À descoberta da história geológica da ilha de Santa Maria

"Este trabalho vem demonstrar que mesmo ilhas que estão localizadas sobre a crosta oceânica jovem podem sofrer importantes movimentos de uplift"

Imagem de Ricardo Ramalho

Durante seis anos, geólogos, biólogos e paleontólogos, no total, 72 investigadores de diferentes organismos de 17 nacionalidades participaram no projeto “Emergence and Evolution of Santa Maria Island (Azores): biogeographic implications”, destinado a compreender os processos geológicos e a forma como emerge e evolui aquela ilha vulcânica.

Na entrevista que se segue, com os investigadores Ricardo Ramalho, Sérgio Marques e Rui Quartau, do Instituto Dom Luiz saiba mais sobre este projeto.

Scripta manent. O que se escreve, fica, permanece.

A comunicação social escreveu sobre o assunto. As notícias publicadas podem ser consultadas aqui .

Como se traduziu o trabalho de campo?

Ricardo Ramalho (RR) - O trabalho de campo desenrolou-se ao longo de várias campanhas entre 2009 e 2014, tanto em terra como ao longo da costa. Durante estas campanhas procedeu-se à documentação - com o máximo pormenor possível -, da sequência estratigráfica da ilha e suas unidades principais. Em particular, da posição relativa do nível médio das águas do mar durante cada uma dessas fases. Recorreu-se igualmente ao uso de fotografia aérea (em estereoscopia) e modelos digitais de terreno de alta resolução para analisar a geomorfologia da ilha, validando posteriormente as observações no campo com o auxílio de técnicas como o GPS diferencial e a utilização de distanciómetros laser para determinar, o mais rigorosamente possível, a altimetria de cada um desses marcadores de nível do mar relativo.

Quais as principais dificuldades sentidas?

RR - O acesso a troços mais inacessíveis da costa como posições intermédias em arribas verticais ou locais de desembarque difícil.

Que importância científica consideram que o trabalho tem, para a área científica em que insere?

RR - Este trabalho vem demonstrar que mesmo ilhas que estão localizadas sobre a crosta oceânica jovem (e que por isso deveriam estar a sofrer subsidência rápida) podem sofrer importantes movimentos de uplift (a escala do tempo geológico), relacionados com processos de crescimento interno profundo. Este trabalho sugere assim que a atividade magmática poderá continuar muito para além da cessação do vulcanismo à superfície, tal como os movimentos de soerguimento (uplift) em Santa Maria sugerem.

Sérgio Marques (SM) - Uma consequência indireta mas muito importante do conhecimento detalhado da história geológica de Santa Maria tem a ver com a sua importância para os estudos relacionados com os fenómenos de evolução e especiação (marinhos e terrestres) em ilhas vulcânicas oceânicas. Em particular, para os organismos terrestres tem profundas implicações, uma vez que a primeira ilha de Santa Maria terá sido totalmente erodida por ação do mar, tornando-se num grande monte submarino. Assim, a data a utilizar como referência para estudos terrestres de âmbito evolutivo (ex., genética, biogeografia) terá de ser a da segunda ilha de Santa Maria, a qual terá ficado emersa por volta dos 4,1 milhões de anos.

O paper "Emergence and evolution of Santa Maria Island (Azores)" pode ser consultado aqui.

Qual a sua aplicação prática?

RR - Este trabalho não tem uma aplicação prática direta, mas o conhecimento que gera é importante para a nossa compreensão da origem e evolução de ilhas vulcânicas. Uma compreensão mais completa de quando e como a Ilha de Santa Maria emergiu e evoluiu é igualmente importante para a nossa compreensão do arquipélago dos Açores e seu contexto geodinâmico. De um modo indireto este trabalho apresenta também implicações importantes no campo da paleobiogeografia do Atlântico Norte.

Sérgio Marques- Parte do conhecimento científico resultante deste e doutros trabalhos de investigação têm tido aplicação prática imediata, nomeadamente na produção de conteúdos para a "Casa dos Fósseis", um Centro de Ciência inaugurado em Setembro de 2016, bem como na produção de conteúdos para a "Rota dos Fósseis", uma série de quatro trilhos terrestres e uma rota marinha dos fósseis, que possibilitam a visitação turística de jazidas fósseis em Santa Maria, duas delas consideradas como geossítios de relevância internacional.

Quais os principais resultados alcançados?

RR - Este trabalho mostra que a Ilha de Santa Maria emergiu acima das águas do mar há cerca de seis milhões e anos, formando uma primeira ilha que acabou por ser de novo submersa por erosão e subsidência por volta dos cinco, quatro milhões de anos. Seguidamente, a ilha reemergiu por ação da atividade vulcânica, continuando a sofrer subsidência até que por volta dos 3,5 milhões de anos o vulcanismo começou a diminuir de intensidade (até terminar aos 2,8 milhões de anos) e a ilha iniciou um trajeto de uplift que se estendeu até ao presente. Esta reversão de subsidência para uplift, aproximadamente contemporânea com o fim da atividade vulcânica, sugere que a ilha passou a crescer por processos internos associados à intrusão de magma em profundidade.

O que mais vos surpreendeu?

RR - O facto do início do uplift essencialmente se dar na fase terminal do vulcanismo, e continuar lenta mas inequivocamente para além desta fase e praticamente até aos dias de hoje (não é possível afirmar categoricamente que este movimento continua atualmente).

Quais são os passos seguintes?

RR - No caso da ilha de Santa Maria passa por olhar para a parte imersa (para a qual, na altura, não tínhamos quase dados nenhuns) e integrar esses dados com os dados existentes (baseados essencialmente no registo geológico da parte emersa), para poder contar uma história mais completa e detalhada da evolução da ilha. Outro passo a tomar passa por testar, com base em métodos geofísicos, modelação numérica, e/ou dados petrológicos, o modelo de uplift por crescimento interno. Finalmente é necessário igualmente olhar para outras ilhas e contextos, para se compreender melhor os fenómenos que estão na origem do uplift de ilhas vulcânicas.

Rui Quartau - [O]projeto PLATMAR [iniciado em 2016 e com fim previsto para 2018], financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia pretende dar seguimento a parte da investigação agora publicada sobre a ilha de Santa Maria. Como o Ricardo explicou, o trabalho desenvolvido focou-se na reconstrução dos movimentos verticais da ilha de Santa Maria baseado apenas na observação da ilha emersa. O projeto PLATMAR (Evolução de PLATaformas insulares vulcânicas: A ilha de Santa Maria e implicações para avaliação de riscos, cartografia de habitats e gestão de agregados marinhos) vai mais longe nesse objetivo específico, estudando também a parte imersa da ilha que providenciará evidências adicionais sobre as movimentações verticais já reconhecidas nesta ilha.

Raquel Salgueira Póvoas, Área de Comunicação e Imagem
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt
Trajeto de transferência eletrónica num óxido metálico misto de molibdénio e tungsténio

Os fenómenos de transferência de eletrões são omnipresentes em toda a natureza e em Biologia Molecular representam ainda a “transdução de energia”, isto é o transporte de eletrões através de uma enzima ou proteína. Os resultados desta investigação podem ajudar a melhorar a compreensão de como os eletrões se movem nas junções moleculares em dispositivos eletrónicos, ou na transferência de eletrões em biomoléculas com mediação de espécies metálicas.

Pormenor da conceção artística do interior do futuro telescópio espacial de raios X Athena, da ESA

A componente ótica portuguesa, liderada pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, e que irá integrar o futuro telescópio espacial europeu nos raios X, passou na revisão de requisitos e entra agora na fase de projeto. O IA lidera o conceito e desenho de um sistema de metrologia, ou OBM (do inglês “Onboard Metrology System”), que permitirá orientar com exatidão o espelho do Athena, um telescópio espacial nos raios X, para o sensor de cada um dos dois instrumentos científicos desta missão.

Alunos e professor no campus da Faculdade

A equipa CGD/MATHFCUL ficou classificada em 5.º lugar na final nacional do Global Management Challenge 2020. Exigência foi a palavra escolhida pela equipa para classificar esta experiência. "Fico muito satisfeito e grato pela dedicação e crescimento destes meus alunos", diz João Telhada, professor do DEIO Ciências ULisboa e mentor da equipa.

Mulher esconde rosto com relógio

"O efeito da mudança de hora no consumo de energia é cada vez menos relevante nas nossas sociedades desenvolvidas e, por isso, a avaliação da sua premência deve valorizar sobretudo outros efeitos, como o impacto na saúde, na economia ou no bem-estar dos cidadãos", escreve Miguel Centeno Brito, professor do DEGGE Ciências ULisboa e investigador do IDL.

A distribuição potencial dos continentes no Arcaico e a profundidade do oceano em metros

Mattias Green, professor da Bangor University (BU), no Reino Unido, coorientador de Hannah Davies, estudante do programa doutoral Earthsystems, ganhou uma Bolsa Leverhulme no valor de 245.884,00 £, equivalente a 287.331,58 €, para estudar o clima da Terra no Arcaico, juntamente com João C Duarte, professor do Departamento de Geologia da Ciências ULisboa, investigador do Instituto Dom Luiz e membro da comissão coordenadora do referido programa. 

Pernas de crianças

Inês Lima, Leonor Pires, Mariana Oliveira e Raquel Sales Rebordão, estudantes de Engenharia Biomédica e Biofísica da Ciências ULisboa, classificaram-se em 2. º lugar na 3ª edição do BioMind – Make it in 24 hours! com o produto IMAGI, um projeto que conjuga técnicas de hipnoterapia e realidade virtual com o objetivo de reduzir e controlar a dor crónica em crianças.

Representação de uma bicamada fosfolipídica usada como modelo de uma membrana celular (à esquerda); representação de uma ligação de halogéneo (a amarelo) efetuada entre um átomo de bromo e um átomo de oxigénio de um fosfolípido (à direita)

Investigadores do BioISI Ciências ULisboa conseguiram demonstrar que moléculas halogenadas interagem com membranas biológicas por via de ligações de halogéneo, um fenómeno que pode ser determinante para a eficácia terapêutica de fármacos.

Arame

Mais um artigo do GAPsi Ciências ULisboa. Desta vez a temática é dedicada ao ciclo das relações abusivas.

painéis solares

A 38th European Photovoltaics Specialists Conference - EUPVSEC 2021 realiza-se de 6 a 10 de setembro de 2021, no formato online. João Serra, professor do Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia da Ciências ULisboa, é o chairman da maior e mais importante conferência europeia dedicada à energia fotovoltaica.

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"A Helena era, sem qualquer dúvida, uma das melhores na sua área, no mundo inteiro, e a sua carreira académica estava só a começar", escreve Henrique Leitão, presidente do Departamento de Histórioa e Filosofia das Ciências.

Caneta e números

“A matemática é uma parte essencial do património cultural da humanidade”, dizem Ana Rute Domingos e Maria Manuel Torres, docentes do Departamento de Matemática da Ciências ULisboa, a propósito do Dia Internacional da Matemática, que se celebra a 14 de março.

Miguel Marques de Magalhães Ramalho, vulto destacado da comunidade geológica, que foi vários anos professor catedrático convidado da Ciências ULisboa, faleceu a 8 de março de 2021. "A ele se deve a introdução da conceção moderna de Estratigrafia no curso de Geologia do Departamento, enriquecida por saídas de campo de elevado valor didático", escreve a professora Ana Cristina Azerêdo. Ciências ULisboa apresenta sentidas condolências aos seus familiares, amigos e colegas.

Peixes

O primeiro “Guia de Peixes de Água Doce e Migradores de Portugal Continental” coordenado por Maria João Collares-Pereira, professora da Ciências ULisboa e do cE3c, publicado em 2021, já está à venda. Os peixes de água doce são um dos grupos de vertebrados mais ameaçados em todo o mundo. Portugal não é exceção, com mais de 60% das espécies nativas em risco de extinção.

Vinhas Douro, Portugal

A Comissão Nacional da Organização Internacional da Vinha e do Vinho premiou “The interplay between membrane lipids and phospholipase A family members in grapevine resistance against Plasmopara viticola” com a Distinção CNOIV 2020, atribuído ao melhor trabalho nacional de divulgação, experimentação ou investigação no domínio da viticultura, da autoria de um grupo de investigadores da Ciências ULisboa.

Cristina Santos, Margarida Amaral, Claudina Rodrigues-Pousada, Alexandre Quintanilha, Ana Ponces, Pedro Moradas-Ferreira, Ruy Pinto

É com grande tristeza que informamos o falecimento duma grande mulher cientista, a professora Claudina Rodrigues-Pousada, uma grande mentora de vida na Ciência pelo seu empenho, persistência, foco e determinação.

Joana Carvalho

Joana Carvalho, de 28 anos, investigadora na Fundação Champalimaud, alumna da Universidade de Groningen, na Holanda, e Ciências ULisboa, foi uma das cientistas galardoadas com a 17ª edição das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para Mulheres na Ciência e com uma Individual Fellowships Marie Skłodowska-Curie Actions.

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Décima terceira rubrica Radar Tec Labs, dedicada às atividades do Centro de Inovação da Faculdade. A empresa em destaque é a Lean Health Portugal.

Inês Fragata

Doutorada em Biologia Evolutiva pela Ciências ULisboa e atualmente investigadora de pós-doutoramento no cE3c Ciências ULIsboa é uma das quatro jovens cientistas portuguesas premiadas com as Medalhas e vai estudar a contaminação do solo por metais pesados através do tomateiro e ácaros-aranha.

Pilar com frase

Valorizar o conhecimento é a oportunidade para dar a conhecer um outro Portugal que tantas vezes passa despercebido. O press kit da Faculdade tem uma página de especialistas com 162 nomes e mais de 200 temas científicos. É fundamental que os mass media coloquem a ciência no centro das atenções.

O terceiro meeting científico da ação COST EUTOPIA ocorreu entre 15 e 17 de fevereiro passado.Trata-se de um projeto de colaboração interdisciplinar que explora a importância crescente da topologia em sistemas físicos e biológicos, e no desenvolvimento de novos materiais. Esta ação reúne 29 países e mais de 100 participantes. Portugal está representado em dois dos cinco grupos de trabalho temáticos e Patrícia Faísca é responsável pela liderança de um deles.

Perspetiva dos Valles Marineris de Marte

"Os objetivos destas missões compreendem: a preparação clara de uma futura colónia humana em Marte, e a tentativa de responder à questão se houve vida em Marte", escreve o cientista Pedro Mota Machado.

Pisco-de-peito-ruivo

+Biodiversidade@CIÊNCIAS: Mobilizar a comunidade de Ciências para a promoção da sustentabilidade no Campus” é uma iniciativa do Laboratório Vivo para a Sustentabilidade. Para colaborar neste projeto basta participar nas ações de monitorização, através da plataforma BioDiversity4All ou da app iNaturalist/BioDiversity4All.

Uma pessoa a trabalhar no Centro de Testes

O Centro de Testes (CT) da Ciências ULisboa  atingiu 100% de concordância nas provas a que foi submetido no âmbito do programa mundial de controlo de qualidade da Organização Mundial de Saúde - OMS “WHO Global Round of Laboratory Proficiency Testing” e no Programa Nacional de Avaliação Externa da Qualidade promovido pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).

Logotipo do projeto

A participação no Projeto Lisboa Romana (Felicitas Iulia Olisipo) vem na sequência de vários anos de colaboração entre os geólogos da Ciências ULisboa e várias equipas de arqueólogos que têm por missão o estudo e a salvaguarda do património arqueológico que ocorre durante as escavações associadas a várias obras na região de Lisboa.

Pessoas no topo de uma colina

O Young Leaders Access Program visa ajudar jovens, entre os 18 e os 26 anos, a impactar as suas comunidades. Leia a crónica de Vasco Medeiros, um dos 50 jovens selecionados em 2020 para realizar este programa. As candidaturas à edição de 2021 terminam em março.

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