Inês Fragata, 34 anos
Investigadora no Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais – cE3c
Doutorada em Biologia Evolutiva (Ciências ULisboa)
Inês Fragata é investigadora no cE3c - Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (Ciências ULisboa) e procura perceber as consequências ecológicas e evolutivas de uma espécie enfrentar um desafio ambiental com e sem a presença de uma espécie competidora. O seu trabalho na área da Biologia Evolutiva tenta apurar se quando duas espécies evoluem juntas, existe maior probabilidade de se manterem as duas no novo ambiente, ou se por uma se adaptar melhor, leva à extinção da outra. Também tenta explorar se por se adaptarem com outra espécie podem responder melhor a outros desafios ambientais, como mudanças de temperatura ou mesmo resistência a pesticidas. Tudo conclusões muito importantes neste contexto de alterações climáticas. É essa urgência do contexto que a faz defender que “está na altura de pegar nas ferramentas que estão disponíveis e começarmos a ser inventivos também na maneira de comunicar aquilo que descobrimos!”.
À margem do trabalho, gosta também de escrever e criar jogos, alguns também com a temática da evolução. Integra, por isso, o Especulatório, um grupo que divulga ficção especulativa. O que é isso? "Ficção científica, fantasia e horror e tudo à volta disso".
Que trabalho de investigação desenvolve em Ciências ULisboa?
Inês Fragata (IF) - Sou investigadora postdoc no grupo MITE2 (Multidisciplinary Investigation Targeting Ecology and Evolution) do cE3c. Até há bem pouco tempo o meu trabalho focava-se em perceber como é que as espécies se conseguem adaptar a novos ambientes e que factores é que podem influenciar o processo adaptativo. Mas a verdade é que as espécies não estão sozinhas quando respondem a novos desafios ambientais, por isso agora expandi o meu trabalho para incorporar a parte da ecologia das espécies no processo de evolução.
Actualmente meu trabalho consiste em perceber as consequências ecológicas e evolutivas de uma espécie enfrentar um desafio ambiental com e sem a presença de uma espécie competidora. Neste caso o desafio ambiental que estudo é a presença de cádmio, um metal pesado, que quando em concentrações elevadas tem efeitos nefastos no organismo. O sistema que uso é composto por ácaros aranha (Tetranychus urticae e T. evansi), que são pestes agrícolas, e o tomate, uma planta que acumula cádmio nas suas folhas. O objectivo deste trabalho é perceber se quando duas espécies evoluem juntas, existe maior probabilidade de se manterem as duas no novo ambiente, ou se por uma se adaptar melhor, leva à extinção da outra. Também estou a explorar se por se adaptarem com outra espécie podem responder melhor a outros desafios ambientais, como mudanças de temperatura ou mesmo resistência a pesticidas.
Que respostas pretende encontrar com a sua investigação?
IF - O ambiente está em constante mudança e os organismos têm de conseguir lidar com uma série de condições para conseguir sobreviver. Por isso, quero perceber como é que os organismos se adaptam quando um novo desafio (como por exemplo a poluição ou o aquecimento global) muda o ambiente e quais são as consequências ecológicas desta mudança.
Sugestão de leitura / audição / visualização...
Puxando a brasa à minha sardinha, como se costuma dizer, quero falar-vos do projecto AVIDA, que mostra a evolução em tempo real de organismos digitais. É altamente configurável e podem fazer diferentes experiências, para responder a uma quantidade enorme de perguntas. É muito giro e pode ser usado também para dar aulas.
Quando não estou a fazer ciência estou a...
Passar tempo com a minha família, jogar jogos de tabuleiro ou jogos de personagem, ler e ouvir música. Também gosto de escrever e criar jogos, aliás adoro combinar criar jogos com temáticas sobre evolução!
Também faço parte do Especulatório que é um grupo que divulga ficção especulativa (ficção científica, fantasia e horror e tudo à volta disso) e que organiza vários eventos nestas áreas.
Quais são para si os grandes desafios da ciência para as próximas décadas?
IF - Um dos desafios está relacionado com a comunicação do conhecimento. Acho que os cientistas têm o papel fundamental de passar o conhecimento para toda a gente, e não só entre eles, isto para que as pessoas tenham espírito crítico sobre os diferentes problemas que aparecem, como por exemplo, aquecimento global, resistência a antibióticos, ou mesmo esta pandemia. Acho que está na altura de pegar nas ferramentas que estão disponíveis e começarmos a ser inventivos também na maneira de comunicar aquilo que descobrimos!
Outro dos desafios está mais relacionado com a minha área de trabalho, que é perceber como é que o nosso conhecimento sobre o processo evolutivo pode ajudar a parar ou abrandar processos como a resistência a antibióticos, pesticidas, etc.
O que a trouxe para a Ciência?
IF - Muito honestamente, curiosidade. No fundo perceber como e o porquê das coisas acontecerem.
Que conselhos dá aos mais novos que pensam seguir a carreira de investigação?
IF - Se querem fazer investigação, façam algo que gostem e com pessoas de quem gostem e confiem. A investigação é um trabalho duro mas na companhia certa e a fazer o que gostam, fica mais fácil de lidar com os desafios que vão aparecendo.
* Na rubrica "O que faço aqui?" compilamos entrevistas a investigadores do universo Ciências ULisboa, que nos falam sobre a investigação que fazem, os grandes desafios da ciência mas também de outras paixões que alimentam. Ler todas as entrevistas.