João Pedro Nunes, 43 anos
Investigador no cE3c - Center for Ecology, Evolution and Environmental Changes / Ciências ULisboa
Doutorado em Engenharia do Ambiente (FCT / Nova)
João Pedro Nunes (cE3c) dedica a sua investigação às interações entre água, vegetação e solos, em particular na forma como os incêndios florestais podem afetar a qualidade do solo e da água através da erosão e transporte de cinzas, e compostos tóxicos a elas associados. Em foco estão preocupações como as consequências destas reações para serviços de ecossistema, como a produção agrícola ou a disponibilidade de água para consumo. É precisamente esse o grande desafio que aponta para a ciência: manter a qualidade de vida da nossa sociedade de uma forma sustentável pelo meio ambiente. Nos tempos livres, vira-se para os jogos tabuleiros com os amigos (agora exclusivamente online) ou então para a confeção de “comida exótica”.
Que trabalho de investigação desenvolve?
João Pedro Nunes (JPN) - Sou investigador FCT e trabalho no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c). O meu trabalho foca-se na eco-hidrologia, isto é, nas interações entre água, vegetação e solos. Investigo como é que estas interações reagem a perturbações severas, como são os incêndios florestais, as secas ou as alterações climáticas; e quais as consequências destas reações para serviços de ecossistema, como por exemplo a produção agrícola ou a disponibilidade de água para consumo.
Que respostas pretende encontrar com a sua investigação?
JPN - O meu trabalho atual foca-se nos incêndios florestais, e em particular, na forma como eles podem afetar a qualidade do solo e da água através da erosão e transporte de cinzas, e compostos tóxicos a elas associados. Neste momento estou a liderar o projeto FRISCO, onde estamos a tentar desenvolver uma ferramenta que consiga, imediatamente após um grande incêndio, prever quais são as massas em risco de serem afetadas, e que dê tempo aos gestores da água para implementarem medidas de mitigação do risco.
Sugestão de leitura / audição / visualização...
Um livro: “Armas, Germes e Aço - Os Destinos das Sociedades Humanas” de Jared Diamond, onde o autor tenta mostrar como os constrangimentos do meio ambiente (constrangimentos físicos e biológicos) têm um impacto forte e duradouro no tipo de sociedades humanas que se desenvolvem. Eu chamar-lhe-ia um manual sobre socioecologia.
Quando não estou a fazer ciência estou a...
Jogar jogos de tabuleiro com os meus amigos – agora com o isolamento social encontramo-nos via internet. Cozinhar comida exótica – agora tenho tempo. E desde há um mês, tentar manter uma horta caseira, suponho que como muitos outros.
Quais são para si os grandes desafios da ciência para as próximas décadas?
JPN - Para mim, o grande desafio é manter a qualidade de vida da nossa sociedade de uma forma sustentável pelo meio ambiente, e baseada em sistemas resilientes a disrupções como as alterações climáticas ou a pandemia que enfrentamos.
O que o trouxe para a Ciência?
JPN - Sempre fui muito curioso, e por outro lado aborreço-me facilmente se tiver de fazer sempre a mesma coisa. Em ciência os problemas são sempre novos, e as metodologias estão sempre a ser desenvolvidas ou melhoradas.
Que conselhos dá aos mais novos que pensam seguir a carreira de investigação?
JPN - É preciso gostar disto a sério, porque é um ambiente muito competitivo e é preciso estar sempre a trabalhar para se assegurar a continuidade. Aproveitem o mestrado para explorar os grupos de investigação e envolverem-se em algo que vos desperte a curiosidade; se isso vos motivar a sério, talvez possam pensar num estágio ou em seguir para doutoramento. Mas não sigam para doutoramento sem estarem motivados, porque não é um caminho fácil.
* Na rubrica "O que faço aqui?" compilamos entrevistas a investigadores do universo Ciências ULisboa, que nos falam sobre a investigação que fazem, os grandes desafios da ciência mas também de outras paixões que alimentam. Ler todas as entrevistas.