade de Ciências? O último Dictum et factum de 2016 é com Paulo Silva, técnico superior do Departamento de Física de Ciências.

O QTLeap—Quality Translation by Deep Language Engineering Approaches chega ao fim, mas a investigação em tradução automática continua. Leia a curta entrevista com António Branco, professor do Departamento de Informática de Ciências e coordenador deste projeto, iniciado em novembro de 2013.

“A Onda da Nazaré: um estímulo para a aprendizagem” é financiado pelo Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu (EEA Grants) e explica de forma simples e recorrendo a curtas animações os processos associados à existência da maior onda surfada em todo o mundo. 

O curso de Química Tecnológica celebra em 2017 os 35 anos da saída dos seus primeiros licenciados pelo que as próximas “Jornadas QT” realçarão esta efeméride.

Nos últimos anos da troika (2011-2015), a importância da Filosofia foi bastante apreciada, em particular a nível internacional. Este período não foi bom para Portugal, sobretudo porque os jovens licenciados foram colocados de lado e sem trabalho, os sem emprego (ou bolsa), os precários (com vencimento à hora de ocupação, os temporários, sem férias, direitos de saúde...), e os que estavam a mais (e, forçados a emigrar) juntaram a sua indignação e protestaram. Nem sempre com resultados bem visíveis e de pressão real sobre o poder.

A União Europeia das Geociências atribui anualmente um prémio que reconhece atividade científica de exceção a nível mundial, realizada por cientistas desta área na fase inicial da carreira. Este galardão foi atribuído pela primeira vez a um investigador a trabalhar em Portugal. João Duarte é investigador do Instituto Dom Luiz e do Departamento de Geologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e recebeu este prémio pelo seu trabalho na área da Geologia Marinha e Tectónica, bem como pela sua atividade na área da divulgação científica. 

Nos próximos cinco anos, Sara Magalhães vai explorar um sistema biológico composto por duas espécies de ácaro-aranha, Tetranychus urticae Tetranychus ludeni, que competem por um alimento - a planta do tomate, no âmbito do projeto “COMPCON - Competição sob construção do nicho”, com início previsto para maio de 2017 e desenvolvido em colaboração com investigadores da Universidade de Montpellier, em França.

Aplicações médicas e industriais a partir de organismos que produzem bioadesivos... Sim, é possível. No âmbito de uma Ação COST, a Rede Europeia de Especialistas em Bioadesão, trabalha para criar novos produtos.

O tempo tem demonstrado ser possível avançar na criação de mais e melhores condições de equidade para os alunos com Necessidades Educativas Especiais. Mas este é um desafio permanente para as instituições de ensino, como também o é para cada um de nós e a cada momento, num permanente processo de implicação pessoal em prol de algo que tanto prezamos: a igualdade de oportunidades.

Num desporto o treino é comum e faz parte de um plano para conseguir os melhores resultados, estimulando as capacidades físicas a superarem os desempenhos. Mas, também se podem treinar as mentes para fazer ciência.

O dia-a-dia de Luis Filipe Lages Martins divide-se entre a atividade de investigação em Metrologia com aplicação na Engenharia Civil e a gestão laboratorial da Unidade de Metrologia Aplicada do LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil. O primeiro estudante a obter o grau de doutor em Engenharia Física pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa nasceu em Lisboa e aos 34 anos acaba de ser distinguido com o Prémio Inovação em Metrologia.

Luís Filipe Lages Martins, bolseiro de pós-doutoramento do LNEC – Laboratório Nacional de Engenharia Civil, é o vencedor da 1.ª edição do Prémio Inovação em Metrologia da Sociedade Portuguesa de Metrologia (SPMet).

Em parceria com a Universidade de Lisboa e outras instituições que lecionam o curso de Química, a Sociedade Portuguesa de Química atribui prémios de mérito aos alunos com melhores resultados alcançados nesta área científica.

O que fazem e o que pensam alguns membros da comunidade de Ciências? O 11.º Dictum et factum é com Aurora Sardinha, assistente técnica do Tec Labs – Centro de Inovação de Ciências.

Já só faltam dois eventos para a digressão Ignite IAstro terminar. Amanhã acontece um deles, na Covilhã, o último irá ocorrer na Guarda, a 3 de dezembro.

Onde estou? Para onde vou? As células do lugar ajudam-nos a cartografar (guiar) as nossas viagens no mundo, e constituem uma espécie de andaime espaço/temporal/cerebral que suporta a memória autobiográfica. Como o cérebro computa? Não é com Java, mas com um outro tipo de linguagem ainda a descobrir. O caminho para a compreensão dos códigos neuronais da cognição está aberto, e o desafio está lançado simultaneamente à Biologia, à Ciência da Computação e à Filosofia.

capa do livro

A banda desenhada "Reportagem Especial - Adaptação às Alterações Climáticas em Portugal" é lançada em Ciências esta segunda-feira, 7 de novembro de 2016, pelas 17h00, no auditório da Fundação da Faculdade, sito edifício C1, piso 3.

A ciência contemporânea enfrenta um conjunto de novos desafios que podem limitar a sua legitimidade, o seu valor e alcance. Estas notas abordam alguns destes riscos tentando apontar possíveis caminhos para os ultrapassar.

O ESPRESSO vai permitir descobrir planetas semelhantes à Terra, estudar a variabilidade das constantes fundamentais da Física e será essencial para complementar os dados da missão espacial PLATO.

Faleceu recentemente, com 95 anos, Ricardo Augusto Quadrado. Foi um professor de Cristalografia e Mineralogia da FCUL, e da Universidade da Madeira, extremamente marcante para quantos tiveram o privilégio de com ele privar. 

“Ainda há muito para fazer”, responde Nuno Araújo, quando questionado quanto ao futuro desta investigação, que dá um passo significativo num dos maiores desafios da Física da Matéria Condensada e que diz respeito ao desenvolvimento de técnicas experimentais, económicas e eficazes, capazes de sintetizar as estruturas desejadas de forma espontânea.

“O mergulho científico não se reduz à Biologia (…). Se estás interessado em fazer mergulho científico, esta é uma ótima oportunidade para dares os primeiros passos”, esta é a mensagem em jeito de convite do Núcleo de Mergulho Científico de Ciências ULisboa para alunos, professores, investigadores e outros funcionários de Ciências.

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