O Fundo Antigo do Arquivo Municipal de Lisboa e a exposição "Lisboa uma Grande Surpresa"
O conjunto documental designado por Fundo Antigo entrou no Arquivo Fotográfico, em 1942, como um levantamento fotográfico de proveniência e autoria desconhecidas. Por diversas vezes se procurou compreender a sua origem e identificar os seus autores, supondo-se que se tratou de uma encomenda municipal.
Para determinar a proveniência e autoria destas imagens, que se perpetuaram anónimas até aos nossos dias, e tomando como ponto de partida a documentação produzida pela Câmara Municipal de Lisboa (Processos Gerais de Secretaria), entre 1896 e 1912, levou-se a cabo um trabalho de investigação, o mais exaustivo possível, tendo por base algumas fontes documentais não tratadas arquivisticamente, mas devidamente localizadas no Arquivo Municipal de Lisboa.
Outras fontes documentais e impressas foram igualmente esclarecedoras, da mesma forma que o encontro com familiares dos autores ajudaram a clarificar alguns pontos e a comprovar aspetos da vida profissional e pessoal.
O cotejamento de toda a informação permitiu aferir a autoria dos negativos, compreender o seu contexto de produção, conhecer os autores do ponto de vista biográfico, familiar e profissional.
A exposição, Lisboa uma grande surpresa, resultou de uma selecção de imagens obtidas a partir do estudo do Fundo Antigo - conjunto composto por, cerca de 3800 negativos, em chapa de vidro, formato 13 x 18 cm e algumas provas originais coladas em cartão. No decurso da investigação localizaram-se as restantes provas originais, desta feita, provas impressas a partir de três processos de impressão: papel de albumina, papel direto e papel com sais de ferro, vulgo, cianotipia.
A presente exposição apresentou 136 provas atuais, impressas à escala de 1/1, bem como um conjunto de provas originais, coladas em folhas de cartão, duas a duas, frente e verso, associando as imagens à morada, número de polícia, freguesia, nome do proprietário, valor matricial do prédio e data da imagem. O percurso da exposição denunciou uma intenção dos autores, em cartografar, inventariar e fotografar as ruas de Lisboa, num registo claramente moderno e inovador, patrocinado pela Câmara Municipal de Lisboa, “acompanhando as tendências europeias de modernização da cidade”.
Lisboa uma grande surpresa contribuiu para a preservação da memória imagética da cidade de Lisboa, nos primórdios do século XX, sobretudo entre 1898 e 1912.
Notas biográficas
Isabel Mendes da Silva Corda nasceu em 1966, em Lisboa. Licenciada em História pela Faculdade de Ciências Socias e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1985-1989) e curso de Pós Graduação em Museologia e Conservação, pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (1996-1997).
Bolseira do Serviço de Belas Artes da Fundação Calouste Gulbenkian, entre Janeiro de 1990 e Setembro de 1992; Freelancer em projetos na área de conservação e restauro de fotografia, na Empresa Luís Pavão Lda., 1993-2000; Docente (assistente convidada) do 2º ciclo da Licenciatura Bietápica-ramo técnico de fotografia, do curso de Tecnologia da Comunicação Audiovisual, no Instituto Politécnico do Porto, entre 2001 e 2004; Técnica Superior no Arquivo Municipal de Lisboa, desde Outubro de 1992 até ao presente.
Trabalhou como conservadora de coleções de fotografia, participou em projetos de exposição, desenvolveu trabalho na área de investigação sobre fotografia e fotógrafos, em Portugal, e coordenou trabalhos na área da descrição arquivística. Ao longo deste tempo representou o Arquivo Municipal de Lisboa em encontros e seminários sobre fotografia e assinou alguns artigos em coautoria, publicados nos Cadernos de Arquivo Municipal e em catálogos de exposição, do Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico.
Maria José Lopes Gomes Silva nasceu em 1961, em Lisboa. Licenciada em Ciências da Informação e da Documentação, pela Universidade Aberta (2008-2012).
Técnico de Restauro e Encadernação do Arquivo Municipal de Lisboa, desde 1994 até ao momento.
Tem desenvolvido atividade na área da conservação de coleções de fotografia, nomeadamente, no restauro de espécies fotográficas em suporte de vidro e papel. Atualmente coordena a equipa de tratamento documental do Arquivo Municipal de Lisboa – Fotográfico dedicando parte do tempo à investigação no domínio da história da fotografia.
Colaborou, regularmente, em regime de coautoria, na execução e organização de workshops sobre conservação de coleções de fotografia, bem como na produção de conteúdos para exposições e catálogos da mesma área.