O que faço aqui? | Marta Santos

Marta Daniela Santos, 33 anos

Gabinete de Comunicação (Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c)
Doutorada em Física (Ciências ULisboa)
Mestre em Comunicação de Ciência (Faculdade de Ciências Sociais e Humanas)

Marta Daniela Santos num evento com uma máquina fotográfica.
Fonte César Garcia

Está habituada a estar nos bastidores mas hoje os papéis invertem-se e é a história de Marta Daniela Santos que contamos. É responsável pelo Gabinete de Comunicação do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c, onde ajuda os “seus” cientistas a “transmitir a sua investigação de uma forma clara e cativante, sem deixar de ser rigorosa”. Licenciou-se em Física, onde entrou por culpa da “curiosidade e fascínio pelo Universo”, doutorou- se em Teoria de Jogos e Ciência de Redes e, mais tarde, chegou à Comunicação, que considera “uma paixão”. Nesta área pode também dar o seu contributo para alguns dos grandes desafios que aponta para a ciência: a gestão das expectativas da sociedade na relação da ciência com os domínios da política e economia, da perceção daquilo que a ciência pode e não pode fazer e dos tempos da ciência. As suas paixões estendem-se também para a escrita, para a leitura, a dança e para uma atividade que aprendeu há pouco tempo: andar de bicicleta. “Nunca é tarde para aprender!”.
 

Que trabalho desenvolve em Ciências ULisboa?

Marta Santos (MS) - Sou responsável pelo Gabinete de Comunicação do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c. Que é como quem diz, escrevo notícias, comunicados de imprensa, faço a gestão das nossas redes sociais (já nos seguem online? :)), dou algumas formações breves em comunicação de ciência, faço entrevistas a alguns investigadores para melhor dar a conhecer a sua investigação e, quando necessário, apoio-os a preparar alguma entrevista que tenham para algum meio de comunicação social. Ou seja, estou habituada a estar nos bastidores – aqui os papéis inverteram-se!

Quais os objetivos do seu trabalho?

MS - Com o meu trabalho procuro ajudar os “meus” cientistas a transmitir a sua investigação de uma forma clara e cativante, sem deixar de ser rigorosa. E nesse processo, o ingrediente-chave são as perguntas: faço (muitas) perguntas, para perceber a investigação dos “meus” cientistas” e para fazer o exercício de me colocar no lugar do público a quem queremos fazer chegar aquela mensagem. As perguntas são tão ou mais interessantes que as respostas! Depois o desafio é construir pontes, que podem surgir de muitas formas e em muitos suportes: no meu trabalho uso sobretudo o suporte escrito, em notícias e comunicados de imprensa, o que para mim é um prazer pois sou apaixonada pela escrita.

Quais são para si os grandes desafios da ciência para as próximas décadas?

MS - A ciência está a viver grandes desafios colocados pela realidade e necessidade imediata – como o desafio da pandemia COVID-19 que estamos a viver e a necessidade de desenvolver uma vacina, por exemplo. Há também os desafios societais a nível mundial, as alterações climáticas... problemas globais para os quais a ciência é chamada a contribuir e a interligar-se com domínios com a política e a economia. Acho que para além da contribuição para a resolução desses problemas, um desafio para a ciência é a gestão das expectativas da sociedade na relação com estes domínios e a perceção daquilo que a ciência pode e não pode fazer e dos tempos da ciência.

Sugestão de leitura / audição / visualização...

Como forma de olhar não só a Física, mas a Ciência como um todo, qualquer livro de Carl Sagan é uma referência em ciência J. Outra sugestão que deixo, esta mais concreta, que li recentemente e que me deixou a pensar que gostaria de o ter lido mais cedo: “Cartas a um Jovem Cientista” de Edward O. Wilson.

Quando não estou a fazer ciência estou a...

É muito possível que me encontrem a ler: é das coisas que mais gosto de fazer, ando sempre com um livro atrás. Leio muito sem ser sobre ciência, muita literatura. Também gosto muito de dançar. E andar de bicicleta: só aprendi recentemente (nunca é tarde para aprender!) e agora (ou melhor, quando terminar o período de isolamento) gosto muito de ir pedalar. Também gosto muito de fazer exercício físico – agora, nesta fase, em casa. Sobretudo, gosto de hobbies que me levem a descobrir coisas novas.

O que a trouxe para a Ciência?

MS - A curiosidade, por áreas científicas e de formas bastante diferentes ao longo do tempo. Vim para a Ciência pela curiosidade e fascínio pelo Universo: desde que na escola primária descobri que existia o Sistema Solar percebi que queria seguir pela área que estudasse isso.
Fiz todo o meu percurso em Física em Ciências ULisboa e, ao longo do meu percurso académico, fui gradualmente alargando o leque de áreas pelas quais fui sentindo curiosidade – o meu doutoramento foi em Teoria de Jogos e Ciência de Redes, o que me permitiu alargar muito horizontes e, mais tarde, cheguei à Comunicação de Ciência, que é uma paixão. É uma área na qual também fiz formação e que me fez tomar a decisão, a certa altura, de deixar a investigação para fazer comunicação. Agora, faço comunicação de ciência em Biologia.

Que conselhos dá aos mais novos que pensam seguir a carreira de investigação?

MS - Aproveitem ao máximo o vosso percurso na Faculdade para aprender. Mesmo que já tenham uma noção da área pela qual querem seguir, aproveitem a oportunidade de estar na Faculdade para alargar horizontes, conhecer outras áreas. Seja porque podem ser surpreendidos e eventualmente ponderar mudar ligeiramente de rumo (mas se o ponderarem fazer, que seja com responsabilidade e não porque o caminho que escolheram é difícil, porque todos os caminhos são difíceis), ou seja simplesmente para se manterem informados – porque a ciência não é feita de disciplinas compartimentadas, estanques, sem comunicação entre si. Quanto mais sólido e alargado for o conhecimento que tiverem, em diversas áreas, melhores profissionais serão, em qualquer área.

 

* Na rubrica "O que faço aqui?" compilamos entrevistas a investigadores do universo Ciências ULisboa, que nos falam sobre a investigação que fazem, os grandes desafios da ciência mas também de outras paixões que alimentam. Ler todas as entrevistas.