Patrícia Jordão, 46 anos
Doutoranda em Geologia, Geodinâmica Externa (Instituto Dom Luiz / Ciências ULisboa)
Mestre em Geoarqueologia (Ciências ULisboa)
Licenciada em História, Variante de Arqueologia (Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa)
Patrícia Jordão coloca tanto empenho na diminuição da nossa pegada ecológica como nas aulas de Flamenco que frequenta todas as semanas. Para além da paixão pelas suas “duas criaturas pequenas”, confessa um “completo fascínio pelas forças naturais”. Foi isso que a levou à ciência e a fundir os saberes de Arqueologia com os de Geologia. Investiga a Pré-história, em particular o povoado fortificado do Zambujal (Torres Vedras) e a proveniência das rochas que utilizava para o fabrico de utensílios (furadores, raspadores, pontas de seta, elementos de foice, punhais...).
Que trabalho de investigação desenvolve?
Patrícia Jordão (PJ) - O meu trabalho de investigação é multidisciplinar porque reúne saberes da Arqueologia e da Geologia, é um trabalho Geoarqueológico. Procuro identificar, classificar e procurar a proveniências das rochas utilizadas pelas comunidades humanas, em particular das rochas siliciosas sedimentares, no fabrico de utensílios. O meu doutoramento centra-se durante a Pré-história - Calcolítico da Estremadura portuguesa -, tendo como sítio case study o povoado fortificado do Zambujal (Torres Vedras).
Sou bolseira de doutoramento da FCT, com o Instituto Dom Luiz (IDL) como instituição de acolhimento.
Uma sugestão para quem nos lê (leitura / audição / visualização)...
Livro: O Macaco Nu (1967), de Desmond Morris. Ainda tão atual, um clássico sobre o bicho-homem.
Filme: "O Sal da Terra" (2014), documentário de Wim Wenders e Juliano Salgado. Um hino à Terra.
Quando não estou a fazer ciência estou a...
Bem, para além de mãe de duas criaturas pequenas, um dos meus hobbys mais antigos é o Flamenco. Danço em aulas semanais, na Xuventude de Galicia, e em alguns eventos públicos.
Que respostas pretende encontrar com a sua investigação?
PJ - O sílex na Pré-história era um recurso muito importante para o fabrico de utensílios empregues em diversas atividades domésticas (furadores, raspadores, pontas de seta, elementos de foice, etc.), e no fabrico de bens de prestígio, como os punhais. Pretendo responder a questões relacionadas com a proveniência, exploração e consumo dessa matéria-prima líticas pelas comunidades humanas há cerca de 6-5 mil anos antes do presente (BP), e detetar as suas redes comerciais. Primeiro que tudo, tenho que fazer o levantamento do potencial geológico das matérias-primas em estudo, fazer a sua caracterização petrográfica, identificar os seus variados modos de jazida, distribuídos no território, para depois relacionar este referencial geológico com os artefactos de um determinado sítio arqueológico.
Quais são para si os grandes desafios da ciência para as próximas décadas?
PJ - Testar energias alternativas aos hidrocarbonetos, acessíveis ao cidadão comum, de modo a poder fazer-se uma mudança gradual da base energética e contribuir para a diminuição da nossa pegada ecológica.
Conhecimento dos recursos não renováveis do nosso planeta, que é o planeta A (não há B…), para a sua gestão ponderada e otimizada.
A comunidade científica está em posição privilegiada para estabelecer uma comunicação forte com a população em geral, para que esta esteja cada vez mais informada, com espírito crítico, e possa fazer escolhas cada vez mais conscientes. Por sua vez, as próprias comunidades devem poder influenciar a sua ciência, no que respeita às suas prioridades de investigação, e “exigir” que a ciência ganhe protagonismo para que seja ela a influenciar legisladores, e não o contrário.
O que a trouxe para a Ciência?
PJ - Um espírito eternamente insatisfeito e um absoluto fascínio pelas forças naturais (internas e externas) que criaram e constantemente alteram e modelam a Terra.
Que conselhos dá aos mais novos (alunos e/ou futuros alunos de Ciências) que pensam seguir a carreira de investigação?
PJ - Se tiveres a paixão, mantém essa chama acesa com muita persistência e determinação. Não ter medo do trabalho, trabalho, trabalho, e acreditar sempre que, no fim, alcançaremos os objetivos.
* Na rubrica "O que faço aqui?" compilamos entrevistas a investigadores do universo Ciências ULisboa, que nos falam sobre a investigação que fazem, os grandes desafios da ciência mas também de outras paixões que alimentam. Ler todas as entrevistas.