Seminário no âmbito da Unidade Curricular de Bioestatística, por Carolina Pestana (Fundação Champalimaud & Centro de Estatística e Aplicações da Universidade de Lisboa).
Ao longo dos anos, registaram-se melhorias significativas no campo oncológico. Estamos atualmente a caminhar para uma medicina mais orientada para o paciente, com o objetivo de monitorizar e acompanhar constantemente a evolução da condição de cada doente. No caso particular do Mieloma Múltiplo, sabemos que pacientes com prognósticos semelhantes podem apresentar outcomes heterogéneos. Isto indica que os mecanismos prognósticos atuais, embora úteis, não são suficientemente precisos. Neste sentido, o estudo de vesículas extracelulares surge como um mecanismo de prognóstico e acompanhamento dos pacientes. Neste projeto, baseado num total de 102 pacientes monitorizados durante um período mediano de 2 anos e utilizando a variável EVs Cargo (correspondente à proporção proteína:partícula) como representativa das vesículas extracelulares, pudemos provar que, à entrada do estudo, os pacientes que apresentam EVs Cargo > 0,6 µg/108 partículas (alto risco) têm um prognóstico significativamente pior do que os pacientes com EVs Cargo ≤ 0,6 µg/108 partículas (baixo risco). Além disso, foi possível observar que os doentes com SMM de alto risco têm, ao longo do tempo, um prognóstico pior do que os doentes com MM de baixo risco e, em certa medida, até pior do que os doentes com MM de alto risco. Por outro lado, e tendo em conta o ponto de corte estabelecido, foi possível verificar que os doentes que, com o tempo, manifestam uma depleção dos níveis de IgA, níveis elevados de sFLC lambda e um curto tempo em resposta têm maiores chances de apresentar EVs Cargo High e, em consequência, um pior prognóstico. A qualidade do ajustamento do modelo foi verificada pela curva ROC e pela medição da AUC. Além disso, a validade dos resultados obtidos foi verificada pela análise da expressão diferencial de proteínas entre os níveis das variáveis incluídas no modelo, mas também pela comparação de proteínas entre dadores saudáveis e doentes. Através desta abordagem, foi possível não só validar o EVs Cargo como um biomarcador de prognóstico, mas também enquanto mecanismo de acompanhamento dos doentes ao longo do curso natural da sua doença. Embora estes resultados careçam de validação numa coorte maior e seguida durante mais tempo, acreditamos que esta poderá ser uma nova ferramenta a ser utilizada como o primeiro sinal de alarme da deterioração do estado de saúde do doente, permitindo exames mais completos em tais casos.
Palavras-Chave: Modelo longitudinal, análise de sobrevivência, expressão proteica, vesículas extracelulares, mieloma múltiplo.
Transmissão em direto via Zoom.