O que faço aqui? | Alexandre Cabral

Alexandre Cabral, 52 anos

Investigador (IAstro - Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço / Ciências ULisboa)
Doutoramento em Física (Ciências ULisboa)
Mestrado em Engenharia Física (Ciências ULisboa)

Alexandre Cabral com um capacete.

Alexandre Cabral é investigador no IAstro, onde alia a componente da investigação à da tecnologia, na construção de instrumentos para astronomia e para as tecnologias que serão usadas num futuro próximo. As próximas décadas vão testemunhar o aparecimento dos grandes telescópios agora em construção. “A ciência que se irá conseguir fazer com estes instrumentos daqui a dez anos estará certamente para lá do que os melhores cientistas preconizam hoje”, vaticina. São este tipo de desafios que o trouxeram à ciência e o mantêm entusiasmado: “sempre gostei bastante da Ciência, mas acima dela esteve sempre a criatividade e a imaginação que a componente da engenharia nos solicita”.
Fora do laboratório, tenta “ensinar os mais jovens a praticar desporto e a saber trabalhar em equipa, sempre com muita ciência” na equipa de Futsal Académico Clube de Ciências, que fundou há 24 anos e que ainda hoje conta com mais de uma centena de atletas federados em todas as idades.

Que trabalho de investigação desenvolve em Ciências ULisboa?

Alexandre Cabral - Sou investigador do Departamento de Física de Ciências ULisboa e desenvolvo o meu trabalho de investigação no Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, onde sou responsável pelo grupo de instrumentação. Para além da investigação tenho também o prazer de dar aulas aos alunos do 2º ciclo do Mestrado Integrado em Engenharia Física, onde posso transmitir muito do conhecimento e experiência adquirida na pesquisa, desenvolvimento e construção de instrumentos ópticos.

Que respostas pretende encontrar com a sua investigação?

AC - A investigação que faço nos dias de hoje está intimamente ligada aos instrumentos que construímos para astronomia e às tecnologias que serão usadas num futuro próximo. Cada novo projeto é um desafio ao que é hoje o estado da arte, permitindo aliar a componente de investigação à da engenharia.

Quais são para si os grandes desafios da ciência para as próximas décadas?

AC - Os desafios da ciências nas próximas décadas são imensos… penso mesmo que quanto maior é o nosso desenvolvimento científico maiores são esses desafios. Restringindo-me apenas à “minha” área da instrumentação para astrofísica, as próximas décadas irão testemunhar o aparecimento dos grandes telescópios agora em construção (sendo que o maior é o Extremely Large Telescope do ESO com 40 metros de diâmetro) e o surgimento dos primeiros grandes instrumentos no espaço (como é o exemplo do James Webb Space Telescope). As exigências em termos de tecnologia e novos conceitos para estes instrumentos são enormes. Neste momento, participamos no desenho de um dos instrumentos para o ELT onde algumas das tecnologias terão ainda de ser provadas. A ciência que se irá conseguir fazer com estes instrumentos daqui a dez anos estará certamente para lá do que os melhores cientistas preconizam hoje. Um exemplo engraçado é o do ESPRESSO, um instrumento construído entre 2010 e 2018 para a deteção de planetas extrassolares, que no início tinha como objetivo principal a deteção de planetas idênticos à terra e que nos dias de hoje está a permitir caracterizar as atmosferas de planetas extrassolares quando há dez anos mal se sonhava com essa possibilidade.

Sugestão de leitura / audição / visualização...

Como sugestão, quero deixar-vos um livro pequeno, mas cheio de imaginação: “Os Sonhos de Einstein” de Alan Lightman. Neste livro, o autor, físico e romancista, descreve em pequenos sonhos fictícios do jovem Albert Einstein o que é o tempo, a teoria especial da relatividade, a segunda lei da termodinâmica e o conceito de eternidade.

Quando não estou a fazer ciência estou a...

Para além de qualquer atividade que desperte a minha criatividade, sempre estive ligado ao Futsal (futebol de 5 praticado em pavilhão) desde os tempos da Faculdade. Foi após a Faculdade, que juntamente com alguns colegas fundei o Académico Clube de Ciências, há 24 anos, que ainda hoje existe, com mais de uma centena de atletas federados em todas as idades e onde ainda hoje… sempre que a investigação me permite, tento ensinar os mais jovens a praticar desporto e a saber trabalhar em equipa, sempre com muita ciência ;-).

O que o trouxe para a Ciência?

AC - Vim para “Ciências” com 18 anos atraído mais pela palavra tecnológica do que pela física (para a licenciatura em Física Tecnológica). Na altura ainda não existia a engenharia física e este curso era talvez o mais parecido com o que existe nos dias de hoje. Sem saber bem o que queria (natural num jovem adolescente), percebi mais tarde que tinha tido a sorte de apostar na carta certa. Sempre gostei bastante da Ciência, mas acima dela esteve sempre a criatividade e a imaginação que a componente da engenharia nos solicita … na FCUL encontrei um chamado “dois em um”.

Que conselhos dá aos mais novos que pensam seguir a carreira de investigação?

AC - O primeiro conselho, válido para tudo, é seguir fazendo o que gostam. Todos os grandes desafios serão difíceis e por isso o prazer em resolvê-los é metade do caminho.
Depois é fundamental gostar de trabalhar em equipa e de explorar novos horizontes, nomeadamente trabalhando com equipas internacionais onde, por norma, nós portugueses nos adaptamos muito bem e conseguimos potenciar as nossas melhores características.
Por fim, e talvez o conselho mais importante, é que uma boa carreira de investigação não consegue ser feita sem um bom suporte dos nossos familiares e amigos… tem de haver tempo para tudo.

 

* Na rubrica "O que faço aqui?" compilamos entrevistas a investigadores do universo Ciências ULisboa, que nos falam sobre a investigação que fazem, os grandes desafios da ciência mas também de outras paixões que alimentam. Ler todas as entrevistas.