Projeto MARGINS está a estudar o impacto das alterações climáticas em zonas costeiras na Guiné-Bissau

Envolvidos no estudo estão vários investigadores e estudantes da Ciências ULisboa, que partiram em missão no início deste ano

3 homens sentados

Luís Catarino, Pansau na Pancal e Quintino Bancessi em trabalho de campo na região de Mato Farroba

Fotografia cedida por Luís Catarino

MARGINS surgiu com o objetivo de estudar as interações socioecológicas entre comunidades humanas e ambiente na zona costeira da Guiné-Bissau e compreender a inter-relação de arrozais e mangais como parte de uma unidade afetada pelas mudanças climáticas.

arroz e mangal
Mangais são florestas que se desenvolvem nas áreas de transição entre o ambiente terrestre e marinho nas zonas tropicais e subtropicais. Constituem importantes ecossistemas de “carbono azul” uma vez que têm a capacidade de reter grandes quantidades de carbono, atuando também na proteção costeira contra ventos fortes e ciclones, cheias e a subida do nível do mar. Equivalente aos sapais das zonas temperadas, situam-se nas zonas entremarés
Fonte LC

Neste projeto interdisciplinar combinam-se diferentes domínios científicos, estando nele envolvidos docentes da Ciências ULisboa, investigadores do Instituto Dom Luiz (IDL) e do Centro de Ecologia, Evolução a Alterações Ambientais (cE3c) e estudantes da Faculdade.

O projeto é coordenado por Joana Sousa e Rita Campos do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, sendo que participam no projeto a Associação para a Investigação e Desenvolvimento de Ciências (FCiências.ID), da Ciências ULisboa, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa e a Universidade Amílcar Cabral (UAC), na Guiné-Bissau. No trabalho estão também envolvidos investigadores do Instituto Superior de Agronomia (ISA) e do ISCTE-Instituto Universitário de Lisboa.

O objetivo do projeto subdivide-se em três componentes principais que se prendem com a análise (1) das políticas e programas internacionais e estatais que têm atuado no âmbito da gestão de mangais e arrozais; (2) das características tecnológicas, sociais e ecológicas que influenciam o aumento da salinização e os estragos nos diques orizícolas; e (3) das memórias e conhecimento sobre as transformações socioecológicas e tecnológicas nos espaços mangal-arrozal.

Na Guiné-Bissau, o cultivo de arroz de mangal existe em coassociação com florestas de mangal. As duas componentes formam um complexo socioecológico funcional e interativo. Com o intuito de estudar estas regiões da Guiné-Bissau, alguns dos investigadores deslocaram-se em missão ao país no passado mês de janeiro. A cargo dos investigadores da Ciências ULisboa ficou o estudo da vertente bioecológica e geográfica do projeto.

Modelar o terreno

Da Ciências ULisboa participam ainda no projeto, Cristina Cruz, professora e investigadora no cE3c, Ana Paula Rosa, estudante de doutoramento, e Maira da Costa, estudante guineense de mestrado.

Com a ajuda de habitantes locais e alunos da UAC, os professores Luís Catarino, investigador do cE3c, Carlos Antunes, investigador do IDL, e Madalena Matias, estudante de mestrado, deslocaram-se em trabalho de campo para esta missão. Participaram ainda Ana Cabral, investigadora do ISA, e Pedro Rodrigues, piloto de drones.

Carlos Antunes relatou-nos a experiência em Ondame, um dos três locais escolhidos para a realização do estudo, no qual esteve durante uma semana.

Neste local de estudo, foi feita a cobertura com imagens aéreas recolhidas com drone para elaboração de um modelo digital do terreno, com marcas de controlo no solo georreferenciadas com GPS. Foi também instalado um transdutor de pressão para a medição de maré num canal a sul de Ondame, que mediu os ciclos de maré durante sete dias, permitindo modelá-la.

Carlos Antunes explica que estes procedimentos, que envolvem alguma complexidade, tiveram de ser realizados, uma vez que não existe na região informação geográfica atualizada. Não existia uma estrutura de GPS base, pelo que foi necessário instalar uma antena GPS no cimo de num depósito de água, que transmitiu a informação via rádio para o recetor móvel.

O objetivo deste trabalho é projetar a subida do nível médio do mar para o futuro, e antecipar a afetação da zona costeira daqui a 50 a 100 anos. Partindo de modelos globais de projeções estatísticas de cenários climáticos, que fornecem apenas informação sobre a variação eustática, é necessário acrescentar à análise outras componentes locais, como as marés e efeitos de velocidade vertical de cariz geológico, trabalho esse que está agora a ser realizado pelos investigadores.

Os diques são estruturas construídas à mão no próprio terreno, entre o mangal e os campos de arroz, e possuem válvulas com funções distintas:

  • deixar passar o excedente de água das chuvas para o mar, dessalinizando os terrenos;
  • proteger os campos de arroz da água salgada e da invasão da maré;
  • deixar entrar água salgada, depois da cultura do arroz, para controlar os infestantes que prejudicam o seu crescimento.

Com base em imagens de cartografia antiga, é percetível o avanço do mar e do mangal, o que preocupa as populações e põe em causa a produtividade dos arrozais – zonas que em tempos foram áreas de cultivo, são hoje impraticáveis. O avanço do mar leva à rutura dos diques que protegem os arrozais e consequente ao aumento da salinidade dos terrenos, diminuindo assim a capacidade de produção de arroz.

Para além da proteção da invasão da maré, os diques têm também um importante papel na época das chuvas, permitindo drenar a água das chuvas e dessa forma dessalinizar os terrenos. A diminuição da pluviosidade anual é também um fator que influencia a produtividade do cultivo.

Esta análise permitirá identificar que medidas poderão vir ser implementadas no futuro para a manutenção desta atividade económica tão relevante no país.

As questões vão além dos problemas económicos, uma vez que o abandono de terrenos obriga a população a migrar em busca de melhores condições de vida, gerando problemas políticos e socioeconómicos complexos, dada a diversidade social existente no país.

Acompanhado por Bernardo Ié, residente em Ondame, Carlos Antunes conta que percorreu cerca de 25 km por dia, perfazendo um total de 170 km nos trajetos de colocação dos pontos de controlo; consumiu dois a três litros de água por dia, o necessário para evitar a desidratação nas condições de calor intenso da região.

O plano de trabalho era exigente e rigoroso, mas nem sempre foi possível cumpri-lo, o que levou a que algumas tarefas não tivessem corrido como previsto. No entanto, e face à experiência que tem, conta, “temos sempre redundância de equipamentos e métodos, para o caso de alguma coisa correr mal”.

O investigador afirma que é importante fazer o trabalho acompanhado por habitantes locais, que conheçam a zona e as pessoas para uma melhor compreensão dos objetivos e métodos do projeto. Ao fim de pouco tempo, já se sentia à vontade para andar sozinho pois os habitantes já o conheciam e cumprimentavam, reconhecendo desta forma a importância do seu trabalho para o futuro da região.

Carlos Antunes diz que o povo guineense é “muito humilde e hospitaleiro”. “Receberam-nos com uma educação extraordinária, sem qualquer tipo de ressentimento, mesmo as pessoas mais velhas, que certamente viveram o tempo da guerra na Guiné”, afirma.

Na mala levava material escolar, oferecido pela Faculdade, para doar a uma escola guineense. Conta que quando manifestou interesse em dar o material às crianças, a escola preparou um ato “solene” de entrega, no qual os alunos cantaram uma canção que terminava dizendo: “o pouco que ofereces é muito para mim”. O momento foi emocionante, conta.

planta de arroz
O arroz é a base da alimentação na Guiné-Bissau. O seu cultivo é uma das atividades económicas mais importantes do país
Fonte LC

Diz que ficou a gostar muito, não só do país, mas essencialmente das pessoas - “a experiência científica é sem dúvida um grande desafio pois envolve muitas áreas científicas, mas a experiência pessoal foi a mais marcante - vim de coração cheio”.

“A experiência científica é sem dúvida um grande desafio pois envolve muitas áreas científicas, mas a experiência pessoal foi a mais marcante - vim de coração cheio.” Carlos Antunes

 

Estudar os solos e a vegetação

A 28 de janeiro Carlos Antunes, Madalena Matias, Ana Cabral e Pedro Rodrigues regressaram a Portugal, sendo que Luís Catarino permaneceu na Guiné-Bissau, para se deslocar às restantes áreas de estudo. O investigador prosseguiu o trabalho de campo por mais duas semanas nas regiões de Mato Farroba e Susana.

Sempre acompanhado por estudantes da UAC e por Quintino Bancessi, investigador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisa Agrícola da Guiné-Bissau e seu amigo de longa data, efetuaram recolha de dados e amostras de solo e vegetação em transectos, com o objetivo de caracterizar o gradiente terra-mar em termos da estrutura e composição da vegetação e características físico-químicas e microbiológicas do solo.

O investigador explica que imagens de deteção remota daquela zona, obtidas ao longo dos anos, permitem identificar diversas alterações do coberto do solo, facto que pode ter origem tanto em causas socio-económicas como climáticas. Nas três zonas estudadas, as condições são distintas - enquanto em Suzana e Ondame, o mangal está a expandir-se, ocupando zonas de arrozal abandonadas, em Mato Farroba a cultura de arroz está em expansão para zonas de mangal derrubado.

A norte, os habitantes vivem muito próximo das zonas costeiras, debatendo-se com a escassez de água doce, sendo uma zona muito afetada pelas alterações climáticas e onde é cada vez mais difícil manter as atividades de pesca e cultivo de arroz.

“Bolanhas” é o termo utilizado localmente para designar os campos de arroz.

Às consequências das alterações climáticas junta-se a escassez de mão de obra jovem, que acentua este problema, principalmente em Ondame. Neste local, constata-se que o “mangal está a comer as bolanhas”, e que a população está a ter muita dificuldade em manter os diques e as plantações de arroz intactos.

A sul, em Mato Farroba, as questões são distintas, uma vez que não há problemas nem de falta de água nem de escassez de mão de obra. Incentivados por políticas económicas locais, as populações têm derrubado mais mangal para expandir os campos de arroz e aumentar a sua capacidade de sustento.

Este é um projeto que envolve o trabalho de vários estudantes das entidades participantes. Para além de estudantes da Ciências ULisboa, três estudantes de licenciatura da UAC, oriundos de cada uma das zonas de estudo, participaram nesta missão: Quinta Iê, em Ondame, Pansau na Pancal, em Mato Farroba e Robalo Djata, em Susana. “Foi ótimo andar com cada um deles porque conhecem o ambiente e o local”, partilha o investigador.

Foi também delineado um inquérito para ser aplicado pelos estudantes à população das áreas de estudo. Dessa experiência surgiu a ideia de cada um deles desenvolver uma monografia de final de licenciatura sobre a cultura do arroz na sua zona, permitindo posteriormente fazer uma comparação entre os três locais de estudo.

 “Este estudo é interessante porque tem uma visão holística e pluridisciplinar desta zona”, diz Luís Catarino. O projeto teve início em janeiro de 2022 e decorrerá até final de 2024. Tem uma nova missão prevista para novembro deste ano.

“Este estudo é interessante porque tem uma visão holística e pluridisciplinar desta zona.” Luís Catarino

equipa em Ondame
Equipa de trabalho em Ondame: Carlos Antunes, Francisco Wambar, Quinta Ié, Madalena Matias e Quintino Bancessi
Fonte LC

Marta Tavares, Gabinete de Jornalismo Ciências ULisboa
info.ciencias@ciencias.ulisboa.pt

Anfiteatro da Escola de Ciências

Universidade do Minho

Departamento de Biologia

23 a 26 de Junho

 

 

A Thomson Reuters alerta para a interrupção de serviços.

 “O mar tomou-se de repente muito novo e muito antigo”

O MARE organizou uma viagem a bordo de um Galeão para dar a conhecer a fauna local do Parque Marinho do Parque Natural da Arrábida. No total, 100 pessoas participaram nas iniciativas de comemoração do Dia Mundial do Ambiente organizadas por este centro.

Gostava de fazer um estágio aplicando os conhecimentos de Estatística Aplicada à área de Recursos Humanos? A Ernst & Young lança proposta.

Cátia Raminhos e Jorge Santos, estudantes do mestrado em Engenharia Informática de Ciências, lançaram uma plataforma de partilha de informação dedicada ao autismo e que já chegou a 33 países.

Orador: Ivana Ljubic (University of Vienna)

 

Título: The Recoverable Robust Facility Location Problem

 

O desafio está lançado: experimentar, na primeira pessoa, a realidade da investigação científica na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e conhecer por dentro o campus universitário e os seus laboratórios, de 21 a 24 de julho.

Denís Graña e José Sebio desenvolveram este projeto no âmbito da disciplina de Aplicações na Web do mestrado em Engenharia Informática de Ciências.

O Centro de Investigação Operacional realizará no dia 19 de junho, quinta-feira, às 14H30, na sala 6.4.31, um Seminário intitulado The Recoverable Robust Facility Location Prob

Mapa

A FCT e a FAPESP pretendem lançar em 2014 um concurso para projetos de investigação, com equipas conjuntas, em todos os domínios científicos.

Observatório Astronómico

O Edifício das Matemáticas, que faz parte do complexo arquitetónico do Observatório Astronómico, foi também recentemente modelado em 3D por um grupo de alunos da Faculdade de Ciências da ULisboa.

Mais uma visita a uma escola, na região oeste, para uma sessão com duas palestras...

Aberta aos sábados, até às 17h00, entre 7 e 28 de junho.

Ambiente subaquático

O passeio a bordo do galeão ocorre durante a manhã. Os participantes além de recolherem o lixo subaquático também poderão fotografar a biodiversidade. Da parte da tarde estão previstas outras ações como a identificação de sons de animais marinhos, a observação de plâncton à lupa e a recolha de amostras para análises genéticas.

HoliBraille

Diogo Marques e Tiago Guerreiro, investigadores de Ciências, assinam juntamente com outros cinco investigadores o artigo "Augmenting Braille Input through Multitouch Feedback".

2ª fase de candidaturas para o Mestrado em Matemática para Professores: de 18 de Agosto a 3 de Setembro. Este ano iniciar-se-á o ensino em regime de b-learning neste mestrado.

Prémio Jovem Investigador da Sociedade Europeia de Aterosclerose

Ana Catarina Alves, doutoranda do centro BioFIG, distingue-se com o trabalho "Novel functional APOB mutations outside LDL-binding region causing familial hypercholesterolaemia".

Durante o terceiro debate foram apresentados os resultados de um estudo de opinião com incidência em temáticas como a educação para o mar, a Economia verde, a eficiência energética ou a reindustrialização.

Parabéns à Alexandra Symeonides, Fábio Silva, Filipe Gomes, João Dias, João Enes, Pedro Pinto e Sílvia Reis, alunos ou ex-alunos do mestrado em Matemática do Departamento de Matemática de Ciências, pela obtenção duma bolsa de doutoramento LisMath.

A sessão de abertura do Fórum do Mar ocorre no dia 28 de maio, pelas 9h30, com a presença do Senhor Secretário de Estado do Mar.

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Luís Correia, atual presidente do Departamento de Informática e diretor do LabMAg, foi entrevistado no contexto do projeto europeu ASSISIbf&nbs

No âmbito da unidade curricular Estatística Ciência e Sociedade, realiza-se no dia 29 de maio, pelas 12h, na sala 6.2.50 um Seminário da autoria dos alunos Carlos Botelho, Soraia Graça e Vasco Guerra, intitulado 

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