Espaço

NIRPS: espectógrafo do ESO revela dados de três exoplanetas com a ajuda de CIÊNCIAS

Telescópio de 3,6 metros do Observatório de La Silla

Telescópio de 3,6 metros do Observatório de La Silla, que o ESO tem vindo a operar no Chile

Zdeněk Bardon (bardon.cz)/ESO

Proxima b, Proxima d, e WASP-69 b ainda estão longe de figurar nos roteiros das agências de viagens, e já constam entre as principais atrações do conjunto de artigos científicos que acaba de ser publicado na revista Astronomy & Astrophysics com o objetivo de dar a conhecer os resultados das primeiras observações do espectógrafo conhecido pela sigla NIRPS. Além da confirmação de um exoplaneta a orbitar em zona de habitabilidade, o espectógrafo que se encontra instalado no Observatório de La Silla, no Chile, revelou um segundo exoplaneta a orbitar a estrela mais próxima do Sol e forneceu detalhes sobre um terceiro corpo celeste que aparenta ter uma cauda de hélio. Além do desenvolvimento de componentes para o NIRPS, também a análise dos dados captados pelo espectógrafoo contou com a participação de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS) e do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço (IAstro).

“Estes resultados revelam as perturbações que as órbitas dos planetas provocam na luz emitida pelas estrelas em que orbitam. Todos estes dados foram obtidos através das observações que têm vindo a ser feitas desde 2023. Neste momento, já estão a ser feitas observações que, possivelmente, só deverão permitir obter resultados nos próximos anos”, explica Alexandre Cabral, professor de CIÊNCIAS e investigador do IAstro.

ilustração artística de Proxima Centauri
Ilustração de dois exoplanetas a orbitarem anã vermelha Proxima Centauri - ESO/Iastro

 

NIRPS é a sigla de Near Infra Red Planet Searcher, que em português tem como tradução possível Explorador de Planetas por Infravermelho Próximo. Como o nome indica, o raio de ação do novo espectógrafo vai além dos comprimentos de onda que compõem a denominada luz visível pelo olho humano e já consegue captar bandas do infravermelho próximo. Estes comprimentos de onda da luz que não é visível podem revelar-se especialmente “interessantes” para astrónomos e astrofísicos “por poderem conter informação relacionada com a composição das atmosferas e biomarcadores (que podem ser indiciadores de existência de vida)” refere Alexandre Cabral. “O NIRPS permite estudar as assinaturas químicas de vapor de água, hélio e metano nas atmosferas dos exoplanetas”, acrescenta o investigador de CIÊNCIAS.

O NIRPS encontra-se instalado no Telescópio ESO de 3,6 Metros, pertence ao Observatório de La Silla, e tem sido operado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO). Os trabalhos de instalação terminaram em 2023, com a expectativa de usar o novo instrumento em articulação com o HARPS (High Accuracy Radial velocity Planet Searcher; ou Explorador de Planetas de Velocidade Radial de Alta Precisão, em português), e garantir uma captação mais alargada do espectro da luz proveniente das estrelas da Via Láctea. “É algo único, porque permite ter uma alta resolução num espectro de luz tão grande”, sublinha Alexandre Cabral.

Imagem do espectógrafo NIRPS
Imagem do sistema de arrefecimento do NIRPS -  F. Bouchy (Observatoire de Genève)/consórcio NIRPS/ESO) 

Além dos novos artigos científicos que conta com a assinatura de investigadores portugueses, o NIRPS também acabou por dar relevo ao trabalho feito em CIÊNCIAS e  no IAstro em torno de um equipamento fulcral para a interpretação dos dados contidos na luz das estrelas. O instrumento é conhecido pela sigla de ADC (de Atmospheric Dispersion Corrector ou Corretor de Dispersão Atmosférica, em português) e foi desenvolvido para eliminar o efeito de dispersão cromática, que é gerado à passagem da luz pela atmosfera terrestre. Segundo os investigadores, este efeito pode condicionar as observações astronómicas se não for corrigido. “A luz é captada pelo telescópio e é encaminhada através de uma fibra ótica para o espectógrafo NIRPS. Mas antes de ser injetada na fibra ótica, essa luz tem de ser corrigida a fim de eliminar o efeito de dispersão cromática que é causado pela atmosfera. Além disso, também é levada a cabo uma correção da cintilação estelar”, explica Alexandre Cabral.

Depois de confirmar a capacidade tecnológica do NIRPS, a equipa de investigadores do ESO decidiu concentrar o trabalho em alguns alvos mais ou menos conhecidos dos astrónomos. E foi assim, que as atenções se voltaram para Proxima b, Proxima d, e WASP-69 b – e também para o projeto ANDES, que tem em vista a instalação de um novo instrumento no Telescópio Europeu Extremamente Grande (ELT), que está em construção e poderá estrear a meados da próxima década, também no Chile. Se o ANDES já poderá recolher informação mais detalhada sobre atmosferas de outros planetas, o NIRPS, por seu turno, é encarado como um precursor do ANDES, além de poder funcionar na identificação de futuros alvos para observação com o Telescópio Espacial James Webb.

 

Equipa no Observatório de La Silla
Equipa de investigadores que têm vindo a trabalhar no telescópio de La Silla. Em cima: Alexandre Cabral (IAstro-CIÊNCIAS), Gaspare Lo Curto (ESO) Liso Maló (Universidade de Montreal); Em baixo: Sébastien Bovay (Observatório de Genébra), Bachar Wehbe (IA-CIÊNCIAS) e François Bouchy (Observatório de Genébra) -  Iastro/CIÊNCIAS

“Os primeiros resultados do NIRPS na deteção e caracterização de exoplanetas mostram o grande potencial deste novo instrumento. Mais ainda, a exploração de espectros de alta resolução no infravermelho permite-nos testar os métodos de deteção de atmosferas de exoplanetas semelhantes à Terra a orbitar outras estrelas, um salto científico que será possível com o espectrógrafo ANDES”, refere Nuno Cardoso Santos, investigador do IAstro e professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP), num comunicado do IAstro.

Além de Nuno Cardoso Santos, o comunicado do IAstro menciona ainda João Gomes da Silva, investigador do IAstro, enquanto autor de um dos cinco artigos que acabam de ser publicados na Astronomy & Astrophysics a partir de dados coletados pelo NIRPS. O artigo liderado por Gomes da Silva demonstra, pela primeira vez, como a atividade estelar afeta os espectros de duas anãs vermelhas que foram captadas pelo NIRPS.

Alexandre Cabral admite que o NIRPS pode fazer a diferença quando se trata do estudo das anãs vermelhas. “As anãs vermelhas têm um sinal mais forte no infravermelho próximo, mas na luz visível apresentam sinais mais fracos”, refere o investigador. Tendo em conta o grande número de anãs vermelhas na Via Láctea e as hipóteses de haver exoplanetas que as orbitam, o NIRPS é encarado como uma ferramenta que pode ajudar a aumentar "a probabilidade de encontrar exoplanetas com características de habitabilidade parecidas com as da Terra”, acrescenta Alexandre Cabral.

Ilustração de habitabilidade em Proxima Centauri
Ilustração da zona de habitabilidade em torno da estrela Proxima Centauri -  Gabriel Pérez Díaz (SMM, IAC)

Foi uma lógica similar que levou os investigadores do ESO a um “reencontro” com Proxima b, Proxima d, e WASP-69 b. Com os dados recolhidos pelo NIRPS, conseguiu-se informação detalhada que permitiu confirmar a existência Proxima b, que orbita em torno da estrela mais próxima do Sistema Solar que, por sua vez, é conhecida por Proxima Centauri. Esta estrela é uma anã vermelha e encontra-se a cerca de quatro anos-luz do sistema solar. Também com os dados trabalhados pelo NIRPS, foi possível identificar um segundo planeta a orbitar Proxima Centauri que passou a ser conhecido como Proxima d. Por fim, foi ainda revelada mais informação sobre o exoplaneta WASP-69 b que tem uma massa comparável à de Saturno, e se distingue por ter uma “cauda” de Hélio a sair da respetiva atmosfera. Este exoplaneta está a orbitar a estrela anã laranja WASP-69, a cerca de 160 anos-luz de distância.

“Certamente que as anãs vermelhas vão ser dos alvos mais procurados nos próximos tempos. Seguramente que vamos ter nos próximos tempos surpresas e descobertas inesperadas”, prevê Alexandre Cabral. Os próximos episódios do NIRPS já não deverão tardar a ser conhecidos. 

Referências nos Média:

Tek Sapo: Novo "caçador" de planetas já fez primeiras descobertas e tem ADN português

Hugo Séneca - DCI CIÊNCIAS
hugoseneca@ciencias.ulisboa.pt
Rosto de Patrícia Chaves

Patrícia Chaves, atualmente no 3.º ano de doutoramento em Ciências ULisboa, está entre os 12 finalistas da primeira edição da competição Três Minutos de Tese – 3MT ULisboa. A final tem lugar a 30 de maio, às 18h30, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência da ULisboa. Patrícia Chaves está atualmente no 3.º ano do programa de doutoramento Biologia e Ecologia das Alterações Globais.

tejadilho de uma carro com paineis solares

Uma equipa de investigadores do Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia e do Instituto Dom Luiz, está a recrutar voluntários para uma campanha de ciência cidadã, cujo objetivo é estimar o potencial da mobilidade solar, utilizando os próprios veículos. A campanha decorre no âmbito do projeto “Solar Cars”.

telescópio

Um grupo de cientistas da Ciências ULisboa e da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, membros do CENTRA - Centro de Astrofísica e Gravitação, participam no desenvolvimento do Mid-infrared ELT Imager and Spectrograph (METIS), um poderoso instrumento que vai equipar o maior telescópio do mundo - o Extremely Large Telescope (ELT) – em construção pelo European Southern Observatory (ESO) em Armazones, Chile.

logotipo simpósio

O simpósio internacional sobre “Os impactos humanos na conetividade funcional dos ecossistemas marinhos” realiza-se entre 22 e 25 de maio, no Cineteatro Municipal João Mota, em Sesimbra. Mais de 100 investigadores, gestores marinhos e políticos de 30 países de todo mundo partilham as últimas descobertas na temática e discutem as políticas de gestão e preservação destes ecossistemas.

Sala de reuniões com várias pessoas sentadas

Volker Mehrmann esteve na Ciências ULisboa, em outubro de 2022, para participar na reunião do Comité Executivo da EMS, que pela primeira vez ocorreu em Portugal. “A comunidade matemática portuguesa orgulha-se de, ao longo das últimas décadas, ter colocado com cada vez maior intensidade e reconhecimento Portugal no mapa da Matemática europeia e mundial”, diz Jorge Buescu, professor do Departamento de Matemática da Ciências ULisboa, vice-presidente da EMS, presente nestas reuniões desde 2018.

imagem com linhas e ligações luminosas

O Centro de Matemática, Aplicações Fundamentais e Investigação Operacional em conjunto com o Centro de Estudos de Gestão do Instituto Superior Técnico tem vindo a organizar a série "Workshop on Combinatorial Optimization". A 4.ª edição do evento terá lugar no próximo dia 8 de maio, em formato online.

3 pessoas a mostrar uma capa da Faculdade com o protocolo dentro

Realizou-se esta quarta-feira, dia 3 de maio, a assinatura da adenda ao acordo de cooperação do “UPskill - Digital Skills and Jobs”, um programa que aposta na requalificação de pessoas desempregadas ou em situação de subemprego, nas várias áreas das TIC. No âmbito deste acordo, a Faculdade irá participar como entidade formadora.

chuteira e uma bola de futebol

Em 2022, 23 alunos da Ciências ULisboa foram distinguidos com medalhas desportivas, em cerca de 50 provas de competições universitárias, nacionais e internacionais, nas modalidades karaté, taekwondo, judo, atletismo e natação, alcançando resultados de excelência.

mamífero toirão

O novo Livro Vermelho dos Mamíferos de Portugal Continental, apresentado esta terça-feira, atualiza o conhecimento sobre as espécies de mamíferos terrestres e marinhos da fauna de Portugal Continental e faz uma revisão dos estatutos de ameaça das espécies.

conjunto de pessoas - foto de grupo dos participantes

Nos dias 11 e 18 de março, realizaram-se no Departamento de Química e Bioquímica as semifinais das Olimpíadas de Química + e Júnior, respetivamente.

menina a escrever num papel com formulas matemáticas

Professores da Ciências ULisboa integraram equipas da Direção Geral de Educação, criadas para definir as aprendizagens essenciais para a Matemática do Ensino Secundário.

4 investigadores

Quatro investigadores do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente estiveram embarcados em expedições oceanográficas no Oceano Atlântico e Oceano Austral, com o objetivo de estudar os processos biogeoquímicos do oceano.

foto de grupo com mulheres homenageadas

O quarto volume do livro “Mulheres na Ciência”, editado pela Ciência Viva, conta com retratos de 101 cientistas portuguesas de diferentes gerações e áreas do conhecimento científico, onze delas investigadoras na Ciências ULisboa.

4 pessoas em frente de uma tela de apresentação

No âmbito da UC “Voluntariado Curricular”, realizaram-se no passado dia 19 de janeiro as apresentações dos projetos dos alunos. Esta UC promove a formação e o desenvolvimento pessoal dos estudantes, sensibilizando-os para as temáticas da solidariedade, tolerância, compromisso, justiça e responsabilidade social.

Henrique Leitão e José María Moreno

Henrique Leitão e José María Moreno Madrid, investigadores do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia (CIUHCT) ​​​​​​ganham (em ex-aequo) o prémio Almirante Teixeira da Mota pelo seu livro "Desenhando a Porta do Pacífico. Mapas, Cartas e Outras Representações Visuais do Estreito de Magalhães".

instrumento matemático

Está patente na Fundação Caixa Agrícola Costa Azul, em Santiago do Cacém, “O Cálculo de Ontem e de Hoje”, uma exposição didática concebida pelo Departamento de Matemática da Ciências ULisboa e pelo Museu Nacional de História Natural e da Ciência, em parceria com o Centro de Ciência Viva do Lousal.

alimentos

O programa da Antena 1 intitulado “Os desafios da alimentação sustentável”, que contou com a colaboração da ULisboa, Universidade Nova de Lisboa e Universidade do Algarve, foi lançado a 6 de fevereiro. Envolvido neste projeto esteve Bruno Pinto, investigador do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, polo da Ciências ULisboa.

Maria Manuel Torres

Maria Manuel Torres, professora do DM Ciências ULisboa, é a protagonista do quinto vídeo do projeto “Porquês com Ciência” sobre Matemática e Sustentabilidade.

pessoas numa exposição

A iniciativa “Café Ciências” está de regresso, após uma pausa forçada devido à pandemia. As sessões terão lugar às quartas-feiras, pelas 17h30, na Galeria Ciências, promovendo olhares cruzados sobre a exposição “A Porta do Pacífico: Uma viagem cartográfica pelo Estreito de Magalhães”.

Marta Panão no estudio FCCN

Marta Panão, professora do Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia da Ciências ULisboa, é a protagonista do quarto vídeo do projeto “Porquês com Ciência”, disponível no YouTube da Faculdade. A pergunta “Como pensar a energia nos edifícios do futuro?” está diretamente relacionada com a licenciatura em Engenharia da Energia e Ambiente.

fotografia dos dois premiados

Dois estudantes da Ciências ULisboa receberam, em 2022, Bolsas de Investigação para Doutoramento Maria de Sousa, atribuídas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, em colaboração com a Agência de Investigação Clínica e Inovação Biomédica.

Conceção artística de um buraco negro

Uma equipa internacional, da qual faz parte José Afonso, investigador no Departamento de Física da Faculdade e no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, lançou a hipótese de que os buracos negros poderão ter a resposta para a expansão acelerada do Universo.

vários jovens numa foto de grupo

Leonor Gonçalves, estudante do 1º. ano do mestrado em Estatística e Investigação Operacional, fala sobre a sua missão e partilha a experiência enquanto embaixadora das Carreiras na União Europeia (UE), deixando um apelo aos estudantes da Ciências ULisboa com interesse e dúvidas sobre as carreiras da UE, para que entrem em contacto com ela.

mesa com computador, caneca de café e bloco de notas

A Sociedade Portuguesa de Autores atribuiu o Prémio de Jornalismo Cultural deste ano à jornalista Teresa Firmino, editora da secção de Ciência do jornal Público, e membro do Conselho de Escola da Ciências ULisboa.

frente da reitoria da ULisboa

Entrevista a James McAllister, filósofo e professor no Institute for Philosophy, na Universidade de Leiden, na Holanda, que estará a trabalhar na Faculdade durante este ano letivo como investigador visitante.

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