Formação

"Há estudantes muito bons que chegam à universidade e falham na matemática. É como se houvesse um fosso a meio"

Gehard Dorn, investigador da Universidade de Tecnologia de Graz, diz que é tempo de redesenhar o ensino da matemática

DCI-CIÊNCIAS

Gerhard Dorn, investigador da Universidade de Tecnologia de Graz, na Áustria, veio à Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS) explicar como é que o ensino da matemática pode mudar para produzir melhores resultados numa altura em que qualquer ferramenta de inteligência artificial ou plataforma de mensagens permite aceder às respostas certas para um problema.  "Há que desenhar novos exercícios; e há que pensar como é que se leva os alunos a trabalhar nos exercícios e como é que se usa o tempo das aulas", sugere o investigador que passou por Lisboa para uma ação de divulgação de novos métodos de ensino da matemática que com a denominação Unite! Seed Fund "Fit4Math", que decorreu  no âmbito do programa “Seed Fund for Teaching and Learning”, promovido pela aliança de universidades europeias que dá pelo nome de Unite!.

Isabel Ferreirim, professora do Departamento de Matemática que participou nas sessões de formação e divulgação que decorreram em CIÊNCIAS, enalteceu o potencial desta iniciativa de divulgação de novas ferramentas de ensino que abrange todos os intervenientes que compõem uma sala de aula. "Se na primeira parte, a interação foi feita com alguns docentes, na segunda parte, houve espaço para ouvir o ponto de vista dos alunos. Creio ter sido uma experiência enriquecedora para todos os participantes", referiu a professora. Por sua vez, Gerhard Dorn não parece ter muitas dúvidas de que as "universidades têm de mudar". E é essa a mensagem que também fez passar na entrevista que concedeu a CIÊNCIAS. 

Durante esta sua passagem por CIÊNCIAS referiu a existência de uma barreira entre o escolas secundárias e universidades quando se trata do ensino da matemática. Que barreira é essa?

É uma barreira que os estudantes enfrentam e que está relacionada com o facto de o ensino secundário não os ter preparado para a matemática que vão encontrar na universidade. Há estudantes muito bons no ensino secundário que chegam à universidade e falham (nas aulas na matemática). É como se houvesse um fosso a meio dos dois ciclos de ensino. Nem sempre o ensino secundário ensina coisas que são precisas na universidade. E os professores universitários também não se têm adaptado muito bem às mudanças nas escolas. As escolas mudaram mais rapidamente que as universidades. E as técnicas de matemática ensinadas nas universidades, possivelmente, não serão muito diferentes daquelas que eram ensinadas há 100 ou 200 anos.

São as universidades que têm de mudar, ou serão as escolas secundárias que têm de passar por esse processo?

As duas coisas. A experiência diz-me que há ministérios que consideram que a educação acaba no ensino secundário e encaram o ensino superior como uma coisa totalmente diferente… mas tem de haver diálogo. Podemos tentar saber quantos professores do ensino superior e do ensino secundário comunicam entre eles, e possivelmente vamos ver que há ali um fosso entre pessoas que dão aulas. Deveria haver um meio em que estes interlocutores explicam as coisas em que se vão focar. Tivemos tempos incomuns com a pandemia; os alunos são menos extrovertidos e chegam a ter receio de fazer telefonemas. E isso é um desafio para as universidades que precisam de alunos que se consigam organizar sozinhos ou que coloquem questões, e também que se sintam bem-vindos, coloquem questões e colaborem. Tivemos um projeto anterior relacionado com a ansiedade da matemática, que é algo que existe em vários países e afeta tanto homens como mulheres…

Estamos a falar do célebre medo da matemática?

Sim. Por exemplo, há um teste na semana seguinte, e tenta-se saber como é que alguém se sente naquele momento ou então tenta-se saber os sentimentos gerados quando chega um e-mail com os resultados do teste. Também podemos observar como é que funcionam os trabalhos práticos em diferentes países e quais são as melhores práticas.

São essas melhores práticas que podem ajudar as universidades a mudar?

As universidades têm de mudar. Estamos a viver novos tempos. Os computadores são cada vez mais importantes; é cada vez mais preciso saber programar (com linguagem de informática); estamos na era da Inteligência Artificial. Temos de preparar os estudantes para usarem estas ferramentas digitais. Se calhar já não são necessárias tantas técnicas de álgebra, ainda que seja possível que alguns professores pensem de forma diferente… mas é algo que pressinto quando olhamos para o mercado de trabalho. As competências digitais têm de crescer. Temos de mudar a forma como ensinamos, os tópicos que ensinamos, a forma como universidades e as escolas interagem e a forma como integramos os alunos.

As ferramentas digitais realmente ajudam a aprender ou são apenas mais uma forma de fazer batota em testes e trabalhos de investigação?

É muito importante deixar os estudantes expressarem-se a si próprios. Em vez de se expressarem em termos matemáticos, esses alunos devem poder discutir (temas de investigação ou exercícios). O sistema de ensino que tem dominado baseia-se apenas na leitura e em exercícios. Mas pode haver algo no meio desses dois momentos que está relacionado com resumos e debates com colegas e professores. Acontece que nos tempos da pandemia faltava esse tipo de interação; e os estudantes não sentiam a necessidade de discutir coisas entre eles. No sistema clássico, apresentavam-se exercícios que depois os alunos iam ao acaso mostrar no quadro como resolveram. Isso já não funciona porque pode já haver soluções que vêm dos anos anteriores, ou alguém manda no whatsapp os resultados, e aí copia-se a resposta.

Qual a solução?

Há que desenhar novos exercícios; há que pensar como é que se leva os alunos a trabalhar nos exercícios e como é que se usa o tempo das aulas. Antes era muito eficiente pedir a um aluno ao acaso que resolvesse um exercício e era assim que esse aluno obtinha uma classificação. Mas acho que é melhor usar esse tempo para interagir; usar as tecnologias para poupar tempo, e discutir antes o que não se percebe em vez daquilo que já foi percebido. Pode passar por decompor um problema, tentar ver em que circunstâncias se torna irresolúvel… e até fazer algo parecido com um jogo a partir desse problema, para que haja gosto em fazê-lo. Os estudantes precisam de se expressar mais e para isso têm de ser mais estimulados, para que sejam levados a falar e a colocar questões e a pensar em determinadas coisas. Há coisas que podem ser feitas…

Quer terminar com algum exemplo?

Sim. No primeiro dia de aulas, podemos dizer para os alunos olharem para a esquerda e para a direita e simplesmente se apresentarem e dizerem quem são. É uma técnica pequena que ajuda a quebrar o gelo… mas já ouvi histórias de professores que fazem isso e depois avisam que é a última vez que vão ver os colegas de aula que acabaram de conhecer, pois todos vão desistir porque a disciplina é mesmo difícil. Isto é o oposto do que deve ser feito para gerar uma cultura estudantil benéfica.

Hugo Séneca - DCI CIÊNCIAS
hugoseneca@ciencias.ulisboa.pt
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