Este seminário destina-se à apresentação de trabalhos em curso sobre as inter-relações entre conhecimento científico, tecnologia e formações imperiais. O seminário convoca historiadores, antropólogos e cientistas sociais em geral para uma reflexão conjunta e interdisciplinar sobre a ciência e o fenómeno colonial.
Realiza-se nas segundas quartas-feiras de cada mês, das 12h30 às 13h30, alternadamente na Faculdade de Ciências e no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.
As sessões são abertas à comunidade académica e não académica, apelando à participação de investigadores nacionais e estrangeiros, de diferentes instituições.
Resumo: No quadro da luta de libertação em Moçambique, as populações de religião islâmica viriam a tornar-se objeto da vontade de saber (Foucault 2011) do Estado colonial. Circunstância que levou ao desenvolvimento de um inédito e ambicioso programa de pesquisa, no âmbito dos SCCIM (Serviços de Centralização e Coordenação de Informações de Moçambique, f. 1961), cujo desígnio de sistematicidade e abrangência têm sido apreciados, enquanto iniciativa ímpar no contexto do colonialismo português (Alpers 1999, Cahen 2000a, 2000b, Vakil 2004, Vakil et al. 2011, Macagno 2006, Bonate 2007, Machaqueiro 2012). Sustentada num estudo de caso, a comunicação focaliza os saberes deste ramo da intelligence colonial portuguesa que, entendemos ter concorrido para a constituição de um tipo específico de epistemologia governamental. Um saber hibrido que, colocado ao serviço da segurança estatal, almejou facilitar a governança das populações de religião islâmica, tendo como fim último a manutenção do status quo colonial. Considerando que a epistemologia dos serviços de informações é matéria que se reveste de uma particular complexidade, a abordagem analítica aos saberes dos SCCIM, constitui incursão a que correspondem essencialmente os seguintes objetivos: i) o escrutínio de processos, de dispositivos e de interfaces de recolha de dados estratégicos adotados pelo serviço, visando constituição de um corpus de conhecimentos sobre as populações de religião muçulmana; ii) o exame das especificidades de tais saberes, mormente no respeitante às suas bases empíricas, ao seu valor e seus limites epistemológicos; iii) a auscultação de reações e de estratégias de resposta desenvolvidas pelos visados no decurso da pesquisa. Finalmente, procuramos refletir sobre a fluidez de fronteiras entre a constituição de saberes, a conceção de políticas e a intervenção no terreno, no âmbito deste ramo de intelligence.
