Astrofísica

“Uma referência para o País”

José Afonso
Cedida por JA

“A Astrofísica [e as ciências espaciais] é uma das áreas de investigação em Portugal com maior impacto internacional, como indicam os últimos levantamentos bibliográficos”, diz José Afonso, diretor do Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa (CAAUL).

O “franco crescimento” dos últimos anos deve-se à adesão de Portugal ao Observatório Europeu do Sul e à Agência Espacial Europeia, factos que têm proporcionado uma maior participação e até liderança de investigadores portugueses em projetos internacionais. Por isso mesmo e apesar da “conjetura nacional não ser brilhante”, José Afonso acredita que a Astrofísica portuguesa continuará a ser nos próximos anos “uma área de referência para o País”.

O investigador da FCUL e dirigente do CAAUL é um dos membros da equipa que anunciou recentemente a descoberta da galáxia IRAS 08572+3915, a mais luminosa do universo local. Esta investigação liderada por Andreas Efstathiou, da Universidade Europeia de Chipre, conta com a participação de 19 cientistas de universidades da Europa e dos EUA.
Galáxia
Fonte: Hubble Space Telescope
Legenda: IRAS 08752, a galáxia mais luminosa do universo local

Segundo o comunicado de imprensa difundido pelo CAAUL, a galáxia IRAS 08572+3915 é a “mais luminosa num raio de dois mil milhões de anos-luz da Terra, com um brilho superior ao de dez biliões de estrelas como o Sol” e já é conhecida há 30 anos, “desde as observações com o telescópio espacial de infravermelhos IRAS”.

A análise detalhada das observações feitas com o telescópio espacial Herschel, juntamente com os dados do telescópio espacial Spitzer, permitiu a recente descoberta. José Afonso explica que só agora “foi possível perceber que uma grande parte da radiação emitida por esta galáxia está na realidade dirigida para longe de nós -acrescentando que -, quando a contabilização da emissão tem em conta este efeito, que explica as observações, descobrimos que esta galáxia é a mais luminosa que conhecemos no universo local”.

Nesta investigação, o astrónomo português tem ajudado a conceber e implementar o programa Herus (“The Herschel ULIRG Survey”) e também tem participado na interpretação das observações. As observações com o telescópio espacial Herschel fazem parte do programa Herus, ao qual foi atribuído, após concurso, cerca de 250 horas para observações de 45 galáxias ultraluminosas no universo local.

O estudo da galáxia IRAS 08572+3915 passará agora pelo uso do novo telescópio ALMA, constituído por 66 antenas, facto que deverá permitir desvendar o segredo da sua enorme luminosidade. Os cientistas vão utilizar o ALMA, entre outros telescópios, para perceber como se conjugam “os processos de formação estelar ‘explosiva’ e de atividade gerada pela presença de um buraco negro supermassivo no seio de uma galáxia”. Paralelamente pretendem servir-se deste conhecimento para perceber como se podem detetar “as primeiras galáxias luminosas do universo após o seu nascimento, algumas centenas de milhões de anos após o Big Bang”.

Curiosidades
O programa Herus procura estudar, no infravermelho longínquo, todas as galáxias ultraluminosas no universo local e desta forma compreender as fases mais extremas da evolução de uma galáxia, que observamos com frequência no universo distante.

Com um espelho principal de 3.5 metros de diâmetro, o Herschel é o maior telescópio de infravermelhos alguma vez construído, sendo operado pela Agência Espacial Europeia. Foi colocado no espaço em 2009 e esteve em funcionamento até se esgotar o seu líquido refrigerante (necessário para observações no infravermelho longínquo), em abril deste ano.

O telescópio espacial Spitzer possui um espelho principal de 0.85 metros e instrumentação para observações no infravermelho próximo, médio e longínquo. Este telescópio construído e operado pela NASA foi lançado para o espaço em 2003, tendo esgotado o seu líquido refrigerante após seis anos de observação. Apesar de não ser possível efetuar observações no infravermelho médio e longínquo, ainda mantém a capacidade de observação no infravermelho próximo, mais de dez anos após o seu lançamento.

Uma análise detalhada consiste na modelação da emissão de radiação no infravermelho médio (Spitzer) e longínquo (Herschel), como sucedeu com a medição da galáxia IRAS 08572+3915. Tal modelação indica a existência de um toro de poeira que rodeia um buraco negro supermassivo no centro desta galáxia, responsável por 90% da sua luminosidade. Os restantes 10% são provenientes de formação estelar “explosiva”.

Fonte: JA

Ana Subtil Simões, Gabinete de Comunicação, Imagem e Cultura da FCUL
info.ciencias@fc.ul.pt
Olho verde

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