Ratinho-ruivo aprende a identificar novos alimentos através do hálito de outros ratinhos

ratinho ruivo

O ratinho-ruivo é uma espécie comum em Portugal e nos países mediterrânicos

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O ratinho-ruivo é uma espécie comum em Portugal e nos países mediterrânicos. Ocorre em zonas naturais, mas também em zonas agrícolas, estufas, jardins e parques urbanos, mas ao contrário do seu parente próximo, o ratinho-caseiro, nunca no interior de habitações. Tem uma dieta variada, alimentando-se maioritariamente de matéria vegetal, e mais ocasionalmente de insetos e outros pequenos invertebrados.

O ratinho-ruivo (Mus spretus) aprende a identificar que novos alimentos é seguro incluir na sua alimentação através do cheiro presente no hálito de outros ratinhos da sua espécie, segundo o artigo “Interaction time with conspecifics induces food preference or aversion in the wild Algerian mouse”, da autoria das cientistas Rita S. Andrade, Ana M. Cerveira, Maria da Luz Mathias e Susana A. M. Varela, publicado em agosto na revista Behavioural Processes.

Para o estudo, as investigadoras usaram duas rações com sabores que os animais não encontrariam na natureza. A ração normalmente usada para alimentar os ratinhos em laboratório foi polvilhada com canela ou com cacau. Um grupo de ratinhos, os “demonstradores”, foi alimentado com ração com sabor a canela. Estes ratinhos foram depois colocados junto de outro grupo de ratinhos, os “observadores”, de modo a poderem contactar uns com os outros. Após um período de 30 minutos, foi oferecido aos ratinhos “observadores” ração com sabor a canela e ração com sabor a cacau e avaliada qual a sua ração preferida. A maioria dos ratinhos “observadores” preferiu a mesma ração que os ratinhos “demonstradores” tinham comido, a ração com sabor a canela.

“Aprender o que comer por tentativa e erro demora tempo e pode ser arriscado, uma vez que pode levar a indisposições ou até mesmo à morte”, diz a investigadora Susana A. M. Varela do Instituto Gulbenkian Ciência. “Poder aprender com outros ratinhos que alimentos são seguros ou mais nutritivos de ingerir é por isso muito vantajoso”, conclui a cientista.

Ao fim de um mês a preferência dos ratinhos foi novamente avaliada e verificou-se que a maioria dos animais mantinha a preferência pela ração com sabor a canela mesmo não tendo voltado a comer esta ração. “Um mês pode não parecer muito tempo para um ser humano, mas estes ratinhos vivem apenas cerca de um ano e meio. Um mês nas suas vidas representa muito tempo, o equivalente a cerca de quatro anos na vida de uma pessoa”, diz Rita S. Andrade, primeira autora do estudo e atualmente estudante de doutoramento da Ciências ULisboa.

No entanto nem todos os ratinhos adquiriram esta nova preferência alimentar. As investigadoras observaram que quando os ratinhos “demonstradores” e “observadores” contactavam durante períodos muito curtos (menos de dois minutos) os “observadores” tinham tendência a evitar a ração com sabor a canela ingerida pelos “demonstradores” e a preferir a ração alternativa, com sabor a cacau.

A razão pela qual alguns dos ratinhos evitaram ração com sabor a canela não é conhecida, sendo muitos os fatores que podem ter influenciado a duração da interação dos dois indivíduos. Um desses fatores é a diferença em termos de estatuto social dos animais. Quando dois ratinhos se encontram conseguem facilmente perceber, através do cheiro e do comportamento, qual deles é o mais dominante. “De modo a prevenir conflitos, os animais tendem a evitar o contacto prolongado com indivíduos mais dominantes e com um estatuto social muito superior ao seu. Isso pode facilmente ter acontecido durante o nosso estudo”, diz Ana M. Cerveira, investigadora na Universidade de Aveiro.

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Para Susana A. M. Varela, aprender o que comer por tentativa e erro demora tempo e pode ser arriscado, por isso aprender com outros ratinhos que alimentos são seguros ou mais nutritivos de ingerir é muito vantajoso
Imagem cedida por AMC

Outro fator é o estado de saúde dos animais. As investigadoras sugerem que se um dos animais tiver mais parasitas ou estiverem mais debilitados (os ratinhos conseguem avaliar o estado de saúde de outros animais apenas pelo olfato), isso pode fazer com que os outros evitem estar tanto tempo na sua proximidade de modo a evitar ficarem doentes.

A familiaridade entre os animais também poderá ser um fator, uma vez que em algumas espécies os animais preferem passar mais tempo em contacto com indivíduos conhecidos. Embora não se saiba se isso também acontece no ratinho-ruivo, diferenças de familiaridade entre os indivíduos podem ter influenciado a duração da interação, condicionando assim a transmissão da informação entre os indivíduos.

Este mecanismo de aprendizagem social já era conhecido em ratinhos de laboratório, mas nunca tinha sido demonstrado nesta espécie, sendo muito pouco estudado em espécies selvagens. “Estudar estes fenómenos em animais selvagens é importante para percebermos como e com que eficácia é que a transmissão social de informação ocorre na natureza” diz Maria da Luz Matias, professora na Ciências ULisboa.

Este trabalho foi financiado pelo Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) e pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, no âmbito mestrado de Rita S. Andrade, realizado na Ciências ULisboa e que teve como orientadoras Susana A. M. Varela e Ana M. Cerveira.

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Para Maria da Luz Mathias, estudar estes fenómenos em animais selvagens é importante para percebermos como e com que eficácia é que a transmissão social de informação ocorre na natureza
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Gabinete de Jornalismo Ciências ULisboa
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Trajeto de transferência eletrónica num óxido metálico misto de molibdénio e tungsténio

Os fenómenos de transferência de eletrões são omnipresentes em toda a natureza e em Biologia Molecular representam ainda a “transdução de energia”, isto é o transporte de eletrões através de uma enzima ou proteína. Os resultados desta investigação podem ajudar a melhorar a compreensão de como os eletrões se movem nas junções moleculares em dispositivos eletrónicos, ou na transferência de eletrões em biomoléculas com mediação de espécies metálicas.

Pormenor da conceção artística do interior do futuro telescópio espacial de raios X Athena, da ESA

A componente ótica portuguesa, liderada pelo Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, e que irá integrar o futuro telescópio espacial europeu nos raios X, passou na revisão de requisitos e entra agora na fase de projeto. O IA lidera o conceito e desenho de um sistema de metrologia, ou OBM (do inglês “Onboard Metrology System”), que permitirá orientar com exatidão o espelho do Athena, um telescópio espacial nos raios X, para o sensor de cada um dos dois instrumentos científicos desta missão.

Alunos e professor no campus da Faculdade

A equipa CGD/MATHFCUL ficou classificada em 5.º lugar na final nacional do Global Management Challenge 2020. Exigência foi a palavra escolhida pela equipa para classificar esta experiência. "Fico muito satisfeito e grato pela dedicação e crescimento destes meus alunos", diz João Telhada, professor do DEIO Ciências ULisboa e mentor da equipa.

Mulher esconde rosto com relógio

"O efeito da mudança de hora no consumo de energia é cada vez menos relevante nas nossas sociedades desenvolvidas e, por isso, a avaliação da sua premência deve valorizar sobretudo outros efeitos, como o impacto na saúde, na economia ou no bem-estar dos cidadãos", escreve Miguel Centeno Brito, professor do DEGGE Ciências ULisboa e investigador do IDL.

A distribuição potencial dos continentes no Arcaico e a profundidade do oceano em metros

Mattias Green, professor da Bangor University (BU), no Reino Unido, coorientador de Hannah Davies, estudante do programa doutoral Earthsystems, ganhou uma Bolsa Leverhulme no valor de 245.884,00 £, equivalente a 287.331,58 €, para estudar o clima da Terra no Arcaico, juntamente com João C Duarte, professor do Departamento de Geologia da Ciências ULisboa, investigador do Instituto Dom Luiz e membro da comissão coordenadora do referido programa. 

Pernas de crianças

Inês Lima, Leonor Pires, Mariana Oliveira e Raquel Sales Rebordão, estudantes de Engenharia Biomédica e Biofísica da Ciências ULisboa, classificaram-se em 2. º lugar na 3ª edição do BioMind – Make it in 24 hours! com o produto IMAGI, um projeto que conjuga técnicas de hipnoterapia e realidade virtual com o objetivo de reduzir e controlar a dor crónica em crianças.

Representação de uma bicamada fosfolipídica usada como modelo de uma membrana celular (à esquerda); representação de uma ligação de halogéneo (a amarelo) efetuada entre um átomo de bromo e um átomo de oxigénio de um fosfolípido (à direita)

Investigadores do BioISI Ciências ULisboa conseguiram demonstrar que moléculas halogenadas interagem com membranas biológicas por via de ligações de halogéneo, um fenómeno que pode ser determinante para a eficácia terapêutica de fármacos.

Arame

Mais um artigo do GAPsi Ciências ULisboa. Desta vez a temática é dedicada ao ciclo das relações abusivas.

painéis solares

A 38th European Photovoltaics Specialists Conference - EUPVSEC 2021 realiza-se de 6 a 10 de setembro de 2021, no formato online. João Serra, professor do Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia da Ciências ULisboa, é o chairman da maior e mais importante conferência europeia dedicada à energia fotovoltaica.

Helena Avelar de Carvalho

"A Helena era, sem qualquer dúvida, uma das melhores na sua área, no mundo inteiro, e a sua carreira académica estava só a começar", escreve Henrique Leitão, presidente do Departamento de Histórioa e Filosofia das Ciências.

Caneta e números

“A matemática é uma parte essencial do património cultural da humanidade”, dizem Ana Rute Domingos e Maria Manuel Torres, docentes do Departamento de Matemática da Ciências ULisboa, a propósito do Dia Internacional da Matemática, que se celebra a 14 de março.

Miguel Marques de Magalhães Ramalho, vulto destacado da comunidade geológica, que foi vários anos professor catedrático convidado da Ciências ULisboa, faleceu a 8 de março de 2021. "A ele se deve a introdução da conceção moderna de Estratigrafia no curso de Geologia do Departamento, enriquecida por saídas de campo de elevado valor didático", escreve a professora Ana Cristina Azerêdo. Ciências ULisboa apresenta sentidas condolências aos seus familiares, amigos e colegas.

Peixes

O primeiro “Guia de Peixes de Água Doce e Migradores de Portugal Continental” coordenado por Maria João Collares-Pereira, professora da Ciências ULisboa e do cE3c, publicado em 2021, já está à venda. Os peixes de água doce são um dos grupos de vertebrados mais ameaçados em todo o mundo. Portugal não é exceção, com mais de 60% das espécies nativas em risco de extinção.

Vinhas Douro, Portugal

A Comissão Nacional da Organização Internacional da Vinha e do Vinho premiou “The interplay between membrane lipids and phospholipase A family members in grapevine resistance against Plasmopara viticola” com a Distinção CNOIV 2020, atribuído ao melhor trabalho nacional de divulgação, experimentação ou investigação no domínio da viticultura, da autoria de um grupo de investigadores da Ciências ULisboa.

Cristina Santos, Margarida Amaral, Claudina Rodrigues-Pousada, Alexandre Quintanilha, Ana Ponces, Pedro Moradas-Ferreira, Ruy Pinto

É com grande tristeza que informamos o falecimento duma grande mulher cientista, a professora Claudina Rodrigues-Pousada, uma grande mentora de vida na Ciência pelo seu empenho, persistência, foco e determinação.

Joana Carvalho

Joana Carvalho, de 28 anos, investigadora na Fundação Champalimaud, alumna da Universidade de Groningen, na Holanda, e Ciências ULisboa, foi uma das cientistas galardoadas com a 17ª edição das Medalhas de Honra L’Oréal Portugal para Mulheres na Ciência e com uma Individual Fellowships Marie Skłodowska-Curie Actions.

Logotipo Radar

Décima terceira rubrica Radar Tec Labs, dedicada às atividades do Centro de Inovação da Faculdade. A empresa em destaque é a Lean Health Portugal.

Inês Fragata

Doutorada em Biologia Evolutiva pela Ciências ULisboa e atualmente investigadora de pós-doutoramento no cE3c Ciências ULIsboa é uma das quatro jovens cientistas portuguesas premiadas com as Medalhas e vai estudar a contaminação do solo por metais pesados através do tomateiro e ácaros-aranha.

Pilar com frase

Valorizar o conhecimento é a oportunidade para dar a conhecer um outro Portugal que tantas vezes passa despercebido. O press kit da Faculdade tem uma página de especialistas com 162 nomes e mais de 200 temas científicos. É fundamental que os mass media coloquem a ciência no centro das atenções.

O terceiro meeting científico da ação COST EUTOPIA ocorreu entre 15 e 17 de fevereiro passado.Trata-se de um projeto de colaboração interdisciplinar que explora a importância crescente da topologia em sistemas físicos e biológicos, e no desenvolvimento de novos materiais. Esta ação reúne 29 países e mais de 100 participantes. Portugal está representado em dois dos cinco grupos de trabalho temáticos e Patrícia Faísca é responsável pela liderança de um deles.

Perspetiva dos Valles Marineris de Marte

"Os objetivos destas missões compreendem: a preparação clara de uma futura colónia humana em Marte, e a tentativa de responder à questão se houve vida em Marte", escreve o cientista Pedro Mota Machado.

Pisco-de-peito-ruivo

+Biodiversidade@CIÊNCIAS: Mobilizar a comunidade de Ciências para a promoção da sustentabilidade no Campus” é uma iniciativa do Laboratório Vivo para a Sustentabilidade. Para colaborar neste projeto basta participar nas ações de monitorização, através da plataforma BioDiversity4All ou da app iNaturalist/BioDiversity4All.

Uma pessoa a trabalhar no Centro de Testes

O Centro de Testes (CT) da Ciências ULisboa  atingiu 100% de concordância nas provas a que foi submetido no âmbito do programa mundial de controlo de qualidade da Organização Mundial de Saúde - OMS “WHO Global Round of Laboratory Proficiency Testing” e no Programa Nacional de Avaliação Externa da Qualidade promovido pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).

Logotipo do projeto

A participação no Projeto Lisboa Romana (Felicitas Iulia Olisipo) vem na sequência de vários anos de colaboração entre os geólogos da Ciências ULisboa e várias equipas de arqueólogos que têm por missão o estudo e a salvaguarda do património arqueológico que ocorre durante as escavações associadas a várias obras na região de Lisboa.

Pessoas no topo de uma colina

O Young Leaders Access Program visa ajudar jovens, entre os 18 e os 26 anos, a impactar as suas comunidades. Leia a crónica de Vasco Medeiros, um dos 50 jovens selecionados em 2020 para realizar este programa. As candidaturas à edição de 2021 terminam em março.

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