A adoção de práticas agrícolas sustentáveis é crucial para responder aos desafios ambientais provocados pelo uso excessivo e inapropriado de recursos naturais. Uma destas práticas é a introdução de galinheiros móveis ou tractores de galinhas (comummente conhecidos como Chicken Tractors, em inglês) em agricultura urbana. Os tratores de galinhas consistem em capoeiras móveis que tiram partido das funções naturais ecológicas de galináceos de forma a promover a fertilidade do solo e a preparação da terra para o cultivo. No contexto agrícola urbano, onde o espaço e os recursos são limitados, a instalação de Sistemas Agrícolas Sustentáveis Fechados (SACS, no acrónimo em inglês), como estas estruturas, representa um desafio. No entanto, são estratégias que oferecem inúmeros benefícios ao reduzir impactos ambientais, contribuindo para o fecho dos ciclos biológicos e, por conseguinte, para a sustentabilidade e a preservação de habitats. A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa apoiou a instalação de um tractor de galinhas no PermaLab como parte integrante das suas iniciativas de sustentabilidade (CHILL - CHIcken Tractors as an efficient and sustainable Link in closed Loop agriculture, ou Tractores de galinhas como um elo eficiente e sustentável no fecho de ciclos agrícolas, numa tradução livre). As galinhas, ao revolver e bicar o solo em busca de alimento, ajudam, por um lado, a controlar o crescimento de ervas espontâneas, insectos e fungos, e, por outro, fertilizam o solo através das suas fezes.
Figura I: Esquema do trator de galinhas
Os tratores de galinhas são, desta forma, inseridos num esquema rotacional com diferentes áreas de cultivo, acompanhando ao longo do ano os tempos de sementeira e colheita. Por outras palavras, assim que é feita uma colheita numa unidade de cultivo, o terreno será coberto com o tractor e preparado com o auxílio das galinhas, como descrito acima, para receber uma nova sementeira ou plantação, ou seja, os tratores de galinha intercalam e preparam os ciclos das culturas anuais. Consequentemente, a integração desta ferramenta na agricultura urbana não só fomenta o uso do solo eficiente como ainda encoraja a produção alimentar em contexto de proximidade, reduzindo a pegada ecológica associada ao transporte de produtos. Para além disso, estes sistemas constituem uma oportunidade para investigação científica, cujo contributo é essencial para validar os pressupostos de sustentabilidade deste tipo de práticas. Ao tirar proveito do potencial natural das galinhas, a FCUL procura demonstrar a viabilidade e os benefícios dos tractores de galinhas como uma estratégia ecológica e sustentável para a produção de alimentos em contexto urbano, abrindo, ao mesmo tempo, a porta para a criação de comunidades mais resilientes e auto-suficientes nas cidades.
Para além dos serviços produtivos (ex.: preparação de solo, produção de ovos) e de regulação (ex.: controlo de infestantes e de pragas), é importante não esquecer os serviços de natureza social e cultural que estes seres trazem ao contexto da FCUL. De facto, a presença das galinhas no campus contribui para uma vivência especial junto da comunidade , celebrados muitas vezes com o cantar do galo e o eclodir dos pintos que nos transportam para o mundo rural e nos relembram da importância da reconexão com a natureza. Mais ainda, a aposta feita nas raças autóctones portuguesas valoriza e celebra o património genético rico do nosso país no que diz respeito a animais domésticos, sensibilizando o público para a relevância da sua preservação e manutenção no contexto agrícola nacional.
Figura II: Esquema da ligação do trator de galinhas com Sistemas Fechados Agrícolas Sustentáveis
David Avelar apresenta em pouco mais de um minuto o Galinheiro móvel de Ciências, um novo projeto da Horta FCUL, destinado a estudar como é que as galinhas podem acelerar a regeneração do solo.
Nome do coordenador: Florian Ulm
Membros do projeto: Afonso Ferreira, Francisco Azevedo e Silva, Inês Afonso, Tomás Simões, António Vaz Pato, David Avelar
Para mais informações, contactar sustentabilidade@ciencias.ulisboa.pt.