O que faço aqui? | Vera Sequeira

Vera Sequeira, 40 anos

Licenciada em Biologia Aplicada aos Recursos Animais - variante Marinhos, Doutorada em Ciências do Mar, Mestre em Comunicação de Ciência.
 

Desde que se lembra, Vera Sequeira (Ciências ULisboa / MARE) sempre “quis fazer algo relacionado com os animais e a natureza”. Sonho realizado: hoje é investigadora e estuda a estrutura populacional de espécies de peixe exploradas em Portugal, em particular as suas estratégias reprodutivas. O seu trabalho tem impacto em áreas distintas e complementares como a caracterização da pesca nacional, a sua gestão sustentável e a procura de alternativas que contribuam para a valorização dos recursos e uma exploração ambientalmente mais responsável. Tudo isso sem nunca esquecer o envolvimento e sensibilização do sector pesqueiro e da sociedade. Está também, desde 2015, a bordo do projeto educativo "O MARE vai à escola", que desenvolve atividades escolares gratuitas que promovem a literacia do Oceano.
Tal como a sua professora de ciências do 9.º ano a ajudou a escolher Biologia, deixa um conselho a quem quiser ser investigador: “nunca desistam daquilo que gostam, daquilo que querem, e lutem sempre pelos vossos sonhos. Só assim nos poderemos concretizar e ser felizes”.

Que trabalho de investigação desenvolve em Ciências ULisboa?

Vera Sequeira (VS) - Sou, de momento, investigadora auxiliar do Departamento de Biologia Animal e desenvolvo o meu trabalho no Laboratório de Biologia Pesqueira do MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, polo da FCUL. A minha investigação tem-se centrado no estudo da estrutura populacional de espécies de peixe exploradas comercialmente em Portugal e no estudo dos parâmetros de história de vida dessas espécies, em particular na caracterização das suas estratégias reprodutivas. Mais recentemente tenho-me focado na caracterização da pequena pesca em Portugal e no consumo sustentável de pescado. Estou envolvida em alguns projetos como o SHARKATTRACT, cujo objetivo é a conservação de tubarões e raias através da sensibilização dos pescadores e da sociedade (https://sharkattract.pt/), o VALOREJET, que se centra no aproveitamento de espécies rejeitadas e de baixo valor comercial (https://valorejetmar2020.wixsite.com/valorejet), o TUNAPRINT, que pretende identificar as espécies de atum que são utilizadas em Portugal na produção de atum em lata, bem como caracterizar as importações e capturas deste grupo de espécies a nível nacional nas últimas décadas, e o projeto "Nem tudo o que vem à rede é peixe" que pretende compreender o problema das redes fantasma em Portugal, estudar alternativas às artes atualmente utilizadas optando por outras que sejam ambientalmente sustentáveis e sensibilizar as comunidades piscatórias para a problemática. Paralelamente, estou desde 2015 envolvida no projeto educativo do MARE "O MARE vai à escola" que desenvolve atividades escolares gratuitas que promovem a literacia do Oceano.

Sugestão de leitura / audição / visualização...

"The Pale Blue Dot" de Carl Sagan. Impossível ficar indiferente a estas palavras e a estas imagens, ainda mais nos dias de hoje. 

 

Quando não estou a fazer ciência estou a...

Passear com as minhas duas filhas e o meu marido, a ler, a "ginasticar", nada de mais.

Que respostas pretende encontrar com a sua investigação?

VS - Tendo em conta a diversidade de temas dos projetos mencionados, são várias as respostas que se pretendem alcançar. Mas julgo que no geral o trabalho de investigação em que tenho estado envolvida contribui para a caracterização da pesca nacional, para a sua gestão sustentável e para a proposta de alternativas que contribuam para a valorização dos recursos, por um lado, e para uma exploração ambientalmente mais responsável, tudo isto sem nunca esquecer o envolvimento e sensibilização do setor pesqueiro e da sociedade. 

Quais são para si os grandes desafios da ciência para as próximas décadas?

VS - As alterações climáticas, o tratamento de novas doenças, desenvolvimento da biotecnologia particularmente através do biomimetismo, a exploração do universo. Na minha área em concreto julgo que os grandes desafios passarão pela exploração e gestão sustentável e ambientalmente responsável da captura dos recursos pesqueiros selvagens mas também pelo desenvolvimento da aquacultura, pela valorização e aproveitamento dos recursos que são rejeitados, e, claro, pela sensibilização e informação à sociedade para que possa ser mais responsável e sustentável no seu consumo.

O que a trouxe para a Ciência?

VS - Desde que me lembro que sempre quis fazer algo relacionado com os animais e com a natureza. Mas foi no 9.º ano pela mão de uma professora de ciências que decidi ir para biologia. A biodiversidade fascina-me. E é claro que os documentários da National Geographic e da BBC marcaram a minha infância e juventude.

Que conselhos dá aos mais novos que pensam seguir a carreira de investigação?

VS - Nem sempre as áreas científicas são apelativas, ou porque são mais complexas e não é fácil ter bons resultados, ou porque os percursos profissionais são visto como difíceis e sem grandes saídas, ou porque há a generalização de que são empregos mal remunerados. Eu digo para que nunca desistam daquilo que gostam, daquilo que querem, e lutem sempre pelos vossos sonhos. Só assim nos poderemos concretizar e ser felizes.

 

* Na rubrica "O que faço aqui?" compilamos entrevistas a investigadores do universo Ciências ULisboa, que nos falam sobre a investigação que fazem, os grandes desafios da ciência mas também de outras paixões que alimentam. Ler todas as entrevistas.