Faltam quase dois anos, mas Alice Nunes, professora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS), já tem uma ideia bem precisa daquilo que vai estar a fazer entre 31 de agosto e 4 de setembro de 2027. “O nosso consórcio apresentou uma candidatura para Lisboa ser a cidade anfitriã da 12ª Conferência Mundial de Restauro (SER2027) e foi escolhido durante um processo exigente, entre várias candidaturas!”, responde a investigadora que é um dos rostos da proposta portuguesa e da organização da futura SER2027.

A SER2027 vai chegar a Portugal com o estatuto de maior conferência do mundo especializada no debate e partilha de informação sobre restauro de ecossistemas. A conferência realiza-se a cada par de anos, tendo sido escolhida a cidade de Lisboa para a organização do evento de 2027, depois de uma edição realizada recentemente em Denver, Estados Unidos da América. A edição que se vai realizar em Lisboa tem como lema: Restoration in Motion: From Land to Sea, Knowledge to Action.

“É uma conferência científica com especialistas de vários continentes, mas também gostávamos de contar com a participação de representantes de empresas, reguladores, governos, organizações não governamentais ou associações”, informa Alice Nunes.

A candidatura para a organização da SER2027 foi apresentada por um consórcio que junta a Universidade de Lisboa, a Sociedade Portuguesa de Ecologia (SPECO) e a delegação europeia da Sociedade para o Restauro Ecológico (SER-Europe). Além da liderança encabeçada pela Universidade de Lisboa, a iniciativa garantiu o apoio do Ministério do Ambiente e Energia, do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), do Governo Regional dos Açores e da Câmara Municipal de Lisboa.

Alice Nunes lidera os trabalhos, mas também conta com a participação de Cristina Branquinho, professora de CIÊNCIAS, e de Patrícia Rodríguez González, professora e investigadora do Instituto Superior de Agronomia (ISA) nas funções de coordenação. Em 2024, CIÊNCIAS e ISA fizeram história ao estrearem o primeiro mestrado de restauro ecológico em Portugal. 

“Estamos a meio da década que as Nações Unidas consagraram para o Restauro dos Ecossistemas e em plena implementação do Regulamento do Restauro da Natureza na União Europeia. Esta é uma altura muito oportuna para receber esta conferência”, sublinha Alice Nunes. “Temos como objetivo trazer os principais especialistas mundiais desta área, garantindo a representação de várias geografias. Além disso contamos ter uma participação reforçada de especialistas nacionais”, acrescenta a especialista em restauro do ecossistema que também tem vindo a fazer carreira como investigadora do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (CE3C).

A Conferência deverá realizar-se no Centro de Congressos de Lisboa, com uma participação prevista de cerca de 1500 pessoas. Alice Nunes recorda ainda que, depois de se conhecer a escolha de Lisboa para a realização da SER2027, “várias entidades nacionais e internacionais manifestaram o interesse em apoiar este evento”.

Das dunas da Costa de Caparica às florestas que arderam na Serra da Estrela, não faltam exemplos de projetos de restauro de ecossistemas em Portugal. De resto, o projeto ReDuna, que contou com o apoio da Câmara de Almada na reabilitação de dunas da Costa de Caparica, é um dos exemplos bem-sucedidos dos tempos mais recentes. Além da recuperação de habitats e espaços naturais, as intervenções de restauro podem ter em vista a resiliência de explorações agrícolas, a qualidade de vida em áreas urbanas ou até medidas que visam a reabilitação de pradarias marinhas que servem de habitat a diferentes espécies. 

“A escolha de Lisboa reflete não apenas a qualidade científica da candidatura, mas também o papel crescente de Portugal no domínio do restauro ecológico. O País distingue-se pela diversidade dos seus ecossistemas – dos montados e estepes do Alentejo às montanhas da Serra da Estrela, das zonas húmidas do Tejo, da Ria Formosa e da Ria de Aveiro às manchas de floresta Laurissilva dos Açores, passando por soluções inovadoras em meio urbano – onde decorrem projetos de referência”, explica o CE3C num comunicado recente.

A recuperação de ecossistemas pode implicar a introdução de espécies animais ou vegetais – mas também pode contemplar a remoção de espécies invasoras, alterar o uso dado a um determinado terreno, ou simplesmente eliminar uma perturbação e deixar passar o tempo para que a Natureza recupere por si só. “Nem sempre é necessária uma intervenção musculada. Por vezes, basta ajustar a gestão que se faz de um determinado espaço”, conclui Alice Nunes.