Seminário "Informática em Ciências", por Paulo Veríssimo.
Resumo: Nunca como hoje tinha sido possível capturar, armazenar, processar e correlacionar rapidamente tantos dados sobre pessoas ou organizações.
Este caminho, aberto pela Google, trouxe indubitáveis vantagens às sociedades modernas, mas alimentou igualmente a crença no poder do “all-seeing-eye”, criando uma perigosa confluência de interesses entre governos e empresas, facilitada pelo vazio existente no direito internacional sobre a proteção de dados, e uma persistente desregulamentação nacional dessa proteção em diversos países (incluindo Portugal), a pretexto da defesa contra o crime e terrorismo. Existe hoje uma doentia e global avidez de informação acerca de pessoas individuais ou coletivas, construindo-se e armazenando-se um rasto contínuo e sistemático da vida e atividade das mesmas, fragilizando-as e colocando-as à mercê de utilizações abusivas dessa informação.
Como mostrou Snowden, este é um propósito metódico que inclui a inserção velada de vulnerabilidades em sistemas da Internet global por parte de governos, para a subversão e interceção de tráfego, ou a recolha furtiva de dados de utilizadores por parte, por exemplo, de fabricantes de televisões “smart” ou de “routers”, ou de “apps” de telemóvel.
A despeito deste riscos, existem muitos incautos desejosos de expor a sua esfera privada nestas mesmas redes (incluindo, pasme-se, informação de saúde), a troco de efémera gratificação social, alguns pontos num cartão, um automóvel..., raramente pensando nos custos e riscos associados. Isso é ainda mais extraordinário num país como Portugal, em que o direito à privacidade é recente, comparativamente com outras democracias mais maduras.
O direito à privacidade na esfera virtual tornou-se, de facto, num jogo viciado, com alguns batoteiros e muitos incautos. É necessário mudar esta situação para que possamos talvez passar a uma era pós-Snowden mais saudável. Esta palestra revisita e atualiza um tema apresentado há alguns meses nos ciclos Ciência Viva.
Bio: Paulo Esteves Veríssimo is a Professor and FNR PEARL Chair at the University of Luxembourg Faculty of Science, Technology and Communication (FSTC), since fall 2014, and head of the CritiX group (Critical and Extreme Security and Dependability) at SnT, the Interdisciplinary Centre for Security, Reliability and Trust at the same University (http://wwwen.uni.lu/snt). He is adjunct Professor of the ECE Dept., Carnegie Mellon University. Previously, he has been a Professor of the Univ. of Lisbon, member of the Board of the same university and Director of LaSIGE (http://www.lasige.di.fc.ul.pt/). Veríssimo is Fellow of the IEEE and Fellow of the ACM, and he is associate editor of the IEEE Transactions on Computers (TC - 2015---). He is currently Chair of the IFIP WG 10.4 on Dependable Computing and Fault-Tolerance and vice-Chair of the Steering Committee of the IEEE/IFIP DSN conference. He is currently interested in secure and dependable distributed architectures, middleware and algorithms for: resilience of large-scale systems and critical infrastructures, privacy and integrity of highly sensitive data, and adaptability and safety of real-time networked embedded systems. He is author of over 170 peer-refereed publications and co-author of 5 books.