Entrevista com… Henrique Leitão

“Uma das tarefas principais de um professor é descobrir talento e treiná-lo”

A história das ciências exatas nos séculos XV a XVII corresponde a um dos maiores interesses científicos de Henrique Leitão. A par dos estudos de sempre, o investigador do Centro Interuniversitário de História da Ciência e da Tecnologia e docente da Secção Autónoma de História e Filosofia das Ciências da FCUL também está atento à história do livro científico antigo, colaborando regularmente com a Biblioteca Nacional de Portugal, onde já foi o comissário de várias exposições.
Henrique Leitão, doutorado em Física pela FCUL, em 1998, coordena a comissão científica das Obras de Pedro Nunes, publicou como autor ou editor mais de 15 livros e algumas dezenas de artigos especializados e é membro de várias sociedades científicas e académicas, como a Academia das Ciências de Lisboa, a Academia de Marinha, a Académie Internationale d’Histoire des Sciences, a European Society for the History of Science e a History of Science Society.
Em entrevista, o historiador das ciências refere que “para um professor nada é mais recompensador do que ver alguns dos seus alunos tornarem-se em investigadores de primeiro plano”.

Armando Cortesão, Joaquim de Carvalho e Luís de Albuquerque também foram membros da Académie International d'Histoire des Sciences. O que representa para si a eleição como membro efetivo desta Academia?

Henrique Leitão (HL) - É uma honra enorme, claro. Há mais de cinquenta anos (depois de Cortesão e Joaquim de Carvalho) que nenhum português era distinguido deste modo. Para lá do aspeto pessoal há aqui como que o sinal do retorno de Portugal ao nível mais alto da disciplina, depois do hiato de algumas décadas. A Académie International d'Histoire des Sciences agrupa os mais reputados historiadores de ciência, dos quais só um número muito reduzido é membro efetivo. Esta eleição representa um reconhecimento muito importante do meu trabalho e, como é óbvio, ser reconhecido pelos mais respeitados profissionais do campo é a maior ambição de qualquer estudioso ou cientista.

Em 2008 foi eleito membre correspondant daquela Academia. Descreva estes quatro anos ao serviço daquela sociedade.

HL - A verdade é que não fiz muito para a Académie. A eleição para membro efetivo não tem que ver com trabalho feito para a academia, mas com a carreira e a relevância da produção intelectual.

Manuscrito
O historiador das ciências publicou mais de 15 livros e algumas dezenas de artigos especializados. É membro de várias sociedades científicas e académicas e já foi comissário de várias exposições
Fonte Cedida por Henrique Leitão

É um dos professores do mestrado em História e Filosofia das Ciências. Ensinar é uma das suas paixões? Como é que são os seus alunos?

HL - É um lugar-comum dizê-lo, mas é verdade: o contacto com os alunos obriga-nos a afinar e reapreciar aquilo que julgávamos saber. Tenho tido muita sorte; ao longo dos anos tive um lote notável de alunos, alguns dos quais já vão lançados em carreiras brilhantes. Uma das tarefas principais de um professor (sobretudo ao nível de mestrado e doutoramento) é descobrir talento e treiná-lo. Para um professor nada é mais recompensador do que ver alguns dos seus alunos tornarem-se em investigadores de primeiro plano.

A tese de doutoramento do seu aluno Bruno Almeida foi distinguida com o "Prémio Cultura 2012" da Sociedade de Geografia de Lisboa. Anos antes, outra tese de doutoramento de um outro aluno seu, Bernardo Mota, foi galardoada com o “Prix Jeune Historien” da Académie Internationale d'Histoire des Sciences. Em que é que consiste o trabalho de orientação? Quando um aluno seu é premiado o que é que sente?

HL - Antes de mais nada é preciso sublinhar que o mérito destes prémios é totalmente dos alunos. O orientador não faz mais do que isso: orientar. Cada aluno é diferente e por isso não há uma regra geral no modo de supervisionar a investigação. Tento acompanhar de perto o trabalho dos alunos e dar-lhes muita liberdade. No primeiro ano de doutoramento tento ter reuniões semanais com cada aluno; no segundo ano passam a encontros quinzenais, e a partir daí o aluno está lançado e quando nos encontramos é geralmente para ele me explicar algo que eu não sabia. É preciso fazer ao mesmo tempo duas coisas: propor aos alunos metas ambiciosas, e estar preparado para os amparar e animar se eles não as conseguirem atingir às primeiras tentativas. Mas é crucial que o objetivo inicial de um doutoramento seja ambicioso e exigente. É preciso querer fazer uma coisa original e sólida, que cause impacto, que faça diferença.

No caso da história da ciência, uma boa orientação não se reduz aos aspetos técnicos. É uma relação muito mais ampla e tem que ver com a introdução do aluno no mundo da erudição e da "scholarship". Tem que ver com a literatura, a arte, a poesia, a história, etc..

Manuscritos
Os manuscritos de Francisco de Melo  são "documentos muito importantes, mas muito complexos e muito técnicos"
Fonte Cedida por Henrique Leitão

Juntamente com Bernardo Mota tem estudado os trabalhos de Matemática de Francisco de Melo. Com o aparecimento de manuscritos deste famoso português, na Alemanha o ano passado, o vosso trabalho ganhou outra motivação. Como é que está a correr a investigação e quando é que preveem publicar um livro sobre o tema?

HL - Bernardo Mota e eu estávamos interessados nestes textos há já bastante tempo e recentemente ganhámos um projeto FCT (Bernardo é o PI) para traduzir e editar estes manuscritos. São documentos muito importantes, mas muito complexos e muito técnicos. Levantam dificuldades de toda a ordem (linguísticas, matemáticas, conceptuais, etc.). São muito poucos os grupos de investigação no mundo que reúnem a "expertise" necessária para tratar este tipo de materiais.

 As obras de Pedro Nunes continuam a ser um dos seus principais projetos. Os volumes VII e VIII serão publicados este ano? Como é que surgiu o seu interesse por esta personagem da nossa história?

HL - Sim, a publicação das Obras de Pedro Nunes continua a ser uma das minhas ocupações principais, apesar do projeto estar a chegar ao fim. Em certo sentido já chegou ao fim, porque já estão publicados os seis volumes com todas as obras impressas de Pedro Nunes. Este ano sairá o volume dos manuscritos e pouco depois um volume com materiais biográficos. O impacto internacional tem sido tanto que estamos a pensar fazer ainda mais um volume, com uma seleção de textos nonianos, em inglês. Pedro Nunes é - com muita distância - o mais importante matemático da história portuguesa. O meu interesse por Pedro Nunes nasceu quando comecei a ler os seus textos diretamente: fiquei fascinado com as suas ideias e a sua criatividade.

Manuscrito
Henrique Leitão ficou fascinado com as ideias e criatividade de Pedro Nunes, "o mais importante matemático da história portuguesa"
Fonte Cedida por Henrique Leitão

 Dois livros da Coleção História e Filosofia das Ciências, coordenada por si e pela professora Ana Simões, receberam o Prémio de Tradução Científica e Técnica em Língua Portuguesa e uma Menção Honrosa no âmbito do mesmo galardão, ambos atribuídos a Ana Sampaio. No entanto, o encerramento desta coleção foi determinado pelo limitado número de vendas. Pode comentar o assunto?

HL - É uma coleção excelente, produzida com grande qualidade tipográfica e editorial. As traduções de Ana Sampaio são muitíssimo boas - e foram justamente premiadas - mas as de outros tradutores são também excelentes.

Logo à partida a coleção tinha um plano limitado: queríamos publicar entre dez e 20 livros essenciais sobre história da ciência. Foram publicados 14. Não acho que tenha corrido mal e estou muito contente com o resultado. Mas sim, claro que queríamos mais vendas.

O que é que ainda não estudou e gostaria de estudar?

HL - A história científica de Portugal é ainda um campo com muitas zonas que não se conhecem. O século XVII, por exemplo, é praticamente desconhecido. Ou o período medieval. Recentemente comecei a estudar os trabalhos de Rolando de Lisboa, um interessante matemático português do século XV, ainda ignorado na historiografia. Há muitos outros ainda para estudar.

Mas para falar mais pessoalmente, tenho tido muitas propostas e desafios de colegas e grupos de investigação estrangeiros e no futuro penso dedicar-me a projetos mais internacionais.

De que forma é que a História e a Filosofia das Ciências podem contribuir para o progresso da Universidade de Lisboa e do País?

HL - O progresso de uma universidade (e, como consequência, do País) depende sobretudo da capacidade de criar, estimular, reconhecer e manter entre os seus docentes e investigadores um número significativo que seja de topo internacional nas suas respetivas especialidades. Embora o trabalho de todos seja importante, estes investigadores de topo são os que dão relevo a uma instituição de ensino superior. Deste ponto de vista a Universidade de Lisboa tem ainda um longo caminho a percorrer. O facto de existir no seio da Universidade de Lisboa um pequeno grupo de história da ciência, internacionalmente muito bem conhecido e de referência, acho que ajuda a este objetivo.

Ana Subtil Simões, Gabinete de Comunicação, Imagem e Cultura da FCUL
info.ciencias@fc.ul.pt

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O Cybersecurity Executive Program, um curso de cibersegurança direcionado para executivos e decisores de organizações públicas e privadas, civis e militares, inicia-se no próximo dia 29 de março de 2022, no formato online, com uma duração total de 25 horas. As inscrições já abriram.

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O cientista José Alberto Quartau escreve um artigo em homenagem ao grande entomologista e lendário biólogo evolucionista, muitas vezes apelidado de novo Darwin e também pai da Biodiversidade, visto ter sido um dos mais apaixonados e eloquentes defensores da diversidade biológica deste planeta.

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Um dos seis novos projetos financiados pelo Programa CMU Portugal no âmbito do concurso da FCT para projetos exploratórios 2021, na área das TIC intitula-se “Agência de Adultos Idosos em Interação Humano-Robot”.

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Trabalho de investigação liderado por grupo da Universidade de Barcelona, que conta com contribuições de quatro investigadores do IDL Ciências ULisboa, encontra evidências de ocupação Neandertal mais recuada e prolongada no tempo.

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Equipa de investigadores portugueses a trabalhar no German Cancer Research Center desenvolvem técnica pioneira para o tratamento com protões do cancro da próstata.

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Em 2021 a Ordem dos Engenheiros (OE) celebrou 85 anos e 152 anos enquanto associação representativa destes profissionais portugueses. Durante as comemorações, esta sociedade pública profissional distinguiu Ciências ULisboa com o Troféu OE pelo centenário da criação da licenciatura Engenharia Geográfica/Geoespacial, um dos 12 que foram atribuídos durante a Gala 85 Anos OE.

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“O equilíbrio entre o pensamento holístico e o pragmatismo experimental, entre a intuição e a dedução, é difícil de atingir. A educação é o terreno próprio para não recearmos essa viagem”, escrevem Rui Malhó e Helder Coelho, a propósito da obra “Complexidade: implicações e políticas globais”, apresentada recentemente na Fundação Calouste Gulbenkian.

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Vigésima rubrica Radar Tec Labs, dedicada às atividades do Centro de Inovação da Faculdade. A empresa em destaque é a Shift.

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A equipa de natação da AEFCL conquistou nove medalhas num total de 24 provas no Campeonato Nacional Universitário de Natação em Piscina Curta. A AEFCL conseguiu a sua melhor classificação de sempre nestes campeonatos.

 albatrozes-de-sobrancelha

Um estudo liderado por um estudante do doutoramento em Biologia e Ecologia das Alterações Globais sobre a influência da temperatura da água do mar nos “divórcios” de uma população de albatrozes demostrou, pela primeira vez, uma influência direta do meio ambiente nas taxas de separação desta espécie monogâmica.

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“O esforço contínuo em inovar e cruzar saberes vale sempre a pena”, diz a cientista Maria Amélia Martins-Loução, distinguida com o Grande Prémio Ciência Viva 2021.

Brochuras e outros brindes

"A comunicação gera representações sociopsicológicas que são usadas para diferenciar, reconhecer e memorizar os seus bens, produtos e serviços, tornando-os singulares." Mais uma rubrica em jeito de editorial, da autoria de Ana Subtil Simões, editora da Newsletter de Ciências.

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"A Matemática serve para fazer magia", comenta Maria Manuel Torres, professora do Departamento de Matemática, a propósito da sessão sobre investigação em Matemática pura, realizada no âmbito do "Encontro com o Cientista", uma inicativa do Pavilhão do Conhecimento - Escola Ciência Viva. A Faculdade recebeu a visita de cerca de 45 alunos, com cerca de 10 anos, acompanhados pelas suas professoras e auxiliares, assim como por técnicos da Ciência Viva.

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