Miguel Centeno Brito, 48 anos
Investigador/Professor no Instituto Dom Luiz / Ciências ULisboa
Doutoramento na Universidade de Oxford
Licenciatura em Física no Instituto Superior Técnico
Miguel Centeno Brito (IDL - Instituto Dom Luiz / Ciências ULisboa) é professor de energia solar e energias renováveis em Ciências ULisboa e, enquanto investigador, dedica-se a fazer perguntas na área de sistemas sustentáveis de energia, em particular energia solar fotovoltaica. “A grande pergunta é de que forma é que podemos fazer a transição energética para uma sociedade mais limpa, mais justa e mais inclusiva”, diz-nos. Os temas das alterações climáticas, a saúde e a resiliência a pandemias como a que estamos a atravessar, a ameaça à biodiversidade ou das desigualdades no mundo são os que mais o preocupam e que aponta como os grandes desafios futuros da ciência. É também por isso – e por ter a sua atividade movida pela “vontade de ajudar a mudar o mundo para melhor”, que integra a SOS Racismo, “uma organização anti-racista que combate as muitas formas de racismo na sociedade em que vivemos”. No tempo que lhe sobra, dedica-se... “a aprender mais sobre o mundo, visto pelos olhos de uma criança de (agora) 6 anos”.
Que trabalho de investigação desenvolve?
Miguel Centeno Brito (MCB) – Sou professor de energia solar e energias renováveis no DEGGE - Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia e a área de investigação é sistemas sustentáveis de energia, sobretudo energia solar fotovoltaica, no IDL – Instituto Dom Luiz.
Que respostas pretende encontrar com a sua investigação?
MCB - Todos os dias temos perguntas novas para explorar. A grande pergunta é de que forma é que podemos fazer a transição energética para uma sociedade mais limpa, mais justa e mais inclusiva.
Quais são para si os grandes desafios da ciência para as próximas décadas?
MCB - O grande objetivo da ciência é, como sempre foi, compreender melhor o mundo que nos rodeia.
Há contudo desafios societais urgentes que a ciência e a tecnologia podem ajudar a enfrentar como por exemplo as alterações climáticas, a saúde e a resiliência a pandemias como a que estamos a atravessar, a ameaça à biodiversidade ou as desigualdades no mundo.
Para isso, a ciência e os cientistas precisam de travar a erosão da sua legitimidade, que se tem aprofundado com os movimentos populistas em algumas partes do planeta. A ciência não é opinião. Recuperar o valor da autoridade científica é uma batalha imensa e difícil.
Um outro grande desafio é a necessidade de reforma do modo como hoje se faz ciência. É preciso ultrapassar a obsessão com as métricas de publicações, a competição desenfreada por fundos que nos faz passar mais tempo a propor projetos do que a realizá-los, assim como esvaziar o modelo económico das grandes editoras que controlam as publicações científicas.
Uma sugestão para quem nos lê (leitura / audição / visualização)...
A minha estante insiste que eu sugira livros sobre a transição energética e alterações climáticas e o meu desktop recomenda pdfs sobre epidemiologia e os seus modelos matemáticos. Como não me consigo decidir, aqui vai algo completamente diferente: "The Slow Professor", um livro de 2016 da Maggie Berg e Barbara K. Seeber que ajuda a refletir sobre como se faz ciência hoje.
Quando não estou a fazer ciência estou a...
… preocupado com a injustiça e o racismo. Sou membro do SOS Racismo, uma organização anti-racista que combate as muitas formas de racismo na sociedade em que vivemos.
… a aprender mais sobre o mundo, visto pelos olhos de uma criança de (agora) 6 anos.
O que o trouxe para a Ciência?
MCB - Sobretudo curiosidade sobre como funciona o mundo. E o desafio de aprender coisas novas. Mais tarde a motivação foi-se gradualmente transformando na vontade de ajudar a mudar o mundo para melhor.
Que conselhos dá aos mais novos que pensam seguir a carreira de investigação?
MCB - Eu costumo dizer que tenho a melhor profissão do mundo porque faço o que mais gosto e ainda me pagam para isso. Mas é importante alertar para as dificuldades que hoje um jovem tem que enfrentar para poder prosseguir com uma carreira científica.
Um dos principais conselhos é sair para conhecer o mundo, trabalhar durante uns anos em laboratórios internacionais e cosmopolitas, e não ficarem por aqui no seu cantinho confortável, sempre com as mesmas pessoas e os mesmos vícios.
* Na rubrica "O que faço aqui?" compilamos entrevistas a investigadores do universo Ciências ULisboa, que nos falam sobre a investigação que fazem, os grandes desafios da ciência mas também de outras paixões que alimentam. Ler todas as entrevistas.