Por Tânia Salgado Pimenta (Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz).
Durante todo o período da escravidão no Brasil, as doenças atravessaram a existência de africanos e seus descendentes devido às suas condições de trabalho e de vida. Para enfrentar as enfermidades, recorriam a práticas de cura construídas a partir de suas conceções de doença e saúde, formadas em suas experiências e relações com os diversos grupos sociais. Soma-se a isso, a convivência de médicos com os cativos, enquanto trabalhadores ou doentes, o que se torna mais evidente a partir da primeira metade do século XIX, quando a medicina acadêmica iniciou seu processo de institucionalização no país.
Os estudos históricos sobre saúde e escravidão no Brasil têm se desenvolvido, sobretudo, a partir da década de 1990, com pesquisas originadas das historiografias sobre escravidão e sobre saúde. Com o tema em comum, o diálogo entre esses dois campos começou a se intensificar e a produção sobre saúde e escravidão passou a levantar questões próprias, em que se destacam a agência de escravizados, libertos e seus descendentes nascidos livres, assim como as redes de solidariedade construídas por eles. Percebe-se um adensamento de publicações a partir da década de 2010 com investigações acerca do pensamento médico sobre os africanos e seus descendentes; da identificação e distribuição das doenças que mais atingiam os cativos e libertos; e do exercício das práticas de cura por essas pessoas.
A apresentação pretende abordar esses aspetos, atentando para a historiografia sobre o tema, tecendo algumas considerações sobre as fontes e apontando alguns resultados de pesquisas empíricas.
Sobre a oradora: Tânia Salgado Pimenta é graduada em História pela UFRJ, mestre e doutora em História pela UNICAMP. É pesquisadora da Casa de Oswaldo Cruz – Fundação Oswaldo Cruz e professora do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da mesma instituição. Suas áreas de pesquisa e ensino são saúde e escravidão; hospitais e assistência à saúde; artes e ofícios de cura; homeopatia; e relação entre terapeutas e doentes. Seu projeto de pesquisa atual é Saúde e Escravidão: doenças, maternidade e crianças escravizadas (Rio de Janeiro, 1830 a 1860). É pesquisadora do CNPq e, entre suas publicações recentes, destacam-se No Rastro das Províncias: epidemias no Brasil oitocentista (com Sebastião Franco e André Mota (Eds.) – Vitória, UFES, 2019); História da Saúde no Brasil (com Gilberto Hochman e Luiz Teixeira (Eds.) - São Paulo: Hucitec, 2018); Escravidão, Doenças e Práticas de Cura no Brasil (com Flávio Gomes (Eds.) Rio de Janeiro: Outras Letras, 2016).
Transmissão via Zoom.