Eleição

"É uma honra e um privilégio ser a primeira diretora de CIÊNCIAS"

Conceição Freitas é a nova diretora de CIÊNCIAS

Conceição Freitas foi proclamada pelo Conselho de Escola esta quarta feira como diretora de CIÊNCIAS

DCI-CIÊNCIAS

Nos próximos quatro anos, será Conceição Freitas a diretora da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (CIÊNCIAS). Depois da audição pública que teve lugar esta quarta-feira no Conselho de Escola, a professora e investigadora do Departamento de Ciências da Terra e Energia foi proclamada como a nova diretora, que vai suceder a Luís Carriço na liderança da Faculdade. A tomada de posse ainda terá de ser agendada, mas prevê-se que a primeira mulher a dirigir CIÊNCIAS deva assumir o novo cargo no início de 2026. Conceição Freitas apresentou-se a eleições com uma pródiga carreira que foi da licenciatura ao doutoramento e viria abrir portas para a docência e a investigação na Faculdade que a formou. No currículo, destacam-se os estudos de Geologia do Litoral que permitiram conhecer diferentes lagunas, estuários ou praias e a tornaram numa referência da comunidade académica. Antes da atual eleição, a investigadora natural de Lisboa já tinha desempenhado funções de Presidente do Departamento de Geologia, e de coordenadora do Centro de Geologia da Universidade de Lisboa, além de ter sido a primeira mulher na presidência do Conselho Científico. "Passamos na Faculdade a maior parte do tempo nobre de cada dia e muitos dias por ano. E por isso temos de fazer com que nos sintamos bem", refere nesta primeira entrevista depois da eleição para a direção de CIÊNCIAS.

- Esta nova direção é de continuidade ou de corte com a direção anterior? O que a levou a candidatar-se?

- Diria que nem a primeira nem definitivamente a segunda. A Direção que agora cessa funções esteve praticamente oito anos a dirigir a Escola e muita coisa foi feita. Assistimos a alterações de maior dimensão na forma como nos organizamos e a menores ajustes em vários aspetos da vida académica. Estamos no bom caminho e temos uma herança muito positiva. Agora, é preciso consolidar as mudanças que foram efetuadas, acompanhar e refletir sobre os resultados dos ajustes e melhorar o que for necessário, com ponderação, diálogo, maior proximidade e envolvimento da comunidade de CIÊNCIAS. Pretende-se fazer mais e melhor, colocando as prioridades nas pessoas, na excelência e no futuro desta grande instituição. A decisão de candidatura a diretora não foi fácil, pela responsabilidade que o cargo encerra. Mas também é uma grande oportunidade para aprender, para crescer e ajudar a crescer a Escola e para, com grande entusiasmo e determinação, poder fazer a diferença na forma de abordar a governação, com maior proximidade e envolvimento, para construir algo em que acreditamos. Tal como em outras ocasiões de liderança, é um caminho que não se percorre de forma solitária. O apoio abnegado e incondicional que senti e sinto gerou um conforto e confiança decisivos para a tomada de decisão. Ponderei se as minhas características pessoais e o meu percurso profissional faziam de mim uma boa solução para a Escola; conversei com muitos colegas, amigos e familiares sobre as ressalvas e os méritos e, algumas horas de reflexão depois, decidi aceitar o desafio. É realmente um grande desafio, mas está na linha de muitos outros que tenho abraçado ao longo da minha carreira, encarando sempre a liderança com um espírito de missão e de serviço à causa pública. Será uma jornada trabalhosa, mas partilhada, e no final esperamos ficar com a convicção do dever cumprido e de que realmente valeu a pena.

- Como devemos interpretar o facto de haver uma candidatura única para a nova direção?

- Haver uma candidatura única pode ser interpretado de várias formas. Não é uma situação inédita; já aconteceu anteriormente. O universo de possíveis candidatos é gigante e ter mais do que uma candidatura tem a vantagem de tornar o processo de eleição mais dinâmico e plural. No entanto, os cargos de gestão são pouco valorizados e, neste caso, sendo unipessoal, obriga a grande motivação. Talvez o conhecimento que a Escola tem do modo como procuro consensos para decisões estratégicas e a divulgação de quem escolhi para fazer parte da equipa de Direção tenham contribuído para uma união da Escola em torno de uma única candidatura. Pelo menos eu gostaria que assim fosse. Este facto não diminuiu o empenho, a ambição e a exigência que impusemos a nós próprios em todo este processo.


Luís Carriço, diretor cessante, e Conceição Freitas, nova diretora proclamada de CIÊNCIAS - DCI CIÊNCIAS

- Como é que se chegou ao elenco de direção proposto pela sua candidatura? Quem são os novos subdiretores?

- Os subdiretores são cinco colegas que acederam a percorrer esta jornada comigo: os professores António Casimiro, Carlos Duarte, Cristina Máguas, Jorge Marques da Silva e o investigador José Afonso. São os colegas que identifiquei imediatamente com o perfil ideal para os diferentes pelouros que, nesta fase, entendi como prioritários. Tenho muito orgulho que tenham depositado confiança nesta candidatura. No entanto, e para conseguirmos cumprir aquilo a que nos propomos e com a ambição que projetamos, será importante ter uma equipa mais alargada que possa contribuir para chegarmos mais além e ultrapassar as barreiras que os inúmeros assuntos e tarefas do dia-a-dia da gestão nos impõe.

- Vai haver uma requalificação de infraestruturas e do campus de CIÊNCIAS? Será que é nesse ponto que entra o alargamento de fontes de financiamento mencionado pelo Programa de Ação?

- O alargamento de fontes de financiamento é importante para concretizar muitas ações. E a requalificação de infraestruturas e de equipamentos é uma delas. A lista das intervenções em curso e já planeadas, que a Direção anterior iniciou, serão concluídas. São processos demorados, muito mais do que seria desejável ou que antecipamos. Mas há muitos outros espaços de trabalho e de socialização que gostaríamos de melhorar para usufruto da comunidade de CIÊNCIAS. Passamos na faculdade a maior parte do tempo nobre de cada dia e muitos dias por ano e, por isso, temos de fazer com que nos sintamos bem.

- O Programa de Ação menciona “Pressões administrativas e burocráticas elevadas”; “Processos internos complexos e lentos” e “calendários extensos”… que medidas prevê implementar para estas três áreas?

- As medidas são diversas e podem implementar-se a diferentes níveis. Concretamente, há que conhecer muito bem os processos e os circuitos internos e externos, e os constrangimentos que a lei impõe e que não são passíveis de ultrapassar. Há que trabalhar conjuntamente com quem está diretamente implicado nas tarefas, desde o nível individual ao coletivo, e encontrar as melhores ações para eliminar barreiras, desburocratizar, agilizar, simplificar, reduzindo prazos de resposta e melhorando a eficiência. E ganhar tempo para aumentar a qualidade na comunidade de CIÊNCIAS. Relativamente ao calendário escolar, é um assunto que urge abordar porque impacta a jusante a vida dos estudantes e dos docentes e investigadores.

- Há escassez de professores, investigadores e alunos? A solução passa pelo recurso à Inteligência Artificial, aos cursos na Internet, ao ensino à distância, e às summer schools e as winter schools internacionais?

- Não podemos falar exatamente em escassez, mas o número de alunos e de docentes/investigadores é tema das nossas preocupações. Ter mais e melhores alunos é uma das nossas prioridades, mas os desafios não se colocam apenas na entrada e estendem-se também ao percurso em CIÊNCIAS e ao sucesso dos nossos diplomados quando terminam o seu trajeto académico e enveredam pela vida profissional. O chamado inverno demográfico é um facto que teremos de combater através das oportunidades que, por exemplo, os alunos internacionais podem representar. Aí, eventos como as summer schools e winter schools internacionais podem ser um fator de atração. Mas haverá outros certamente. Os docentes e investigadores nunca são demais, e não há nada que substitua o ensino presencial, o contacto e a interação com os alunos e a oportunidade de estes aprenderem “hands-on”. Outras formas de ensino serão certamente úteis como complemento e como forma de chegar a um público mais vasto e mais diversificado. Há espaço para inovar pedagogicamente e o uso consciente das novas tecnologias pode potenciar a qualidade da aprendizagem, aproximar alunos e professores para lá da sala de aula, e preparar os jovens para um futuro que se prevê exigente e onde o conhecimento em ciências e tecnologias será determinante.

- Finalmente, vamos ter uma mulher como diretora! Será coincidência o facto de o Programa de Ação defender a “Inclusão de igualdade de género em documentos de CIÊNCIAS”?

- Estou muito contente por ter a oportunidade de ser a primeira mulher diretora de CIÊNCIAS. É uma verdadeira honra e privilégio. Apesar da evolução das últimas décadas, ainda vivemos num mundo dominado por homens. Num universo em que as mulheres representam uma percentagem muito próxima dos 50% dos graduados e 41% do staff académico na Europa, só cerca de 24 a 28% estão em cargos de Direção. E por isso é algo que teremos de continuar a trabalhar, lutar para uma maior paridade no que diz respeito ao género.

Hugo Séneca
hugoseneca@ciencias.ulisboa.pt