Artigo na Behavioral Ecology and Sociobiology

O que ganhamos ao dormir em conchinha? Lições de um pequeno mamífero

Ajuntamentos? Os musaranhos podem, e não é só quando o frio aperta!

musaranho-de-dentes-brancos

O musaranho-de-dentes-brancos utiliza a termorregulação social para conservar o calor corporal

Ana Cerveira / CESAM

Investigador do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) polo da Ciências ULisboa lidera descoberta sobre o comportamento social do musaranho-de-dentes-brancos. “Social thermoregulation in Mediterranean greater white-toothed shrews (Crocidura russula)” é o título do artigo publicado em outubro deste ano, no 75º volume da revista Behavioral Ecology and Sociobiology.

O estudo - financiado pela FCT e realizado em colaboração com a empresa Parques de Sintra – Monte da Lua - é resultado do trabalho de colaboração entre cinco coautores: Flávio G. Oliveira, recém-doutorado em Biologia e Ecologia das Alterações Globais pela Ciências ULisboa; Rita I. Monarca, investigadora pós-doutoral no CESAM Ciências ULisboa desde 2026; Leszek Rychlik, professor da Faculdade de Biologia da Universidade Adam Mickiewicz de Poznań, na Polónia; Maria da Luz Mathias, professora do Departamento de Biologia Animal e Joaquim T. Tapisso, antigo aluno da Faculdade, técnico superior do DBA Ciências ULisboa desde 2017 e colaborador do CESAM Ciências ULisboa.

No inverno, as pessoas procuram estratégias que permitam conservar o calor corporal. Passa-se mais tempo no interior de casa e usa-se roupa mais quente para sair à rua. Os restantes mamíferos usam estratégias semelhantes. Muitos reduzem a atividade para evitarem a exposição às baixas temperaturas, outros ganham uma camada de pelagem e gordura mais espessas para obterem um maior isolamento térmico. Uma outra forma de conservar o calor durante o inverno é através do ajuntamento de vários indivíduos. Indivíduos de espécies que são predominantemente solitárias, isto é, cujos indivíduos vivem a maior parte do tempo sozinhos, acabam por se juntar em abrigos durante os meses mais frios de forma a conservar o calor. Esta estratégia de ajuntamento é cientificamente apelidada de termorregulação social e era o que se acreditava acontecer com o musaranho-de-dentes-brancos.

Estudos realizados na Suíça, há cerca de três décadas, mostram que, no inverno, os musaranhos-de-dentes-brancos partilham o seu território com vários indivíduos da mesma espécie e juntam-se no mesmo abrigo, quando não estão ativos, para se aquecerem e conservarem energia. Durante a época de reprodução, machos e fêmeas formam casais monogâmicos que excluem outros indivíduos do seu território partilhado. Estes estudos sugerem que esta espécie só utiliza a termorregulação social nos meses mais frios do ano.

O grupo de investigadores deste estudo conseguiu demonstrar que os relacionamentos sociais não são exclusivamente determinados pela termorregulação e que a termorregulação social traz benefícios para os musaranhos, para além da economia de energia.

Três musaranhos-de-dentes-brancos a partilharem um abrigo
Três musaranhos-de-dentes-brancos partilham um abrigo
Fonte Flávio Oliveira / CESAM

Para esta investigação, foram capturados musaranhos selvagens no Parque Natural de Sintra-Cascais em duas estações do ano, no inverno e no verão. Depois, foram transportados para um biotério e divididos em grupos de seis indivíduos para que o seu comportamento social pudesse ser observado. Mais tarde, foi medido o consumo de oxigénio dos diferentes grupos de indivíduos para avaliar a poupança de energia durante a termorregulação social.

No decurso da observação, os investigadores registaram alguns comportamentos curiosos. O responsável pelo estudo, Flávio Oliveira, diz que os indivíduos se juntam no mesmo abrigo no inverno, mas, surpreendentemente, também se ajuntam no verão. “No inverno a partilha de abrigos é motivada pela poupança energética pois quanto mais animais ocupam o mesmo abrigo, menor o consumo de oxigénio; no verão, a poupança energética só se verificou em ajuntamentos até três animais, não se tendo verificado a mesma poupança em ajuntamentos com mais de três musaranhos”, explica.

O grupo de investigadores conclui que a termorregulação social traz mais benefícios energéticos para os musaranhos no inverno do que no verão. No entanto, a aglomeração de indivíduos também ocorre em temperaturas quentes, quando os benefícios energéticos já não são significativos. Estas observações sugerem que os ajuntamentos trazem benefícios para os musaranhos para além da economia energética. A interação social entre os indivíduos também influencia a massa corporal, a alimentação e o torpor diário - estratégia de conservação de energia, que consiste na redução do metabolismo e da temperatura corporal dos indivíduos durante um curto período de tempo. “Esta estratégia foi usada com mais frequência quando os musaranhos estavam isolados, ou seja, é provável que a termorregulação social compense a poupança energética que advém do torpor, e não seja necessário recorrer a essa estratégia”, esclarece Joaquim Tapisso.

Uma outra observação que o grupo registou relaciona-se com a competitividade entre os indivíduos da espécie. Observaram que há uma grande competitividade por alimento no inverno, durante os primeiros dias após os musaranhos se juntarem, um comportamento que não se verificou no verão. “Parece contraditório que a estação do ano em que mais se esperava que a socialidade fosse superior seja também aquela em que se observa mais competição”, afirma Rita Monarca.

“É sempre interessante estudar o comportamento das espécies que vivem perto de nós e apercebermo-nos que o conhecimento existente noutros contextos não se replica na nossa realidade próxima.” Maria da Luz Mathias

A equipa de investigação admite que a discrepância entre resultados poderá dever-se às diferenças na competitividade e nas condições ambientais entre Portugal e a Suíça. Na Suíça, os invernos são mais frios e chuvosos, o alimento não é tão abundante, e esta espécie enfrenta competição de outras espécies de musaranhos pelos recursos disponíveis. Assim, a reprodução ocorre apenas na primavera e verão. Em Portugal, as condições climáticas são relativamente mais estáveis, a espécie é o musaranho dominante em praticamente todos os habitats, e reproduz-se durante quase todo o ano. É provável que o comportamento social reflita estas diferenças e seja menos variável ao longo do ano em habitats onde as condições ambientais são mais constantes.

Os investigadores consideram que há ainda muito a aprender sobre as respostas ecológicas e comportamentais dos animais face às condições ambientais, nomeadamente de que forma o comportamento social da espécie irá alterar tendo em conta o fenómeno das alterações climáticas.

CESAM com ACI Ciências ULisboa
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt
Mar

Qual o impacto das poeiras provenientes do Sahara na produtividade marinha do Oceano Atlântico tropical, particularmente nos coccolitóforos (fitoplâncton calcário)? Esta é a principal questão que irá marcar o trabalho de Catarina Guerreiro, investigadora do MARE.

pilhas de compostagem

O compostor da FCUL foi inaugurado há pouco mais de um ano, em 27 de novembro de 2016, numa parceria entre a HortaFCUL, o Gabinete de Segurança, Saúde e Sustentabilidade da FCUL e o cE3c - Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais.

Gabriella Gilli

Gabriella Gilli, investigadora do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, pretende usar um novo modelo teórico tridimensional, análogo ao que é usado para descrever a atmosfera de Vénus, para antecipar as futuras observações de exoplanetas quentes de tipo terrestre.

Vladimir Konotop

Nesta fotolegenda destacamos uma passagem da entrevista com o físico Vladimir Konotop e que pode ser ouvida no canal YouTube e na área multimédia deste site.

Bernadette Bensaude-Vincent

A ULisboa atribui a 2 de março o título de doutor honoris causa a Bernadette Bensaude-Vincent, por proposta da Faculdade de Ciências, homenageando uma personalidade de grande relevo cientifico com relações estreitas com o contexto científico português, demonstrando publicamente quanto lhe deve e quanto se sente honrada por lhe poder conceder este titulo.

Biblioteca com alunos

A entrada na faculdade é muito mais do que a transição para uma nova etapa académica, é o início de uma aventura no próprio desenvolvimento, onde se passa de jovem a adulto. Esta fase acarreta desafios para o próprio e nas relações com os outros, ficando este jovem adulto entre o medo e o desejo de crescer com tarefas académicas, sociais, pessoais e vocacionais para fazer face, simultaneamente.

Campus de Ciências

Dois investigadores do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais receberam bolsas europeias Marie Sklodowska-Curie para desenvolver investigação nos próximos dois anos.

Concorrentes

A semifinal aconteceu a 17 de fevereiro, a final nacional a 12 de abril e a final internacional entre 5 e 10 de junho. Em Ciências foram apurados quatro finalistas, estudantes da ULisboa nos cursos de Física, Biologia, Engenharia Química e Matemática Aplicada e Computação.

Carlos Mateus Romariz Monteiro

Faleceu a 9 de fevereiro de 2018, com 97 anos, Carlos Mateus Romariz Monteiro.

Pessoa sentada junto a uma mesa

Passamos, quer no trabalho como em momentos de lazer, longos períodos sentados. Estar sentado é um descanso! Mas, será mesmo assim?

João Martins

O que fazem e o que pensam alguns membros da comunidade de Ciências? O Dictum et factum de fevereiro de 2018 é com João Martins, técnico superior do Departamento de Física de Ciências.

A cooperação (e colaboração) científica apoia-se sempre em ensinar e aprender (dar e receber), num registo de amizade e humildade, de motivação e de empolgamento. A paridade é fundamental, tal como o “foco e simplicidade”, a relevância e a utilidade (Steve Jobs).

João Carlos Marques, professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra é o novo diretor do MARE, sucedendo no cargo Henrique Cabral, professor do Departamento de Biologia Animal de Ciências.

A iniciativa possibilita aos estudantes a recolha de informação sobre diversas áreas do saber das 18 escolas da Universidade de Lisboa.

Ciências presta homenagem a Dmitri Ivanovich Mendeleev a 8 de fevereiro de 2018, data em que se assinala o 184º aniversário do seu nascimento. Nesse dia, 118 alunos do 9.º ano do Colégio de Santa Doroteia, em Lisboa, visitam a tabela periódica existente neste campus universitário.

O artigo “The Little Ice Age in Iberian mountains” publicado em fevereiro de 2018 na Earth-Science Reviews caracteriza com maior precisão o último grande evento frio do hemisfério norte, de acordo com comunicado de imprensa emitido esta quinta-feira.
A Little Ice Age (LIA) ou a Pequena Idade do Gelo ocorreu aproximadamente entre 1300 e 1850 e afetou as comunidades dos Pirenéus. Os resultados desta investigação está a ter algum impacto em Espanha.

Pormenor da capa do livro

“Ao contrário do que aparentava no início deste projeto, foi relativamente fácil dar um ritmo de arte sequencial (banda desenhada) ao argumento.

A 2.ª edição do mestrado em Gestão e Governança Ambiental da Faculdade de Ciências da Universidade Agostinho Neto (FCUAN) deverá arrancar no último trimestre do ano letivo 2018/2019 e contará novamente com o apoio de Ciências. Na 1.ª edição 16 estudantes concluíram com sucesso os programas de estudo.

Cinquenta alunos do 4.º ano do Colégio Colibri, de Massamá, foram cientistas por um dia nos Departamentos de Biologia Animal e Biologia Vegetal.

Quando João Graça Gomes iniciou o estágio “Cenarização Sistema Elétrico 100 % Renovável em 2040”, com a duração de um ano, no Departamento Técnico da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), sob a orientação de José Medeiros Pinto, engenheiro e secretário-geral daquela associação, quis “dar o melhor e mostrar a qualidade do ensino de engenharia na FCUL”. O ano passado foi distinguido com um dos prémios de maior destaque da engenharia nacional.

João Graça Gomes, engenheiro do Departamento Técnico da APREN e mestre em Engenharia da Energia e do Ambiente, foi galardoado com o Prémio - Melhor Estágio Nacional em Engenharia Eletrotécnica da Ordem dos Engenheiros.

Nesta fotolegenda destacamos uma passagem da entrevista com o climatologista Ricardo Trigo e que pode ser ouvida no canal YouTube e na área multimédia deste site.

Por forma a gerir a ansiedade de uma forma mais eficaz antes dos momentos de avaliação são propostas algumas estratégias que não eliminam a ameaça mas podem ajudar a lidar de um modo mais eficaz com a ansiedade.

O que fazem e o que pensam alguns membros da comunidade de Ciências? O primeiro Dictum et factum de 2018 é com Marta Daniela Santos, responsável pelo Gabinete de Comunicação do cE3c – Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais.

Ciências será o palco de uma eliminatória regional do Famelab 2018, um dos maiores concursos internacionais de comunicação de ciência.

Páginas