Joaquim Alves Gaspar
CIUHCT – Universidade de Lisboa
A projeção de Mercator, proposta pelo matemático flamengo Gerard Mercator em 1569, é justamente considerada um marco de excepcional importância na história da cartografia e da navegação. Nela, as linhas de rumo constante seguidas pelos navios no mar (as loxodrómias) são representadas por segmentos de recta que fazem com os meridianos os mesmos ângulos que à superfície da Terra. Trata-se de uma propriedade de enorme relevância para a navegação marítima e, por essa razão, a projeção de Mercator é universalmente utilizada na cartografia náutica. No entanto, o cartógrafo não deixou qualquer explicação sobre o método que utilizou para a calcular e o assunto tem sido objecto de um longo e inconclusivo debate que se prolongou por mais de um século. Nesta palestra explica-se como dois investigadores do Departamento de História e Filosofia da Ciência da Faculdade de Ciências, Joaquim Alves Gaspar e Henrique Leitão, resolveram recentemente o problema. Através da uma análise geométrica do mapa-mundo de Mercator, complementada com o estudo de fontes históricas portuguesas e europeias, foi possível concluir que o método utilizado por Mercator tem a sua origem num objeto matemático introduzido em Portugal cerca de 1540 e discutido por Pedro Nunes: a tabela de rumos.