O que faço aqui? | Ana Cristina Pires

Ana Cristina Pires, 36 anos

Doutoramento em Perceção, Comunicação e Tempo (Psicologia), Universidade Autónoma de Barcelona
Investigadora no LASIGE – Laboratório de Sistemas de Grande Escala / Ciências ULisboa

 

A investigadora Ana Cristina Pires caminhando junto ao mar

Ana Cristina Pires veio da Psicologia para a investigação na área de Informática, onde procura criar tecnologias mais inclusivas para crianças com (e sem) deficiência visual, e encontrar soluções tecnológicas que melhorem a aprendizagem e promovam a mudança de comportamentos. Adora dançar swing e rodear-se de amigos e família, tarefas impossíveis nos tempos que correm. Quase tão difícil como um dos grandes desafios que aponta para a ciência: gerar uma sociedade realmente equitativa, tanto nos direitos das pessoas como no acesso que têm à tecnologia. “Para mim, investigar é tentar de alguma forma melhorar a sociedade que temos e esse é o meu grande motor para ser investigadora”, remata.

Que trabalho de investigação desenvolve?

Ana Cristina Pires (ACP) - Grande parte do meu trabalho tem sido a criação de tecnologicas inclusivas com enfoque cognitivo e educacional para promover a aquisição de habilidades essenciais, como funções executivas, matemática e pensamento computacional em crianças com e sem deficiência visual.
No LASIGE - Laboratório de Sistemas de Grande Escala / Ciências ULisboa, na linha de Acessibility and Ageing, enfatizamos o design participativo, o design centrado no usuário e também o uso de sistemas interativos multimodais. Personalizamos e adaptamos as intervenções digitais para permitir uma maior mudança comportamental e adesão ao tratamento ou treino. Utilizamos ambientes multissensoriais que combinam interação tangível com feedback auditivo digital, para permitir que também as crianças cegas tirem proveito de ambos mundos, real e virtual. Também aplicamos sistemas multissensoriais inclusivos noutros domínios, como, por exemplo, em avaliações neurocognitivas para idosos (incluindo pessoas com deficiência visual).

 

Uma sugestão para quem nos lê (leitura / audição / visualização)...

Livro: “How we learn”, de Stanislas Dehaene, 2020.

Vídeo “Life of Privilege Explained in a $100 Race".

 

Quando não estou a fazer ciência estou a...

Dançar swing, a cantar com a minha filha ou a beber uma cervejinha num parque. Adoro contacto social (!!!) e estar rodeada de amigos e família!

Que respostas pretende encontrar com a sua investigação?

ACP - Na nossa investigação mais que respostas buscamos encontrar soluções tecnológicas que melhorem a aprendizagem ou que promovam a mudança de comportamento, sempre com um grande foco na acessibilidade, para desenvolver soluções acessíveis para todos.

Quais são para si os grandes desafios da ciência para as próximas décadas?

ACP - Os grandes desafios, a meu ver, serão os de gerar uma sociedade realmente equitativa tantos nos direitos das pessoas como no acesso que têm à tecnologia, principalmente as crianças que são o futuro da nossa sociedade. O desafio é fazer soluções que sejam relevantes, úteis e que permitam a aprendizagem equitativa e inclusiva. Segundo a OCDE, em 2030 não haverá o número necessário de pessoas com capacidades técnicas para a quantidade de trabalho digital que haverá nessa altura e daí surge a vontade de melhorar o quanto antes a literacia digital na infância e adolescência.
Tendo em conta o panorama atual de COVID-19 é também bastante óbvio que a área de saúde terá também de fazer frente a estes desafios epidemiológicos.
 

O que a trouxe para a Ciência?

ACP - Para mim, investigar é tentar de alguma forma melhorar a sociedade que temos e esse é o meu grande motor para ser investigadora. A ciência é um bem necessário e empírico, importante para o desenvolvimento da nossa sociedade.

Que conselhos dá aos mais novos (alunos e/ou futuros alunos de Ciências) que pensam seguir a carreira de investigação?

ACP - Ser investigadora é muitas vezes bastante difícil. Temos de lidar com a rejeição (de papers, projetos, etc) e continuar a trabalhar e melhorar sem que isso nos afete muito. Nem sempre é fácil. É preciso ter muita perseverança e gostar relamente daquilo que se faz. O meu grande conselho é conseguir apoio fora da vida laboral, ter uma vida completa para ter sustento e força para lidar com os aspetos negativos, porque a ciência é muito competitiva e temos de estar continuamente a avançar e inovar.

* Na rubrica "O que faço aqui?" compilamos entrevistas a investigadores do universo Ciências ULisboa, que nos falam sobre a investigação que fazem, os grandes desafios da ciência mas também de outras paixões que alimentam. Ler todas as entrevistas.