Opinião

O consumo de eletricidade da faculdade durante o confinamento

Computador

Qual o impacto no consumo de energia no universo da Ciências ULisboa?

Ciências ULisboa
Miguel Centeno Brito
Miguel Centeno Brito
Imagem cedida por MCB

As aulas virtuais reduzem o consumo de eletricidade na faculdade mas aumentam o consumo em casa. Qual será o saldo?

A perturbação da vida social durante estes tempos de confinamento é uma experiência social, uma oportunidade única para testar algumas das hipóteses que normalmente não podemos testar diretamente. Conseguimos perceber por exemplo o impacto da nossa vida habitual na poluição atmosférica urbana ou nas emissões de gases de efeito de estufa. Um outro tema que é interessante explorar é o do teletrabalho. O teletrabalho é usualmente descrito como uma forma eficiente de gerir o tempo e a energia. Relativamente ao tempo, já muito se tem dito e escrito sobre as dificuldades de articulação entre o tempo de trabalho e o tempo familiar, especialmente para quem tem crianças em casa. Neste apontamento vamos avaliar o impacto no consumo de energia no universo da Ciências ULisboa.

Nas escolas do ensino superior o período de confinamento foi caracterizado pela suspensão das atividades presenciais de ensino e investigação, que foram substituídas por aulas e reuniões virtuais. O modelo mais adotado foi a realização de aulas por videoconferência, nomeadamente usando a plataforma Zoom.

Os consumos de eletricidade associados a serviços de streaming têm sido muito debatidos mas podemos estimar, conservadoramente[1], como da ordem de 0.015 kWh/GB  ou, assumindo 1 GB por hora, 0.015 kWh/h. Assumindo que em média um aluno tem 4h diárias de aulas em videoconferência, para o universo da Ciências ULisboa (com 5000 alunos) o consumo de eletricidade associado às aulas da Faculdade é por isso da ordem dos 8.25 MWh/mês.

O consumo dos computadores em si, assumindo portáteis com consumo de 30 W é o dobro, cerca de 16.5 MWh/mês. Tudo somado, temos um consumo adicional da ordem de 25 MWh/mês com as aulas virtuais. O aumento da fatura de eletricidade dos estudantes, assumindo um custo médio de 0.15€/kWh, é de quase 2500€/mês (ou 0.5 €/estudante).

Por outro lado, com aulas em ambiente virtual evitam-se as deslocações físicas à escola. Como muitos estudantes se deslocam à escola em veículos movidos a combustíveis fósseis o impacto das aulas virtuais é certamente positivo, porque estamos a substituir emissões de CO2 nos automóveis por eletricidade com uma fração muito significativa de renováveis, tanto em Portugal como nos locais onde estão os data centres. Para simplificar a análise, vamos assumir que as deslocações de e para a escola são de metropolitano. O consumo de eletricidade marginal dos passageiros do metropolitano de Lisboa[2] é da ordem de 8 passageiro.km/kWh e portanto, se os estudantes se deslocarem em média 10 km por dia para ir e vir da escola, temos mais de 1 milhão de passageiros.km, a que corresponde uma redução no consumo de eletricidade de 137.5 MWh/mês quando se evitam as deslocações. Do ponto de vista financeiro claro que se verifica uma poupança relevante, porque se evita a compra do passe muito mais caro do que o custo do consumo adicional de eletricidade (para quem já tem internet em casa, porque esse sim, é um custo apreciável).

O saldo é, pois, muito positivo, já que o consumo da eletricidade com as aulas virtuais é da ordem de 20% do consumo de eletricidade com a deslocação à escola. A escola também reduz o seu consumo de eletricidade, porque não precisa de iluminar e climatizar as salas de aulas. Uma estimativa preliminar do consumo de eletricidade da Faculdade durante o confinamento[3]  mostra uma poupança de cerca de 12 MWh/mês, uma redução relativa no consumo mensal de eletricidade de 30%, revelando um elevado consumo de base no diagrama de carga da nossa escola.

A nível global, fora dos muros do campus universitário, também se observa uma redução do consumo de eletricidade. O pequeno aumento do consumo no sector doméstico não compensa a abrupta queda de procura nos serviços e indústria. Em Portugal, a REN anunciou[4] uma queda de 13.8% no consumo de eletricidade (e 26% no gás) e um aumento da fração de energias renováveis, cuja produção é menos dependente da procura. O panorama repete-se um pouco por todo o lado, com reduções em torno dos 20%, ultrapassando 25% em Itália (ver figura, IEA[5]), seguido de uma ligeira recuperação com o abrandamento do confinamento.

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Mais informações em https://www.iea.org/reports/covid-19-impact-on-electricity
Imagem cedida por MCB

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Um efeito interessante que se tem observado[6] é uma redução do consumo nas primeiras horas do dia, quando em circunstâncias habituais as pessoas se preparam para sair para ir trabalhar, compensado por um aumento de consumo excecional a meio do dia, com mais pessoas a cozinhar em casa.

Podemos, pois, concluir que, do ponto de vista do consumo de energia, o confinamento trouxe uma redução da procura acompanhada de um aumento relativo da fração de fontes de energia renováveis. Porque uma fração muito elevada de fontes renováveis variáveis (ditas não despacháveis) levanta desafios à gestão da rede, que tem que ajustar a procura e a oferta, o período de confinamento pode ser encarado como um primeiro grande teste à integração de renováveis no sistema elétrico, prelúdio do que se prepara com a transição energética global em curso.

[1] https://www.datacenterknowledge.com/energy/how-much-netflix-really-contributing-climate-change

[2] https://www.metrolisboa.pt/institucional/conhecer/metro-em-numeros/

[3] O consumo de gás natural foi totalmente eliminado durante o período de confinamento porque os edifícios deixaram de ser aquecidos e a restauração encerrou, e o consumo de água diminuiu também significativamente.

[4] https://www.lusa.pt/article/TYIG3ukZoLl_JiD5TJrD1TMSZM5iuSI1/covid-19-consumo-de-eletricidade-cai-12-e-o-de-g%C3%A1s-natural-26-em-abril

[5] https://www.iea.org/reports/covid-19-impact-on-electricity

[6] https://www.bbc.com/news/technology-52331534

Miguel Centeno Brito, Departamento de Engenharia Geográfica, Geofisica e Energia Ciências ULisboa
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt
Margarida Amaral

Margarida Amaral, professora do Departamento de Química e Bioquímica da Faculdade e investigadora principal do grupo de investigação em Fibrose Quística, no BioISI, integra o Conselho de Acompanhamento Científico da Emiliy’s Entourage.

David Moreno, Vicente Miguel e Pedro Gil

A Fundação Calouste Gulbenkian atribuiu Bolsas Gulbenkian Novos Talentos a três estudantes de mérito da Ciências ULisboa das áreas de Matemática, Física e Biologia. David Moreno, Pedro Gil e Vicente Miguel vão participar no desenvolvimento de um projeto de investigação ao longo de um ano.

ilustração SARS-CoV-2

Um novo estudo liderado por Luís Graça, investigador principal Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) e professor catedrático da Faculdade de Medicina da ULisboa, e por Manuel Carmo Gomes, professor associado com agregação da Ciências ULisboa, ambos membros da Comissão Técnica de Vacinação contra a COVID-19 (CTVC) da Direção Geral de Saúde (DGS), publicado em janeiro na revista científica Lancet Infectious Diseases, mostra que a proteção conferida pela imunidade híbrida contra a subvariante de SARS-CoV-2 Omicron BA.5, obtida pela infeção de pessoas vacinadas, mantém-se até pelo menos oito meses após a primeira infeção.

grupo das raparigas e uma pessoa da organização

Estudantes da Ciências ULisboa representaram a Faculdade no Digital Health Summit 2022, um encontro internacional dedicado ao futuro dos cuidados de saúde, promovido pela empresa Premivalor. Os alunos, organizados em dois grupos, apresentaram os projetos “The Golgi Printer” e “Cloudia”, tendo este último ficado classificado em 3.º lugar no concurso de projetos H-INNOVA - Health Innovation HUB, uma empresa de inovação no sector da saúde.

Salão da Academia das Ciências de Lisboa

Em 2022 a Academia das Ciências de Lisboa elegeu para a sua Classe de Ciências novos membros efetivos e correspondentes nacionais. Entre eles estão os professores da Ciências ULisboa Fernando Ferreira, nomeado membro efetivo; João Duarte e Jorge Buescu, nomeados correspondentes nacionais.

salão nobre da Reitoria da ULisboa

Oito professores e investigadores da Ciências ULisboa foram agraciados com prémios e menções honrosas, na edição de 2022 dos Prémios Científicos ULisboa/Caixa Geral de Depósitos (CGD). Errata da notícia publicada em novembro.

vários barcos no mar

Cinco docentes e investigadores do IDL participaram no consórcio do projeto NAVSAFETY, cujo principal objetivo foi o desenvolvimento de uma plataforma digital de auxílio às entidades portuárias na gestão do tráfego marítimo. O projeto, coordenado pela Universidade de Aveiro, e financiado pelo programa Fundo Azul, terminou no mês de setembro.

três pessoas a assinar o protocolo

Ciências ULisboa celebrou um protocolo de cooperação com a Câmara Municipal de Lisboa, através do Regimento de Sapadores Bombeiros e do Departamento de Desenvolvimento e Formação. A assinatura do protocolo decorreu ontem, dia 19 de dezembro, nas instalações da Ciências ULisboa.

Boia na foz do estuário do Tejo

A Rede Portuguesa de Monitorização Costeira (CoastNet) integra o Programa da Década da Ciência dos Oceanos para o Desenvolvimento Sustentável 2021-2030 da Organização das Nações Unidas (ONU) e representa Portugal neste programa da ONU. A CoastNet é uma infraestrutura de investigação do Centro de Ciências do Mar e do Ambiente (MARE), da Ciências ULisboa e da Universidade de Évora.

aves a voar com mar em fundo

Estudo, da autoria de quatro investigadores da Ciências ULisboa, que aborda as alterações ambientais em zonas húmidas e os impactos no habitat de aves limícolas costeiras, foi publicado na revista Science of the Total Environment.

paisagem da caatinga

O Prémio Científico Mário Quartin Graça 2022, na categoria de Tecnologias e Ciências Naturais, foi atribuído a Ana Cláudia P. Oliveira, aluna do doutoramento em Biologia e Ecologia das Alterações Globais na Ciências ULisboa e investigadora do cE3c.

Estepe na Patagónia Argentina

Para avaliar o impacto do pastoreio nas regiões áridas do planeta, uma equipa internacional com mais de uma centena de investigadores, destaque para Alice Nunes e Melanie Köbel, investigadoras do cE3c Ciências ULisboa, aplicou, pela primeira vez, o mesmo método de análise em 25 países de seis continentes.

rua interior à Alameda da Universidade, na Faculdade de Ciências

A 16 de novembro de 2022 foi instalado um sensor de tubo, na entrada da rua de acesso ao edifício C7 (rua interior à Alameda da Universidade), que permite detetar a passagem de bicicletas e trotinetes. Esta instalação insere-se na atividade do projeto europeu Tr @ nsnet – Um modelo de Living Lab Universitário para a Transição Ecológica

Campus da Faculdade

A cerimónia de entrega dos Prémios Científicos ULisboa/Caixa Geral de Depósitos (CGD) 2022, acontece no próximo dia 28 de novembro, pelas 17h30, no Salão Nobre da Reitoria da ULisboa.

grupo de pessoas

Ciências ULisboa coordena projeto europeu Twinning em colaboração com a Universidade de Copenhaga, na Dinamarca, e a Universidade de Tel Aviv, em Israel, e em parceria com a Universidade de Cambridge, no Reino Unido. O objetivo é promover a investigação de excelência e a formação avançada em Bioquímica e Biofísica de Proteínas, com impactos e aplicações em Biomedicina e Biotecnologia.

Ibéria Medeiros

Ibéria Medeiros, professora do Departamento de Informática da Ciências ULisboa, é a protagonista do terceiro vídeo do projeto “Porquês com Ciência”, divulgado no YouTube da Faculdade a 3 de novembro.

estantes com livros e revistas na biblioteca do C4

"September 2022 data-update for 'Updated science-wide author databases of standardized citation indicators'” divulga as bases de dados com os nomes dos cientistas mais citados a nível mundial em 2021 e ao longo da carreira. Estas bases de dados publicadas recentemente pela Elsevier têm o contributo de John Ioannidis, professor da Universidade de Stanford, na Califórnia.

A Faculdade presta homenagem a Carlos Sousa Reis, antigo professor da Ciências ULisboa nos domínios da Ecologia Marinha, Recursos Vivos Marinhos, Pescas e Ordenamento do Litoral.

grande auditório no evento de 2021

“Este é um momento de celebração da qualidade da investigação e da inovação desenvolvidas na Ciências ULisboa, a ocasião ideal para a partilha de conhecimento e para o estabelecimento de colaborações", diz Margarida Santos-Reis, subdiretora da Ciências ULisboa para a área da investigação, a propósito do Dia da Investigação.

José Rebordão, Luís Carriço e Manuel Silva assinam o protocolo

A Faculdade e a FCiências.ID assinaram um protocolo de cooperação com a Cercal Power, uma sociedade da Aquila Clean Energy, a plataforma de energia renovável da Aquila Capital na Europa, dedicada ao desenvolvimento, construção e exploração da central fotovoltaica do Cercal, em Santiago do Cacém.

Imagem de um cérebro em fundo digital

"A linha de investigação em Filosofia da Inteligência Artificial e da Computação surgiu pela primeira vez em Portugal na Ciências ULisboa, nomeadamente, no Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa (CFCUL), com o intuito de contribuir para um debate que interessa à sociedade no seu todo", escrevem João L. Cordovil e Paulo Castro, investigadores do CFCUL Ciências ULisboa.

logotipo do projeto

O Gabinete de Apoio Psicológico (GAPsi) da Ciências ULisboa partilhou o primeiro episódio do podcast “Chá do Dia”, no passado dia 19 de setembro. O quinto episódio deste projeto inovador já está disponível na plataforma Spotify.

Estúdio da FCCN

João Telhada é um dos protagonistas do projeto "Porquês com Ciência", nomeadamente no vídeo “É seguro pagar online com cartão VISA?”, disponível no canal YouTube da Faculdade. Para o professor do DEIO Ciências ULisboa, “a cultura científica é um aspeto essencial no progresso e desenvolvimento de um país”.

grupo de pessoas

Tom Henfrey, Giuseppe Feola, Gil Penha-Lopes, Filka Sekulova e Ana Margarida Esteves publicam na Sustainable Development, no âmbito de relatório da rede ECOLISE, da qual Ciências ULisboa faz parte.

A Faculdade presta homenagem a Henrique Manuel da Costa Guimarães, antigo aluno e professor da ULisboa, especialista em investigação sobre o ensino da Matemática.

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