As perspetivas epistemológicas acerca do arquivo, entendido enquanto realidade mas também como metáfora, sofreram transformações assinaláveis nos últimos anos. Deixámos de o ver apenas como espaço razoavelmente imutável onde os historiadores se abastecem da matéria-prima necessária à prossecução do seu trabalho. Alternativamente, o arquivo tornou-se sujeito, um agente do processo histórico tão importante quanto aqueles que lhe deram forma. O archival turn conduziu-nos à ideia de arquivo enquanto documento ele próprio, com uma história que importa explorar per se. A investigação avançou consideravelmente em tempos recentes, sobretudo pela mão de historiadores, arquivistas e antropólogos, todos eles interessados no papel da informação e da burocracia na sua relação com o poder e a sociedade (os filósofos haviam sido dos primeiros a tratar o assunto). O arquivo colonial, em particular, tem estado no centro do debate. Em todo o caso, a “nova história” do arquivo é ainda uma narrativa um tanto eurocêntrica, pouco atenta aos modos como se geravam, guardavam e organizavam documentos no “resto do mundo”.
Leituras para a sétima sessão:
O propósito deste grupo de leitura é justamente o de questionar o arquivo, refletindo acerca da sua história no último meio milénio e, bem assim, do modo como a sua relação com o historiador tem evoluído ao longo do último meio século. O programa das sessões e a lista de leituras propostas procuram ir ao encontro de algumas das questões que marcam o presente debate historiográfico, incluindo os termos da nossa relação com o arquivo face aos desafios que se perfilam. O grupo reunir-se-á cerca de duas vezes por mês, entre fevereiro e junho de 2022, mas a corrente situação de pandemia obriga a que as sessões sejam exclusivamente online (plataforma Zoom) até indicação em contrário. A participação no grupo implica inscrição prévia através de e-mail enviado para o respetivo coordenador (jmflores@fc.ul.pt). Os textos para debate serão enviados por e-mail para todos os inscritos com pelo menos uma semana de antecedência em relação à sessão seguinte. A discussão decorrerá em português ou em inglês, consoante a composição do grupo.