Este seminário destina-se à apresentação de trabalhos em curso sobre as inter-relações entre conhecimento científico, tecnologia e formações imperiais. O seminário convoca historiadores, antropólogos e cientistas sociais em geral para uma reflexão conjunta e interdisciplinar sobre a ciência e o fenómeno colonial.
Realiza-se nas segundas quartas-feiras de cada mês, das 12h30 às 13h30, alternadamente na Faculdade de Ciências e no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
As sessões são abertas à comunidade académica e não académica, apelando à participação de investigadores nacionais e estrangeiros, de diferentes instituições.
Resumo: Entre 1950 e 1960, a Companhia de Diamantes de Angola - Diamang - organizou no leste angolano, com o apoio do Museu do Dundo, campanhas sistematizadas de recolha etnomusical em aldeias dos distritos do Moxico e da Lunda. Essas canções, cantadas pelos trabalhadores contratados e seus familiares, iam circulando no leste angolano e, em formato de disco e bobine, passaram a viajar também entre África, América e Europa como Folclore Musical Indígena. Idealmente concebido como impermeável aos efeitos da modernidade ocidental colonial capitalista, a pesquisa que efetuei sobre esse Folclore veio Constatar que parte do repertório `tradicional' e 'autêntico' revela atitudes de denúncia e de consciencialização da subalternização vivida; processos de manutenção de emoções e de desejos; apropriações e colaborações perante o sistema colonial; e negociações entre interesses, identidades e posicionamentos diferentes no seio de um contexto opressor, violento e racista, Tendo como referência canções Cokwe gravadas na década de 1950, neste seminário pretendo discutir até que ponto essas canções possibilitaram aos "indígenas" a criação de espaços de autonomia de ação e de resistência. A interpretação das canções é textual e contextual. fundamentada em trabalho de terreno etnográfico em Portugal e em Angola, combinando fontes arquivísticas com fontes de memória oral.